Peru: presidente é acusado de ‘traição’ e deixa partido
Equador: protestos indígenas terminam com acordo, após 18 dias | Colômbia vê encontro histórico entre Petro e Uribe | Região: tragédia com caminhão de migrantes vitima 53 nos EUA
A eterna crise política peruana ganhou um novo capítulo nesta semana, após o partido Perú Libre exigir, na noite de terça-feira (28), que seu correligionário mais famoso renunciasse à sigla: o próprio presidente Pedro Castillo estava “convidado” a se retirar, conforme um comunicado transmitido pelo líder-fundador do PL e velho desafeto do mandatário, Vladimir Cerrón. Dois dias depois, na quinta, Castillo cedeu à pressão e confirmou que não é mais membro da legenda. Ato contínuo, o Perú Libre anunciou que agora faz parte da oposição, guinada que abala ainda mais a estabilidade de um presidente com medo de ser derrubado desde que vestiu a faixa no ano passado.
O “convite” para que Castillo se retirasse do PL foi anunciado “de forma unânime” pelo grupo, repetindo um velho rosário de críticas que já eram ouvidas nos corredores do poder em Lima: “quebrar a unidade do partido” e contrariar o plano de governo ao implementar o que chamam de um “programa neoliberal perdedor [das eleições]”. Pedro Castillo, que completa seu primeiro ano de um atribulado governo no próximo dia 28, já tinha visto a relação claudicar ainda em 2021, quando se afastou do núcleo duro do Perú Libre e fez mexidas em seu gabinete que levaram Vladimir Cerrón a chamá-lo de “traidor”. O próprio Cerrón, aliás, é uma figura controvertida, tendo sido cogitado inicialmente para ocupar uma das vice-presidências da chapa (no país, são dois vices), mas que precisou se retirar da disputa por responder a processos por lavagem de dinheiro e supostas associações com o terrorismo.
As consequências do movimento no delicado tabuleiro do xadrez político peruano ainda são incertas. Não é de hoje que o mandatário vem enfrentando chumbo cruzado, entre diferentes pedidos de destituição por parte da oposição e acusações dos agora ex-aliados de que não vinha avançando na agenda ultraesquerdista dos tempos de campanha – e que chegaram a gerar uma paranoia anticomunista entre os integrantes do establishment peruano. Mas, até aqui, as moções de vacância (processo semelhante a um impeachment) contra Castillo vinham sendo derrotadas em grande parte devido à fidelidade da base aliada: mesmo com críticas crescentes, seguiam sem abandonar o presidente na hora H. Agora, Castillo vai precisar redobrar o cuidado. Embora sua vice Dina Boluarte siga sendo parte do PL, ela própria já disse repetidas vezes que a chapa só sairia do poder junta: “si se va Castillo, me voy con él”, reafirmou no início desta semana. Tudo isso, no entanto, foi anterior à saída do presidente da sigla, e não está claro se o posicionamento vai ser mantido após as movimentações internas do partido. Também não é possível dizer qual será a estratégia da direita agora que os velhos aliados do presidente passaram formalmente à oposição. Seria mais interessante seguir com um presidente esvaziado e abandonado ou recolocar o Perú Libre no controle do Executivo?
O primeiro teste de fogo pode não tardar: é muito provável que o presidente enfrente, nas próximas semanas, pela terceira vez em um ano de mandato, uma moção de vacância por “incapacidade moral permanente” – acusação vaga que, no Peru, é a chave costumeira para remover um mandatário que está com apoio em baixa. Desta vez, a acusação constitucional contra o presidente teria relação com um suposto escândalo de corrupção que ainda está sendo investigado, mas já teve um documento da Comissão de Fiscalização do Congresso vazado na quinta-feira (30) ao jornal El Comercio, principal diário do país e de marcada oposição política a Castillo desde os tempos de campanha: ali, ao longo de 362 páginas, é detalhado como o presidente seria o comandante de uma organização criminosa integrada por 18 pessoas, entre ex-ministros, ex-funcionários do governo e empresários. O relatório conclui que o governo de Castillo teria favorecido aliados em atos da administração pública, como obras de infraestrutura e ascensão em cargos militares, além de usar de um gabinete paralelo para fechar acordos. Acusações que, na nação andina, sempre devem ser observadas com cautela, pois o histórico de lawfare contra todo e qualquer presidente inclui coações para obter delações mentirosas.
Na mais recente moção de vacância contra o presidente, no final de março, o resultado teve 55 votos a favor, 54 contrários e 19 abstenções. Para que o mandatário seja removido, é necessária uma maioria qualificada de dois terços do Parlamento, o equivalente a 87 votos. A mudança de lado dos 16 assentos controlados pelo Perú Libre ainda não seria capaz, sozinha, de mudar o destino da votação. Isso, porém, foi há mais de três meses. No país da América Latina cuja facilidade de remover o chefe de Estado mais se aproxima daquela de um regime parlamentarista, é tempo de sobra para que nenhuma análise da época continue em pé.
¡OJO! O GIRO existe também graças ao apoio de quem nos lê. Que tal fazer parte de nossa campanha de financiamento coletivo e nos ajudar a continuar tornando a América Latina ainda mais presente?
Un sonido:
DESTAQUES
🇪🇨 Com acordo, Paro indígena chega ao fim – Enfim, acabou – mas não sem uma semana de desfecho atribulado. Depois de 18 dias (superando em sete o paro nacional de 2019), seis mortes confirmadas, dezenas de detenções, casos de violência contra manifestantes e prejuízos milionários para a economia, a nova onda de paralisações contra o governo equatoriano foi encerrada com um acordo assinado entre as partes na quinta (30). A firma do documento foi intermediada por lideranças da Igreja Católica e contou com representantes da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), que encabeçou os protestos de junho, e membros do poder Executivo, e estabelece pontos importantes – ainda que nem todas as demandas tenha sido ouvidas, o que gerou um burburinho a minutos da assinatura: agora, a diminuição do preço dos combustíveis, uma das principais bandeiras do paro, será de 15 centavos por galão, redução maior do que os 10 centavos propostos pelo presidente Guillermo Lasso no início da semana e classificados como “insuficientes” pela Conaie. Entre outros itens, foi estabelecido que o governo deve revogar decretos que aumentam fronteiras petrolíferas, exigindo a revisão de políticas de mineração, sempre levando em conta danos ambientais e à vida de comunidades indígenas. O governo também terá um prazo de 90 dias para resolver outras pendências contempladas pelo acordo. Enquanto isso, a Conaie prometeu manter uma vigília constante, podendo convocar novos protestos no futuro. No Primicia.
🇨🇴 Histórico encontro reúne Petro e Uribe – Na quarta-feira (29), a Colômbia viu uma cena histórica: o presidente eleito Gustavo Petro se reuniu com o ex-presidente Álvaro Uribe Vélez (2002-2010), dois rivais antagônicos que aceitaram abrir um canal de diálogo em nome do “grande acordo nacional” prometido por Petro. Uribe disse que a conversa foi respeitosa e prometeu fazer uma “oposição razoável”, buscando apoiar pautas de comum acordo. Petro também se reuniu com o atual presidente, Iván Duque, e com o candidato derrotado, Rodolfo Hernández – encontros que também tiveram desfechos semelhantes. O clima de pacificação e aproximação com figuras da direita colombiana tem dado certo: além do aceno de integrantes da bancada liberal, o novo governo recebeu o apoio de 39 parlamentares do Partido Conservador – o que pode ser suficiente para conseguir a tão desejada maioria no Congresso. No sábado, Petro confirmou como novo chanceler o advogado Álvaro Leyva Durán, antigo membro do Partido Conservador e mediador dos Acordos de Paz com as FARC; na quinta (30), anunciou o economista moderado José Antonio Ocampo como Ministro da Fazenda. Ainda nesta semana, o futuro ocupante da Casa de Nariño marcou presença na apresentação do relatório final da Comissão da Verdade sobre o conflito armado na Colômbia. O documento é fruto de três anos de trabalho e 27 mil depoimentos de pessoas envolvidas na guerra – e Petro concordou em acatar as recomendações da comissão rumo a “uma era de paz”. Na Silla Vacía.
🌎 Tragédia com caminhão de imigrantes vitima 53 – Um retrato do problema migratório: pelo menos 53 migrantes foram encontrados mortos dentro de um caminhão na cidade de San Antonio, no estado Texas, não muito longe da fronteira entre o México e os EUA. Segundo o Ministério de Relações Exteriores do México, 22 dos corpos eram de mexicanos. Guatemaltecos, salvadorenhos e hondurenhos também estão entre as vítimas. Segundo autoridades, o motorista, cidadão dos EUA, tentou se passar por um dos sobreviventes quando parado, mas acabou detido junto com outras pessoas supostamente envolvidas no esquema que terminou em tragédia. Segundo as investigações e relatos de pessoas que viveram para contar a história, as mortes teriam sido causadas pela exposição às temperaturas extremas do verão no hemisfério Norte, somadas ao espaço lotado e sem ventilação em que as pessoas estavam. A depender do processo, os responsáveis pelo transporte podem receber pena de morte. O episódio é considerado o mais brutal da história da região fronteiriça entre os dois países. Via AP.
🇧🇴 Bolsonaro oferece asilo à Áñez e ouve “não” – Presa desde março de 2021 e recentemente condenada a 10 anos de prisão por sua participação no golpe de Estado de 2019, a ex-presidenta interina Jeanine Áñez foi convidada no último domingo (26) a receber asilo político do Brasil. Jair Bolsonaro, um dos poucos líderes da região a ainda se importar com a história, chegou a dizer que considera a detenção “injusta”. A conversa de bastidores que revelou a intenção do presidente brasileiro foi confirmada por seu homólogo argentino, Alberto Fernández – que não poupou críticas: “acredito que a Bolívia deu um exemplo a todo mundo, que foi julgar um golpe com tribunal ordinário, com juízes naturais”, disse, reforçando seu desejo pela vitória do ex-presidente Lula nas eleições de outubro no Brasil. Dias depois, a própria Áñez recusou o convite de Bolsonaro, esfriando de vez um caso que teria chances mínimas de prosperar. No fim, o Brasil não deixou de acumular mais uma entre tantas querelas diplomáticas: na terça (28), o governo boliviano lamentou as “infelizes declarações” e a “inapropriada ingerência” do mandatário brasileiro. No G1.
🇲🇽 México vira alternativa para estadunidenses que querem abortar – Mulheres texanas estão recorrendo ao México para fazer algo que as leis jurássicas da terra natal não permitem mais: o acesso ao aborto seguro. Residentes de um estado regido por uma das leis mais restritivas no que diz respeito à interrupção da gestação, cruzam as fronteiras para encontrar clínicas que oferecem opções para realizar o procedimento. O fluxo de mulheres nessa situação aumentou desde setembro do último ano, quando a Suprema Corte de Justiça mexicana, em decisão histórica, descriminalizou o aborto voluntário. Atualmente, Cidade do México, Oaxaca, Veracruz e Hidalgo são lugares onde a mulher tem poder de escolha até a 12ª semana de gestação. Na BBC.
Un clic:
MAIS NOTÍCIAS
ARGENTINA 🇦🇷
O Banco Central da Argentina anunciou na terça (28) restrições à compra de dólares, decisão válida apenas para grandes empresas. O limite, que tem validade até setembro, incide no valor utilizado por companhias para financiar importações, visando garantir uma quantidade suficiente de moeda para compra de gás do mercado estrangeiro. Caso as empresas necessitem de um valor superior ao estabelecido atualmente, devem recorrer a créditos financeiros. Ainda que engenharias financeiras envolvendo o dólar não sejam uma novidade por lá, a manobra da vez tem um objetivo: evitar mais problemas com o mercado de combustível, muito afetado (em valores e produção) pela guerra na Europa. Ao menos os mercados e a população ouviram boas notícias: no dia seguinte ao anúncio da restrição, na quarta (29), foi anunciada a chegada de cinco navios com diesel importado para preencher a lacuna de oferta dentro do país, que vem provocando escassez e paralisações de caminhoneiros. N’O Globo.
CHILE 🇨🇱
Segundo novos números divulgados pela consultoria Cadem, a população chilena não tem visto a gestão do presidente Gabriel Boric e os próximos passos sobre a possível nova Constituição do país com bons olhos: dados correspondentes à quarta semana de junho revelam que apenas 34% dos chilenos aprovam o mandatário, número mais baixo até aqui. Ao mesmo tempo, o nível de desaprovação subiu cinco pontos percentuais. Em relação à discussão sobre a nova Carta Magna, 51% dizem que pretendem rechaçar o texto no chamado “Plebiscito Constitucional de Saída”, votação obrigatória marcada para setembro e que vai determinar se a população está ou não de acordo com a nova proposta constitucional. Cerca de 33% dos cidadãos são favoráveis. Enquanto o tema constitucional vive um momento de baixa nas pesquisas, a Convenção Constitucional finalmente concluiu na terça (28) a redação do novo texto, que deve ser entregue a Boric na próxima semana. O presidente, favorável ao novo texto, pediu que a população “leia e conheça o projeto” antes de decidir seu voto. Na CNN.
O general aposentado Mario Rozas, ex-diretor dos Carabineros do Chile (2018-2020), a polícia militar do país, é alvo de um novo processo pela violenta repressão às manifestações que vieram na sequência da explosão social de outubro de 2019. Desta vez, a querela judicial é movida pela esposa e filhos de Cristián Valdebenito, um homem de 48 anos morto em março de 2020, atingido na cabeça por uma bomba de gás lacrimogêneo enquanto se manifestava nas imediações da Praça Baquedano, em Santiago. A família quer a responsabilização do comandante da época, mesmo sem envolvimento direto com o ato em si, por entender que a morte foi parte de uma ação “ilícita e fora de protocolo” que seria sistemática durante seu período chefiando a polícia. Rozas, cuja gestão coincidiu com o auge dos protestos sociais no país, renunciou ao cargo no final de 2020, após outro episódio de violência cometido por seus subordinados, quando dois menores foram feridos por tiros de carabineros em um centro de detenção no sul chileno. O general é alvo de pelo menos 36 processos. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
Durante uma conferência da ONU sobre oceanos, realizada em Lisboa, o presidente Iván Duque anunciou que a Colômbia chegou ao objetivo de ter 30% de suas áreas marinhas protegidas, antecipando uma meta estabelecida pela organização para 2030. Com isso, o país se torna a primeira nação ocidental a atingir o feito, sobretudo em um momento em que países-membros da ONU patinam para avançar em medidas de preservação do ecossistema marinho. O anúncio foi feito após a Academia de Colombiana de Ciências aprovar a inclusão de 16 milhões de hectares marinhos na zona de conservação, dobrando o tamanho da área cuidada e criando pelo menos 9 milhões de áreas ‘no take’, onde atividades extrativistas passam a ser proibidas. No El Colombiano.
Um incêndio na prisão de Tuluá, no Vale do Cauca, deixou pelo menos 51 mortos e 39 feridos na madrugada de terça (28). Segundo as autoridades, o caso começou como uma briga que depois virou uma tentativa de motim com colchões incendiados, sem que os presos pudessem controlar o fogo. As vítimas teriam morrido por inalação de fumaça. O presídio tinha cerca de 1.267 detentos e uma superlotação de 17%. Em El Espectador.
COSTA RICA 🇨🇷
Por falar em conquistas oceânicas, outra boa notícia para a região, sobretudo para um país conhecido por ser pioneiro em questões ambientais: a Costa Rica foi escolhida pelo presidente francês Emmanuel Macron para lançar uma candidatura conjunta com os europeus para sediar a próxima Conferência dos Oceanos, projetada para 2025. Segundo o líder europeu, há “compromisso total” para resolver as demandas marinhas de forma “coletiva”. O anúncio foi feito ao lado do presidente Rodrigo Chaves, durante o evento deste ano, realizado em Lisboa. Via EFE.
CUBA 🇨🇺
O governo informou na segunda (27) o naufrágio de uma embarcação de migrantes que tentava chegar aos EUA. O barco deixou a província de Mayabeque com 15 pessoas e, até as últimas informações, apenas seis dos viajantes haviam sido encontrados. Vários efetivos militares participaram das buscas nas horas seguintes à tragédia. Havana aproveitou a oportunidade para mais uma vez criticar a política migratória de Washington, bem como as incessantes sanções econômicas que “causam enorme dificuldade à população” e forçam milhares ao exílio. Cuba cobra do governo Joe Biden o cumprimento de pactos migratórios e também a execução de novas normativas – mais leves – anunciadas recentemente pelo governo norte-americano. Enquanto isso, o país ao norte segue devolvendo migrantes à ilha, ao passo que a Guarda Costeira registra cifras recordes de barcos migrantes interceptados. A situação anda tão tensa nas águas internacionais entre os países que a marinha cubana diz que também tem feito interceptações de lanchas vindas dos EUA, com as quais até houve troca de tiros. Via EFE.
Un hilo:
EL SALVADOR 🇸🇻
Ainda no âmbito insuflado da guerra truculenta promovida pelo governo contra as gangues do país (relembre na edição #127), um líder da Mara Salvatrucha, uma das principais pandillas salvadorenhas, foi condenado na terça (28) a mais de mil anos de prisão. Segundo o Ministério Público, o homem é responsável por 24 casos de homicídio qualificado, incluindo a morte de dois policiais e do filho de um jornalista. A sentença superlativa, porém, é apenas simbólica: para além de ser uma pena impossível de ser cumprida, o Código Penal do país estabelece um período máximo de 60 anos de encarceramento. Via AFP.
EQUADOR 🇪🇨
A trégua para o presidente foi dupla: além de ter sobrevivido ao cargo após quase 20 dias de paralisação geral – e já que a Conaie tem longo histórico de derrubar chefes de Estado – na mesma semana, Lasso também resistiu a uma tentativa de impeachment. Na terça (28), parlamentares da oposição lançaram uma investida para dar fim precoce ao mandato de Lasso, pressionando bancadas por uma empreitada a favor da destituição. Foi caótico: a votação precisou ser feita três vezes, entre acusações de manipulação e discursos acalorados, mas acabou sem os 92 votos necessários para avançar o processo; a moção para retirar o presidente obteve inicialmente 84 votos favoráveis, corrigidos finalmente para 80 após a repetição. No Página 12.
GUATEMALA 🇬🇹
“Extorsão”, “ameaça” e “viés ideológico” são algumas das acusações feitas pelo presidente Alejandro Giammattei na terça (28) contra a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), durante um pronunciamento em Washington. O motivo? O que o mandatário conservador chamou de uma agenda pró-aborto promovida pela entidade. Mas além de conter a opinião pessoal do presidente a respeito de um tema no qual a Guatemala se nega a avançar, os ataques à CIDH são resposta à inclusão do país centro-americano em uma lista de graves violações aos direitos humanos (saiba mais na edição #134). Nesse novo documento, a Comissão detalhou que o aparelhamento do Ministério Público guatemalteco sob o comando de Consuelo Porras, braço forte de Giammattei, tem causado danos à democracia do país, denúncias repelidas pelo chefe de Estado em diversas oportunidades. Via AFP.
HAITI 🇭🇹
Foi acertado neste final de junho um programa de monitoramento econômico do FMI com validade até maio de 2023, que pode abrir caminho para um futuro apoio financeiro à nação caribenha. Segundo o FMI, que revelou a aplicação de reformas econômicas como parte do plano, a medida leva em conta “a fragilidade e as limitações de capacidade do Haiti”. A entidade financeira também deu uma rara boa notícia para a economia do país: após três anos de contratação, o PIB vive uma fase de recuperação gradual e pode crescer 1,4% no próximo ano. Na IstoÉ.
HONDURAS 🇭🇳
Os corpos de quatro hondurenhos encontrados mortos dentro do caminhão no Texas (saiba mais nos destaques desta edição) serão repatriados pelo avião presidencial do país, decisão tomada pela presidenta Xiomara Castro. A informação veio do vice-chanceler do país, Antonio García, que prometeu apoio aos familiares das vítimas. A autoridade diplomática aproveitou para dizer que Tegucigalpa ainda não confirma que o total de vítimas hondurenhas seja de 14, contradizendo um dado divulgado pelo governo mexicano. “Só há quatro identificados”, disse, na quinta (30). Na Prensa.
Dale un vistazo:
🎉 O espaço Marakayá, em Porto Alegre, recebe na próxima semana a Peña Latino Americana. Na edição de julho, o evento comemora o dia da mulher afro-latino-americana e afro-caribenha (dia 25), além dos aniversários das declarações de independência na Venezuela (dia 5), Argentina (9), Colômbia (20) e Peru (28/7). O encontro terá palco aberto para apresentações de música, poesia e outras formas de expressão artística. É na próxima quarta-feira (6), às 20h, na Rua Vieira de Castro, 133. Mais informações no Instagram.
MÉXICO 🇲🇽
Novos túmulos astecas foram descobertos na capital Cidade do México e não poderia ser em um lugar melhor: o local conhecido como o centro histórico da cidade. Lá, arqueólogos encontraram as sepulturas do que seriam quatro crianças da cultura ancestral mexicana, veladas há mais de 500 anos. Segundo os especialistas do Instituto Nacional de Antropologia e História do México, a tumba encontrada resgatou o que seria “uma casa asteca tradicional” de uma época em que as populações originárias já sofriam por conta da invasão europeia. No Infobae.
O ano de 2022 já é o mais letal para a imprensa mexicana na história. O drama da categoria piorou na quarta (29), com a morte de Antonio de la Cruz, profissional do Expreso, jornal de Ciudad Victoria, capital do estado de Tamaulipas. O repórter foi alvejado na porta de casa e se tornou o 12º jornalista mexicano morto apenas este ano. A redação onde ele trabalhava já era visada por grupos criminosos que ordenavam o fim de notícias sobre a violência local, sendo alvo de um carro com explosivos e até mesmo de ameaças envolvendo partes humanas (em 2018, um isopor contendo uma cabeça foi deixado na sede do jornal). Após o assassinato, o governador de Tamaulipas, Francisco García Cabeza de Vaca, prometeu o “crime covarde não ficará impune”. Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
Nem mesmo organizações religiosas tradicionais têm resistido à perseguição do governo: na quinta (30), o presidente Daniel Ortega comunicou a expulsão do país de integrantes da Congregação Missionárias da Caridade, fundada por Madre Teresa de Calcutá. Segundo os orteguistas, as freiras “não respeitaram” e “não cumpriram com obrigações” relacionadas a uma polêmica lei sobre financiamento do terrorismo, criada justamente para criminalizar entidades adversárias, segundo denuncia a oposição. O anúncio veio dias depois do governo ordenar o fechamento de outras 101 entidades sem fins lucrativos, muitas delas voltadas a ações sociais e proteção aos direitos humanos. Desde novembro de 2018, estima-se que mais de 700 ONGs tenham sido suspensas por decisões arbitrárias do poder Executivo. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
Medicamentos Solidarios (MedicSol) é o nome de um novo plano do governo anunciado na terça (28) que permitirá que pacientes que não consigam encontrar remédios em farmácias do sistema público tenham garantia de acesso gratuito aos itens – ao menos em lojas do sistema privado conveniadas ao MedicSol. A medida paliativa contará com uma injeção de US$ 10 milhões, mas segue criticada por organizações sociais: para eles, isso ainda não resolve o profundo problema causado pelos altos preços da saúde no país. Atualmente, dos mais de 600 medicamentos básicos contemplados pelo sistema público de saúde, 130 estão em falta desde março. Na Prensa Latina.
PARAGUAI 🇵🇾
Há 10 anos nesta quarta-feira (29), o Paraguai era suspenso do Mercosul, após seus pares considerarem pouco legítimo o processo que havia afastado o então presidente Fernando Lugo (2008-2012). Alvo de um impeachment “express”, como foi chamado à época, Lugo acabou substituído pelo vice Federico Franco, de viés mais conservador, encerrando um curto ciclo progressista no poder em Assunção – o que foi mal visto pelos vizinhos Argentina, Brasil e Uruguai, à época sob governos de centro-esquerda, que consideraram o movimento golpista e indicaram que a nação guarani só voltaria a ser plenamente incorporada ao bloco quando realizasse novas eleições. Uma década mais tarde, o Paraguai ocupa a presidência rotativa do Mercosul e considera o incidente superado. “Olhamos para a frente e queremos seguir construindo um processo de integração cada vez mais forte e mais dinâmico”, afirmou o vice-ministro paraguaio de Relações Econômicas e Integração, Raúl Cano Ricciardi, comentando o aniversário da suspensão à agência EFE.
Un nombre:
Josephoartigasia monesi – Esse é o nome científico de uma espécie de roedor gigante que viveu entre 3 e 4 milhões de anos atrás sobre o que hoje é o território do Uruguai. E, se o gênero taxonômico soa familiar, é porque se trata de uma homenagem direta a um dos próceres das independências sul-americanas: Josephoartigasia vem de José Artigas, eternizado como o libertador da Banda Oriental do Uruguai. Pesquisadores uruguaios constataram em 2008 que o fóssil, conhecido desde os anos 1980, era na realidade uma espécie até então não catalogada, e se apressaram em colocar referências ao paisito na denominação do animal popularmente conhecido como uma “capivara gigante” ou, ainda, “Josefo”. Em junho, Josefo voltou às manchetes após uma nova estimativa feita nos EUA sugerir que ele era menor do que se imaginava antes – com um peso em torno de 500 quilos, não mais uma tonelada, como chegou a se especular. Ainda assim, o único exemplar conhecido dessa espécie, que continua sendo a maior já encontrada entre os roedores pré-históricos, segue sendo propriedade e orgulho do Uruguai, como conta a matéria do La Diaria sobre a descoberta e as discussões em torno do tamanho do bicho. Para ter uma noção das dimensões de Josefo, vale lembrar que uma capivara como conhecemos hoje raramente supera os 60 kg.
PORTO RICO 🇵🇷
Mais aumentos na tarifa de energia elétrica. Foi o que anunciaram autoridades da ilha na quarta (29), no que se tornou nada menos do que a sétima alta em um ano e meio. Tudo isso, para piorar, convivendo com incessantes quedas de energia, que têm gerado um amplo debate sobre os impactos da privatização do sistema elétrico – desde que o controle da infraestrutura foi entregue à iniciativa privada, os cortes de energia se tornaram mais frequentes e os preços não pararam de subir. A concessionária, por sua vez, alega ter herdado um sistema sem manutenção e debilitado pelos desastres naturais da última década, em especial o Furacão María de 2017. Estima-se que 3,2 milhões de porto-riquenhos sejam afetados pela nova bandeira tarifária, o que deve gerar inquietação entre a população. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O dominicano Luis Abinader é o presidente mais rico da América Latina na atualidade – pelo menos, quando se considera apenas o patrimônio declarado no próprio nome dos mandatários da região, segundo um levantamento da Bloomberg Línea. Economista de formação e com uma longa trajetória exercendo altos cargos no setor empresarial, Abinader conta com um patrimônio de US$ 76 milhões, grande parte dele convenientemente alocado em offshores no Panamá e nas Ilhas Virgens Britânicas. Na sequência do ranking, em segundo lugar, aparece o equatoriano Guillermo Lasso, ex-banqueiro, com US$ 39,7 milhões em ativos declarados. O único outro mandatário a superar oficialmente o milhão de dólares é o salvadorenho Nayib Bukele, com US$ 2,5 milhões. Já o brasileiro Jair Bolsonaro aparece em quinto lugar, atrás também do paraguaio Mario Abdo Benítez, com o equivalente a US$ 446 mil declarados em seu próprio nome às vésperas das eleições de 2018. Na Bloomberg Línea.
URUGUAI 🇺🇾
A militância política do Villa Española, hoje na segunda divisão do Campeonato Uruguaio, deu o que falar – e fez o governo Lacalle Pou decretar uma polêmica intervenção. Há algum tempo, antigos dirigentes haviam denunciado a atual gestão dos Villeros por problemas no balanço, supostas irregularidades na convocação de eleições internas e no que consideravam o uso do clube para propaganda política. Na última sexta (24), o Ministério de Educação e Cultura do país decidiu nomear um interventor, que durante seis meses atuará para resolver os problemas denunciados, incluindo a “regulação das redes sociais” do clube. A tal propaganda política que incomodou cartolas – e que em princípio violaria o estatuto da Associação Uruguaia de Futebol (AUF) – tem relação com mensagens nos muros da instituição. “Seguimos buscando verdade, memória e justiça” e “nunca mais”, gritam as paredes do Estádio Obdulio Varela, referência feita à busca por desaparecidos da ditadura militar (1973-1985). O clube também ficou conhecido por ter jogadores que se posicionavam contra a polêmica Lei de Urgente Consideração (LUC), uma espécie de “minirreforma constitucional” conservadora, que acabou prosperando. Após o anúncio da intervenção governamental, jogadores do clube fizeram protesto em uma partida, e teriam sido alvo de ameaças de morte – embora um grupo de torcedores tenha vindo a público para rechaçar as acusações, o episódio fez o jogador Santiago “Bigote” López, de 40 anos, decidir encerrar a carreira, e a direção do Villa Española também afirmou que pretende renunciar. Diante das supostas ameaças, os demais atletas profissionais do paisito se manifestaram em solidariedade e decidiram suspender todo o futebol uruguaio até segunda ordem, cancelando a rodada deste final de semana. No Página 12.
VENEZUELA 🇻🇪
Nada como o tempo: temendo uma falta de oferta, o governo da França defendeu na segunda (27), durante o encontro do G7, a “diversificação das fontes de abastecimento de petróleo”, o que inclui os historicamente sancionados e grandes produtores Venezuela e Irã. O apelo de Paris busca aliviar o aumento dos preços provocado pela invasão russa na Ucrânia, que há pelo menos quatro meses tem abalado mercados mundiais, elevando preços e gerando protestos em diversos países latino-americanos. N’O Globo.
E os sinais de que os algozes do chavismo estão realmente de olho em alternativas de abastecimento energético se refletiram em outro caso inesperado: na mesma segunda (27), uma delegação dos EUA chegou à capital sul-americana para seguir com os diálogos iniciados em março entre Washington e Caracas, que tem o petróleo como pano de fundo. O chefe da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, disse que a visita – a segunda de autoridades estadunidenses ao país latino em três meses – é sinal de que os dois lados trabalham para “dar continuidade às relações, à agenda bilateral”. Mas, claro, nem tudo são flores: além do bastidor econômico, autoridades dos EUA também tentaram negociar a libertação de qualquer cidadão estadunidense detido na Venezuela. Porém, sem sucesso. Na Folha.
Não importa de que lado do espectro político o governo está: se há um defensor da floresta, seja no Brasil, na Colômbia ou na Venezuela, a vida corre perigo – muitas vezes sob a vista grossa das autoridades. Nesta quinta-feira (30), o líder indígena Virgilio Trujillo Arana, do povo Uwottuja, foi morto a tiros em Puerto Ayacucho, capital do estado venezuelano do Amazonas. Trujillo era um nome forte do combate à mineração ilegal na região onde eu povo vive, uma área onde a atividade é proibida desde 1989, o que não impede grupos estrangeiros e criminosos de buscarem ouro mesmo assim. Via Reuters.
Gostou do nosso conteúdo? Com o seu apoio, podemos construir juntos um GIRO ainda melhor e mais completo. Faça parte!
Também estamos no Twitter, Instagram, YouTube, Podcast e Telegram.