Honduras: socialista Xiomara Castro será 1ª mulher presidenta
Mesmo sem resultados homologados, candidato do governo já reconheceu derrota e parabenizou a virtual vencedora
Ainda falta a proclamação oficial, mas não deve haver contestação dos resultados. Nesta terça-feira (30), colocando um ponto final nas especulações de que poderia tentar se negar a aceitar a derrota (em um movimento similar ao de Keiko Fujimori nas eleições peruanas deste ano), o situacionista Nasry Tito Asfura encontrou-se pessoalmente com Xiomara Castro para parabenizá-la pelo triunfo na corrida presidencial hondurenha. Com 55% da apuração preliminar realizada, a candidata detinha uma vantagem de 18 pontos percentuais sobre Asfura no pleito de turno único. Após o reconhecimento do candidato do governo, não apenas nomes da esquerda latino-americana celebraram o resultado, mas também atores internacionais como Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, e Luis Almagro, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), juntaram-se às congratulações estendidas à presidenta virtualmente eleita.
A vitória da socialista está emoldurada por diferentes simbolismos que prometem tornar Honduras um palco quente na geopolítica envolvendo a América Central nos próximos anos. Além de representar a primeira vez que uma mulher governará o país (e a 12ª presidenta latino-americana na história), a vitória marca o retorno ao poder do grupo do ex-presidente Manuel Zelaya (2006-2009), marido de Xiomara, derrubado há doze anos por um golpe militar que, inclusive, fez com que ele buscasse abrigo na embaixada brasileira em Tegucigalpa à época. Apartado do poder, Zelaya deixou o Partido Liberal pelo qual havia chegado à Presidência e fundou o Partido Liberdade e Refundação (Libre), agora vitorioso. O triunfo do Libre, que integra o Foro de São Paulo, também representa o fim de mais de um século de alternância do Partido Nacional e do Partido Liberal (com algumas juntas militares entre um período e outro).
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No cenário internacional, Xiomara prometeu estabelecer relações com a China, no que poderia ser uma virada do posicionamento histórico hondurenho, um dos raros países do mundo que ainda está diplomaticamente distante do governo comunista e prefere negociar com Taiwan – postura que, embora incomum ao redor do planeta, é bastante frequente na América Central. Na região, o caso mais recente de um país que trocou a Ilha Formosa por Pequim é o de El Salvador, em 2018, e a pequena faixa de terra conectando os dois extremos das Américas continua sendo um dos cenários mais disputados da “nova Guerra Fria” nesta parte do mundo. Enquanto isso, os EUA observam com reticências a maior presença chinesa que se tem notícia no seu antigo quintal de plantações de bananas.
A queda do governista Asfura significa, ainda, que o grupo ligado ao atual presidente Juan Orlando Hernández não terá mais o poder em mãos pela primeira vez desde 2010. Um contexto político menos simpático a JOH também poderia representar um horizonte com mais problemas para o mandatário que está de saída: ele convive com acusações de envolvimento no narcotráfico (que já levaram seu irmão, o ex-deputado Tony Hernández, a receber uma pena perpétua nos EUA, em março deste ano) e já foi chamado de narcoditador pelo campo de Xiomara, que cita, além dos alegados crimes, as suspeitas de fraude nas eleições de 2017, que deram a JOH a reeleição.
A autoridade eleitoral hondurenha tem 30 dias a contar da data do pleito para homologar os resultados. Sem imprevistos, Xiomara Castro toma posse em 27 de janeiro de 2022 para um mandato de quatro anos, com possibilidade de reeleição por igual período. Os partidos ainda aguardam a continuidade da apuração para conhecer com mais certeza a composição do Congresso que conviverá com a futura mandatária.
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