El Salvador é condenado por criminalizar aborto espontâneo
Corte Interamericana de Direitos Humanos responsabiliza o Estado salvadorenho por agir de forma “claramente desproporcional” em caso que condenou mulher a 30 anos de prisão
Em 27 de fevereiro de 2008, Manuela deu entrada no hospital de San Francisco Gotera, a 170 km da capital de El Salvador, com uma emergência obstétrica. A mulher de 30 anos sofria com uma crise de pré-eclâmpsia pós-parto e buscava ajuda médica. Em vez de cuidado, porém, o que encontrou foi uma acusação de que teria autoinduzido um aborto. Um dia mais tarde, a polícia encontrou o corpo de um bebê em uma fossa séptica próxima à casa da mulher, iniciando um tortuoso caminho pela Justiça que culminou com a condenação de Manuela a 30 anos de cadeia por homicídio agravado “em prejuízo de seu filho recém-nascido”. Nesta semana, em uma decisão histórica, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) revisou o caso e concluiu: Manuela era inocente, tendo escondido o corpo do filho por desespero em um país onde mesmo abortos espontâneos podem ser tratados como crime. O verdadeiro culpado, diz a Corte IDH, é o próprio Estado salvadorenho, agora condenado a tomar medidas para evitar que outras mulheres passem por situações parecidas.
Manuela, na verdade, chamava-se María Edis Hernández de Castro, mas ficou conhecida pelo pseudônimo utilizado nos primeiros tempos do caso, quando sua identidade ainda era preservada. Na época, a Justiça de El Salvador entendeu que ela teria induzido propositalmente a interrupção da gestação, porque o bebê seria fruto de uma “infidelidade”. Sua família e ativistas de direitos humanos e reprodutivos iniciaram uma batalha de mais de uma década para comprovar que a realidade era outra: acometida por um infortúnio natural e pelo próprio corpo enfraquecido, ela não teve culpa no aborto. Mesmo assim, foi denunciada pelos médicos que a atenderam, investigada imediatamente pela polícia, presa e finalmente condenada. Manuela, que sequer estaria chegando à metade da longa pena que lhe foi imposta na ocasião, não viveu para ver a Justiça: morreu dois anos mais tarde, algemada à cama de um hospital, vítima de um câncer linfático que inclusive foi ignorado como fator de risco durante a gravidez. As péssimas condições em que ela morreu levaram a Corte a entender que a mulher também foi vítima de tortura.
Embora a descriminalização da interrupção da gravidez ainda seja raridade na região, boa parte dos países costumam permitir que ela ocorra em três exceções: quando a gestação representa risco à vida da mãe, quando há má-formação fetal que impediria o bebê de sobreviver, ou quando a gravidez foi causada por estupro ou incesto. Foi uma violação, por sinal, que levou à gestação indesejada de Evelyn Hernández, jovem de 21 anos que acabou condenada a uma pena igual à de Manuela em 2017. Ela acabou absolvida após mais de 30 meses presa, e sua história também se tornou emblemática no país. Mesmo assim, pelo menos 17 mulheres salvadorenhas seguem presas sob acusações similares.
Isso acontece porque El Salvador é um dos locais da América Central e do Caribe que ainda mantêm uma política radical de “tolerância zero” em relação a qualquer tipo de aborto (o GIRO tratou do tema em um vídeo de 2020). Isso não apenas aumenta a busca por perigosas práticas clandestinas, como em outros países, mas também acaba fazendo com que as mulheres com problemas de saúde e risco de interrupção espontânea evitem procurar ajuda médica: o medo delas é ter um destino semelhante ao de María Edis Hernández (Manuela), Evelyn ou Cindy Erazo, também condenada injustamente e libertada no ano passado após seis anos presa.
Com a condenação da Corte IDH no caso Manuela, pela primeira vez El Salvador é responsabilizado internacionalmente por uma política que os magistrados definiram como “claramente desproporcional”. A justiça interamericana – que tem dado passos importantes contra abusos de pessoas minorizadas em países centro-americanos – determinou que o Estado salvadorenho realize um ato público reconhecendo sua responsabilidade ao violar os direitos de María Edis Hernández, regulamente a obrigação de manter a confidencialidade médico-paciente que costuma ser violada nestes casos e desenvolva um protocolo de atenção para mulheres em situação de emergência obstétrica. Também foi posta a exigência para que ocorram adequações na legislação relacionada a infanticídios, para que não inclua casos semelhantes. Foi esse o agravante utilizado para que a pena de Manuela saltasse do máximo de 8 anos previstos em casos comuns de aborto para os 30 que ela acabou recebendo.
Em tese, a decisão também cria jurisprudência para todos os países integrantes do sistema interamericano de direitos humanos, embora a aplicação das decisões vindas de fora sempre dependa de vontade política dentro do próprio país. O presidente Nayib Bukele, que controla o Legislativo e o Judiciário e goza de amplos poderes para modificar qualquer lei salvadorenha, já demonstrou não ter vontade de mexer na estrutura em torno do aborto – em setembro, o mandatário que adora ir às redes sociais para vender uma imagem “moderna” retirou uma proposta de reforma constitucional que poderia alterar a atual política sobre o tema.
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DESTAQUES
🇭🇳 Xiomara Castro virtualmente eleita – Xiomara Castro está virtualmente eleita para presidir Honduras. Ainda que a confirmação oficial dos resultados esteja por vir, sua grande liderança no pleito de turno único já fez até mesmo o governista Nasry Tito Asfura reconhecer a derrota, dissipando os temores de um conflito em torno de possíveis acusações de fraude, como ocorreu em 2017. Xiomara será a primeira mulher a presidir Honduras, representa o retorno ao poder do grupo de seu marido e ex-presidente Manuel Zelaya (2006-2009, quando foi derrubado por um golpe), e promete aproximar Honduras da China. Mais sobre as perspectivas do governo que se inicia em 27 de janeiro de 2022, na edição extra do GIRO.
🇻🇪 Oposicionista que liderava em Barinas é excluído – Mais de uma semana após as eleições regionais na Venezuela, o candidato de oposição que venceu a eleição em Barinas, estado natal do falecido presidente Hugo Chávez, foi retroativamente desclassificado pela Justiça. O Supremo da Venezuela decidiu, na segunda (29), que Freddy Superlano não deveria participar do pleito de 21/11 em função de uma sanção administrativa imposta em agosto durante seu período como deputado entre 2016 e janeiro de 2021. A decisão, que provocou uma manifestação furiosa do líder opositor Juan Guaidó, reverteu a grande chance de uma rara vitória dos contrários ao chavismo em um pleito que foi majoritariamente vencido pelos governistas ao redor do país. A Justiça ordenou a realização de uma nova eleição especial em Barinas, marcada para janeiro. Ato contínuo, o atual governador e irmão mais novo de Hugo Chávez, Argenis, renunciou ao seu cargo na terça-feira (30). Era ele quem tentava a reeleição e vinha atrás de Superlano por menos de 0,4 ponto percentual. Derrotado no pleito que não valeu, Argenis Chávez preferiu sair de cena e deixou nas mãos do partido do governo, o PSUV, a escolha de um candidato para sucedê-lo. “O fundamental é preservar o poder político”, afirmou.
🇵🇪 Castillo acena para OEA e empresários – Em busca de apoio contra o avanço da moção de vacância que tramita no Congresso – e pode, no limite, afastá-lo do cargo –, o presidente Pedro Castillo acena até para a OEA. Na quarta-feira (1º), o mandatário se reuniu com o secretário-geral Luis Almagro, que saiu do encontro elogiando o peruano, de quem disse haver “uma determinação importantíssima em combater a corrupção”. A declaração de Almagro foi criticada em todos os lados do espectro político, desde a oposição que afirma haver corrupção no governo até partes da fraturada base aliada de Castillo, que vêm atacando os crescentes acenos ao conservadorismo por parte de um ex-candidato que começou a campanha visto como integrante da extrema esquerda. Diante de outro encontro polêmico, com empresários do país, o ex-primeiro-ministro de Castillo e agora ardente crítico do governo, Guido Bellido, avisou: “os caviares te darão a estocada final”. Há expectativa de que parte do Perú Libre, o partido do presidente, possa levar o descontentamento para a votação da vacância, tentando recolocar o governo no caminho pretendido pela sigla com a posse da vice. Em El Comercio.
🌎 Ômicron chega à região – A ômicron, nova variante da covid-19, já foi detectada em solo latino-americano. E, como ocorreu com os primeiros casos de coronavírus ainda em fevereiro de 2020, coube ao Brasil o desafortunado pioneirismo. Embora ainda não haja comprovação de que a variante, classificada como “de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), possa gerar quadros mais graves da doença do que as cepas já conhecidas, os países da região se juntaram à onda de medidas preventivas renovadas. Na maioria dos casos, são restrições fronteiriças ou exigências de quarentena exclusivamente para viajantes vindos de países do sul da África, uma estratégia que especialistas consideram pouco eficaz neste momento, já que a ômicron também foi identificada em outros países e talvez viesse circulando na Europa antes mesmo de aparecer no continente africano. Uma lista das medidas na América Latina, que há seis meses convive com uma queda continuada nas infecções e mortes, na BBC.
🇩🇴 Denunciadas violações contra mães haitianas – As medidas tomadas pelo governo do dominicano Luis Abinader para conter a migração indocumentada vinda do vizinho Haiti (saiba mais no GIRO #81) incluiriam a separação entre mães e filhos, menores abandonados no lado oposto da fronteira e até mesmo a deportação de mulheres em processo de parto. Essas, ao menos, são as denúncias que vieram à tona em uma reportagem publicada nesta semana pela agência EFE, ouvindo relatos das próprias mulheres e de organizações de amparo aos imigrantes. “No caminho, pegavam outras mulheres grávidas”, relatou uma das supostas vítimas, contando sobre como os militares dominicanos pegavam mulheres do Haiti e as colocavam em um ônibus. Ela própria só pôde dar à luz antes da deportação (“sob a supervisão de guardas”) porque teria começado a sangrar durante a viagem. Imediatamente, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) expressou preocupação com as denúncias. O governo dominicano defendeu-se, em nota, afirmando que oferece atendimento a haitianas grávidas e que os partos dessas mulheres, que representavam 12,5% dos atendimentos do tipo na rede pública em 2018, já são 30% dos registrados no país nos nove primeiros meses de 2021.
Un clic:
A Marcha pela Pátria, em apoio ao governo Luis Arce, chegou a La Paz.
REGIÃO 🌎
“Remain in Mexico”, ou “fique no México”, é como ficou conhecida uma das mais infames políticas migratórias do governo Donald Trump (2017-2021), que exigia a quem pede refúgio nos Estados Unidos que aguardasse do outro lado da fronteira. Encerrada nos primeiros dias de Joe Biden, a mesma política vai voltar: a Casa Branca e o México confirmaram um acordo pelo retorno da medida que o próprio presidente estadunidense já chamou de “desumana”. O motivo é a explosão de pedidos de entrada nos EUA, incrementada pela crise da pandemia e pela expectativa de que, com Biden, o país ao norte seria mais receptivo aos imigrantes: ao longo de 2021, as tentativas de ingresso bateram recorde. Segundo entidades de direitos humanos, a Remain in Mexico coloca os migrantes em uma situação de desamparo legal, com os acampamentos na fronteira sendo alvos de criminosos. Uma delas, a Human Rights First, registrou mais de 1,5 mil casos de sequestros, estupros, torturas e outros abusos contra migrantes (em grande parte haitianos e centro-americanos) obrigados a permanecer no México enquanto aguardam a resposta a seus pedidos, que geralmente são rejeitados. Na BBC.
Três países centro-americanos foram esnobados pelos Estados Unidos na cúpula virtual pela democracia convocada por Washington para os dias 9 e 10 deste mês – além de outros quatro da região que, governados pela esquerda, já se esperava que não marcariam presença. Além das ausências imaginadas de Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela (embora Juan Guaidó, sim, tenha recebido convite), pegou de surpresa a exclusão de El Salvador, Guatemala e Honduras. De acordo com Juan González, assessor para América Latina do governo Joe Biden, os três centro-americanos foram deixados de lado porque “enfrentam desafios”, embora ainda sejam vistos como “democracias” pelos sempre difusos critérios estadunidenses. Cerca de 110 países devem participar da tal cúpula. Na Prensa Libre.
E na final da Copa Libertadores, deu Palmeiras. No último sábado (27), o alviverde bateu o rival Flamengo por 2 a 1 em um jogo eletrizante, com direito a falha e gol no primeiro tempo da prorrogação. Como contado na última edição do GIRO, a partida também decidiu qual dos dois brasileiros passaria à prateleira dos tricampeões da América, ao lado de São Paulo (1992, 1993 e 2005), Santos (1962, 1963 e 2011), Grêmio (1983, 1995 e 2017), do paraguaio Olimpia (1979, 1990 e 2002) e do uruguaio Nacional (1971, 1980 e 1988), de Montevidéu. A finalíssima, aliás, foi disputada na capital do paisito, no Estádio Centenario, onde o agora campeão Palmeiras já amargou dois vices pela competição, nas campanhas de 1961 e 1968. Com a vitória, o Palmeiras, que defendia a taça conquistada em janeiro, também se tornou o primeiro a fazer dobradinha no torneio desde o Boca Juniors de 2000 e 2001. A vitória palestrina rendeu uma crônica do nosso editor, no Meia Encarnada.
ARGENTINA 🇦🇷
“Perseguição política” é o que alega o ex-presidente e agora réu, Mauricio Macri (2015-2019), que está sendo investigado em um caso de suposta espionagem de parentes das vítimas do submarino ARA San Juan, que naufragou em 2017. Proibido de deixar o país, Macri, no entanto, está no Chile, então a proibição – que não é total, já que o juiz considerou a possibilidade de autorizá-lo a viajar em um eventual pedido específico – passará a valer assim que ele retornar ao território argentino, segundo a Justiça. Via AP.
Uma “névoa embriagante” obrigou as autoridades a suspenderem a queima de 20 toneladas de maconha apreendida em Corrientes, província que faz fronteira com o Rio Grande do Sul. Segundo moradores da localidade de Colonia Libertad, uma primeira queima de sete toneladas levou fumaça para as casas dos cerca de 2 mil habitantes, gerando problemas respiratórios e temores quanto a outros possíveis efeitos. “Não sabemos quão nociva a queima de 20 mil quilos de droga pode ser, mas não achamos que devesse ser feita na área urbana. Queremos proteger a nossa população”, disse o prefeito, Roberto Fracalossi. “O cheiro já dura dias!”, protestou. No UOL.
BOLÍVIA 🇧🇴
A “Marcha pela Pátria”, demonstração de força do governo Luis Arce, enfim chegou a La Paz na segunda-feira (29), em um ato que os organizadores afirmam ter reunido um milhão de pessoas. A caminhada de 188 quilômetros ao longo de uma semana, rumo à sede do poder político, foi convocada por apoiadores de Arce – em especial o ex-presidente Evo Morales (2006-2019) – como resposta aos protestos de oposição que marcaram outubro e novembro e foram considerados os maiores desde a derrubada do próprio Evo. “Se me deram um golpe, em Lucho não vão dar”, garantiu Morales pouco antes da chegada da multidão a La Paz. Via EFE.
CHILE 🇨🇱
Frustração no movimento feminista chileno: a Câmara rejeitou, na terça (30), o projeto que buscava descriminalizar o aborto até a 14ª semana de gestação, anulando as promessas de avanço. A iniciativa, agora, será arquivada. Os próprios deputados haviam votado, no final de setembro, a aprovação “em linhas gerais” do projeto, o que abria caminho para a análise mais detida do assunto e a discussão de artigos específicos. Quando chegou a hora decisiva, porém, uma nova votação acirrada teve resultado inverso ao de dois meses atrás: 65 contra e 62 a favor. Com o projeto retirado de tramitação, agora é preciso esperar pelo menos um ano para recolocá-lo em pauta. Atualmente, o Chile só autoriza a interrupção da gravidez nas “três causas” que habitualmente são permitidas na região: inviabilidade do feto, risco à vida da mãe ou estupro. Na DW.
Faltando duas semanas para o segundo turno das eleições presidenciais, no próximo dia 19, a esquerda chilena voltou a ter esperanças. Após a liderança do ultradireitista José Antonio Kast no primeiro turno, quem vem aparecendo na frente em todas as pesquisas agora é Gabriel Boric. Na mais recente, do instituto Criteria, números que vêm sendo consistentes com outros levantamentos: Boric conquista cerca de 54% das intenções de voto, contra 46% de Kast. Além de ouvir sobre as eleições, a pesquisa também questionou os eleitores sobre as opiniões em torno do trabalho da Convenção Constitucional e do presidente Sebastián Piñera, revelando insatisfação: índices de aprovação de apenas 29% e 18%, respectivamente – mesmo que, no caso do mandatário, esse número ainda baixo represente sua maior popularidade no ano. Na CNN.
COLÔMBIA 🇨🇴
A violência não acabou, mas, passados cinco anos dos acordos de paz que desmilitarizaram as antigas FARC, os Estados Unidos finalmente removeram o grupo da sua lista de organizações terroristas. Formalmente retiradas da cena guerrilheira e inclusive convertidas em partido político, as velhas FARC foram substituídas no front armado por grupos dissidentes como o Exército do Povo (que ainda reivindica a sigla FARC-EP) e a Segunda Marquetalia – estes, sim, mantidos na lista de vigilância norte-americana. No G1.
Un nombre:
Rambla de Piriápolis – inaugurada em 1916 pelo empresário Francisco Piria, é a orla da primeira cidade balneária do Uruguai, localizada a quase 100 km de Montevidéu. Piria começou a comprar terras na região de Maldonado no início dos anos 1890 e depois construiu uma ferrovia, um castelo, uma igreja e se especializou na produção de vinhos. Assim como os três hotéis inaugurados pelo empresário, a rambla de 3,5 km projetada em estilo europeu tinha a intenção de impulsionar o turismo no país – e, nesta quinta-feira (2), foi proclamada Monumento Histórico Nacional.
COSTA RICA 🇨🇷
A Sala Constitucional, órgão supremo do judiciário, informou durante a semana que não encontrou traços de “inconstitucionalidade” em um projeto de lei que pretende legalizar a produção e a venda de cânhamo e maconha medicinal e terapêutica, determinando que a iniciativa pode ser votada em plenário. Se a medida avançar, dará caminho livre para o cultivo, produção, industrialização e comercialização da erva e de seus produtos, para fins alimentares e industriais, sem autorização prévia especial das autoridades. Como geralmente acontece na América Latina, a lei enfrenta resistência de deputados conservadores. Na DW.
CUBA 🇨🇺
Responsável pelas primeiras vacinas contra covid-19 totalmente produzidas em solo latino-americano, Cuba agora trabalha para melhorar seus imunizantes próprios de olho na chegada da variante ômicron do coronavírus – e também para evitar o retorno de restrições, o que só prejudicaria a volta da atividade turística, crucial para a economia da ilha. Segundo o diretor do Instituto Finlay de Vacinas, Vicente Vérez, a vacina Soberana já apresenta “um certo nível de proteção” contra a nova mutação. No entanto, autoridades de saúde já trabalham na produção da nova Soberana Plus, que contará com a proteína da variante para garantir maior proteção. Via Reuters.
EQUADOR 🇪🇨
“Furukawa nunca mais” e “queremos justiça” eram as palavras entoadas por ex-funcionários de uma firma japonesa acusada de submeter trabalhadores à condição de trabalho escravo. O caso, que veio à tona em 2019, diz respeito a 123 trabalhadores (de maioria camponesa e/ou afrodescendente, analfabeta e com idade entre 13 e 70 anos) que acusam a empresa de diversos tipos de abuso. A justiça entende que houve violação de direitos humanos e estabeleceu uma indenização às vítimas. “Mas nada disso foi cumprido”, reclama uma das advogadas no caso. A Furukawa, presente no Equador desde 1963, produz fibra de abacá, muito utilizada no setor têxtil e automotivo. O processo segue aberto, enquanto as vítimas e a procuradoria mantêm viva a esperança de reparação. Via AFP.
GUATEMALA 🇬🇹
A Procuradoria do país disse na terça-feira (30) que entrou com mais acusações contra o ex-promotor anticorrupção Francisco Sandoval, que fugiu para os EUA em julho alegando perseguição. À frente de um órgão especial contra a impunidade, Sandoval era responsável por liderar uma investigação de casos de corrupção que tocavam o presidente Alejandro Giammattei e seu afastamento arbitrário provocou grandes protestos pelo país em julho. Desde então, o promotor passou a ser acusado de obstrução de justiça e de descumprir suas obrigações, pressões que vieram na esteira de tentativas do governo de evitar esforços anticorrupção contra o poder. Representantes de organizações de direitos humanos dentro e fora do país demonstram preocupação com a escalada autoritária contra as unidades de investigação. Via AP.
HAITI 🇭🇹
Jimmy Cherizier, também chamado de Barbecue, é um dos personagens centrais na atual crise haitiana. Líder da maior gangue armada do país, ele quer ser visto como muito mais do que o criminoso visado pelas autoridades: presente nas redes sociais e até mesmo disposto a convocar coletivas de imprensa para anunciar seus propósitos, Barbecue é um ardente opositor do primeiro-ministro Ariel Henry e mais de uma vez indicou seu interesse em uma “revolução” para derrubar o poder constituído. Um perfil de Cherizier, na BBC.
Una carta:
O relato de um argentino que visitou o Rio de Janeiro durante a Copa do Mundo de 1950, um jogo antes do Maracanazo.
MÉXICO 🇲🇽
Emma Coronel Aispuro, 32, esposa de Joaquín El Chapo Guzmán, um dos principais cabeças do narcotráfico no continente, foi condenada na terça (30) a três anos de prisão nos Estados Unidos após confessar ter ajudado seu marido a administrar o império multibilionário e violento que opera na América Latina e nos EUA nas últimas décadas. Ela também disse que ajudou o líder do cartel de Sinaloa a planejar sua fuga por um túnel cavado sob uma prisão no México em 2015, confirmaram promotores durante uma audiência no tribunal federal em Washington. Com a recaptura de Chapo e a prisão de uma das cabeças do cartel, autoridades acreditam que podem frear as atividades do grupo. Via AP.
Borboletas, ao resgate (do turismo). É o que fazendeiros e guias querem ver, ao passo que esperam um aumento no número dos macrolepidópteros da espécie borboletas-monarca, que encantam turistas em borboletários mexicanos. Os animais, que migram dos EUA e do Canadá, costumam ser um atrativo para a importante atividade turística do país, ainda afetada pelas restrições da pandemia de 2020 e 2021. Além disso, representam uma fonte de renda importante para fazendeiros da região, que lamentam não apenas a queda no número de turistas mas, também, no número de borboletas. “Muitas famílias dependem disso. Esse ano será melhor”, prevê o guia Silvestre de Jesús Cruz. Via AP.
Parece filme, mas é só o crime organizado mexicano: usando carros adaptados com placas de metal para varar portões e carros-bomba para distrair autoridades, criminosos protagonizaram em Tula, estado de Hidalgo, uma megaoperação de busca para tirar da cadeia José Artemio Maldonado Mejía, conhecido com El Michoacano, apontado como líder do grupo Pueblos Unidos, conhecido por roubar combustíveis na região. A investida já é algo de investigação das autoridades, sobretudo por “envolver muitas pessoas”; há quem defenda que houve colaboração por parte de agentes carcerários. No total, nove detentos fugiram. Na BBC.
NICARÁGUA 🇳🇮
Não vai acontecer, mas a OEA já marcou sua posição: as eleições presidenciais que garantiram a continuidade de Daniel Ortega “não foram nem justas nem livres”, assegurou o secretário-geral da entidade, Luis Almagro, e “a única rota possível é a celebração de novas eleições”. Apesar do histórico de apoio a golpes na região, como o conduzido contra o boliviano Evo Morales em 2019, desta vez a OEA só reproduz a opinião majoritária da comunidade internacional, que vem questionando a legitimidade das eleições do último 14/11 desde que uma série de pré-candidatos de oposição acabou presa (leia mais sobre isso no GIRO #106). Ortega, por sua vez, não está muito preocupado com a opinião da OEA, e já iniciou o processo formal de retirada de seu país da entidade. Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
As forças de segurança prenderam 55 pessoas de uma rede criminosa supostamente ligada ao Clã do Golfo, poderoso cartel colombiano em atividade entre as Américas Central e do Sul. As prisões aconteceram nas províncias do Panamá Oeste e Colón, uma área caribenha conhecida por concentrar atividades ilícitas. Entre os detidos estão nove funcionários públicos, incluindo agentes da Polícia Nacional. Apesar de a ofensiva ter sido levada adiante por autoridades locais, a operação contou com apoio de inteligência da procuradoria colombiana e da DEA, a agência antinarcóticos dos EUA. Em El Tiempo.
Una palabra:
Corralito – é como ficou conhecida a medida do governo argentino nos anos do presidente Fernando De La Rúa (1999-2001) que bloqueou o saque dos depósitos em conta corrente para evitar a perda de liquidez dos bancos do país. Como a Argentina vivia uma de suas maiores crises econômicas da história – e diante de grande desconfiança no sistema bancário –, a maioria dos cidadãos pretendia sacar suas reservas para evitar deixar na mão dos bancos ou trocar por dólares, sempre mais estáveis em relação ao peso, em um momento em que se discutia o fim da paridade entre as moedas. A decisão de congelar os saques, no entanto, só beneficiava os bancos e tampouco deu conta de contornar a crise social da época. Houve revolta e pelo menos 39 pessoas foram mortas durante os protestos contra o corralito – que, em português, seria algo como “cercadinho” ou “curralzinho”, em alusão a algo limitante ou restritivo. O episódio também culminou na renúncia cinematográfica de De La Rúa e se tornou um sinônimo (e também um comparativo) para crises econômicas subsequentes. Nas últimas semanas, circulou uma fake news sobre um suposto plano do governo argentino para implementar um novo corralito, o que foi prontamente desmentido pelas autoridades.
PARAGUAI 🇵🇾
Uma “epidemia” de gravidez infantil e adolescente. É assim que a Anistia Internacional define o que vem ocorrendo no Paraguai, em um relatório divulgado nesta quarta-feira (1º): segundo a entidade, pelo menos mil meninas de até 14 anos deram à luz no país entre 2019 e 2020, e o número chega a 12 mil na faixa entre 15 e 19 anos. O Paraguai hoje tem as taxas mais altas de gravidez infantil e adolescente da região, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), e as gestantes de até 19 anos representam 13% das mortes causadas por abortos inseguros por lá. A Anistia pede mais políticas do governo paraguaio para combater a violência sexual que está por trás dessas gestações, além de leis menos restritivas em relação à interrupção segura da gravidez – no Paraguai, o aborto só é permitido se a vida da mãe corre risco, o que leva muitas menores de idade a buscar procedimentos clandestinos. No Mercopress.
PERU 🇵🇪
A descoberta de uma nova múmia sepultada na costa do país mobiliza arqueólogos desde o final de novembro. Datada de pelo menos 800 anos atrás, a múmia foi encontrada amarrada por cordas, em posição fetal, e com as mãos cobrindo o rosto. De acordo com os pesquisadores, isso poderia ser parte do “padrão funerário local”, de uma cultura que habitou a região costeira antes mesmo do início do Império Inca, que só se formou cerca de dois séculos mais tarde. No Vanguardia.
PORTO RICO 🇵🇷
Acusado de conceder 50 contratos no valor de quase US $10 milhões para uma fábrica de asfalto, Félix Delgado, agora ex-prefeito da cidade de Cataño, confessou ser o culpado de um esquema para coletar subornos, disseram autoridades federais na quinta-feira. Além de dinheiro, a peculiar negociação escusa envolvia a entrega, para o mandatário, de relógios caros. Ao todo, foram confiscados cinco relógios e 100 mil dólares em posse do prefeito. Com a divulgação da sentença marcada para março de 2022 como parte de um acordo com as autoridades, Delgado renunciou ao cargo na terça-feira (30) e poderá passar cinco anos na prisão. Via AP.
URUGUAI 🇺🇾
Passadas as finais do futebol, hora de contar o dinheiro. E o Uruguai sai decepcionado: o país, que nos dois últimos sábados recebeu as finais da Copa Sul-Americana (vencida pelo Athletico Paranaense contra o Bragantino) e da Copa Libertadores (que culminou com título do Palmeiras sobre o Flamengo) envolvendo quatro equipes brasileiras, esperava receber o dobro de turistas do que de fato acolheu. Para a decisão da Libertadores especificamente, a promessa era de 60 mil brasileiros cruzando a fronteira, mas, segundo as autoridades, somente 29,7 mil ingressaram no país às vésperas da partida. Nada comparável, porém, ao fiasco da vazia decisão da Sul-Americana uma semana mais cedo, que “praticamente não trouxe turistas” ao paisito e reacendeu o debate sobre a viabilidade de uma final em sede neutra (com preços nas nuvens) no continente. A Libertadores feminina, que foi inteiramente sediada no Uruguai durante o mês de novembro e vencida por outra equipe brasileira, o Corinthians, também registrou público tímido. No Infobae.
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