Pai de ‘Bolsonaro chileno’ era membro nazista, mostram documentos
Peru: Castillo escapa de ‘impeachment’ | Chile: casamento igualitário vira lei | Uruguai: confirmado referendo contra LUC | El Salvador: governo negociou com gangues, diz EUA
Perto de definir seu novo presidente no segundo turno das eleições gerais, que acontecem no próximo dia 19, o Chile foi sacudido por uma revelação envolvendo um dos nomes na disputa: o pai de José Antonio Kast, o ultradireitista que saiu vencedor no primeiro turno eleitoral e tenta chegar ao poder, filiou-se ao Partido Nazista da Alemanha em 1942, fato confirmado por documentos do Arquivo Federal alemão revelados pelo jornalista chileno Mauricio Weibel Barahona. Segundo os papéis trazidos à tona a dias do pleito decisivo, Michael Kast (1924-2014) passou a servir ao Terceiro Reich no ponto alto da Segunda Guerra, antes mesmo de chegar à maioridade.
Mais do que dar um novo tom grotesco à já contestada campanha do advogado conservador – publicamente simpático à ditadura de Augusto Pinochet – a confirmação de que existem laços entre a família Kast e os artífices do Holocausto contradiz o próprio candidato: sempre tentando rebater essas acusações, o neoliberal defendia que seu pai, alemão de nascimento, foi forçado a prestar serviços militares em razão da guerra, mas que isso não fazia dele alguém simpático à ideologia responsável pelo genocídio de milhões de pessoas. Mas não é o que dizem os especialistas. À Associated Press, que teve acesso aos documentos, o historiador alemão Armin Nolzen disse que não há indícios de que Michael tenha sido obrigado a se filiar à legenda. Ainda assim, a nova apuração não identificou atrocidade específica associada diretamente ao pai do candidato.
Além da discussão histórica, ficam os ecos da descoberta na corrida eleitoral de logo mais. Gabriel Boric, o jovem representante da nueva izquierda chilena que disputa o segundo turno com Kast, não demorou para recorrer ao episódio revelado: em resposta à proposta radical do direitista de construir valas no deserto para frear a crescente onda migratória, o candidato esquerdista lembrou seu adversário de que seu pai, apesar de um ex-combatente nazista, chegou ao Chile como um imigrante. “Migrar é um direito e às vezes também é uma tragédia”, disse Boric.
A ronda do fantasma de mais um passado brutal da direita mundial também pode funcionar como um entrave natural às pretensões de Kast. Acusado pela oposição de desenhar uma agenda fascista, o que inclui a proposta de criar uma “coordenação internacional antirradicais de esquerda” (conhecido precedente de governos conservadores para usar de aparatos repressivos sob o argumento de “desmobilizar” grupos contrários), o candidato vê apenas mais um elemento negativo engordar a pilha de críticas que já recebia. As pressões contra a ascensão do nome mais à direita desde o final da ditadura foram tantas que o ex-deputado chegou até a modificar alguns pontos de seu caderno de propostas – um rebranding feito às pressas e que, em vez de fazer um exame de consciência, mais ocultou promessas como a de reduzir o já encolhido papel do Estado e a de limitar a atuação das mulheres na política, entre outros retrocessos nos direitos civis.
Na primeira volta, Kast saiu vencedor com cerca de 27,9% dos votos, contra 25,8% de Boric – resultado que causou um curto-circuito até mesmo em analistas locais, já que o país há dois anos vivia o que parecia ser uma primavera progressista após os protestos de 2019. Agora, o embate decisivo deve levar em conta números ainda mais incertos: além de ser difícil dizer para onde vão migrar os indecisos de novembro, vale lembrar que o voto no Chile não é obrigatório e que nem todos sairão de casa para exercer seu direito. Ainda assim, em todas as pesquisas divulgadas até 15 dias antes das eleições (quando começa a valer uma proibição para a difusão de enquetes do tipo), Boric aparecia na frente, embora às vezes dentro da margem de erro.
Em uma eleição tão apertada e imprevisível como a chilena, qualquer abalo inesperado pode fazer a diferença: foi assim há algumas semanas, quando o Partido Comunista, que apoia Boric, endossou a vitória do sandinista Daniel Ortega na Nicarágua, causando um terremoto na campanha que precisa aglutinar os votos da velha centro-esquerda que governou o Chile após a ditadura. O jovem candidato chegou a ir às redes para repudiar o manifesto, dizendo que, se eleito, não toleraria processos fraudulentos e a perseguição política que marcam o poder em Manágua. A polêmica envolvendo o PC e Boric aconteceu pouco antes do primeiro turno e fortaleceu a narrativa anti esquerda. Agora, com o peso do passado nazista recaindo sobre a campanha da extrema direita, quem tem nova munição para tentar um ganho nas urnas é a própria esquerda. Resta ver se será suficiente.
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DESTAQUES
🇵🇪 Castillo escapa de ‘impeachment’ – Ao menos por enquanto, o presidente Pedro Castillo não vai ter que se preocupar com um afastamento do cargo. Tendo tomado posse há menos de cinco meses, o mandatário enfrentou durante a semana a sua primeira moção de vacância, com o Congresso decidindo na terça-feira (7) se o pedido – semelhante a um impeachment – avançaria para a votação definitiva. Nessa etapa, eram necessários 52 apoios entre os 130 deputados, mas apenas 46 foram favoráveis à moção. Apesar dos crescentes questionamentos internos à atuação “moderada” de Castillo, o Perú Libre, partido que o elegeu, foi unânime em votar contra a vacância. A acusação contra Castillo era vaga, baseada na controversa alegação de “incapacidade moral” que costuma servir de pretexto para pedidos similares e está por trás da sucessão de presidentes derrubados que o Peru teve nos últimos anos. Apesar da vitória da semana, a existência do dispositivo garante que Castillo poderia enfrentar outras moções similares no futuro. Em El Comercio.
🇨🇱 Casamento igualitário vira lei – Após anos de espera, a tramitação final do casamento igualitário no Chile avançou rapidamente ao longo da semana. Na terça (7), o Senado aprovou a nova legislação, com a Câmara votando imediatamente a seguir as últimas alterações ao texto que já havia passado por ali antes. Dois dias mais tarde, já na mesa do presidente Sebastián Piñera, a histórica lei foi promulgada: além de garantir que as uniões entre pessoas do mesmo sexo agora tenham o status de casamento, também possibilita a adoção de crianças por parte desses matrimônios. O Chile torna-se o oitavo país latino-americano a autorizar o casamento igualitário (seguindo-se a Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Uruguai e 19 dos 32 estados do México). A nova regra passa a valer 90 dias após a publicação no diário oficial. “É um bom dia para a liberdade, para a dignidade, para a igualdade e para a família em nosso país”, disse Piñera ao assinar a lei. Em La Tercera.
🇺🇾 Confirmado referendo contra LUC – O referendo pela revogação de 135 artigos da Lei de Urgente Consideração (LUC) foi confirmado pela Corte Eleitoral do país para o próximo dia 27 de março. Nesta quarta-feira (8), as autoridades atestaram que o mínimo de 671.544 assinaturas necessárias para convocar a votação foi atingido – em julho, opositores da lei haviam conseguido mais de 800 mil adesões ao abaixo-assinado exigindo que ela fosse submetida a voto popular, mas ainda faltava a validação das firmas, que aconteceu nesta semana. Comparada pela oposição a uma verdadeira reforma constitucional empurrada como uma lei emergencial, a LUC foi aprovada na metade de 2020, poucos meses após a posse de Luis Lacalle Pou, trazendo uma série de reformas que deixaram o código legal do país mais ao gosto do novo governo conservador, após 15 anos de Frente Ampla no poder. Agora, a LUC só permanece como está se for aceita pelas urnas. Em La Diaria.
🇸🇻 EUA também dizem que governo negociou com gangues – O governo Nayib Bukele negociou secretamente com as gangues do país em busca de uma “trégua” que reduzisse a criminalidade em El Salvador – ao menos, é o que também pensam, agora, os Estados Unidos. As pesadas acusações contra um governo que se elegeu prometendo não repetir as negociações com as pandillas feitas por seus antecessores não são novas: no ano passado, o portal jornalístico El Faro havia trazido à tona o suposto esquema, imediatamente negado por Bukele. A entrada dos EUA entre os acusadores promete elevar as tensões entre os dois países, após um ano em que o governo salvadorenho viveu uma escalada autoritária e passou a ser cada vez mais criticado por Washington. De acordo com a denúncia, benefícios financeiros e privilégios para os líderes presos, como celulares e até o envio de prostitutas para a cadeia, teriam sido oferecidos. Dois funcionários do governo receberam sanções por parte dos EUA após o anúncio dos resultados da investigação conduzida pelo Tesouro estadunidense. Via AP.
🇧🇴 Áñez quis reforçar armamento antes de eleições – Mais uma prova de tentativa de um segundo golpe na Bolívia para manter o poder em 2020, um ano após a derrubada de Evo Morales. Sob a justificativa de “preservar a dignidade do povo boliviano”, a então presidenta autoproclamada Jeanine Áñez pediu reforço de armamentos dias antes das eleições de 2020. Em 25 de setembro de 2020, ou seja, semanas antes das eleições que elegeriam Luis Arce, o governo Añez enviou uma carta às embaixadas estadunidense e britânica na qual pedia “pistolas, cartuchos, granadas, máscaras de gás, visores noturnos, binóculos, capacetes, roupas de proteção e equipamentos” que considerava importantes para a Polícia Nacional boliviana debelar eventuais protestos contra o governo. Na teleSUR.
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
A crise somatória que leva milhares de latino-americanos a tentar a sorte além das fronteiras passa pelo café: com produção afetada pelas baixas da pandemia, pela queda na demanda e por uma lista de problemas relacionados à passagem devastadora dos furacões de 2020 (incluindo fungos causados pela umidade), as zonas cafeeiras, que impactam diretamente a renda de pelo menos 5 milhões de centro-americanos, têm sido abandonadas por trabalhadores que migram em busca de fazendas com melhores condições de plantio em outros países. Pesquisas estimam que, desde 2017, a produção na região caiu 10%, gerando um ciclo retroalimentado de problemas para pequenos produtores. Via Reuters.
Uma nova tragédia em uma jornada migrante deixou pelo menos 55 pessoas mortas na quinta-feira (9), no México, quando um caminhão superlotado tombou na estrada. Segundo as autoridades, o veículo levava 166 pessoas e não suportou o peso ao fazer uma curva próximo à cidade de Tuxtla Gutiérrez, no estado de Chiapas, projetando pessoas pelo caminho e levando a um dos acidentes mais mortíferos envolvendo migrantes na última década. A maioria das vítimas seria de origem guatemalteca, informou o governo mexicano. No Milenio.
ARGENTINA 🇦🇷
Não é incomum ver notícias falando de crianças desaparecidas na Argentina, em especial pela atuação das Avós da Praça de Maio em busca dos netos (em maioria filhos de militantes mortos, desaparecidos ou expulsos do país) que sumiram durante os anos de ditadura militar (1976-1983). Mesmo assim, o problema não é exclusivo ao período de repressão: outros civis, aos milhares, já eram trocados e separados de suas famílias reais antes mesmo do regime, o que levou à reabertura do Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG), que conta com mais de 12 mil pessoas que cresceram com identidade trocada – mas que não eram parentes dos procurados. Em El País.
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) foi recebido com honras de chefe de Estado pelo governo argentino na sexta (10), em ato que celebrou o 38º aniversário do regresso da democracia no país, com a posse do governo de Raúl Alfonsín (1983-1989), o primeiro mandatário civil após a mais recente ditadura. Celebrado pelos correligionários do governo Alberto Fernández e em clima de “Lula 2022”, o brasileiro também fez com que surgisse um novo mal-estar nas relações diplomáticas entre os dois países: citando preocupações sanitárias, o Itamaraty informou aos vizinhos que a cúpula do Mercosul, marcada para o próximo final de semana em Brasília, agora será virtual – extraoficialmente, comenta-se que a decisão pode ter sido uma resposta à nova aproximação pública de Buenos Aires com Lula, que lidera as pesquisas contra o incumbente Jair Bolsonaro. Em El País.
Os argentinos ricos estão cada vez mais interessados em viver no Uruguai, que, desde o início do governo de Luis Lacalle Pou, em março de 2020, vem adotando medidas para atrair imigrantes com alto poder aquisitivo. Segundo o cônsul-geral do Uruguai em Buenos Aires, José Luis Curbelo, a demanda cresceu exponencialmente em 2021, chegando a 750 pedidos mensais para fixar residência – a média, antes do boom, não passava de 30. A alta renda dos solicitantes também fica explícita por outros dados que começam a moldar o cotidiano nas áreas abastadas do paisito: no International College de Punta del Este, uma exclusiva escola bilíngue, por exemplo, já há mais filhos de argentinos do que uruguaios matriculados. No MDZ.
Un clic:
A contaminação causada pela mineração em Puno, no Peru.
COLÔMBIA 🇨🇴
Ninguém ficou indiferente ao desfecho escandaloso de um jogo de futebol da segunda divisão colombiana no último sábado (4): com dois gols nos acréscimos, o Unión Magdalena derrotou o Llaneros e conquistou o acesso – mas, em vez de uma virada épica, a imagem que ficou foi a dos jogadores do time derrotado não apresentando qualquer resistência ao segundo gol, levantando suspeitas de manipulação de resultados. Do músico Carlos Vives ao presidente Iván Duque, passando pela imprensa internacional, colombianos notáveis condenaram o episódio. “O ocorrido é uma vergonha nacional. O esporte requer transparência, honestidade e tolerância zero frente a qualquer situação que deslegitime a ética esportiva”, escreveu Duque no Twitter, em uma postagem que depois foi apagada. Mas também houve resposta: Jorge Duván Mosquera, do derrotado Llaneros, gravou um vídeo garantindo que o time não teria perdido de propósito, e ainda cutucou o governante – “senhor presidente, não somos corruptos, quem dera assim como veio contra nós, tivesse ido contra sua ministra”, disse, em referência a um recente escândalo envolvendo Karen Abudinen, ex-titular da pasta de Telecomunicações, por assinar um contrato de US$ 260 milhões com uma empresa que havia apresentado garantias bancárias falsas. No Olé.
Iván Duque, aliás, enfrenta seu momento de maior impopularidade desde que assumiu o poder, em agosto de 2018. Uma nova pesquisa do Invamer encomendada pelo jornal El Espectador apontou que 69,8% dos colombianos desaprovam o governo, contra 25,1% que o aprovam, em levantamento realizado em novembro. É a maior reprovação já medida pelo instituto para qualquer presidente colombiano, e uma variação de quase 20 pontos percentuais em relação à marca de um ano atrás do próprio Invamer, quando Duque tinha 51,9% de reprovação e 43,6% de aprovação. As próximas eleições presidenciais da Colômbia são em maio do ano que vem e Duque, por uma mudança na lei ocorrida em 2015, não pode tentar a reeleição como seus antecessores. Em El Espectador.
COSTA RICA 🇨🇷
Destacada no início da pandemia pela mais baixa taxa de mortalidade da América Latina, a Costa Rica – que, como o restante da região, também viu seus números piorarem desde então, embora ainda tenha um sistema público de saúde exaltado pela sua qualidade – voltou a registrar um dia sem qualquer óbito atribuído à covid-19 nesta quarta-feira (8), pela primeira vez em 17 meses. De acordo com os registros oficiais, a última vez que o país havia tido uma jornada assim foi em 7 de julho de 2020. Um dos países com melhores taxas de imunização na região, a Costa Rica tem 65% da população com o esquema vacinal completo. Via EFE.
CUBA 🇨🇺
Na mesma semana em que confirmou seu primeiro caso da variante ômicron, Cuba deu um novo passo para tornar a vacinação ainda mais abrangente: a ilha, que já vinha vacinando crianças acima dos dois anos, aprovou também o uso da Soberana Plus para aquelas que tenham se recuperado de covid-19. Até então, a inoculação não incluía os “convalescentes” menores de idade, ficando restrita aos que não haviam contraído o vírus, embora já fosse autorizada para os curados a partir dos 19 anos. Para as crianças recuperadas da covid-19, a recomendação é que a vacina seja dada a partir de dois meses após a alta médica. Via AFP.
EQUADOR 🇪🇨
Deu em pizza: o envolvimento do presidente Guillermo Lasso no escândalo das offshores revelado pelo Pandora Papers (saiba mais na edição dedicada à investigação), que poderia se somar à crise social do país e derreter sua aprovação conquistada nos primeiros meses de governo, acabou deixado de lado pela justiça do país. Durante a semana, a medida que pretendia investigar as contas do mandatário em paraísos fiscais foi arquivada, sob argumento de que os ativos de Lasso não descumpriam a lei. Segundo a apuração jornalística, o empresário teria recorrido a até 14 empresas opacas em Panamá e EUA, relação que teria sido desfeita antes de sua jornada eleitoral. Em El País.
GUATEMALA 🇬🇹
De forma bolsonariana, o presidente Alejandro Giammattei declarou algo incomum: que seu país se considera um aliado dos EUA “apesar” do governo de Joe Biden. A declaração do ultradireitista veio após o país centro-americano não ser convidado para a Cúpula pela Democracia, organizada pela Casa Branc\a. A frase foi dita por Giammattei durante um encontro nos EUA organizado pelo Centro de Estudos Conservadores da Fundação Heritage. O mandatário aproveitou a oportunidade para mostrar lealdade à agenda diplomática direitista, o que inclui o não-reconhecimento do governo de Nicolás Maduro, as relações com Taiwan e Israel. Com a entrada de um governo mais moderado em Washington, porém, países como Brasil e Guatemala têm tido papel menos relevante aos olhos dos norte-americanos. Na DW.
HAITI 🇭🇹
Para Luís Carrilho, português que atua como conselheiro de polícia da ONU, a Minustah, missão de pacificação levada a cabo pela entidade no Haiti entre 2004 e 2017 (sob o comando do Brasil) foi um “sucesso”. A Minustah tem sido criticada nos últimos anos por ter deixado um país ainda em convulsão social, além de ter contribuído para o agravamento de surtos de doenças como o cólera, enfrentar denúncias de abusos sexuais supostamente cometidos por militares associados à missão e por ter ela própria acobertado um massacre cometido por agentes na região de Cité Soleil, em 2005. Carrilho, porém, vê o legado da missão de forma distinta. A entrevista, n’O Globo.
HONDURAS 🇭🇳
Às vésperas de se converter na primeira mulher a presidir Honduras, a eleita Xiomara Castro deve colocar no centro do debate os direitos e a representatividade feminina. Enquanto alguns propõem que o novo governo tenha um gabinete formado majoritariamente por mulheres, o tema que deve atrair mais atenção é o aborto. A exemplo de outros países centro-americanos, Honduras mantém uma legislação com tolerância zero em relação à interrupção voluntária da gravidez, e é o único a ir além e proibir também o uso de contraceptivos emergenciais como a “pílula do dia seguinte”. A expectativa é que Xiomara, que indicou uma maior abertura ao tema, tente impulsionar a liberação do aborto para os três motivos mais comuns autorizados na região (risco à vida da mãe, inviabilidade do feto ou se a gravidez decorre de estupro ou incesto), embora deva enfrentar grande resistência da dominante oposição conservadora. Via Reuters.
Dale un vistazo:
📽️ Blybarnen/Los Niños de Plomo (2010) – Em 1984 e 1985, a mineradora sueca Boliden Mineral AB despejou cerca de 20 mil toneladas de lixo tóxico, contendo altas concentrações de arsênio, mercúrio, cádmio e chumbo, na cidade chilena de Arica. Desde então, estima-se que 12 mil pessoas foram afetadas pelos resíduos e muitas perderam a vida. Os resíduos nunca foram processados, apenas foram deixados em Cerro Chuño, onde muitas casas foram construídas alguns anos depois. As crianças que moravam ali brincavam no morro e logo começaram a apresentar sintomas de grave intoxicação. Documentário disponível no Youtube.
📽️ Blybarnen (Suécia/Chile, 2010). 72 min. Dir: Lars Edman e William Johansson.
MÉXICO 🇲🇽
A inflação acelerada vem sendo uma consequência da pandemia sentida em toda a região, e na segunda maior economia latino-americana a carestia também aparece: em novembro, a inflação do México bateu em 7,37% no ano, acima do esperado e o patamar anual mais alto em duas décadas. A última vez que o país havia vivenciado um aumento tão grande nos preços nos doze meses anteriores foi em janeiro de 2001. Via Reuters.
Uma sombria herança espanhola pode, enfim, estar com os dias contados na capital do país: a legislatura local da Cidade do México vem discutindo os últimos pontos de um banimento às touradas, que têm seu primeiro registro por ali remontando a 1529. De acordo com políticos defensores dos direitos dos animais, a tramitação final da lei só foi retardada para discutir saídas econômicas para os grupos que dependem da atividade, mas não deve haver entraves para a adoção do texto – que juntaria a capital a outros quatro estados mexicanos onde proibições semelhantes já aconteceram. A cidade é sede da Plaza de Toros Monumental de México, considerado o maior recinto do mundo dedicado exclusivamente a touradas, com 46 mil lugares. Caso a lei seja mesmo adotada, passará a haver multas de até 5 milhões de pesos (R$ 1,34 milhão) para os organizadores das corridas de toros. Em El Mundo.
NICARÁGUA 🇳🇮
Após três décadas, a Nicarágua cortou definitivamente suas relações diplomáticas com Taiwan, na sexta-feira (10), recolocando-se ao lado da China. A reaproximação com Pequim, vista como um movimento esperado por parte do governo de Daniel Ortega, vem após uma série de sanções dos Estados Unidos diante da escalada autoritária do sandinista. A América Central era uma das raras regiões onde ainda havia apoio majoritário à causa taiwanesa como a “verdadeira China” – um reconhecimento que, após ser retirado por Manágua, agora só é mantido por 14 países do mundo. Recentemente, El Salvador também deixou Taiwan para trás, e há expectativa de que o futuro governo de Xiomara Castro faça Honduras se juntar à lista de centro-americanos que trocaram a Ilha Formosa por Pequim. O próprio Ortega já havia rompido com Taiwan em 1985, durante seu primeiro governo, mas as relações encerradas nesta semana foram restabelecidas em 1990, no início do mandato de Violeta Chamorro (1990-1997). Via Reuters.
PANAMÁ 🇵🇦
O Clã do Golfo, grupo criminoso colombiano, domina pelo menos metade das cargas de cocaína que passam pelo Panamá, por meio de uma estrutura de poder e logística milionárias. É o que dizem autoridades dos dois países, que encabeçam uma longa investigação para tentar minimizar as atividades dos narcotraficantes na região. Segundo o chefe da polícia panamenha, John Dornheim, trata-se de algo na casa de “7 milhões de contêineres por ano”. Além da óbvia intenção de reduzir a circulação da droga, autoridades também miram reduzir os números da violência: a polícia local estima que 70% dos homicídios no país estejam ligados ao tráfico de drogas. Via AP.
O governo lançou uma iniciativa na quarta (8) para transformar o país em um centro regional de fabricação de medicamentos e “melhorar” a qualidade e a disponibilidade de fármacos. Segundo o Ministério da Saúde, o projeto pretende “ganhar mercado e atrair fabricantes estrangeiros de genéricos”. Além disso, a iniciativa deve “resultar na redução de preços e acesso a medicamentos mais baratos” e ao mesmo tempo deve contribuir para “o lançamento de novos produtos e otimizar a formação de profissionais do ponto de vista técnico e científico”. A medida faz parte de um plano do presidente Nito Cortizo para acabar com a escassez de medicamentos no sistema público de saúde. No Hola.
PARAGUAI 🇵🇾
A guerrilha do Exército do Povo Paraguaio (EPP) voltou às manchetes com mais um sequestro nesta semana: desta vez, do jovem eletricista Peter Reimer, descendente de uma família de colonos menonitas. Segundo a família de Reimer, os sequestradores exigiram o pagamento de um resgate equivalente a US$ 500 mil em víveres para 20 comunidades ao redor do país, exigência considerada estranha pelas autoridades já que o sequestrado não teria bens suficientes para cobrir esse valor. O EPP é conhecido por sequestros midiáticos que terminam sem resolução: a última grande ação antes desta foi o rapto do ex-vice-presidente Óscar Denis, desaparecido desde setembro do ano passado. Até hoje, a família de Denis não recebeu qualquer prova de que o político segue vivo, mesmo tendo cumprido as exigências do grupo armado. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
Trégua para Castillo (veja nos destaques desta edição), problemas para Manuel Merino, presidente provisório que ocupou o cargo por cinco dias em 2020, quando o país viveu sua principal bagunça institucional dos últimos anos. Um dos três líderes a vestir a faixa em apenas uma semana, Merino foi afastado ao lado de ministros de seu gabinete após a morte de dois civis em protestos contra sua curta gestão, em novembro do último ano. Nesta semana, a Subcomissão de Acusações Constitucionais declarou procedente a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra o ex-presidente do Congresso peruano (visto como o principal articulador da queda do então presidente Martín Vizcarra, no que seria o pontapé inicial para toda a crise que levou à própria ‘vida e morte’ de Merino na presidência). Em El Comercio.
Un hilo:
PORTO RICO 🇵🇷
Politicamente ligado aos Estados Unidos, berço do atual movimento global antivacina, Porto Rico vem se destacando como o território associado aos EUA com as melhores taxas de vacinação: 74,4% da população já completou o esquema de imunização até o início de governo, contra uma média de 60,1% em todos os estados e territórios incluídos nas contagens oficiais estadunidenses. Uma cultura vacinal mais arraigada que a dos EUA, o apoio massivo às inoculações independentemente da corrente política e a obrigatoriedade da vacina para grande parte das atividades estão entre as razões apontadas para justificar o sucesso da ilha contra a turba antivax. Na BBC.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Um presidente analfabeto, dois sacerdotes católicos, cinco que morreram ainda no poder e até um gallero, criador de aves para rinhas de galo – esta curiosa lista de mandatários voltou a atrair atenções no país no início de dezembro, com a estreia nos cinemas de Presidentes dominicanos en la historia (1844-1966), um novo documentário que jogou luz sobre as peculiaridades dos homens que governaram o país. Sobre Manuel Jimenes (1848-1849), o gallero que foi o segundo presidente da nação caribenha, diz-se que gostava tanto da atividade que seus assessores levavam os decretos para que assinasse nos próprios locais onde aconteciam as rinhas. No Listin Diario.
VENEZUELA 🇻🇪
O partido governista, o PSUV, definiu seu novo candidato para as eleições estaduais de Barinas: Jorge Arreaza, ex-vice-presidente (2013-2016) e ex-chanceler (2017-2021), que também ocupou vários outros ministérios sob Nicolás Maduro, é o nome que tentará manter o poder da sigla no estado-natal de Hugo Chávez. Nas eleições regionais de 21/11, a votação de Barinas se tornou foco de atenção especial após a autoridade eleitoral excluir Freddy Superlano, candidato oposicionista que liderava a apuração, entendendo que ele estava impedido de concorrer – embora não tenha sido explicado por que ele havia sido autorizado inicialmente, levando a acusações de um novo uso da Justiça para favorecer os chavistas. A provável vitória de Superlano no pleito cancelado acabou tendo um profundo impacto no PSUV, com o governador incumbente (e provável derrotado na busca pela reeleição) Argenis Chávez decidindo renunciar ao cargo e à tentativa de seguir no poder. Argenis, irmão mais novo do ex-presidente Hugo Chávez, retirou-se justificando que o mais importante era o partido “preservar o poder político”. As novas eleições, sem Chávez nem Superlano, estão marcadas para janeiro. O campo de Superlano tentou lançar a esposa dele, Aurora Silva, para as eleições remarcadas, mas ela também foi barrada pela Justiça. Via AP.
O governo colombiano afirmou, durante a semana, que dois líderes da Segunda Marquetalia, uma dissidência das FARC operando em solo venezuelano, foram mortos nos últimos dias. Em fotografias divulgadas pelo jornal El Tiempo, um corpo com ferimentos a bala foi identificado como o de Henry Castellanos, mais conhecido como Romaña. Ele teria sido alvejado na terça-feira (7). Três dias antes, quem caiu foi Hernán Darío Velásquez, mais conhecido como El Paisa, em um incidente separado. As autoridades colombianas negaram seu envolvimento nos ataques que culminaram com as execuções do outro lado da fronteira, uma das hipóteses levantadas nos últimos dias, preferindo apontar para possíveis confrontos internos entre os próprios grupos armados. Em El Tiempo.
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