Peru vai para o 3º presidente em 7 dias
Interino Manuel Merino renunciou após protestos que deixaram dois mortos em Lima. País amanhece sem presidente definido
O presidente interino do Peru, Manuel Merino, renunciou ao cargo neste domingo (15), apenas seis dias depois de tomar posse. A decisão ocorreu após a morte de dois manifestantes em Lima, onde uma série de protestos contra o novo governo foi violentamente reprimida pela polícia na noite de sábado. Organizações de direitos humanos também denunciaram mais de 40 desaparecimentos durante as manifestações, embora a Polícia Nacional negue que tenha detido as pessoas reportadas como desaparecidas. O número de feridos supera uma centena. Nas ruas, protestos não só contra Merino, mas em rechaço à destituição do ex-presidente Martín Vizcarra (leia mais na edição extra do GIRO e no GIRO #56). A saída de Merino deve levar o país ao terceiro presidente em apenas uma semana, embora ainda não houvesse definição de um substituto até o fechamento desta edição – agitando um cenário político que, até o início do mês, parecia caminhar para um desfecho tranquilo rumo às eleições gerais de abril de 2021.
No al golpe, estampavam cartazes pela cidade, defendendo que a destituição de Vizcarra se deu por uma manobra parlamentar ilegítima. Durante a madrugada de domingo, registros da brutalidade policial culminaram com a renúncia de 13 dos 18 ministros, levando o próprio Merino a ver sua situação como insustentável. O agora ex-presidente e seu primeiro-ministro, Ántero Flores-Aráoz, foram denunciados criminalmente pela violência policial. Com a renúncia, há um impasse – Merino só havia assumido por presidir o Congresso, já que toda a linha sucessória foi derrubada. Agora, os parlamentares precisam eleger uma nova Mesa Diretora, cujo presidente também comandaria o país, mas ainda não chegaram a um acordo em torno de uma composição. Na noite de domingo, uma lista única encabeçada pela deputada Rocío Silva-Santisteban perdeu as eleições emergenciais da Casa, mantendo o vazio de poder. A sessão será retomada às 10 da manhã de Lima, meio-dia em Brasília. Existe até a possibilidade de Martín Vizcarra ser reconduzido ao cargo: nesta semana, o Tribunal Constitucional aprecia uma demanda do antigo governo, que alega que o processo que o retirou do poder seria ilegal.
A atual crise sucessória vem de longe. A primeira peça do dominó a desmoronar foi o ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), vulgo PPK, que renunciou para escapar de um impeachment dado como certo. Veio Vizcarra, seu 1º vice-presidente, que no ano passado quase foi removido do cargo após dissolver o Parlamento, mas ganhou a queda de braço do poder: a 2ª vice da chapa PPK, Mercedes Aráoz, chegou a juramentar como presidenta, mas nunca teve poder real e foi afastada após um dia. Vizcarra, então, permaneceu na Presidência e sobreviveu a outra tentativa de afastamento em setembro, finalmente vindo a sucumbir à terceira delas, na segunda-feira passada (9), por denúncias de supostos subornos que teria recebido em 2013, muito antes de virar presidente. Sem mais nomes da chapa original à disposição, Manuel Merino assumiu por ser presidente do Congresso, levando à onda de protestos pelo país. Com a renúncia, ele abandona o comando do Executivo e do Legislativo para permitir a assunção de outro nome, ainda indefinido. Este GIRO seguirá atualizando o caso em suas redes conforme a situação evoluir.
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