Peru: poeira baixa, mas segue tensão após queda de Castillo
Argentina: Cristina Kirchner é condenada e fica inelegível | Copa do Mundo: esperanças latino-americanas nos pés de Messi | Mercosul cobra Uruguai por negociações paralelas
Em questão de horas, a crise da última quarta-feira (7) no Peru jogou uma pá de cal no governo de Pedro Castillo: começou com o anúncio de fechamento do Congresso, se transformou numa votação apressada de destituição do presidente e, na mesma tarde, já tinha Dina Boluarte vestindo a faixa e juramentando como nova presidenta do Peru – que prometeu levar o turbulento e fraturado país até as eleições de 2026, embora não tenha descartado, inclusive, a hipótese de antecipar o pleito se a situação política exigir (veja a saga resumida na edição EXTRA deste GIRO). Ela é a sexta pessoa a ocupar o cargo desde 2018 e a promessa de sobreviver politicamente pelos próximos três anos e meio soa, no mínimo, bastante otimista. Ainda que a pior parte da crise tenha esfriado com o desfecho-relâmpago, o agitado dia em Lima continua rendendo manchetes.
Castillo foi detido na própria quarta-feira, após a rápida destituição articulada pelo Congresso. Na quinta (8), a justiça peruana determinou que o presidente fosse mantido em prisão preventiva por sete dias – por ironia do destino, na mesma penitenciária onde cumpre pena por crimes contra a humanidade o ditador Alberto Fujimori (1990-2000), que há 30 anos também fechou o Legislativo, a pedra fundamental de seu governo autoritário. Segundo a acusação contra Castillo, o ex-mandatário será formalmente investigado “por crime de rebelião (alternativamente conspiração)”. A decisão também buscou evitar a “alta probabilidade de fuga” de Castillo, segundo o procurador Marco Huamán, que mencionou a intenção do ex-presidente de pedir asilo à embaixada do México na capital peruana.
O possível destino de Castillo após sua derrocada foi um zum-zum-zum por si só: na quarta, no meio do turbilhão de informações, o ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, chegou a dizer que o país até concederia o status provisório de proteção ao peruano – assim como fez com o boliviano Evo Morales em 2019, quando este foi alvo de um golpe – mas que, até aquela tarde, nenhum pedido oficial havia chegado às suas mãos. Pouco depois, o próprio presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador cobrou uma ação mais acolhedora do chanceler. “Procurei Ebrard e o informei, pedindo a ele que falasse com o embaixador [mexicano em Lima] para abrir a porta da embaixada, conforme nossa tradição de [conceder] asilo”, disse AMLO. O plano, porém, não deu certo: Castillo foi preso antes de conseguir chegar à embaixada.
A intervenção mexicana no caso foi além. No dia seguinte à queda do presidente peruano, Ebrard confirmou pelo Twitter que a gestão Obrador recebeu um pedido de proteção assinado pelo advogado de Castillo, Víctor Pérez Liendo, e que o México já havia “iniciado consultas junto às autoridades peruanas”. No documento, Liendo pede apoio e cita o que chamou de “uma perseguição infundada de órgãos de justiça” que, segundo ele, “tomaram um caráter político” contra o mandatário derrubado. Enquanto isso, o México também confirmou que o embaixador mexicano no Peru, Pablo Monroy, foi até a prisão e verificou que Castillo se encontrava “bem fisicamente e na companhia de seu advogado”. López Obrador também reforçou em uma de suas tradicionais coletivas matinais que segue disposto a receber seu antigo aliado.
Os últimos acontecimentos também tiveram outras repercussões continentais: a crise gerou um novo adiamento da cúpula da Aliança do Pacífico, marcada para o próximo dia 14, em Lima. Por um impasse recente envolvendo o próprio Castillo e o Congresso (entenda o caso), o evento que originalmente aconteceria no México foi suspenso e passou para a capital peruana, o que não exigiria deslocamento internacional de Castillo – impedido pelo Congresso de deixar o país. Agora, não é certo quando o encontro multilateral vai acontecer.
Os próximos meses no Peru serão incertos. Ainda que Dina Boluarte não sofra a mesma rejeição de Castillo, ela pode muito bem se tornar uma nova vítima de um Congresso dominado pela oposição – afinal, foi assim com tantos outros que vieram antes dela, independente do lado no espectro político. Além disso, após ter sido expulsa do partido Perú Libre no começo do ano, ela governará, na prática, sem uma bancada de apoio formal no sempre volátil Congresso. Na sexta (9), no que foi interpretado como uma demonstração de respaldo, Boluarte participou de seu primeiro evento público após vestir a faixa – uma cerimônia militar.
O destino de Castillo tampouco é previsível: ainda é cedo para dizer se o ex-presidente realmente tem chances de ser condenado pela recente presepada ou até mesmo pelas investigações de casos de corrupção que se acumulam contra ele na Justiça. Isso também pode complicar a busca por asilo no México. Diante das suspeitas de viés político por trás das investidas contra Castillo, classificadas por ele como “perseguição”, a própria OEA interveio e enviou uma missão de observação independente para verificar a crise, chegando a pedir “trégua” entre as partes dias antes do autogolpe que virou destituição presidencial. No fim, de nada adiantou: já sob fogo cruzado, em mais uma quarta-feira tipicamente latino-americana, Castillo implodiu sozinho suas (já remotas) chances de terminar o mandato.
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🇦🇷 Argentina é a América Latina na Copa do Mundo – Não haverá Superclássico das Américas na semifinal da Copa do Mundo, mas a Argentina conseguiu o que o Brasil não foi capaz e agora é a derradeira esperança latino-americana no Catar. Na sexta (9), horas após os brasileiros fracassarem nos pênaltis diante da Croácia, a esquadra liderada por Lionel Messi começou com vida tranquila e em seguida viveu seu próprio roteiro de um tango trágico: com uma vantagem de 2 a 0 sobre a Holanda até os 38 minutos do segundo tempo, a Albiceleste encontrou uma maneira de se complicar e sofreu o empate – com direito a uma cobrança inusitada de falta dos neerlandeses no último minuto da partida. Nos pênaltis, porém, voltou a brilhar a estrela do goleiro Emiliano “Dibu” Martínez, considerado um especialista no quesito, e os argentinos sobreviveram para jogar outra fase do torneio, por 4 a 3. Agora, na próxima terça (13), às 16 horas de Brasília, será contra a mesma Croácia que dinamitou os sonhos brasileiros que a Argentina tentará voltar à final do Mundial e manter viva a esperança de reconquistar a taça, que não ergue desde 1986. No Olé.
🇦🇷 Cristina Kirchner é condenada e fica inelegível – Uma condenação sem prisão, mas com impactos profundos na vida política argentina: a ex-presidenta e hoje vice Cristina Kirchner foi condenada, na terça (6), a seis anos de prisão pela Justiça do país, por um esquema de fraude e superfaturamento em 51 obras públicas durante seu período no comando do Executivo, entre 2007 e 2015. Com imunidade devido ao cargo que ocupa, Cristina não pode ser presa pela decisão em primeira instância, que ela classificou como “inconstitucional” e atribuiu à “máfia judicial” que estaria conduzindo uma perseguição via lawfare contra ela. Mais importante do que a pena que não deve ser cumprida tão cedo, porém, é a “inelegibilidade perpétua” que veio com a condenação – uma decisão que, se não for revertida, impediria uma das figuras mais importantes do peronismo atual de concorrer a novos cargos públicos, deixando-a exposta (aí sim) a acabar na cadeia em condenações após deixar o posto atual. Fala-se nos bastidores de um possível indulto do presidente Alberto Fernández (que também considerou a condenação ilegítima e entende que ela teria o único objetivo de afastar Cristina da vida pública), mas até recentemente esta era uma possibilidade negada tanto por ele quanto por Kirchner. Na CNN.
🌎 Mercosul cobra Uruguai por negociações paralelas – Diante das intenções cada vez menos multilaterais do Uruguai, os outros membros do Mercosul – Argentina, Brasil e Paraguai – exortaram Montevidéu a respeitar as regras do grupo e a evitar avançar em mais negociações fora da alçada do restante de seus parceiros regionais. De forma uníssona, os três governos alertaram que seguir por esse caminho poderia colocar o Mercosul até mesmo sob risco de ruptura. “Não creio que esse seja o mecanismo”, insistiu na terça (6) o presidente argentino Alberto Fernández, durante a 61ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados – que aconteceu justamente na capital do paisito. Não é de hoje que o líder peronista, o menos liberal entre os atuais mandatários, tem feito oposição a essa postura por parte de seu homólogo Luis Lacalle Pou. Recentemente, porém, até mesmo Brasil e Paraguai, ambos sob administrações mais simpáticas ao livre-comércio, têm torcido o nariz às ‘puladas de cerca’ do uruguaio. Do lado solitário do cabo de guerra, segue o morde e assopra: Lacalle Pou até concordou que o caminho da ruptura não seja o ideal, mas voltou a reforçar a importância de “abrir-se para o mundo”. E também cutucou o atraso envolvendo a empacada negociação entre o bloco e a União Europeia: “não se pode demorar 16 anos para fechar um acordo”. Nos últimos dias, a Argentina voltou a acenar aos europeus pedido avanços nas tratativas. No Cronista.
🇨🇱 “Semana decisiva” por nova Constituição acaba sem decisão alguma – “Vou ver e te aviso”. Ninguém disse exatamente essas palavras, mas essa foi a sensação após o presidente Gabriel Boric pedir, na quarta (7), que as diferentes correntes políticas do país chegassem a um acordo ainda “nesta semana” sobre o que fazer a respeito da mudança da Constituição do Chile. Apesar do leve ultimato presidencial, o impasse permanece: passados três meses da reprovação em plebiscito da Carta Magna escrita por uma Convenção exclusiva, o Chile ainda tem a missão de adotar um novo texto, mas não sabe como fazer isso. Boric queria novamente a eleição de um órgão 100% escolhido para redigir a Constituição, mas, diante da resistência de opositores, já vinha recuando da posição: “é melhor ter um acordo imperfeito do que não ter acordo”, disse, pedindo que “para dar certeza aos cidadãos, [espero que] os partidos políticos estejam à altura das circunstâncias”. Até o fechamento desta edição, porém, nenhuma decisão havia sido tomada. A oposição defende a ideia de um órgão misto, com número de integrantes ainda incerto, mas que seria parcialmente eleito pela população e teria outra parte formada por “especialistas” indicados pelo próprio Congresso – e há até quem defenda convocar mais um plebiscito para a população dizer qual tipo de órgão prefere. Até aqui, porém, ninguém voltou atrás nos acordos firmados ainda em 2019, segundo os quais, por mais tortuoso que seja o caminho, todo esse processo deverá, sim, culminar com uma nova Carta Magna para o país. Na T13.
🇸🇻 Guerra às gangues agora inclui cidade sitiada por 10 mil soldados – O presidente Nayib Bukele tinha avisado e, nesta semana, aconteceu: uma cidade salvadorenha foi inteiramente sitiada pelas forças de segurança em meio à intensificação dos esforços para prender membros de grupos criminosos. Cerca de 10 mil soldados e policiais foram deslocados para Soyapango, uma cidade na região metropolitana da capital San Salvador, fiscalizando documentos e detendo suspeitos no último sábado (3) – o que, em alguns casos, pode significar apenas ter tatuagens vagamente semelhantes às usadas pelas pandillas. Não foi a primeira vez que uma ação do tipo ocorreu – em outubro, cerca de 2 mil agentes de segurança fizeram o mesmo em Comasagua, prendendo 50 pessoas em dois dias –, mas é a maior mobilização até agora. Desde que a cruzada contra as gangues se iniciou em março, El Salvador já registrou mais de 58 mil suspeitos presos, em meio a uma miríade de denúncias de violações de direitos humanos e detenções de pessoas sem qualquer envolvimento com as organizações criminosas– nesta quarta (7), a Human Rights Watch publicou um novo relatório detalhando os crimes atribuídos ao Estado salvadorenho durante o período de exceção que já vigora há quase nove meses. De acordo com a HRW, pelo menos 86 pessoas morreram sob custódia estatal – e sem julgamento – no período. Via AP.
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O êxtase argentino após a classificação na Copa do Mundo.
MAIS NOTÍCIAS
BOLÍVIA 🇧🇴
Segue o roteiro: aqueles outros protestos envolvendo o atraso na realização do Censo (relembre aqui) podem até ter chegado ao fim depois de vários dias, mas Santa Cruz, a maior região do país, segue em eterna oposição ao governo e suas decisões – estas relacionadas às tais passeatas recentes. Dessa vez, o Comitê Interinstitucional da macrorregião anunciou, na quarta (7), que seus líderes que encabeçaram os manifestos não irão a La Paz, onde são aguardados para serem julgados pelo Ministério Público. Defendendo o que chamaram de “direito ao protesto”, eles alegam que descumprir a ordem judicial é fazer frente a “atropelos” e “perseguição política”. Via EFE.
COLÔMBIA 🇨🇴
Convertida em ponto de passagem obrigatório para a migração rumo aos Estados Unidos, a Colômbia vai realizar uma conferência no início de 2023 junto com Washington para discutir soluções para o tema, segundo anunciaram autoridades dos dois países na sexta-feira (9). O objetivo seria “encontrar uma solução regional para um desafio regional”, afirmou Alejandro Mayorkas, secretário de segurança nacional dos EUA, após encontrar o presidente Gustavo Petro em Bogotá. Via Reuters.
COSTA RICA 🇨🇷
Acusação grave feita por sindicalistas: as manobras do presidente Rodrigo Chaves contra a direção da Caixa Costa-Riquenha de Seguro Social (CCSS) seriam parte de um movimento para “desmantelar” e “privatizar” o serviço de saúde pública do país, considerado um dos melhores da região. A denúncia bombástica foi feita na quarta-feira (7) por Marta Rodríguez, que representa os sindicatos de trabalhadores na Junta Diretiva da CCSS, para quem a abertura de procedimentos administrativos contra diretores do sistema seria uma forma de precarizá-lo. Chaves e a presidenta-executiva da CCSS, Marta Esquivel, anunciaram recentemente uma denúncia penal contra parte da chefia da Caixa, alegando suposto descumprimento de deveres e conflito de interesses por aprovarem um reajuste salarial para os funcionários. Para Rodríguez, medidas do tipo só ajudam “amigos” do presidente, “que têm interesse nos recursos de uma instituição cujo orçamento é de 5,7 trilhões de colones (R$ 51,3 bilhões) para 2023”. No Semanario Universidad.
CUBA 🇨🇺
O boxe cubano está entre os melhores do mundo – mas a condição de potência do país, que tem 78 medalhas olímpicas (41 de ouro) na modalidade desde 1972, só valia entre os homens. Ao menos, até agora: em uma decisão histórica, a prática do pugilismo pelas mulheres passou a ser autorizada na ilha este ano, pela primeira vez desde a Revolução. Segundo revelou nesta semana Ariel Sainz, vice-presidente do Instituto Nacional de Esportes, Educação Física e Recreação (Inder), o novo Código Familiar aprovado em 2022 – que estabeleceu direitos à comunidade LGBTQIA+ e novas proteções às mulheres – deu as bases legais para a igualdade, também, na liberação da prática esportiva. Mesmo fora de Cuba, o boxe olímpico feminino é uma relativa novidade, e só faz parte do programa dos Jogos desde 2012. Via Reuters.
EQUADOR 🇪🇨
Diante de uma crise nacional em vários setores e ainda com ecos dos protestos nacionais do começo do ano, o presidente Guillermo Lasso anunciou, na terça (6), que o tão aguardado referendo sobre segurança, justiça, política e meio ambiente está marcado para o próximo ano, em 5 de fevereiro. O processo vai coincidir com as eleições regionais do país – decisão que, segundo Lasso, foi endossada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O referendo de oito perguntas vai questionar os equatorianos sobre diversos tópicos, incluindo a extradição de cidadãos do país vinculados a crimes de tráfico de drogas, redução de cadeiras no Congresso, mudanças nas regras hídricas e até mesmo um sistema de compensação na área ambiental. Além de responder a grupos indígenas e organizações sociais que lideraram passeatas recentes, o governo tenta criar soluções ante a onda de violência que há mais de um ano sacode várias regiões do país. Além do referendo, Lasso também pretende avançar com reformas constitucionais para aumentar o enfrentamento ao crime organizado. Via AFP.
GUATEMALA 🇬🇹
O ex-presidente Otto Pérez Molina (2012-2015) e sua ex-vice, Roxana Baldetti, foram condenados na quarta (7) por crimes de associação ilícita e corrupção, com pena de 16 anos de prisão a cada um. Eles também eram acusados por suposto enriquecimento ilícito, mas acabaram absolvidos por falta de provas. Pérez Molina teve o mandato interrompido após três anos no cargo, em 2015, quando o país foi tomado por protestos que pediam sua renúncia. Desde então, o general aposentado estava preso preventivamente à espera da sentença que veio nesta semana – após conhecer a decisão, classificou o processo de “mentiroso”. Pivô dos escândalos que levaram à condenação do presidente, o chamado caso “La Línea” dá nome a uma rede ilegal que desviou pelo menos US$ 3,5 milhões das contas públicas por meio de fraude alfandegária. No caso de Baldetti, a pena se soma a outra recebida em 2018 em função de escândalos liderados por ela na área do saneamento. Na BBC.
HAITI 🇭🇹
O governo dos EUA disse, na segunda (5), que vai estender a permissão de permanência temporária para haitianos que já vivem em território estadunidense, sob o argumento de que as condições de vida no convulsionado país caribenho seguem ameaçadas por uma crise geral, disse o Secretário de Segurança Interna Alejandro Mayorkas. Segundo a pasta, haitianos que estavam nos EUA até 6/11 podem solicitar o status de proteção temporária, ao passo que aqueles receberam a garantia no ano passado poderão ficar mais 18 meses – até agosto de 2024. As medidas de extensão revertem políticas dos anos de Donald Trump (2017-2021). Ainda que o timing da decisão de Washington seja cercado de dúvidas – já que não é de hoje que as coisas estão feias para haitianos em trânsito ou em situação de refúgio –, a medida vem numa boa hora: como explicado no GIRO #159, em função da crise humanitária, a situação desses cidadãos virou delicada até mesmo dentro da ilha de Hispaniola, devido à crise migratória para a vizinha República Dominicana. Via AP.
Dale un vistazo:
A Vida de Togo – Um flanelinha veterano que trabalha perto da rambla de Montevidéu, no Uruguai, acolhe uma adolescente de família abastada que foge de casa. A improvável amizade entre os dois, construída enquanto se revezam para cuidar dos carros no quarteirão, serve de pano de fundo para uma trama que envolve crime organizado, cultura afro-uruguaia (como o candombe), e cenas de ação bastante hollywoodianas. Confira aqui a primeira produção uruguaia da Netflix.
‘Togo’ (Uruguai, 2022). Dir.: Israel Adrián Caetano. 92 minutos.
HONDURAS 🇭🇳
Começou a valer, na terça (13), o estado de exceção que há dias foi decretado pelo governo para conter o avanço das pandillas, que nos últimos tempos têm feito aumentar casos de violência e extorsão em diversos locais do país. O diretor da Polícia Nacional, Gustavo Sánchez, que confirmou a designação de 600 agentes para operações iniciais em bairros mais pobres controlados pelas gangues, mencionou a imensa estrutura criminal dos grupos organizados – com tentáculos espalhados pelas Américas Central e do Norte, a Mara Salvatrucha-13 (MS-13), uma das células indicadas pelo diretor, é bastante conhecida por também controlar espaços urbanos em El Salvador. Por falar nos vizinhos salvadorenhos que convivem com o problema há tempos, é bom prestar atenção nos exemplos: lá como cá, esses decretos antigangues suspendem garantias constitucionais, fato que abre caminho para uma série de abusos aos direitos humanos (que acontecem em El Salvador quase diariamente desde o início do ano). Diversas organizações do país cobram a presidenta Xiomara Castro e temem que a situação se repita em solo hondurenho. Na DW e La Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Ao contrário do peruano Pedro Castillo, a quem as portas estariam abertas, o craque argentino Lionel Messi poderia ter problemas caso optasse por pedir asilo aos mexicanos. Ao menos no que depender da deputada governista María Clemente: na terça (6), a parlamentar disse que enviou à Câmara uma proposta para declarar o jogador persona non grata. A medida (que não teria qualquer validade diplomática, como é o caso dessa classificação em situações sérias) tem a ver com um vídeo que viralizou após a vitória da Argentina sobre o México por 2 a 0, ainda na fase de grupos da Copa do Mundo no Catar. A gravação mostra Messi no vestiário dando um chutinho em uma camisa do selecionado mexicano, tudo enquanto seus companheiros celebraravam efusivamente aquela que seria uma vitória decisiva para a posterior classificação albiceleste. O gesto acabou mal visto por alguns e foi parar na esfera política. Pegou tão mal que houve até quem ameaçasse agredir o argentino, como foi o caso do boxeador mexicano Canelo Álvarez, que depois se desculpou dizendo que se “deixou levar pela emoção”. Em El País.
Alvo de protestos, a controversa reforma eleitoral que o presidente Andrés Manuel López Obrador queria levar adiante foi rejeitada pelo Congresso na terça-feira (6), o que não conteve o impulso do Executivo por propor mudanças: primeiro, o governo apresentou o “plano B”, que buscava modificar leis secundárias e sem mexer em assuntos da Constituição, mas também não teve sucesso, já que o pedido acabou sendo remetido a comissões parlamentares para análises prévias; depois de tudo, porém, veio um tal “plano C”, que críticos dizem não ter tanta diferença em teor quando comparado às reformas que ficaram pelo caminho – e, este, acabou sendo rapidamente aprovado. A proposta também corta verbas do Instituto Nacional Eleitoral (INE) e modifica sua estrutura administrativa, o que diversas entidades mexicanas e estrangeiras temem que leve a um enfraquecimento da independência do órgão. Com o obstáculo da Câmara vencido por 261 votos a 216, além de uma ausência de setores da oposição em protesto, agora a decisão fica a cargo do Senado. Na CNN.
NICARÁGUA 🇳🇮
Se em Cuba o boxe rendeu notícia por marcar um avanço, na Nicarágua acabou ocupando as manchetes pelo embate político: no último sábado (3), a luta do pugilista Román “Chocolatito” González não chamou atenção apenas pela tentativa de reconquistar o título mundial (vago) do peso supermosca, mas também pela sua condição de “representante do regime”, que fez muitos nicaraguenses torcerem pelo oponente. Chocolatito é um ardente apoiador de Daniel Ortega, e costuma subir ao ringue com camisetas e roupões que trazem a cara do líder autoritário do país e a bandeira do movimento sandinista. Opositores temiam que uma vitória pudesse ser usada para ganhos políticos e também como distração frente às inúmeras denúncias de perseguições e violações de direitos humanos que têm se intensificado em anos recentes. Desta vez, porém, o nicaraguense perdeu: no seu terceiro encontro com o mexicano Juan Francisco “Gallo” Estrada – contra quem tinha uma vitória, em 2012, e uma derrota, em março do ano passado –, a decisão ficou por conta dos juízes, que por maioria deram o triunfo ao oponente. O portal oposicionista La Prensa, que opera do exílio, não perdeu a chance de alfinetar e mancheteou: “pela primeira vez, Román González mostra sintomas de velhice”. Aos 35 anos, Chocolatito agora tem 51 vitórias e quatro derrotas na carreira.
PANAMÁ 🇵🇦
Representantes da firma canadense First Quantum Minerals correm contra o tempo para chegar a um acordo com o governo panamenho a respeito de um novo contrato de concessão envolvendo a mina de cobre da Minera Panamá, considerada a maior da América Central. O prazo é curto: o presidente Laurentino Cortizo deu até o próximo dia 14 para que um novo termo seja assinado, fato que, entre outras minúcias burocráticas, prevê aumentar em até 10 vezes o valor dos royalties. Caso um aperto de mão não aconteça, a empresa pode ver operações paralisadas de forma imediata, atrasando obras – o que geraria custos milionários. Apesar do impasse, a canadense disse na segunda (5) que espera chegar a um “bom acordo”. Para além da questão técnica por trás do impasse, também pesam sobre a concessão acusações de irregularidade – muito comuns no setor de mineração latino-americano. Via AFP e EFE.
PARAGUAI 🇵🇾
“Quem ganhar as eleições internas, ganha as presidenciais”. Foi o que sacramentou na segunda (5) o ex-ministro e pré-candidato Arnoldo Wiens, atual indicado do presidente Mario Abdo Benítez. A entrevista à EFE foi dada a dias das primárias do governista Partido Colorado, que no próximo dia 18 define quem representará as cores da legenda na eleição do ano que vem. Wiens, que passou a ser o nome escolhido após o vice-presidente Hugo Velázquez desistir de concorrer pela ala de Benítez (entenda o caso), projeta um cenário bastante provável: sempre favorito, o Colorado tem uma tradição de hegemonia política e costuma ditar as regras do jogo em solo guarani. Mas, ainda que manter o partido no poder seja algo esperado, o páreo interno será duro: do outro lado da disputa entre correligionários está o economista Santiago Peña, apoiado por ninguém menos que o poderoso e riquíssimo empresário e ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018) – que, assim como o desistente Velázquez, está às voltas com a justiça. O futuro da política paraguaia passa pelo desfecho no final do mês.
PORTO RICO 🇵🇷
Um novo estudo do Instituto de Investigação e Planificação Costeira de Porto Rico (Corepi), divulgado nesta semana, revelou que o devastador furacão María, de 2017, também provocou uma alteração significativa na linha de costa – o limite entre a água e a terra no litoral. Conforme o levantamento, o recuo da linha causado pelo desastre natural acumulou 99 quilômetros de “migração” em apenas meio ano após o furacão, espalhados em 1.285 praias da ilha. Apesar de ser um movimento que já acontece naturalmente, os pesquisadores apontam uma erosão tão acelerada pode ter consequências sérias no planejamento urbanístico e de medidas de segurança para as comunidades próximas à praia, já que o processo deixa a infraestrutura local mais exposta às intempéries. Além de trazer os números alarmantes, o Corepi apresentou às autoridades uma lista de 48 medidas para combater a erosão costeira em Porto Rico. Via EFE.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Está enganado quem pensa que só de sol e calor (sem contar as temporadas de furacão) vive o clima dominicano: na quinta (8), na região de Valle Nuevo, na província La Vega, termômetros atingiram dois graus abaixo de zero, mostrando uma inusitada faceta climática do país paradisíaco. Na mesma semana, outras regiões do país chegaram a relatar a incidência da escarcha (similar à geada no Brasil), também chamada por lá de nieve del Caribe. Segundo meteorologistas, que também confirmaram o impacto da frente fria na capital Santo Domingo, “são as menores temperaturas em sete ou oito anos”. Na Prensa Latina.
O sindicato dos jogadores de beisebol da MLB, a liga dos Estados Unidos e considerada a melhor do mundo na modalidade, inaugurou nesta semana um escritório em solo dominicano – o seu primeiro no exterior. Não é à toa: o esporte é a grande paixão nacional na nação caribenha, e grande parte dos “craques” que brilham no gigante ao norte nasceram no pequeno país e voltam para lá nas férias ou após a aposentadoria. Ao todo, hoje há 169 dominicanos ativos na MLB, o equivalente a mais de 11% do total de atletas sob contrato na equipe principal de cada franquia, fazendo do país aquele com maior representação após os próprios EUA. O presidente Luis Abinader celebrou a vinda do escritório e afirmou: “o beisebol não é só parte da nossa cultura, mas também da nossa economia”, citando que o impacto dos investimentos relacionados à modalidade na República Dominicana ultrapassa os US$ 400 milhões. No Dominican Today.
URUGUAI 🇺🇾
Os crimes e trambiques relacionados ao caso Astesiano (saiba mais na última edição) não param de vir à tona. Durante a semana, causou polêmica no paisito a notícia de uma “doação” de 454 quilos de peixe feitas pelos Emirados Árabes Unidos à Presidência uruguaia, com intermédio do próprio Alejandro Astesiano, então chefe da segurança presidencial. O inusitado presente e o envolvimento do antigo membro do alto escalão do entorno de Luis Lacalle Pou trouxeram consigo algumas questões – como, por exemplo, por que o pescado chegou via mala diplomática, um artifício geralmente utilizado para documentos sensíveis, o que dificultaria uma inspeção mais detalhada da carga. Além dos pedidos da oposição por respostas, logo também começaram a surgir teorias da conspiração, com a internet uruguaia lembrando de casos recentes em que exatamente o mesmo peso de drogas como maconha ou cocaína foi apreendidos no país. Em princípio, porém, não seria uma estranha coincidência, mas uma questão de conversão de unidades de medida: 454 kg equivalem a 1 mil libras de peso, o que explicaria a peculiar quantidade que aparece tantas vezes no noticiário, provavelmente sinal de que as diferentes cargas tinham como origem ou destino algum lugar que utiliza o sistema imperial, e não o métrico. O governo diz que o peixe, recebido no início do ano, ficou em um frigorífico por meses, até ser doado em outubro a entidades responsáveis por cozinhas populares e merendas. No Ámbito.
VENEZUELA 🇻🇪
Mais um na lista: ao lado de Equador e Peru, a Venezuela também declarou alerta sanitário por 90 dias em cinco estados costeiros após a detecção de casos de gripe aviária AH5N1, confirmou no último dia 2 a ministra da Ciência e Tecnologia, Gabriela Jiménez. Segundo a chefe da pasta, o vírus foi encontrado em pelicanos mortos na região norte do estado de Anzoátegui e “por este motivo, são tomadas medidas preventivas e alerta sanitário”, disse. Além dessa província, ficarão em ‘quarentena’ as regiões de Miranda, Nueva Esparta, La Guaira e Sucre, locais onde fica suspensa – enquanto valer o decreto emergencial – “a mobilização de aves vivas e ovos férteis”. Via AFP.
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