🚨 Extra: presidente do Peru sofre “impeachment”
Congresso aprovou vacância do cargo. Foi a terceira tentativa de derrubar Martín Vizcarra, que cai a nove meses do fim do mandato
O Congresso peruano aprovou, na noite desta segunda-feira (9), a destituição do presidente Martín Vizcarra. Foi a terceira tentativa de remover o mandatário desde o ano passado e, desta vez, não houve volta: 105 votos a favor, 19 contra e 5 abstenções foi o placar da votação, que decidiu pela vacância do cargo (um processo similar ao nosso impeachment, embora o termo não exista na Constituição local) “por incapacidade moral permanente” do presidente. A decisão veio após denúncia de supostos subornos recebidos por Vizcarra quando ainda era governador de Moquegua, departamento no sul do país, em 2013: uma delação premiada indicou que ele teria embolsado 1 milhão de soles (R$ 1,5 milhão) de uma empresa que, pouco depois, venceu uma concorrência para realizar obras de irrigação na região. Agora, o presidente do Parlamento, Manuel Merino, deve assumir o comando do país até julho de 2021, quando entrega o cargo ao futuro presidente eleito – o país vai às urnas em abril, e Vizcarra já havia anunciado que não concorreria antes mesmo de os escândalos estourarem.
O agora ex-presidente negou as acusações e apontou para o perigo de remover um mandatário com base em delações ainda não totalmente investigadas. A sequência de antagonismos com os congressistas, porém, falou mais alto. Pouco mais de um mês e meio atrás, em 18/9, Vizcarra já havia se livrado de outro processo de vacância, que na ocasião teve apenas 32 votos favoráveis (contamos no GIRO #48). E, há um ano, pouco depois de o presidente dissolver o Parlamento, uma manobra legislativa tentou retirá-lo do poder e substituí-lo pela vice, mas o levante durou apenas um dia. Os parlamentares também criticaram o manejo da pandemia por Vizcarra: a pobreza explodiu, enquanto o Peru se tornava o país com mais mortes per capita no mundo – mais de um a cada mil peruanos já morreu de covid-19.
A derrubada de Vizcarra, que havia se promovido como um paladino da ética em um país onde todos os ex-presidentes vivos estão na cadeia ou sob investigação (e um deles, Alan García, cometeu suicídio quando seria preso), aprofunda um pouco mais a crise em que a política peruana está metida e parece não sair mais.
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