Costa Rica: ataque hacker paralisa governo e causa prejuízos milionários
Argentina busca restabelecer relações plenas com Venezuela | Colômbia: apesar de turbulência, Petro cresce | México aprova nacionalização do lítio | Honduras: JOH é extraditado
A Costa Rica enfrenta as consequências de um ciberataque que obrigou o país a tirar do ar diferentes plataformas durante a semana e acendeu alertas sobre os riscos de investidas hackers para o funcionamento dos governos na América Latina e ao redor do mundo. Os problemas começaram na segunda-feira (18), quando o Ministério da Fazenda detectou o “sequestro” de um terabyte de informações das bases de dados dos sistemas tributário e aduaneiro, com detalhes sobre a renda dos contribuintes costa-riquenhos e informações sobre importações e exportações. Desde então, ao menos seis instituições públicas confirmaram que foram vítimas dos ataques, o que as obrigou a suspender operações online para evitar novas violações, incluindo órgãos como a Caixa Costa-Riquenha de Seguro Social (CCSS), que administra a previdência e a saúde pública do país, e o Instituto Meteorológico Nacional (IMN), entre outros.
O ataque vem em um momento particularmente inoportuno para o país, que está em plena preparação da transição rumo à posse do presidente eleito Rodrigo Chaves, que assume o poder no próximo dia 8/5. Segundo o atual mandatário, Carlos Alvarado, o governo não tem dúvidas de que a motivação é sobretudo política: “o ataque não é uma questão de dinheiro, e sim uma busca por ameaçar a estabilidade do país em uma conjuntura de transição. Eles não vão conseguir isso”, garantiu. Há três semanas, após o segundo turno, Alvarado logo reconheceu a vitória de Chaves e prometeu cooperação. A administração costa-riquenha rapidamente atribuiu a invasão ao grupo Conti, uma organização criminosa internacional originada na Rússia e conhecida por realizar ataques de ransomware, quando dados virtuais são sequestrados em troca de uma cobrança de “resgate” pela devolução das informações.
Supostos hackers que se dizem ligados ao Conti fizeram um pedido inicial de US$ 10 milhões para restituir o acesso às informações subtraídas e ainda divulgaram uma proposta de barganha: um desconto de 35% no valor se o pagamento fosse feito até este sábado (23). Além disso, deram uma garantia inusitada, afirmando que o ataque seria unicamente contra o Estado: “prometemos não tocar no setor privado da Costa Rica, tratamos com respeito o empresário desse país e pedimos que convençam o Governo a nos pagar”, afirmaram os alegados porta-vozes do grupo em uma mensagem repercutida nas redes sociais.
Alvarado, por sua vez, reafirmou que o país não vai entrar em qualquer negociação diante de pedidos extorsivos, mesmo que os prejuízos do ataque sejam maiores do que o resgate cobrado. O governo diz que está contando com assessoria de especialistas internacionais e dos governos dos Estados Unidos, da Espanha e de Israel para resolver a questão o quanto antes. Enquanto isso não acontece, porém, diferentes braços do Estado tico estão sem operar na totalidade – o ataque ao sistema de aduanas, por exemplo, teria causado um prejuízo de US$ 200 milhões durante a semana, devido à interrupção do fluxo normal de importações e exportações, segundo a Câmara de Comércio Exterior (Crecex). Sem acesso ao sistema tipicamente utilizado nessas relações comerciais, o país voltou a resolver as demandas de maneira manual, o que obviamente atrasou os processos. A estimativa é que cada novo dia com as operações afetadas cause perdas de até US$ 30 milhões.
Em um sinal de que os invasores pretendem complicar mais as coisas sem um acordo ou uma resolução independente, diariamente surgem novas informações sobre um ministério diferente que teria tido seu sistema vulnerado – depois da Fazenda, as pastas de Ciência, Inovação, Tecnologia e Telecomunicações e a de Trabalho e Seguridade Social também entraram na lista. “A ameaça segue latente”, admitiu o presidente da nação centro-americana, elencando o momento atual na lista de “circunstâncias muito difíceis que não haviam sido experienciadas antes pelo país” que ele teve de enfrentar em seu governo agora às vésperas do fim. No blog em que costuma divulgar suas ações, o Conti começou a liberar parte dos dados roubados e prometeu novos vazamentos para o início da próxima semana.
Especialistas colocam este como o maior ciberataque já sofrido pela Costa Rica, e potencialmente o mais danoso em qualquer país latino-americano até o momento. O envolvimento do grupo Conti também teria um aspecto de “amostra grátis” para outros países: embora a Costa Rica não seja um local particularmente estratégico nos conflitos atuais, ela poderia estar sendo utilizada como uma vitrine do estrago que um ataque direcionado seria capaz de fazer em uma economia maior. No início do conflito russo-ucraniano, a organização havia anunciado seu “apoio total” ao governo de Vladimir Putin, alertando que eventuais ataques cibernéticos à Rússia teriam respostas imediatas: “vamos usar todos os recursos de que dispomos para contra-atacar mirando as infraestruturas críticas do inimigo”.
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DESTAQUES
🇦🇷 Argentina busca reatar relações com Venezuela – O presidente Alberto Fernández anunciou que pretende restabelecer relações diplomáticas plenas com a Venezuela, após anos de um hiato iniciado ainda na gestão do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019). Ainda que à esquerda de Macri, Fernández não chegou a retomar o contato com seu homólogo Nicolás Maduro: seja para evitar polêmicas ou porque sua gestão foi praticamente dominada por preocupações relacionadas à pandemia, o mandatário adotou uma postura distante, endossando as denúncias de violações aos direitos humanos da ONU contra o chavismo, mas retirando a Argentina do Grupo de Lima (órgão multilateral criado em contraposição a Maduro). O anúncio do presidente veio em uma conversa com o líder equatoriano Guillermo Lasso – conservador que, por sua vez, não prometeu seguir o mesmo caminho do diálogo. “É um passo que estamos dando, e convoco todos os países da América Latina a revisá-lo, porque a Venezuela passou por um período difícil”, disse Fernández. Em El País.
🇨🇴 Petro vive turbulência, mas cresce nas pesquisas – A campanha de Gustavo Petro passa por um momento de trepidação. O presidenciável de esquerda enfrentou duras críticas nesta semana pela visita de seu irmão, Juan Fernando Petro, à penitenciária La Picota, onde se reuniu com ex-prefeitos e ex-governadores presos. Nessas conversas, teria sido mencionada a possibilidade de redução de penas, fato destacado pelos adversários de Petro. Além disso, a polêmica declaração dele sobre a possível criação de uma nova jurisdição especial para narcotraficantes coincidiu com uma briga com a senadora eleita Piedad Córdoba, que teria pedido a narcos e paramilitares presos apoio para a campanha de Petro em troca de mudanças nas políticas de extradição. Córdoba, que tem irmão preso por ligação com as dissidências das FARC e é alvo de investigações por casos semelhantes, foi eleita senadora pelo Pacto Histórico, a coalizão de esquerda, em março. Após as revelações das negociações dela com os narcos presos, Petro pediu que ela se retirasse da campanha presidencial até que resolvesse as questões jurídicas. Contrariando as expectativas dos adversários, nem mesmo o terremoto político desta semana impediu que o progressista continuasse ampliando seu favoritismo nas pesquisas eleitorais para os dois turnos. A primeira volta ocorre em 29/5. No Noticias Caracol.
🇲🇽 México aprova nacionalização do lítio – Se a reforma energética não teve o desfecho desejado por AMLO (leia mais na seção do país), outro projeto de olho na “energia do futuro” teve aprovação em tempo recorde: na terça-feira (19), o Senado seguiu o caminho da Câmara e decidiu pela nacionalização das reservas mexicanas de lítio, seguindo um projeto de lei enviado pelo próprio presidente. Utilizado em baterias e muito cobiçado por produtores de carros elétricos, o mineral tem se tornado um recurso cada vez mais visado na América Latina (o acesso às reservas foi tema debatido, por exemplo, no contexto do golpe boliviano de 2019). De acordo com a lei, uma estatal – que ainda não existe – deverá ser responsável pela mineração do lítio, até aqui inexistente no México. Apenas uma empresa chinesa está próxima de começar as operações, e ainda não está claro se sua estrutura será expropriada com a nova legislação. Via AP.
🇵🇪 Castillo quer castração química para estupradores – De olho em medidas que agradem o eleitor médio e a oposição que insiste em tentar derrubá-lo, o presidente Pedro Castillo anunciou que apresentará ao Congresso um projeto de lei que autoriza a castração química de quem for condenado por estuprar crianças, mulheres e adolescentes. Dizendo responder a um “clamor popular”, o presidente acena a um aumento de popularidade, mas enfrenta restrições dentro do próprio governo: o ministro do Interior, Alfonso Chávarry, disse que uma proposta dessa natureza requer estudo e “deve ser avaliada”. O Peru tem números alarmantes em termos de violência sexual: é o terceiro crime que mais leva peruanos à cadeia; segundo dados oficiais, 15 menores são vítimas de crimes sexuais todos os dias no país. Na DW.
🇭🇳 Ex-presidente é enfim extraditado aos EUA – Fim da novela, ao menos dentro de Honduras: o ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022) foi extraditado para os Estados Unidos na quinta-feira (21), depois de esgotados todos os recursos. JOH, como também é conhecido, deixou o cargo em janeiro e foi detido apenas três semanas mais tarde. Ele é acusado, nos EUA, de crimes relacionados ao narcotráfico – o irmão do ex-presidente, o ex-deputado Tony Hernández, já foi condenado à prisão perpétua pela Justiça estadunidense por crimes similares. O próprio JOH garante que é inocente e que as denúncias seriam uma “vingança” dos narcos, que teriam feito delações mentirosas em represália à suposta mão dura de seu governo contra a criminalidade. Agora, a história terá sequência nos tribunais norte-americanos, onde uma condenação é considerada muito provável. Via AFP.
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REGIÃO 🌎
Dois pesos, duas medidas, mas talvez agora de forma menos explícita: após abrir as portas a refugiados ucranianos enquanto seguia endurecendo as coisas para latino-americanos que pediam asilo em suas fronteiras, o governo dos EUA indicou que vai seguir recebendo aqueles que fogem do conflito na Europa – mas já não deve facilitar a vida de quem o faz através da fronteira com o México. Até aqui, muitos ucranianos que desembarcavam em solo mexicano eram levados a um abrigo na cidade de Tijuana e, de lá, transportados até a divisa com o país ao norte. Os EUA, que já receberam 15 mil ucranianos desde a invasão russa, pretendem aceitar pedidos de refúgio de até 100 mil pessoas vindas de lá. Via AP.
ARGENTINA 🇦🇷
Com jeitinho de anos 1980, a inflação acelerada voltou a ser uma dor de cabeça em praticamente toda a América Latina – e um incômodo ainda maior para quem já sofria com a alta descontrolada dos preços antes mesmo da crise atual, como a Argentina. O cenário ficou ainda mais inoportuno para o presidente Alberto Fernández depois que a Venezuela passou a informar números mensais de apenas um dígito nos últimos meses (fenômeno que os analistas atribuem à crescente dolarização informal da economia caribenha, o que estaria freando o ciclo hiperinflacionário da última década), reforçando as comparações entre os dois países: em fevereiro e março, a inflação oficial argentina esteve acima da venezuelana e, se as projeções forem mantidas no resto do ano, os dois países poderiam encerrar 2022 empatados, algo impensável poucos meses atrás. Tentando combater o peso da inflação para o grosso da população, o Ministério da Economia prometeu instituir um “mecanismo” para taxar os “ganhos inesperados” de grandes empresas, utilizando os recursos para financiar subsídios sociais. Amplamente criticada pelo empresariado, a medida visaria companhias com receita acima de US$ 8,5 milhões que lucraram mais do que o previsto como consequência do aumento de preços causado pela guerra na Europa. Via AFP.
BOLÍVIA 🇧🇴
O presidente Luis Arce assinou, na quinta (21), uma lei que pretende ajudar a preservar e ensinar as línguas originárias do país. A Lei Declaratória do Decênio das Línguas Indígenas, que compreende o período até 2032, segue o caminho de uma proclamação da ONU que busca conservar idiomas nativos durante a próxima década. Em princípio, serão priorizadas as 36 línguas originárias da Bolívia reconhecidas como idiomas oficiais na Constituição plurinacional do país, por meio de “ações concretas” para que sejam transmitidas às próximas gerações. Segundo o último Censo boliviano, realizado em 2012, 41% da população maior de 15 anos pertencia a um povo ou nação indígena. Via EFE.
CHILE 🇨🇱
A primeira viagem do presidente Gabriel Boric – que tomou posse em 11/3 – para o interior do país culminou em uma tentativa de agressão: em Coquimbo, 460 km ao norte de Santiago, um homem atirou uma pedra na direção do mandatário, que se safou por pouco. O projétil atingiu o peito de seu chefe de gabinete, Matías Meza-Lopehandía, que não se feriu com gravidade. Após o ataque frustrado, Boric foi retirado do local e o suspeito, um homem de 31 anos, foi detido pela polícia para interrogatório. Em El Mostrador.
Boric teve sua primeira derrota no Parlamento: deputados chilenos rejeitaram dois projetos de lei envolvendo o quinto saque dos controversos fundos de pensão no país. Uma das medidas foi apresentada pelo governo e determinava o uso dos fundos para o pagamento de dívidas. Já a outra versão, também sepultada, havia sido apresentada pela própria Casa e não previa um controle sobre o uso dessa compensação financeira. Como é de se imaginar, a medida passa longe do consenso político e econômico no país: enquanto alguns projetam que os saques podem aumentar o quadro inflacionário, sobretudo pela ressaca da pandemia, outros dizem que o cenário de recuperação econômica já permite que as pessoas tenham alternativas no bolso. Em El País.
COLÔMBIA 🇨🇴
Foram revelados novos detalhes da operação militar que resultou na morte de ao menos 11 pessoas – incluindo um menor de idade e uma mulher grávida – em uma comunidade quéchua em Puerto Leguízamo, Putumayo, na região de tríplice fronteira com Peru e Equador (leia mais no GIRO #125). De acordo com David Melo Cruz, advogado de familiares das vítimas, um dos líderes da comunidade, Pablo Panduro Cochinque, teria sido confundido com um chefe guerrilheiro da dissidência das FARC de codinome “Bruno”. O ministro da Defesa, Diego Molano, e o presidente Iván Duque defendem que a operação foi “legítima” e planejada há mais de cinco meses – embora o Exército não tenha apresentado provas da ligação das vítimas com os guerrilheiros, que teriam fugido para o Equador. Os sobreviventes relatam que os militares teriam alterado a cena do massacre, colocando armas e roupas camufladas nos cadáveres. A ONU exigiu que o Ministério Público faça uma “investigação exaustiva e independente para garantir os direitos das vítimas à verdade, à justiça e à reparação”. Em El País.
CUBA 🇨🇺
Já que sanções não entram no debate, o negócio é falar de migração. Esse foi o tema da conversa de mais alto nível diplomático entre Havana e Washington desde 2018, realizada na capital dos EUA na quinta (21). O encontro, anunciado pela chancelaria cubana, reuniu delegações dos dois países para uma rodada de conversas sobre o aumento dos números migratórios. Alguns reconhecimentos de “avanços”, muitos impasses a resolver e, acima de tudo, nada de falar de outros problemas: o próprio porta-voz do Departamento de Estado norte-americano foi direto, dizendo que a conversa estaria “centrada exclusivamente” em falar de soluções para o fluxo de pessoas (o que de fato só cresce em 2022). Do lado latino, sem muitos detalhes, ouviu-se que a política migratória dos EUA segue “incoerente”. No Infobae.
EL SALVADOR 🇸🇻
Em guerra declarada contra as gangues do país (leia mais no GIRO #127), o presidente Nayib Bukele celebrou nesta semana a marca de 15 mil supostos pandilleros presos desde o endurecimento das medidas, que vêm provocando repetidas denúncias de abusos e de encarceramentos arbitrários de pessoas que não teriam relação com os grupos criminosos. Enquanto a investida segue sendo explorada politicamente dentro de El Salvador, no exterior a escalada autoritária do governo – bem como a controversa aposta no bitcoin – vem causando dúvidas: na economia, o risco-país bateu recorde histórico e colocou El Salvador como o segundo mais alto da América Latina, atrás apenas da Venezuela; na geopolítica, os EUA voltaram a manifestar preocupação sobre os rumos do governo Bukele – o secretário de Estado Antony Blinken, durante viagem ao Panamá, falou sobre “atrasos na separação de poderes, em governabilidade e estado de direito”.
Dale un vistazo:
📚 Dias e Noites de Amor e de Guerra – Relatos pessoais do exílio. Experiências com o candomblé carioca. Tiros e amores anônimos. Execuções extrajudiciais. Paisagens à beira mar em tempos de guerra. Memórias inocentes de uma infância golpeada. Um passeio por tropeços e desilusões de uma América em chamas durante o último século. É com essa alternância de antagonismos que o uruguaio imortal Eduardo Galeano – cujo aniversário de morte completou sete anos no último dia 13 – escreveu uma de suas obras mais sinceras e sensíveis.
📚 ‘Días y noches de amor y de guerra’ foi lançado originalmente em 1976 e está disponível, em português, nas principais livrarias e lojas virtuais.
EQUADOR 🇪🇨
Em seu próprio giro latino, o presidente Guillermo Lasso propôs ao lado do argentino Alberto Fernández a criação de “uma grande zona de livre comércio” na América Latina para potencializar as relações de mercado com outras partes do mundo. “Tive a oportunidade de propor à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) uma visão um tanto prática no sentido de que, se quiséssemos imitar a União Europeia, esse seria o primeiro passo”, disse. Lasso mencionou a Cúpula das Américas, a ser realizada nos EUA, em junho, como um “momento propício” para que toda a região se resolva internamente para avançar na integração regional. Em El Universo.
Por algumas horas, os equatorianos chegaram a temer que a vaga do país na Copa do Mundo de futebol masculino estivesse ameaçada. O motivo da confusão foi uma declaração de Jannet Emén Sánchez, da Organização Antidopagem do Equador (Onade), que afirmou em uma entrevista que o país corria “sério risco” de ser suspenso do esporte internacional por não conseguir arcar com os custos dos testes para detectar substâncias proibidas junto à agência mundial antidoping, a WADA. O Ministério do Esporte se apressou a desmentir, afirmando que o risco de suspensão não existe e que o governo pagará todos os eventuais valores pendentes. Passado o susto, o Equador segue com data marcada para abrir o Mundial, em 21/11, justamente contra o anfitrião Catar. No Olé.
GUATEMALA 🇬🇹
De olho no que acontece no vizinho El Salvador, o Ministério do Governo apresentou na terça (19) os resultados de um plano nacional de proteção que pretende “proteger os guatemaltecos” da entrada de membros de pandillas salvadorenhas pelas fronteiras. A coletiva aconteceu alguns dias após autoridades guatemaltecas capturarem 16 membros de gangues do país ao lado – em sua maioria, fugindo da maior onda de detenções desde que o presidente Nayib Bukele vestiu a faixa em San Salvador (entenda tudo aqui). No entanto, não é certo que a Guatemala vá pelo mesmo caminho e adote um plano territorial repressivo contra o crime: argumentando que o país “felizmente não tem a mesma quantidade de pandilleros”, o ministro da pasta, David Napoleón Barriento, disse que “ao menos no momento, não é necessário” repetir as cenas vistas nas ruas salvadorenhas. Na Prensa Libre.
A procuradora-geral Consuelo Porras, pivô de uma crise institucional sem precedentes na história moderna do país, quer se reeleger para o cargo. Reeleição que viria a despeito de uma massiva pressão local e internacional contra sua controversa gestão: cada vez mais aliada ao presidente Alejandro Giammattei (a quem Porras já sugeriu fidelidade diante de investigações por supostos escândalos na campanha presidencial), a procuradora é a cabeça de uma rede de retaliação a juízes e procuradores anticorrupção que, desde o último ano, se viram obrigados a até deixar o país por conta de intimidações. Para evitar danos maiores, autoridades contrárias a uma nova indicação da acusada de desmantelar o combate à corrupção no país tentam reverter a candidatura nas altas cortes. Em La Hora.
HAITI 🇭🇹
A SIP, Associação Interamericana de Imprensa, afirmou durante a semana que os assassinatos e outros crimes cometidos contra jornalistas em território haitiano fazem com que o país siga sendo o mais “inseguro, perigoso e frágil” para o exercício da liberdade de imprensa nas Américas e no Caribe. Em um relatório preliminar, que ainda será votado no próximo mês, a entidade relembra que ao menos três profissionais foram assassinados, um sequestrado e outros vários intimidados durante o último ano, fatos que marcam um cenário “sinistro” de uma imprensa “permanentemente ameaçada”. Desde julho passado, com a morte do presidente Jovenel Moïse, o país caribenho tem enfrentado uma degradante crise institucional, seguida por protestos contra um aumento diário da violência das gangues armadas. Via EFE.
HONDURAS 🇭🇳
Enquanto JOH cai em desgraça (veja mais nos destaques desta edição), uma das políticas mais promovidas por seu governo deixa de existir: por unanimidade, o Congresso extinguiu nesta semana as chamadas Zonas de Emprego e Desenvolvimento (Zedes), zonas econômicas especiais que isentavam investidores estrangeiros de seguir determinadas leis e pagar alguns impostos nas áreas designadas pelo governo. Aprovada em 2013, ainda no governo de Porfirio Lobo (2010-2014), a lei das Zedes foi impulsionada sobretudo na gestão seguinte, quando Hernández as vendeu como uma estratégia para acelerar a economia à moda asiática. Agora, para derrubá-la, os legisladores hondurenhos entenderam que as Zedes violam a soberania do país. Na BBC.
MÉXICO 🇲🇽
“Traidores”. Foi assim que o presidente Andrés Manuel López Obrador classificou os deputados que rejeitaram, no início da semana, o projeto de reforma constitucional que mexeria nas bases do controle energético do país. A medida – que se tornou-se a primeira derrota legislativa de AMLO – previa ampliar o controle do Estado sobre a eletricidade, diminuindo o papel da iniciativa privada e, segundo o governo, aumentar a soberania mexicana (“defender os interesses do povo, não das empresas estrangeiras”, disse o presidente). Mas não deu certo: os votos favoráveis pararam em 275, quando eram necessários 332 – dois terços dos parlamentares – para avançar com a proposta. Integralmente contrária à reforma, a oposição alega altos custos para o rompimento de contratos vigentes com o setor privado, além de um possível afastamento de novos investimentos. Pesou sobre a decisão a posição dos EUA, também críticos da medida: para os vizinhos de cima, a alteração proposta por AMLO atrapalharia os planos conjuntos dos dois países em nome de avançar a produção de energia limpa. Na BBC.
Aos 95 anos, morreu, no último sábado (16), a ex-senadora Rosario Ibarra de Piedra, ativista pioneira dos direitos humanos que na década de 1980 foi a primeira mulher a se candidatar à Presidência do México. Ibarra se tornou figura pública em 1975, quando seu filho, Jesús, foi detido pelas autoridades acusado de fazer parte de uma guerrilha comunista – e nunca mais foi encontrado. Em busca de justiça, ela fundou o Comitê ¡Eureka! (veja mais em Un nombre), uma das primeiras organizações de familiares de desaparecidos políticos no México, o que lhe rendeu quatro indicações ao Nobel da Paz. Em El País.
Un nombre:
Comitê ¡Eureka! – Organização de mães e familiares de desaparecidos fundada em 1977, no México, por Rosario Ibarra de Piedra (leia mais na seção do país desta edição). Dois anos mais cedo, o filho de Rosario, Jesús, havia sido raptado pelas autoridades sob acusação de pertencer a um grupo da militância comunista armada e jamais reapareceu. Criada com o nome oficial de Comitê Pró-Defesa de Presos Perseguidos, Desaparecidos e Exilados Políticos do México, a entidade ficou mais conhecida pelo nome ¡Eureka! – expressão grega que significa, literalmente, “encontrei”. E, de fato, o grupo teve motivos para bradar eureka várias vezes ao longo das décadas: o comitê é creditado por localizar com vida mais de 150 pessoas desaparecidas desde seu surgimento.
NICARÁGUA 🇳🇮
Alvos diferentes, mesmas medidas ineficientes: autoridades comerciais em Washington anunciaram que vão excluir a Nicarágua da cota adicional de açúcar de 2022, afetando uma commodity que, sozinha, representou cerca de 2% das exportações do país latino aos EUA no último ano. A decisão acontece no contexto de uma lei promulgada por Joe Biden apenas alguns dias após a contestada reeleição de Daniel Ortega, em novembro passado – processo marcado pela prisão de sete candidatos da oposição. Tal medida, chamada de Lei Renacer pela sigla em espanhol, permite que o governo Biden amplie sanções econômicas contra Manágua, tudo em nome de enfraquecer Ortega e levar a uma transição de poder. Mas não é o que geralmente acontece nesses casos: além de dar de bandeja um argumento de ingerência que apenas insufla a retórica anti-imperialista de um governo cada vez mais autoritário, o novo boicote ao setor açucareiro “afeta pessoas e empresas, não o governo”, dizem opositores. No Confidencial.
Brigas marítimas são comuns entre países da América Central, mas também descem o continente: é o caso do litígio que envolve a Nicarágua e a Colômbia, país que, segundo uma nova decisão da Corte Internacional de Haia, “violou a soberania e a jurisdição” nicaraguenses ao realizar atividades de patrulhamento, pesquisas científicas e pesca em águas que não pertencem ao controle colombiano. O conflito territorial e legal envolve as áreas em torno das ilhas de San Andrés, Providencia e Santa Catalina, importantes destinos turísticos colombianos que foram anexados ao território do país sul-americano após os processos de independência, no século 19. Em duas ocasiões, em 2007 e 2012, a Corte Internacional de Justiça já tinha reconhecido a soberania colombiana no arquipélago localizado a menos de 200 km da costa nicaraguense. A última decisão, porém, também previa a criação de uma zona econômica exclusiva de 75 mil km² de espaço marítimo nicaraguense – território que, desde então, foi violado pelo Estado colombiano. No Caracol Radio.
PANAMÁ 🇵🇦
O país sediou uma nova rodada de conversas com representantes do continente para discutir a questão da migração irregular, que tem no Panamá uma passagem obrigatória para todos os que saem da América do Sul rumo aos EUA. Um novo acordo entre os panamenhos e os estadunidenses foi firmado para tentar debelar o fluxo migratório que vem pelo estreito de Darién e seguiu em ritmo recorde no primeiro trimestre de 2022. Apesar das medidas paliativas, porém, o próprio secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reafirmou que a única “estratégia permanente” envolve melhorar as condições de vida nas regiões de onde milhares de pessoas saem todos os anos em busca de oportunidades e segurança fora de seus países natais. A conversa desta semana ditou o rumo do que deve ganhar contornos mais definitivos na próxima Cúpula das Américas, marcada para a primeira quinzena de junho em Los Angeles. Via AFP.
PARAGUAI 🇵🇾
Seguindo uma tendência que será cada vez mais comum em 2022 – e que já foi adotada pelos também mercosulinos Brasil e Uruguai – o país encerrou no início da semana o estado de emergência sanitária por conta da covid-19, decretada em março de 2020. Segundo o governo, o fim do status emergencial se apoia na melhora epidemiológica que o país vive nas últimas semanas. O ministro da Saúde Julio Borba reforçou, no entanto, que o uso de máscaras segue recomendado, mesmo com a anulação da lei que tornava o equipamento um item obrigatório. No Última Hora.
O ex-goleiro José Luis Chilavert revelou que vai apresentar a inscrição de um novo partido político no país – e que não descarta se candidatar à Presidência nas eleições de 2023. “Depois de abril”, prometeu o ex-atleta, campeão da Copa Libertadores com o argentino Vélez Sarsfield em 1994 – e conhecido por seus gols de falta e por ter cuspido na cara do ex-lateral brasileiro Roberto Carlos. Segundo Chilavert, que se autointitula um nome independente dos conhecidos caciques políticos guaranis, sua equipe está há 10 anos trabalhando pela nova legenda, ainda sem nome. No UOL.
PERU 🇵🇪
Um homem foi morto enquanto tentava invadir a residência do embaixador peruano nos EUA na quarta-feira (20), confirmaram autoridades norte-americanas. A família do embaixador Oswaldo de Rivero foi acordada antes das 8 da manhã pelo som das janelas da mansão – que fica em Forest Hills, um subúrbio da capital Washington – sendo quebradas e pediu ajuda ao Serviço Secreto estadunidense, encarregado de proteger representantes estrangeiros no país. Após tentar paralisar o homem com uma pistola elétrica sem sucesso, os agentes empregaram força letal. A investigação ainda tenta entender se havia uma motivação política por trás da tentativa de intrusão ou se foi apenas um crime comum frustrado. No Gestión.
A medida está longe de ser inédita na região, mas ganha um simbolismo particular no Peru, o país que teve a maior taxa proporcional de mortes por covid-19 no mundo: a partir de 1º/5, o uso de máscaras passa a ser facultativo na nação andina. Ainda assim, há regras para liberar o uso – só haverá permissão em regiões nas quais mais de 80% da população acima de 60 anos recebeu três doses e em que uma proporção semelhante das pessoas acima de 12 já foi inoculada duas vezes. No Infobae.
PORTO RICO 🇵🇷
Nova exclusão legal: o Supremo dos EUA decidiu, por oito votos a um, que o Congresso estadunidense pode excluir os residentes de Porto Rico de alguns benefícios financeiros concedidos pelo governo federal aos habitantes dos 50 estados da União por idade ou invalidez. O único voto destoante na Corte foi da juíza Sonia Sotomayor, filha de porto-riquenhos, que argumentou: “dado que os residentes de Porto Rico não têm representação de voto no Congresso, não podem confiar em seus representantes para remediar as disparidades punitivas que sofrem os cidadãos de Porto Rico pelo tratamento desigual do Congresso”. A mais nova distinção promete fortalecer ainda mais a campanha para que a ilha, que hoje tem a dúbia condição de estado livre associado, se torne o 51º estado dos EUA – algo já aprovado em referendo local em 2020, mas cuja implementação depende, justamente, da boa vontade do Congresso em Washington, no qual os porto-riquenhos não têm direito a voto. Na CNN.
Na direção oposta às liberações do uso de máscara registradas pela região, Porto Rico agora retrocede nas exigências diante de uma nova subida de casos de covid-19: desde quinta (21), as máscaras voltaram a ser obrigatórias nas escolas públicas e privadas da ilha, após o registro de 105 focos de contágio em instituições de ensino porto-riquenhas. Segundo as autoridades sanitárias, com a proximidade do fim do ano letivo no hemisfério Norte “está se baixando muito a guarda” nas escolas, especialmente em atividades extracurriculares e eventos esportivos e sociais. Via EFE.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Feminicídio em alta: só nas primeiras três semanas de abril, pelo menos seis mulheres foram assassinadas e outras quatro foram agredidas, segundo um balanço sobre crimes de gênero informado nos últimos dias. Alguns casos envolvem menores de idade e, em maioria, são crimes de violência doméstica. Autoridades dominicanas têm falhado em diminuir os números, ainda que o combate à escalada de violência contra a mulher seja uma bandeira declarada no governo do presidente Luis Abinader, que tomou posse em 2020. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
A alta dos preços e a polarização causada pelo referendo sobre a Lei de Urgente Consideração (LUC), vencido pelo governo por uma margem pequena, cobraram seu preço na avaliação do presidente Luis Lacalle Pou: uma nova enquete da consultoria Equipos mostrou que o saldo entre aprovação e rejeição do mandatário despencou 10 pontos percentuais em um mês e atingiu o pior nível desde que o governo tomou posse, em março de 2020. Agora, são 47% dos eleitores que aprovam Lacalle Pou, e 33% que o rejeitam. A pesquisa também mostrou a enorme disparidade segundo os vieses políticos: entre aqueles que dizem votar na coalizão governista, 78% aprovam o presidente e só 9% desaprovam; já entre os eleitores da Frente Ampla, à esquerda, a aprovação é de 10% e a rejeição bate nos 72%. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
Sem adiamento: o procurador Karim Khan, do Tribunal Penal Internacional (TPI), negou a prorrogação das investigações sobre crimes de lesa-humanidade cometidos na Venezuela, rejeitando um pedido feito pelo governo de Nicolás Maduro. De acordo com Khan, não há “nenhuma informação nova que justifique” o adiamento dos prazos do processo. O caso em questão tem como foco a repressão às manifestações contra o governo em 2017, que teriam deixado um saldo de 100 mortos, segundo a oposição. Sem suspensão, a expectativa é que o TPI autorize o recomeço imediato do inquérito que pode levar a uma condenação do governo chavista em Haia. Na DW.
Os novos símbolos de Caracas, apresentados no último dia 13, seguem causando repúdio em setores contrários ao chavismo. Em um processo que o governo diz ter envolvido a consulta a 700 mil cidadãos, mas que a oposição garante ter ocorrido sem qualquer divulgação, o brasão da capital adotado em 1591 foi substituído por um mais ligado aos valores do bolivarianismo: uma estrela vermelha e os rostos de um indígena, um venezuelano de ascendência africana e do próprio Simón Bolívar, todos olhando para a esquerda, sobre datas consideradas simbólicas para a cidade – incluindo os anos de 1989, data do Caracazo (série de manifestações e saques, violentamente reprimidos, contra um pacote econômico de choque liberal após anos de recessão), e de 2002, quando um golpe tentou derrubar Hugo Chávez e foi frustrado. Também foram alterados o hino e a bandeira da cidade. Na Espanha, o jornal El País lamentou o “enterro” do “legado espanhol” que persistia nos antigos símbolos.
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