Covid: 1 milhão de vítimas na América Latina
Marca de mortes desde o início da pandemia é atingida na mesma semana em que região supera, pela primeira vez, outro número milionário: foram 1 milhão de novos casos nos últimos sete dias
Quase 15 meses após a confirmação do primeiro caso de covid-19 na América Latina, em 26 de fevereiro de 2020, a região chegou nesta sexta-feira (21) à marca de 1 milhão de mortes diretamente causadas pela pandemia, um número antes impensável que foi se tornando “esperado” conforme a situação piorou – e isso de acordo com os números oficiais, com uma realidade que tende a ser ainda mais grave por conta da subnotificação comum nos países latinos. Alguns, como o México, já até reconheceram a incapacidade de dimensionar a catástrofe humanitária em seus dados oficiais: no caso mexicano, admitiu-se que provavelmente havia 110 mil mortes atribuíveis à covid-19 além das 182 mil que já eram registradas em fins de março.
Com o Brasil, sozinho, respondendo por quase metade dos óbitos latino-americanos (a despeito de ter um terço da população), o desastre se agravou em 2021: se o ano passado havia terminado com meio milhão de vítimas na região, foram necessários menos de cinco meses para esse número ser duplicado. Uma piora relacionada ao aparecimento de novas variantes em locais de contágio descontrolado, inclusive uma ‘“criada em casa’”: a brasileira, uma das quatro consideradas “de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ao lado da britânica, da sul-africana e, mais recentemente, da indiana. Com cepas mais agressivas, estratégias laxas herdadas de 2020 se mostraram ineficientes e, somadas à exaustão de um ano de restrições, fizeram o continente sofrer ainda mais com o vírus.
Desde o início da pandemia, um de cada 641 latino-americanos que aqui viviam antes da chegada da covid-19 pereceu para a doença. No Brasil, que lidera a região também em mortes proporcionais, foi uma morte a cada 471 habitantes. Nenhum país passou ileso pela crise, tanto na questão humana quanto na econômica. Por outro lado, a vacinação, embora já tenha dado conta de aplicar 142,7 milhões de doses em países latino-americanos, ainda vem muito aquém do necessário para conter as curvas: isso significa apenas 22 doses por 100 habitantes, quando o necessário para uma proteção coletiva (considerando a exigência de duas doses e as projeções da OMS) estaria mais próximo de 160, atingindo 80% da população. A desigualdade também marca essa distribuição, inclusive entre vizinhos: se o Chile, o mais avançado, já ostenta 89 doses por 100 pessoas, logo ao lado o Paraguai tem apenas 3 doses por 100.
Em semanas recentes, a curva latino-americana passou por uma ligeira baixa nos óbitos, mas nos últimos sete dias os casos voltaram a registrar uma forte alta, batendo novo recorde “milionário”: pela primeira vez, os 21 locais que acompanhamos somaram, juntos, mais de 1 milhão de contágios em uma semana (leia nosso levantamento aqui). Mesmo nas mortes, o patamar continua altíssimo e seria recorde em qualquer semana de 2020. Os indícios de uma nova subida no Brasil – sem que o país tenha sequer voltado a números equivalentes ao que se tinha antes do mais recente pico – podem levar à intensificação da tragédia humanitária durante o inverno austral.
Em busca de luzes no fim deste longo túnel, o GIRO se solidariza com aqueles que sofreram e sofrem em meio à pior crise sanitária do século.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇨🇱 CHI – A megaeleição do último final de semana varreu o país como um furacão: em um resultado que surpreendeu analistas, a Assembleia Constituinte foi formada sem que a direita sequer chegasse a um terço dos assentos – o que, na prática, significa que as alas conservadoras não terão poder de veto no processo de elaboração da nova Carta Magna, que exige dois terços dos votos para inclusão de artigos. A eleição, que também escolhia novos prefeitos e governos regionais, foi marcada não apenas por um apequenamento da direita, mas também pelo enfraquecimento da centro-esquerda tradicional, unida desde o fim da ditadura na coalizão antes conhecida como Concertación e depois como Nova Maioria: em vez do Partido Socialista (PS), do Democrata Cristão (PDC) e do Pela Democracia (PPD), quem emerge como liderança progressista potencialmente mais forte são siglas ainda mais à esquerda – como o Partido Comunista (PCCh) e a Frente Ampla (FA). O resultado provocou inclusive um racha das esquerdas na inscrição de nomes para as primárias presidenciais ocorrida durante a semana: dizendo-se traídos e humilhados pela exclusão do PPD, historicamente um desmembramento seu, os socialistas acusaram os comunistas de sectarismo e se negaram a formar uma coalizão conjunta – com isso, é provável que haja, pela primeira vez desde a volta da democracia, duas candidaturas “viáveis” à esquerda concorrendo pela passagem a um eventual segundo turno. As eleições presidenciais ocorrem apenas em novembro.
🇨🇴 COL – A morte do guerrilheiro dissidente Jesús Santrich na última segunda-feira (17) inicia mais um capítulo de incerteza nos rumos da luta armada colombiana. Santrich estava foragido desde 2019, quando abandonou a cadeira de deputado garantida pelos acordos de paz que pacificaram oficialmente as antigas FARC, e criou um novo grupo guerrilheiro. Se seus colegas parlamentares já rejeitavam a presença dele na Câmara, a volta de Santrich à luta armada acirrou ainda mais o ânimos e fez dele o principal inimigo público do governo e de todos os críticos aos acordos assinados em 2016. Santrich também era foragido da Justiça dos EUA, que o acusava de ligação com o narcotráfico. A morte do guerrilheiro – que teria ocorrido em território venezuelano cinco dias após a extradição dele ter sido aprovada pela justiça colombiana – foi informada pela própria dissidência e por pessoas próximas ao governo em Caracas. A forma como Santrich morreu ainda é investigada pelas autoridades colombianas, com versões que vão desde conflitos entre diferentes grupos armados até uma tentativa malsucedida de rapto por um grupo de caçadores de recompensas que estaria interessado em entregá-lo aos EUA. Em El Tiempo.
🇪🇨 EQU – Yaku Pérez, líder indígena que esteve muito próximo de passar ao segundo turno das eleições presidenciais neste ano, rompeu com seu partido, o Pachakutik, denunciando que a sigla teria feito uma aliança com a base do governo eleito do conservador Guillermo Lasso, que toma posse na segunda-feira (24). No último final de semana, o Pachakutik assumiu a presidência do Congresso, com Guadalupe Llori, graças aos votos do partido governista. Yaku, que convocou seus eleitores à abstenção no segundo turno (um movimento que os correístas, que apoiavam o derrotado Andrés Arauz, apontaram como responsável pela vitória de Lasso), criticou duramente o Pachakutik: “aliaram-se a um governo que nem sequer deixou transparente sua agenda legislativa. A agenda do governo de Lasso é neoliberal e vai continuar com o extrativismo”, disse Pérez, cuja militância histórica contraria a exploração dessas atividades em territórios habitados pelos povos originários. O partido do movimento indígena, por sua vez, nega que tenha havido uma aliança com o grupo de Lasso e diz que Yaku deveria apresentar provas de sua acusação. No Primicias.
🇭🇹 HAI – Após recusas e muito atraso, o Haiti finalmente aceitou doses da vacina da Astrazeneca oferecidas pela OMS através do mecanismo Covax. O país, o único latino-americano que não aplicou sequer uma dose em sua população, já deveria ter recebido o imunizante ainda em abril, mas acabou rejeitando na época, temendo os casos de trombose que haviam levado europeus a suspender temporariamente a aplicação – e por considerar que um imunizante de dose única seria mais adequado para um país com dificuldades de armazenamento. Diante da piora dos números nas últimas semanas, mesmo com o apagão de dados da pandemia no Haiti, a postura mudou. Via EFE.
🇵🇦 PAN – Um alívio, mas com pedidos para que a população não baixe a guarda: após 14 meses, o Panamá registrou no domingo (16) seu primeiro dia sem mortes por covid-19 – marca que se repetiria, também, no dia seguinte. Após viver seus piores momentos da pandemia no início de janeiro, chegando a ter mais de 20 mil casos e 300 mortes semanais, o país vive uma redução drástica nos números: nos últimos sete dias, foram 3,2 mil contágios e 29 óbitos. A melhora, porém, exige cautela: os dois países com quem o Panamá faz fronteira terrestre, a Costa Rica e a Colômbia, estão enfrentando seus piores dias na pandemia, e a vacinação panamenha, embora seja rápida para os padrões centro-americanos, só deu conta de imunizar com duas doses 7,4% da população. Novas restrições fronteiriças foram anunciadas para tentar manter os bons números, embora o país tenha um espaço de controle difícil: a região de Darién, tradicional rota de migrantes irregulares a caminho dos EUA. Via EFE.
Un video:
Em nosso vídeo da semana no Intercept Brasil, contamos como a “diplomacia da vacina” tem influenciado a distribuição de imunizantes na região.
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
O jogo entre os argentinos do River Plate e os colombianos do Santa Fe, pela Copa Libertadores na quarta (19), poderia ser só mais um triste capítulo da saga futebolística em meio à pandemia, bastante ignorada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). Mas um fato chamou a atenção: após um surto de covid-19, os Millonarios de Buenos Aires não tinham sequer um goleiro para usar na partida e precisaram improvisar o volante Enzo Pérez na função. E não teve outro jeito: o time portenho até recorreu à Conmebol para inscrever atletas fora do prazo, mas o pedido foi recusado – a entidade havia permitido a inscrição de 50 atletas, prevendo eventuais desfalques causados pelo vírus; o River só havia registrado 32. Confusão à parte, tudo foi ofuscado pelas imagens de um jogador de linha espalmando os chutes na heroica (e lamentável) vitória por 2 a 1 dos argentinos contra os visitantes. A história, no Olé.
ARGENTINA 🇦🇷
Os piores dias da pandemia seguem: a semana teve recorde duplo, tanto nos novos casos (acima de 213 mil) quanto nas mortes (ultrapassando 3,5 mil em sete dias). Segundo o presidente Alberto Fernández que, na sexta (21), decretou nove dias de lockdown para frear a alta dos casos, o novo pico é “resultado de dizer que a vida precisa seguir como se não acontecesse nada”. Em meio à piora dos números, até mesmo o futebol em nível nacional foi suspenso. Ao passo que a crise sanitária segue agressiva – a quantidade de mortes tem levado coveiros a pedir vacinas para a categoria –, a vacinação é tímida: até o fim da semana, apenas 5% da população havia recebido as duas doses, proporção que é só metade da brasileira, por exemplo. Na Prensa.
Tentando conter a inflação, o governo anunciou uma proibição à exportação de carne bovina por um mês, a contar da segunda-feira (17). Quinta maior exportadora de carne do mundo, a Argentina já registra 47,2% de inflação nos últimos doze meses, com o produto sendo um dos mais afetados. Pecuaristas anunciaram uma paralisação das atividades por uma semana e reclamam que, além da redução dos lucros imediatos, a medida pode ter impactos de longo prazo, com uma diminuição dos rebanhos por conta da incerteza: nos últimos 15 anos, a Argentina passou de ter 62 milhões de cabeças de gado para 50 milhões, uma queda que o setor atribui a medidas semelhantes contra a inflação adotadas a partir de 2006. Em países vizinhos que dependem da importação de carne, como o Chile, a alternativa é recorrer a outros produtores regionais: a nação transandina promete substituir o produto argentino por carne vinda de Brasil e Paraguai. Em El País.
BOLÍVIA 🇧🇴
O Instituto Nacional de Laboratórios de Saúde (Inlasa) vem desenvolvendo um soro contra a covid-19 que usa um insumo curioso: plasma de burros. Segundo o diretor técnico do Inlasa, Gil Fernández, o estudo é pioneiro no mundo e ajuda a neutralizar o vírus a partir de um composto hiperimune “50 vezes mais potente do que o plasma doado por humanos”. Os três burricos utilizados no estudo até aqui levaram um nome sugestivo: AstraZeneca, Sinopharm e Sputnik, em homenagem aos laboratórios e imunizantes alvo das negociações do governo Luis Arce. A pesquisa vem em boa hora: até aqui, o ritmo de vacinação no país é lento, com somente 2,5% da população tendo recebido duas doses – e o governo vem precisando lidar com uma onda de fake news, que dizem até que as vacinas seriam “satânicas” porque contêm uma molécula chamada luciferina. No Efecto Cocuyo.
Páginas de um rio:
Ferida vou de um temporal concerto
entre meus gritos e as folhas secas.
Uma festa inumana, sempre-viva,
amplia o declive e o outono.
Mas eu sei. E estou apavorada…
No terceiro episódio da série que traz traduções inéditas de autores platinos, Iuri Müller recupera poemas da uruguaia Amanda Berenguer (1921-2010). Leia a sequência dos versos acima e outros três poemas clicando aqui.
COLÔMBIA 🇨🇴
A Colômbia não será mais sede da Copa América de futebol. A decisão, que veio a público na quinta (20) e a menos de um mês do início do torneio, em 13/6, tem relação direta com a crescente tensão social no país, que o GIRO vem acompanhando nas últimas semanas. A busca por impedir a realização de partidas de futebol em meio aos sangrentos protestos se tornou uma bandeira dos manifestantes, e a tag #NoALaCopaAmericaEnColombia dominou as redes recentemente. Tentando aliviar a pressão, o governo chegou a solicitar à Conmebol o adiamento das disputas para o final do ano, mas a entidade disse ser impossível. Ainda não há anúncio oficial, mas a expectativa é que todos os jogos que seriam disputados na Colômbia sejam agora jogados na Argentina, país que co-sediaria o evento de qualquer forma – embora as recentes restrições pandêmicas anunciadas pelo governo em Buenos Aires, que suspenderam até o futebol novamente, também venham colocando isso em dúvida. No GE.
A vice-presidenta Marta Lucía Ramírez foi anunciada como nova chanceler do país, em meio a críticas ao governo pela violenta repressão às manifestações das últimas semanas (escute o Giro Latino Cast #20 para entender), que já deixaram ao menos 51 mortos, segundo entidades de direitos humanos. A decisão tem impacto até mesmo na corrida eleitoral: havia expectativa de que Ramírez pudesse se lançar à Presidência para o pleito que ocorre em maio de 2022, mas a decisão de assumir o novo posto ocorreu apenas dez dias antes do começo do prazo de inelegibilidade para membros do gabinete do atual governo – na prática, significa que a vice permanecerá na administração atual e abre mão de lançar campanha própria. Em El País.
COSTA RICA 🇨🇷
Os dias de estabilidade na pandemia, uma realidade no início da crise de saúde, pertencem cada vez mais ao passado: durante a semana, o país bateu novo recorde de mortes, ultrapassando a marca de 200 em sete dias pela primeira vez na pandemia. Diante de uma perspectiva de ainda mais contágios em junho, o presidente Carlos Alvarado decretou alerta laranja, admitindo que é preciso “dar uma trégua” aos já abarrotados hospitais do país (que estão operando bem acima da capacidade desde abril). Além do decreto e de um plano emergencial para frear a curva de contágios, o país aposta em uma estável campanha de vacinação para sair do buraco – sobretudo após Alvarado anunciar que nem todo o comércio será fechado. Superando a marca de 1,2 milhão de doses aplicadas na terça (18), a Costa Rica conta com 11% de sua população totalmente vacinada, a maior taxa na América Central. Na Prensa.
CUBA 🇨🇺
O governo Joe Biden fez sua primeira importante concessão envolvendo a ilha, ainda que não diretamente: aprovou a liberação de três presos da prisão de Guantánamo, conhecida por estar fora dos radares internacionais e por concentrar uma lista de violações aos direitos humanos. Entre os liberados está o paquistanês Saifullah Paracha, 73, detento mais velho até então. Como contamos neste vídeo, há expectativa de que a chegada de uma gestão democrata à Casa Branca possa envolver outros avanços em relação à América Latina. Para saber mais sobre a origem do centro de detenção na ilha, ouça o episódio do Giro Latino Cast que recupera 7 fatos inusitados sobre Cuba. Embora fique em território cubano, a prisão de Guantánamo não tem qualquer ingerência da nação caribenha. Em El País.
Enquanto a ilha concede cada vez mais espaço para a comunidade LGBTQIA+, um gesto simbólico aqueceu corações na celebração do Dia Internacional contra a Homofobia, na segunda (17): em frente ao prédio do Ministério da Saúde, em Havana, uma imensa bandeira do arco-íris foi desfraldada. O gesto pode ir além da representatividade: Cuba atualmente debate a inclusão do casamento igualitário em seu novo código familiar, que pode ser um marco no país. Via Reuters.
Una palabra:
Marines – se você está habituado à literatura latino-americana, seja ela acadêmica ou não, certamente já se deparou com esse termo em itálico quando autores mencionam as intromissões dos EUA ao sul das fronteiras, principalmente durante o século 20. Ainda que o termo seja usado para designar o Corpo de Fuzileiros Navais norte-americanos, acabou ganhando uma conotação anti-imperialista, principalmente quando mencionado em vários dos contextos de invasão em territórios vizinhos: foram os Marines, por exemplo, que o revolucionário Augusto César Sandino expulsou da Nicarágua em 1933; também foram eles, em um grupo de 42 mil soldados, que invadiram a República Dominicana em 1965, deixando mais de 3 mil dominicanos mortos.
EL SALVADOR 🇸🇻
O país recebeu, na terça (18), um lote de 500 mil doses da Coronavac, chegando a 2,5 milhões de imunizantes adquiridos até aqui – uma remessa que ganhou ares anedóticos por chegar em um avião adesivado com as cores e o logo do New England Patriots, um time de futebol americano sem qualquer relação com a viagem (a aeronave era alugada por terceiros), mas que rendeu um tuíte do presidente Nayib Bukele: “Go Pats!” É a quarta remessa de doses que chega da China, sendo que cerca de 150 mil foram doadas pelo governo em Pequim, com quem San Salvador tem boa relação (saiba mais no vídeo da semana). Com bons números de vacinação para os padrões centro-americanos, ostentando 7,2% da população totalmente vacinada, El Salvador tem apostado em restrições e em vários contratos com laboratórios para contornar a pandemia. No início de maio, o presidente Nayib Bukele anunciou um acerto com a Pfizer, que promete cerca de 4,4 milhões de doses ainda em 2021. Na Prensa Gráfica.
Uma investigação por feminicídios contra 10 suspeitos revelou um cemitério clandestino na casa de um ex-policial salvadorenho: os restos mortais de ao menos 12 pessoas, a maioria mulheres, foram encontradas na residência de Hugo Ernesto Osorio Chávez, em Chalchuapa, a 78 km da capital San Salvador. Familiares de pessoas desaparecidas se reuniram diante da casa na expectativa de identificar as vítimas, cujas circunstâncias exatas do sequestro e morte ainda estão sendo investigadas. Osorio, que se tornou o suspeito de maior destaque após a sombria descoberta, não se manifestou à imprensa. Na BBC.
O Departamento de Estado dos EUA elaborou uma lista de funcionários de governos centro-americanos vistos pelo país como “corruptos” e, em um duro golpe ao presidente Nayib Bukele, incluiu nomes próximos do mandatário: ao menos cinco aliados do governante figuram no documento, que ainda não havia sido publicado oficialmente mas foi vazado à agência AP. A lista vem em um momento de piora nas relações entre EUA e El Salvador, com Washington considerando inconstitucional a manobra governista realizada no último dia 1º/5, quando o Congresso, agora dominado pela base aliada, destituiu juízes do Supremo que vinham sendo considerados entraves a Bukele (contamos neste vídeo).
EQUADOR 🇪🇨
O Arco de Darwin, um monumento natural localizado ao norte das Galápagos (conheça a origem da denominação do arquipélago em Un nombre), deixou de ser um arco para virar um par de pilares: de acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Água do Equador, o colapso foi causado pela erosão natural e ocorreu na segunda-feira (17), diante dos olhos atônitos de turistas que costumam visitar a região para realizar mergulhos e observar a vida marinha. Uma empresa que realiza viagens ao local diz que, na indústria, alguns já passaram a chamar o ex-Arco de “Pilares da Evolução”. No Gizmodo.
GUATEMALA 🇬🇹
Os danos ambientais seguem durante a pandemia. Durante os últimos dias, o governo revelou que um total de 488 incêndios consumiram quase 9 mil hectares de florestas no país desde dezembro. Além dos inestimáveis danos à fauna e flora guatemaltecas, a Coordenadoria de Redução de Desastres (Conred) informou que três socorristas morreram no enfrentamento ao fogo. Há também relatos de civis entre as vítimas. A situação climática na região é preocupante: além de enfrentar a pior temporada de furacões de que se tem registro em 2020, a América Central cada vez mais sofre com as secas, impulsionadas pelas queimadas ilegais. Na Prensa Libre.
Ao menos seis detentos morreram após uma rebelião prisional na província de Quetzaltenango, no pior massacre desde 2019. O complexo prisional em questão comporta mais de 2,2 mil presos de diferentes gangues rivais e acredita-se que a segurança no local tenha sido insuficiente para conter as disputas entre os grupos criminosos. Como contamos neste vídeo, a covid-19 também tem sido um agravante para chacinas em presídios em toda a América Latina. Via AP.
HAITI 🇭🇹
A recente epidemia de sequestros no país fez autoridades locais buscarem assessoria com outros latinos que chegaram a ser considerados a “capital mundial” desse tipo de crime até os anos 1990: os colombianos. Quatro agentes policiais da nação sul-americana enfim entregaram seu relatório ao governo em Porto Príncipe, após três meses de pesquisa de campo, apontando estratégias de treinamento e uso de equipamentos que dificultam a ação de criminosos que raptam gente buscando cobrar resgate. Na Colômbia, a incidência de sequestros caiu 95% nas últimas duas décadas. Via Reuters.
Un clic:
O Arco de Darwin, nas Galápagos, deixou de existir durante a semana: a erosão natural derrubou a parte que conectava os dois pilares que permanecem em pé. Leia mais na seção do Equador.
HONDURAS 🇭🇳
A exemplo de El Salvador (que tem ajudado a escassa vacinação hondurenha, como contamos em Un video), Honduras vai incluir jornalistas no grupo prioritário da vacinação, projetando aplicar doses em ao menos 1,5 mil profissionais de imprensa a partir de domingo (23), informou o Ministério da Saúde. Segundo o presidente do Conselho de Jornalistas de Honduras, a decisão é importante, já que a classe “se manteve exposta” aos riscos durante toda a pandemia. Estima-se que ao menos 12 jornalistas já tenham morrido por covid-19 no país até aqui. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
O governador de Tamaulipas, Francisco García Cabeza de Vaca, foi acusado de ter relações com o crime organizado e recebeu ordem de prisão da Justiça durante a semana. Mas, o que parecia só mais um dia normal no México se tornou um entrave político: ninguém sabe dizer se Cabeza de Vaca goza ou não de foro privilegiado, dúvida que impacta diretamente o desfecho do caso. Irritado, o presidente López Obrador pediu que os magistrados da Corte Suprema “resolvam o caso o mais rápido possível” e “sem ambiguidades”. O imbróglio, em El País.
“Celebrar que o México tenha vencido o Miss Universo é ofensivo em um país onde mulheres são mortas e desaparecidas, onde somos profundamente odiadas; mas, acima de tudo, onde todos os dias somos objetificadas”. Foi assim que coletivos feministas se pronunciaram após a vitória da mexicana Andrea Meza no tão contestado concurso, no último domingo (16), que também teve uma brasileira em segundo lugar. Considerado “antiquado”, o evento enfrenta cada vez mais resistência de vozes de um país que fechou 2020 com mais de 3,7 mil casos de feminicídio. Na Silla Rota.
Um serial killer de 72 anos foi preso na segunda-feira (17), em Atizapán, na região metropolitana da Cidade do México. Andrés N., que não teve o sobrenome divulgado e foi apelidado de El Chino, era procurado justamente por um feminicídio, de Reyna González, 34, que havia desaparecido na semana anterior. Após a captura, porém, Andrés confessou que a realidade era muito pior: ele seria o autor de cerca de 30 crimes semelhantes ocorridos nas últimas duas décadas, enterrando os restos mortais de suas vítimas na própria casa (um cenário macabro que se assemelha a outra descoberta também ocorrida nesta semana, sem relação com este caso, noticiada na seção de El Salvador deste GIRO). A polícia agora tenta confirmar os outros crimes do assassino em série. Em El País.
NICARÁGUA 🇳🇮
Novas pressões da polícia sandinista contra veículos jornalísticos têm trazido de volta um velho fantasma: o desrespeito do governo Daniel Ortega à liberdade de imprensa. Nos últimos dias, o alvo de uma operação de busca foi o jornal Confidencial, de linha crítica ao governo, comandado por Carlos Fernando Chamorro (sua mãe, Violeta, foi presidente entre 1990 e 1997 e sempre se opôs aos sandinistas). Já a irmã de Carlos, a também jornalista Cristiana Chamorro, que chegou a ser cotada para a Presidência, foi intimada pelas autoridades por alegações de lavagem de dinheiro na fundação criada pela mãe. Além da batida policial na redação, agentes prenderam de forma arbitrária o fotógrafo e cinegrafista Lionel Gutiérrez. Segundo Carlos, em outra invasão ocorrida em 2018, a “polícia da ditadura” chegou a levar itens da redação. O recrudescimento do autoritarismo de Ortega tem um ponto de virada: os protestos de abril de 2018. Desde então, além de deixar centenas de mortos, desaparecidos e exilados, o governo coíbe a atividade jornalística das mais variadas formas, seja embargando insumos como papel e tinta, seja perseguindo jornalistas. Em El País.
Fazer oposição política ao governo também encontra barreiras. A alguns meses das eleições presidenciais, que terão Daniel Ortega em nova tentativa de reeleição, o Conselho Supremo Eleitoral (CSE) decidiu cancelar o status legal do Partido Conservador, a legenda mais antiga do país. A decisão veio pouco depois da exclusão do também oposicionista Partido da Restauração Democrática (PRD), que tinha comícios contra o governo marcados para as próximas semanas. Correligionários dos dois grupos e até ex-sandinistas criticaram as decisões do tribunal eleitoral, que é formado por aliados do governo. A semana também foi marcada por pressões a ONGs ligadas a presidenciáveis da oposição, parte de um ambiente incerto a poucos meses da principal votação desde a escalada autoritária. Na DW.
Un nombre:
Galápagos – é o nome dado ao arquipélago vulcânico pertencente ao território equatoriano e que acabou assim denominado porque as tartarugas típicas da ilha recordavam um formato de “sela” (ou, em alguma trincheira da língua espanhola, “galápago”, nome dado ao objeto de montaria que se assemelha aos cascos das tortugas). Por sinal, o réptil que acabou popularizando a riqueza natural da pérola do Pacífico é só uma das centenas de espécies que vivem preservadas no complexo de ilhas, que tem seus primeiros registros datados de 1535. Galápagos guarda muita história: também foi um ponto crucial da viagem de Charles Darwin a bordo do famoso HMS Beagle, na metade do século 19. Nesta edição, falamos mais da maravilha natural na seção do Equador.
PARAGUAI 🇵🇾
O Atlético Mineiro se tornou o segundo time do futebol brasileiro a receber as doses da Coronavac administradas pela Conmebol em solo paraguaio, onde o clube de Belo Horizonte enfrentou o Cerro Porteño na quarta (19) pela Copa Libertadores. Já que todas as doses que chegam ao Brasil precisam necessariamente ser destinadas ao Ministério da Saúde, muitos times com viagem programada para o Paraguai têm aproveitado para imunizar suas delegações inteiras, como também foi o caso do Atlético Goianiense no começo do mês. Além da polêmica inicial de dar privilégio a um serviço não-essencial, o tema tem dividido times brasileiros (o Internacional de Porto Alegre, por exemplo, recusou-se a receber a vacina apesar de também visitar Assunção durante a semana) e levantado debates sobre a logística que os clubes adotarão para tomar a segunda dose. No UOL.
Os impasses na fronteira por conta de restrições da pandemia (fato já abordado neste vídeo do GIRO) seguem: durante a semana, a Prefeitura de Foz do Iguaçu ordenou o retorno de ao menos 400 veículos que vinham do Paraguai, após os condutores não apresentarem testagem negativa no exame RT-PCR, feito no momento de entrada. Segundo autoridades, “as blitzes seguirão em vigor para conter a chegada de veículos transportando pessoas irregularmente até os hospitais da cidade, o que também influencia nos altos números de casos e internamentos”. O sistema de saúde paraguaio mantém taxas de ocupação próximas de 100%. No Portal da Cidade.
PERU 🇵🇪
A moderação que a candidata Keiko Fujimori tenta vender para chegar à presidência nas eleições de 6/6 ganhou mais um contraexemplo claro durante a semana: perguntada sobre uma “dívida histórica” que a ditadura de seu pai, Alberto Fujimori (1990-2000), tem com as vítimas de esterilizações forçadas cometidas pelo Estado no final do último século (saiba mais no GIRO #71), Keiko negou os abusos do que chamou de “planificação familiar”. Não é o que dizem relatos, investigações e denúncias por parte de organizações de direitos humanos: segundo registros, pelo menos 18 mulheres teriam morrido em decorrência desse tipo de violência, dentre mais de 314 mil que acabaram submetidas aos procedimentos forçados. A semana de fato não foi boa para a política de extrema direita: Keiko pediu autorização para sair do Peru rumo ao Equador, onde se encontraria com o escritor Mario Vargas Llosa (antigo antifujimorista, tem feito campanha pelo “mal menor” representado pela direita) em um evento. Mas, não rolou: ainda que tenha autorização para virar presidente, Keiko foi impedida de sair do país por ainda estar sob investigação por lavagem de dinheiro. No hilo do GIRO.
Enquanto as pesquisas anunciam uma corrida acirrada entre Fujimori e o esquerdista Pedro Castillo, um desastre de relações públicas marcou a campanha deste durante a semana: em Ayacucho, onde o partido Perú Libre realizava comício, militantes agrediram repórteres presentes no evento, em fato denunciado por três organizações de imprensa do país. A violência veio após Castillo lançar dúvidas sobre a idoneidade de apresentadores de TV peruanos, que vêm atacando o candidato. Ele questionou “quanto ganham e quem os paga” para fazerem as críticas, dizendo que tornará essas informações públicas se for eleito. Questionado por uma plataforma radical que vem tentando “amaciar” ao longo do segundo turno, Castillo chegou a assinar um documento se comprometendo a respeitar a liberdade de imprensa antes dos atos desta semana. Na DW.
PORTO RICO 🇵🇷
Ricardo Rosselló está de volta. O ex-governador (2017-2019), que se viu obrigado a renunciar após protestos que tiveram como estopim uma série de comentários homofóbicos e misóginos vazados há dois anos, regressou à política nas eleições que vão escolher seis delegados para representar a causa de Porto Rico no Congresso dos EUA. Mais exatamente, a busca por se converter no 51º estado da União (conheça mais a peculiar relação entre Porto Rico e EUA neste episódio do Giro Latino Cast). A ilha foi às urnas no último fim de semana para eleger os representantes e, embora Rosselló não fosse um dos candidatos presentes na cédula, apoiadores se mobilizaram para tentar elegê-lo por “nominação direta” (ou “write-in”), quando um nome ausente é escrito pelo próprio eleitor. A apuração é lenta e ainda não se sabe se a campanha foi suficiente para eleger Rosselló. Na CNN.
O sistema prisional realizou o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo da história de Porto Rico, informou nesta semana uma funcionária do Departamento de Correção e Reabilitação da ilha. De acordo com ela, a cerimônia estava marcada para o último dia 13/5, unindo uma pessoa presa e outra em liberdade. Casamentos também estão autorizados entre duas pessoas encarceradas, embora ainda não tenham sido registrados matrimônios homoafetivos nessas circunstâncias. No Metro.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A crise causada pela tentativa haitiana de desviar o fluxo do rio Massacre, na fronteira norte entre os dois países, deve ganhar novo capítulo no próximo dia 27: durante a semana, a chancelaria dominicana confirmou uma reunião entre os responsáveis pelas relações exteriores dos dois países, buscando encontrar caminhos para resolver o “impasse”. O anúncio veio pouco depois de o Haiti confirmar que o canal de irrigação que vinha sendo aberto já chega ao Massacre, o que causa temores de falta d’água do lado dominicano, embora Porto Príncipe garanta que os afluentes do rio não serão prejudicados. A disputa em torno do rio é mais um dos pontos de tensão nas relações bilaterais entre os países que dividem a ilha de Hispaniola, que incluem até mesmo a construção de um muro pelos dominicanos para tentar frear a imigração e o contrabando, como contamos no GIRO #81. No N Digital.
URUGUAI 🇺🇾
O paisito, que passou 2020 como bom exemplo e viu tudo se descontrolar em 2021, agora mira vencer a pandemia com uma rápida vacinação. Ainda atravessando o pior momento, mas com quase 30% de seus 3,5 milhões de habitantes vacinados e com ligeira diminuição nos índices de contaminação, o governo já planeja soluções para a volta da vida normal. Durante a semana, o presidente Luis Lacalle Pou anunciou a possível criação de um “passaporte verde” para pessoas já vacinadas ou que testaram negativo. O documento, ainda em plano piloto e sem data para iniciar, permitiria aos cidadãos entrar em shows e outros eventos com a presença de público. O mandatário reforçou, no entanto, que a medida não seria restritiva, ou seja, “pessoas não-vacinadas também poderiam entrar” nos tais eventos, desde que mostrassem testagens negativas aprovadas pelo governo. No Merco Press.
VENEZUELA 🇻🇪
A tentativa de invadir a Venezuela para assassinar Nicolás Maduro (episódio contado pelo GIRO neste vídeo) perpetrada por um grupo de mercenários colombianos e estadunidenses em maio de 2020, além de trágica, terminou com condenados. Na Colômbia, um magistrado sentenciou três venezuelanos a seis anos de prisão por participar do complô fracassado, que já é apelidado de “Baía dos Leitões”, versão satírica do também malogrado episódio das Baía dos Porcos, em 1961, quando soldados anticastristas treinados pelos EUA tentaram um golpe contra os socialistas em Cuba. As piadas envolvendo o insucesso da chamada “Operação Gideão” aumentaram quando os estadunidenses que integraram a missão, hoje detidos, disseram que foram “enganados” ao chegar à Venezuela – sua defesa argumenta que “não sabiam” que estavam participando de uma investida mercenária. Via AP.
A Venezuela voltou a ser assunto no Brasil durante a CPI da pandemia, que tem trazido a público os detalhes da gestão desastrosa do governo Jair Bolsonaro à frente da crise sanitária. Durante a semana, a sabatina teve a presença do ex-chanceler Ernesto Araújo, que foi perguntado sobre os 100 mil m³ de oxigênio enviados a Manaus após autorização do governo em Caracas em janeiro – à época, o estado do Amazonas viveu dias tenebrosos pela falta do insumo, com dezenas morrendo nos hospitais por asfixia. Admitindo que a carga foi uma “doação” do governo Nicolás Maduro, cuja legitimidade não era reconhecida pela gestão de Araújo, o ex-ministro revelou que sequer agradeceu pelo apoio (um auxílio também muito criticado por organizações dentro da Venezuela, que denunciam sua própria escassez de insumos). No G1.