Paraguai ‘espera’ Brasil para não perder vacinas
Honduras: irmão do presidente condenado à prisão perpétua | Chile adia eleições por piora na pandemia | Bolívia anuncia bloqueios na fronteira com Brasil
Mesmo indiretamente e sem saber, o Brasil atrasa a vida dos vizinhos quando o assunto é a pandemia – mas não só por culpa do governo brasileiro. Durante a semana, o indeferimento do pedido de certificação da vacina Covaxin pela agência reguladora brasileira, a Anvisa, adiou o avanço da vacinação no Paraguai. Isso porque o país contíguo, de forma bastante inusitada, não conta com um órgão próprio para deliberar sobre quais vacinas podem ou não ser compradas e utilizadas em território nacional, tomando os vizinhos como referência.
Segundo o próprio Ministério de Relações Exteriores paraguaio, o país “depende da autorização de órgãos reguladores regionais” para ir adiante com seu processo de vacinação. Como o Brasil negou o pedido de importação e distribuição da indiana Covaxin, os paraguaios não podem avançar com a aplicação de 100 mil doses doadas pelo governo indiano, fato preocupante sobretudo pelo momento da pandemia: com recorde de internações durante o mês de março e leitos de UTI batendo 100% de ocupação (apesar da criação de novas unidades), em março o país registrou repetidamente mais de 2 mil novos casos diários pela primeira vez na pandemia. Para piorar, não chegou sequer a 50 mil doses aplicadas, segundo números oficiais até o fechamento deste GIRO – o que torna uma doação modesta como a dos indianos suficiente para mais que triplicar os esforços de imunização em um dos países onde a campanha avança mais lentamente na região. No Paraguai, as doses já inoculadas contemplam míseros 0,6% da população, contra uma média regional de 7,8%.
Outra solução para o Paraguai em meio ao trágico combo de alta de casos e vacinas em falta é o México: ao lado de Brasil e Argentina, o gigante norte-americano também é usado como referência pelas autoridades paraguaias para decisões relacionadas ao programa de vacinas. Por lá, um comitê especial chegou a recomendar a Covaxin e, segundo informações, a agência mexicana Cofepris costuma seguir as recomendações do grupo intermediário. Mas, até o momento, nada está oficializado e de acordo com a diretora da Direção Nacional de Vigilância Sanitária (Dinavisa), María Antonieta Gamarra, o Paraguai “não vai fazer nada até ter todas as informações com todo o rigor científico”. Até lá, em meio ao colapso da saúde, “vacinas ficarão em quarentena”. Apesar das alternativas, o governo em Assunção dá prioridade para as decisões da Anvisa, por isso mantém “contato permanente” com o Brasil.
Essa não foi a única polêmica envolvendo o Paraguai, vacinas e terceiros: na reta final de março, representantes de Assunção declararam que “pessoas próximas ao governo chinês” teriam oferecido a facilitação de acesso a vacinas em troca do rompimento das relações diplomáticas com Taiwan, cuja autonomia política é territorial é rechaçada por Pequim, que considera a declaração de independência da ilha um sinônimo de “guerra”. Imediatamente, a porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying, negou os rumores, dizendo se tratar de um “exemplo de desinformação maliciosa”, acusando os próprios taiwaneses de provocar o incidente e reforçando que vacinas produzidas na China têm o objetivo de “salvar vidas”. O Paraguai é o único país sul-americano que reconhece Taiwan e não a República Popular da China em suas relações.
Em resposta, o governo paraguaio ressaltou que a proposta partiu de figuras “não-oficiais”, reafirmando que o país jamais aceitaria esse tipo de negociações. Também garantiu que questões diplomáticas não vão proibir compra de vacinas com qualquer país. Promessas que não mudam a realidade: com exceção da Venezuela, com pouca clareza nos dados oficiais de imunização, o Paraguai se mantém como o país que menos vacina na América do Sul.
Gosta do GIRO? Ele pode ser ainda melhor com o seu apoio.
Un sonido
DESTAQUES
🇧🇴 BOL – “Bloqueio epidemiológico” é como a Bolívia vem chamando o pacote de medidas para intensificar o controle na fronteira com o Brasil, temendo a variante originada no país vizinho que vem fazendo recordes serem batidos quase diariamente por aqui. O governo enviou carregamentos extras de vacinas, insumos e endureceu o controle na entrada e saída do país por pelo menos sete dias, além de suspender atividades ao longo da semana, na tentativa de impedir que a situação saia ainda mais do controle. Apesar da nova rodada de medidas contra a pandemia, as autoridades eleitorais confirmaram que o segundo turno das votações subnacionais, que decidem prefeitos e governos departamentais, acontecerá mesmo em 11/4. Via EFE.
🇨🇱 CHI – Após muito debater a ideia e tentar evitá-la, o Chile decidiu adiar eleições em 2021 por conta da pandemia. A medida, comum na região no ano passado, vinha sendo evitada após a baixa dos contágios registrada no segundo semestre, mas voltou a entrar na pauta conforme a situação se agrava com o aparecimento de novas variantes. Esperando que a rápida campanha de vacinação dê conta de causar uma queda no ritmo dos contágios ao longo deste mês, o governo anunciou que as eleições regionais e as da Assembleia Constituinte passarão para os dias 15/5 e 16/5. Marcadas originalmente para 11/4, elas já haviam sido desmembradas em dois dias (com votação também em 10/4) para reduzir aglomerações, mas por fim se optou por aguardar outro mês. Em El País.
🇸🇻 ELS – Outro episódio brutal: no sábado (27), a salvadorenha Victoria Salazar morreu após uma ação violenta de policiais em Tulum, no estado mexicano de Quintana Roo, onde morava há cerca de cinco anos com duas filhas adolescentes. O caso foi comparado pela mãe da vítima ao assasinato de George Floyd, já que Salazar teve o pescoço quebrado durante uma abordagem, segundo apontou um relatório da perícia. A salvadorenha já vinha acuada por violência: segundo autoridades, sofria abusos por parte do companheiro, que também foi detido acusado de estuprar uma de suas filhas. A outra chegou a ficar desaparecida entre terça e quarta-feira, levando a avó de ambas a pedir que Joe Biden acolha as duas nos EUA: “estenda a mão e dê refúgio a elas”. O caso gerou indignação e foi classificado pelo presidente Nayib Bukele como “algo muito pior” do que se imaginava. O mandatário mexicano López Obrador também condenou o caso, dizendo que o crime o enche de “pena, dor e vergonha” e “não ficará impune”. Na quinta-feira (1º/4), o México concedeu vistos temporários às duas filhas de Victoria. Na Prensa Gráfica.
🇭🇳 HON – Tony Hernández, ex-deputado e irmão do presidente Juan Orlando Hernández, foi condenado à prisão perpétua pela Justiça dos EUA por uma série de crimes relacionados ao tráfico internacional de drogas, na terça-feira (30). A sentença também ordenou o confisco de US$ 138,5 milhões do patrimônio de Tony, dinheiro que teria sido obtido com o narcotráfico. Em Honduras, JOH – como também é conhecido o presidente – reafirmou que o processo que levou à condenação do irmão é baseado em mentiras e na cooperação de criminosos, que fizeram acordos de delação e passaram a citar membros da família Hernández. O próprio JOH é procurado pelas autoridades estadunidenses, que também o consideram suspeito de envolvimento no tráfico. Na CNN.
🇵🇪 PER – “De nenhuma maneira” as eleições de 11/4 serão suspensas. É o que disse o presidente interino Francisco Sagasti, questionado sobre a possibilidade de achar uma nova data para a votação (como aconteceu no vizinho Chile) que escolherá presidente, dois vices, novos congressistas e representantes no Parlamento Andino para um um mandato de cinco anos. Segundo o governo, os protocolos sanitários estabelecidos para o pleito são claros e novos postos de votação foram criados para evitar aglomerações. A semana também foi de debates presidenciais, com assuntos relacionados à pandemia em destaque. Com 18 candidatos, ainda é incerto prever favoritos na disputa: durante 2021, vários nomes lideraram as pesquisas de intenção de voto e nenhum chegou sequer a 20% (saiba mais no GIRO #70). No entanto, quem aparece à frente nos últimos estudos é o ex-congressista Yonhy Lescano, que se diz “nem de esquerda e nem de direita”, mas é de direita, segundo analistas. Em El Comercio.
Un hilo:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
Com o aumento da migração para os EUA logo após o início do governo Joe Biden – que promete reverter as medidas de Donald Trump que violam direitos humanos, como contamos neste vídeo –, a situação dos latinos mantidos sob custódia por agentes de fronteira agora pode ser conhecida com mais transparência: pela primeira vez, o governo permitiu a entrada de jornalistas em um centro de detenção no Texas, que mantém cerca de 4 mil pessoas, em sua maioria crianças, em condições insalubres. Uma das prioridades da nova administração seria reintegrar crianças perdidas a suas famílias, mas o aumento do fluxo migratório, a pandemia e a pressão de republicanos contrários a flexibilizações têm levado Biden a manter cautela, o que levou o novo governo a receber uma enxurrada de críticas. Via AP.
ARGENTINA 🇦🇷
Grupos políticos de esquerda protestaram na capital contra o atraso das vacinas da Astrazeneca fabricadas no país, pedindo que a produção feita por laboratórios privados passe para o controle estatal. Aos gritos de “vacina para todos”, revivendo as manifestações contra o escândalo que levou autoridades a pular a fila da vacinação (e que derrubou o então ministro da Saúde, Ginés González García, em fevereiro), a multidão ainda criticou os acordos de empréstimo com o FMI, dívida que o governo recentemente admitiu não ter como pagar. Com três meses desde o início de seu programa de vacinação, a Argentina só conseguiu imunizar efetivamente (quando a pessoa recebe as duas doses) cerca de 1,5% da população, menos de 700 mil pessoas. Em paralelo, a curva de contágio cresce: com registros de mais de 10 mil novos casos diários no final de março, o governo precisou fechar fronteiras terrestres. Via Reuters.
Seguindo a tendência regional, a Argentina também viu a pobreza aumentar drasticamente no ano da pandemia: agora, são 19 milhões de pessoas que podem ser enquadradas como “pobres” de acordo com os critérios locais, o equivalente a 42% da população – eram 35% um ano antes. O número acende o alerta por ser o mais alto em 17 anos, mas ainda está abaixo do recorde da série histórica: em 2002, em meio ao caos social e econômico que se seguiu à crise cambial da virada do século, 57,5% dos argentinos eram pobres. No Clarín.
CHILE 🇨🇱
O governo anunciou o acordo de compra de mais 1,8 milhão de doses da vacina Ad5-nCoV, produzida pelo laboratório sino-canadense CanSino. De dose única, a vacina realizou ensaios clínicos em cinco países, sendo um deles o próprio Chile. Os resultados são positivos: mais de 90% de eficácia em casos graves de covid-19. Segundo o ministro da Saúde, Enrique Paris, uma nova reunião sobre as próximas etapas de aprovação deve acontecer no próximo dia 7, com possível aval das agências reguladoras entre maio e junho. O presidente Sebastián Piñera celebrou a decisão, dizendo que mais vacinas são importantes para manter uma boa taxa de vacinação – mesmo com mais de 70% da população sob quarentena por conta da alta de casos, o Chile tem a vacinação mais rápida da América Latina, com mais de 19% da população efetivamente imunizada até o fim de março. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
Os dias violentos voltam a galope à Colômbia. No começo da semana, a primeira notícia: o ex-governador de Caquetá, Germán Medina Triviño, foi morto a tiros por dois homens armados. Triviño ocupou o cargo entre 2009 e 2011, e chegou à governança justamente para substituir um mandatário assassinado pelas FARC. O político vinha atuando na prefeitura de Florencia, e também tem seu próprio passado nebuloso: era acusado de envolvimento na morte de dois professores nos anos 2000, assassinados por grupos paramilitares que teriam ligação com Triviño. Aliados à extrema direita, esses bandos armados se opuseram à luta das guerrilhas, deixando vários em meio ao fogo cruzado. A semana passada também foi movimentada no conflito civil, com um carro-bomba detonado em frente à prefeitura de Corinto, em Cauca, no dia 26 (leia no GIRO #74) – um ataque que o governo agora atribui a uma dissidência das FARC. No fim de março, mais sobre a violência: a Justiça condenou o ex-guerrilheiro Jesús Vargas pelo assassinato de dois jornalistas equatorianos em 2018, em um caso conhecido pela falta de ações do governo em Quito e denúncias da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. As tensões colombianas também varam fronteiras: na segunda (30), o presidente Iván Duque assinou a extradição para os EUA de um guerrilheiro do Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha oficialmente ativa no país, acusado de narcotráfico pela Justiça do Texas. A decisão é inédita e só aprofunda a ruptura entre o Estado e o ELN; as partes encerraram tentativas de negociação de um cessar-fogo em 2018.
COSTA RICA 🇨🇷
O governo assinou, na segunda (29), uma nova lei contra o assédio sexual no esporte, com medidas específicas para a área – abrindo caminho, por exemplo, para a remoção imediata de pessoas em cargos de comando (como treinadores e dirigentes) em casos do tipo. A legislação também prevê que o Instituto Costarriquenho de Esporte e Recreação (Icoder, na sigla em espanhol) fique a cargo do acompanhamento jurídico e psicológico das vítimas que venham a denunciar episódios de assédio no âmbito esportivo. Na ESPN.
Un nombre:
Plan Cóndor – ou Operação Condor. É o nome do conluio militar que congregou os aparatos repressivos das ditaduras de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai a partir de 1975, com apoio dos EUA e de outros vizinhos sul-americanos. O nome faz referência à ave-símbolo dos Andes e sua sagacidade na caça às presas, além da facilidade que tem para cruzar fronteiras em seu voo nos céus do continente. O Condor da repressão envolvia troca de inteligência, recursos humanos e técnicas de tortura, na busca por opositores políticos exilados, que eram passados de um país ao outro após a captura.
CUBA 🇨🇺
Pelo menos 124 mil profissionais da saúde receberam a vacina Abdala, um dos dois imunizantes produzidos na ilha que já estão em estado experimental (a outra em estado avançado é a Soberana 02, também na fase 3, a última, dos testes clínicos). A nova etapa de intervenção foi aprovada no último sábado (27) e terá avanço crucial em abril e maio para o início do plano nacional de imunização em meados de junho. O governo cubano pretende produzir 100 milhões de doses em 2021, para uso interno e exportação. Além de profissionais de saúde, Cuba também já vacinou atletas que buscam uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio. O presidente Miguel Díaz-Canel chamou os esportistas vacinados e os criadores da vacina de “campeões”. No Jornada.
EQUADOR 🇪🇨
Ainda na corrida pela presidência, mas já falando em tom de vencedor, o candidato de centro-esquerda Andrés Arauz (apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa, que governou de 2007 a 2017) se reuniu com o embaixador dos EUA no Equador, prometendo “relações soberanas com todos os países do mundo” para contornar as sequelas da pandemia. Em resposta, Washington respondeu por meio de seu representante que pretende nutrir boa relação com qualquer que seja o vencedor do segundo turno, que acontece em 11/4. O adversário de Arauz no pleito é o conservador Guillermo Lasso, que passou à frente nas intenções de voto em parte das últimas pesquisas. No entanto, assim como no primeiro turno, a chamada segunda vuelta tem tudo para ser acirrada. Em El Universo.
Um áudio de quase 8 minutos vem repercutindo no país como um exemplo do caos que ronda a gestão da pandemia e da vacinação no Equador. No arquivo vazado, o novo ministro de Saúde, Mauro Falconí, pode ser ouvido com a voz alterada e soltando frases como: “onde diabos estão os dados?” e “quero saber quantas doses de vacina há neste país”. Além de ter sido o primeiro caso de colapso sanitário e funerário das Américas, ainda em março de 2020, o Equador vive uma nova crise na Saúde com a renúncia sucessiva de ministros ao longo do último mês, por conta de um escândalo de furo de fila e privilégios na vacinação: Falconí assumiu o cargo em 20/3, após a queda de seus dois antecessores em um intervalo de apenas três semanas, e agora se depara com um apagão estatístico. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
A crise nos rincões fronteiriços segue: durante a semana, cerca de 300 pessoas residentes da cidade de Mazapa de Madero fizeram um grupo de policiais mexicanos refém após uma guatemalteca ser morta em uma ação de controle na fronteira. O governo guatemalteco cobrou justiça e punição, ao passo que autoridades mexicanas admitiram que os tiros contra o carro de Elvin Mazariegos foram fruto de uma ação “errônea”. A escalada de violência entre os países acontece enquanto o presidente Alejandro Giammattei decreta “estado de prevenção”, após relatos de que uma nova caravana de migrantes se organizou em Honduras para tentar chegar aos EUA, precisando necessariamente passar pela Guatemala e pelo México no caminho. Durante a semana, Giammattei realizou reunião virtual com a vice-presidenta dos EUA, Kamala Harris, para discutir a migração irregular. Via AP.
HAITI 🇭🇹
O questionado presidente Jovenel Moïse reafirmou, na terça (29), suas intenções de ir em frente com o referendo para reformar a Constituição de 1987. A data, que marca o aniversário de adoção do texto atual, foi tomada por protestos da oposição contra Moïse, uma constante nos últimos dois anos no país. Defendendo a reforma que pretende levar a votação ainda em abril, o presidente disse que o texto atual trouxe conquistas, mas “seu tempo se esgotou”. Na teleSUR.
HONDURAS 🇭🇳
Honduras também adotou medidas de restrição a viajantesfgv vindos da América do Sul, na tentativa de conter a variante brasileira do coronavírus (saiba mais no GIRO #74). A decisão de suspender provisoriamente a chegada de viajantes (inclusive cidadãos hondurenhos) que tenham permanecido em território sul-americano nos últimos 15 dias foi tomada dias após um caso da variante brasileira, a P1, ser detectado no Panamá. Os panamenhos foram pelo mesmo caminho. Via Reuters.
MÉXICO 🇲🇽
Há muito mais mortes por covid-19 do que os registros oficiais dão conta. E quem diz isso é o próprio governo: admitindo que testa pouco e que, além disso, muitas pessoas morreram em casa sem jamais realizar um teste, um relatório divulgado no último sábado (27) jogou o número de mortes prováveis na conta do coronavírus para mais de 321 mil – 60% a mais do que o número oficial divulgado até aquele dia, de 201 mil. O cálculo se baseia em uma proporção das mortes em excesso (417 mil) que o país teve entre o início da pandemia e o dia 14/2, mas não há como comprovar quantos óbitos foram efetivamente pela doença. Como ocorreu em outros locais, muitas mortes podem ser “indiretas”, causadas pela falta de acesso a tratamentos e acompanhamento médico em função da superlotação de hospitais. Se oficializado, o número mexicano colocaria o país à frente até mesmo do Brasil em mortes absolutas (e com uma população menor), embora os dados oficiais brasileiros também sejam considerados subnotificados. Apesar da falta de testagem, o México ainda assim é o país latino-americano com mais mortes proporcionais na pandemia: até quarta-feira (31), segundo os números oficiais, eram 1.576 mortes por covid-19 a cada milhão de habitantes – ou uma morte reconhecida oficialmente a cada 634 pessoas. Via AP.
Dale un vistazo:
📚 A Festa do Bode – Considerado um dos romances mais completos do peruano e Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, a obra é um convite para mergulhar nos tenebrosos anos da ditadura de Rafael Leónidas Trujillo, o sanguinário general que durante mais de três décadas personificou, com requintes de crueldade e autoritarismo, o próprio Estado dominicano. O livro caminha por três eixos narrativos (e, por que não, três Repúblicas Dominicanas) distintos, que se entrelaçam ao longo de uma trama tragicamente fiel aos horrores típicos da segunda metade do século 20 na América Latina.
A Festa do Bode, de Mario Vargas Llosa, foi lançado no Brasil em 2011 pela Companhia das Letras.
NICARÁGUA 🇳🇮
À espera da “volta à democracia” nas eleições do final de 2021, o médico Rommel Meléndez tem suas razões para querer regressar à Nicarágua: já são três anos longe do país de origem, deixado para trás seu emprego e família após a crise política que recrudesceu a violência em 2018. Atualmente trabalhando em um restaurante na vizinha Costa Rica, Meléndez é um dos pouco mais de 30 profissionais de saúde que atravessaram a fronteira para fugir das tensões e perseguições; segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, mais de 800 trabalhadores foram demitidos por retaliação política naquele ano. No poder desde 2007, Daniel Ortega promete tentar a reeleição mais uma vez, mas sua incerta condição de saúde e um pacto entre partidos de oposição para tirar os sandinistas dá retoques de incerteza ao pleito de novembro. No 100noticias.
O rechaço ao governo Ortega e sua metamorfose autoritária também é recorrente entre os que seguem no país, sobretudo pela violência: durante a semana, foi assassinado a tiros Ernesto Jaquín, de 48 anos, um líder campesino conhecido por fazer oposição ao governo e por ter passado meses preso por razões políticas. Ainda sem apresentar evidências, grupos de oposição acusam a “ditadura” de encomendar o assassinato. Organizações independentes dizem que a matança de líderes sociais contrários aos sandinistas aumentou de 2018 em diante. Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
O Banco Mundial acredita que o Panamá terá a maior recuperação do PIB em toda a América Latina em 2021: um acréscimo de até 9,9% segundo as projeções da instituição, bem acima do segundo colocado, o Peru, que tem um crescimento projetado em 8,1% para este ano. O aumento, porém, ainda será insuficiente para recuperar o tombo vivenciado pela economia panamenha no ano passado: uma queda de 17,9%, a maior da série histórica. Em El Periódico.
O bloqueio (já resolvido) do Canal de Suez, no Egito, fez muita gente se questionar se algo parecido poderia ocorrer na famosa passagem do Panamá. A reportagem da BBC tenta entender o que ocorreria: embora ninguém descarte algo assim, especialistas em navegação dizem que o Canal do Panamá teria chances muito menores de passar por um perrengue similar – o sistema de eclusas, a obrigatoriedade de contar com um rebocador de assistência a partir de um certo tamanho de navio, e a própria geografia (o problema no Suez foi causado em parte pelos ventos de uma tempestade de areia, cenário que não ocorreria na selva panamenha) contribuem para tornar o Panamá menos propenso a um navio encalhado. É mais provável que o canal centro-americano seja bloqueado pela natureza: a falta de chuvas, que vem se tornando cada vez mais frequente, já provocou alertas de suspensão temporária das passagens por ali na última década.
PERU 🇵🇪
As Forças Armadas confirmaram, na terça (30), a morte do número dois da guerrilha Sendero Luminoso, ainda classificada como grupo terrorista no país. Jorge Quispe Palomino, conhecido como Camarada Raúl, morreu em janeiro, meses após ser ferido em uma operação em outubro de 2020, quando um “enfrentamento” entre patrulhas militares e membros do grupo armado terminou com três mortos e dezenas de feridos. Segundo o Exército, o SL teria sequestrado e matado uma família pouco antes da investida militar. Os conflitos entre Estado e a guerrilha de orientação marxista viveram seu auge no final do século 20 e até hoje dividem a sociedade peruana: se guerrilheiros acabaram condenados à prisão perpétua por atentados contra civis, a existência da atividade armada também acabou servindo de pretexto para a criação de esquadrões da morte e alimentou um ódio generalizado a tudo mais à esquerda, sobretudo durante a ditadura de Alberto Fujimori (1990-2000). Em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
Um evento de vacinação em massa deu um gás no programa contra o coronavírus na ilha: agora com doses da Janssen, que é de dose única, o governo local estimou uma vacinação de cerca de 10 mil pessoas durante o mutirão de 15 horas na capital San Juan, durante a quarta-feira (31). Ainda que não tenha status de nação, Porto Rico foi o primeiro território na América Latina a iniciar a vacinação, ainda no início de dezembro de 2020. Com 3,2 milhões de habitantes, a ilha já aplicou mais de 1,1 milhão de doses (equivalentes a 34% da população), números proporcionais que só perdem para o Chile na região. Até aqui, Porto Rico prioriza a vacinação de pessoas com mais de 50 anos, doentes crônicos na faixa entre 35 e 49 anos, além de trabalhadores de serviços considerados essenciais. Via AP.
Un clic:
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A campanha de vacinação dominicana reforça a dependência dos caribenhos em relação à China, que tenta ampliar sua influência sobre a região: do país asiático já chegaram 1,8 milhões de vacinas, das quais o país já utilizou mais de 890 mil (ou pouco mais de 8% da população recebendo a primeira dose), informou o Ministério da Saúde. Ainda que o governo em Santo Domingo também tenha acordos de compra com laboratórios de outros países, as doses já disponíveis são todas de farmacêuticas chinesas. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
Na ressaca das farpas trocadas durante a reunião virtual do Mercosul no último dia 26 (leia mais no GIRO #74), o presidente Luis Lacalle Pou fez questão de botar panos quentes: se Alberto Fernández, o principal “caçado” durante as divergências, classificou as respostas do uruguaio como “pouco educadas”, Lacalle Pou disse que “não poderia me reconciliar” com quem jamais brigou, sugerindo que apenas quer um Mercosul “mais dinâmico”. O mandatário aproveitou para falar em portas abertas à imigração, inclusive argentina: segundo ele, o país já recebeu milhares de cubanos e venezuelanos e ainda tem lugar para “mais 300 mil pessoas, muito bem-vindas”. No Montevideo Portal.
A Justiça decretou prisão preventiva por 15 dias para o ex-coronel Eduardo Ferra, acusado de crimes contra a humanidade durante a ditadura militar (1973-1985). A decisão foi detalhada pelo setor da procuradoria responsável por casos de violação dos anos de chumbo. Ferra foi preso na Espanha e extraditado para o país em 2017, em uma operação envolvendo a Interpol e autoridades uruguaias. Ele é acusado de participar do homicídio do militante comunista Óscar Tassino e do desaparecimento de opositores do regime, além de ser apontado com figura-chave nas articulações do Plano Condor (leia mais em Un nombre). Na DW.
VENEZUELA 🇻🇪
A crescente onda de violência na Colômbia (leia mais na seção do país) se alastra na fronteira venezuelana, revivendo um conhecido conflito político, diplomático e territorial. A região de Alto Apure, que o presidente Nicolás Maduro diz ter sido “abandonada” pelo governo colombiano, virou cenário de guerra nos últimos dias de março, com confrontos entre o Exército da Venezuela e grupos armados colombianos. A situação descontrolada aglutina casos de abuso de direitos humanos: enquanto moradores locais denunciam que forças de segurança venezuelanas teriam matado quatro camponeses durante as operações contra os guerrilheiros, esses próprios habitantes das regiões sofrem ataques e desalojamentos forçadas por esse conflito que, se tem vários atores, conta com pouca ou nenhuma preocupação por parte de autoridades. Em resposta às denúncias, o governo venezuelano prometeu “investigar caso haja evidências de abuso”, mas voltou a atacar o poder colombiano, dizendo que o presidente Iván Duque “patrocina” agressões na parte venezuelana da fronteira. No Efecto Cocuyo.
Diante da inflação cada vez maior e de correções monetárias que cortam zeros e alteram a política de pagamento, a Venezuela padece diante de outro problema: a falta de dinheiro em espécie, item que já representa apenas 2% de toda a liquidez monetária em circulação. Além de não contar com maquininhas de cartão aos montes, como é o caso no Brasil, muitos venezuelanos se veem obrigados a recorrer a transferências bancárias, até mesmo para pagamentos triviais, como gorjetas. Outro elemento que gera distorção é a autorização do uso do dólar em todo território – em Cuba, por exemplo, isso também causou deformidades, o que levou o governo em Havana a iniciar um processo de unificação monetária em 2021 (saiba mais do vídeo do GIRO) – além das constantes sanções impostas à economia nacional. Para dar uma dimensão do tamanho do problema, recentemente o Banco Central em Caracas lançou cédulas de 200 mil, 500 mil e um milhão de bolívares e nenhuma das três chega a valer um mísero dólar. Em El País.