COP27: indígenas pedem 80% da Amazônia protegida até 2025
Lideranças originárias e especialistas cobram países ricos por ações e maiores recursos; guinada latino-americana à esquerda pode facilitar maior cooperação ao redor do tema
Desde o último domingo (6), os olhos do mundo – e da América Latina – estão voltados para a cidade de Sharm El Sheikh, no Egito, onde acontece a 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas, ou COP27. Realizado até o próximo dia 18, o evento aglutina autoridades mundiais, lideranças ambientais e tomadores de decisão em um momento crítico: a conferência se desenrola em meio ao aumento da produção mundial de lixo, de picos históricos de desmatamento em países sul-americanos e, para piorar, em um contexto de ressaca econômica que tem impedido uma retomada sustentável pós-pandemia – estudos mostram que apenas 6% dos gastos nessa fase de recuperação estão comprometidos com o meio ambiente, considerando os US$ 14 trilhões injetados pelas 20 maiores economias do mundo no período recente.
Destaque nos debates sobre emergência climática, a Amazônia, que abriga a maior biodiversidade dentre as florestas tropicais do planeta em seus mais de 5 milhões de quilômetros quadrados, tem levado representantes indígenas, especialistas e nomes da área ambiental a fazer um pedido diante desse cenário de calamidade: a partir de um extenso relatório intitulado “Amazônia Contra o Relógio”, lançado originalmente em setembro e assinado por mais de 900 entidades à frente da causa de preservação – incluindo a Amazon Watch, a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg) e a Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica) – lideranças exortam a comunidade mundial, em especial os países mais ricos, a criar um acordo climático que proteja 80% da floresta até 2025. Entre diversas orientações legais, financeiras e administrativas, o pacto prevê um “perdão condicionado de dívidas”, o que se estima poderia proteger mais de 255 milhões de hectares de ecossistema.
A situação, segundo o estudo, é sombria: diante de índices de desmatamento e degradação ambiental que já atingem 26% do território amazônico (espraiado por nove países do subcontinente), o bioma pode enfrentar um processo de savanização nos próximos anos. O prejuízo é inestimável: segundo dados do Banco Mundial, além de abrigar mais de 400 povos indígenas e seus mais de 300 idiomas nativos, a região amazônica é casa de milhões de espécies de plantas e animais vertebrados, vida sem a qual não há um futuro para a humanidade. O relatório diz que atingir tais metas de conservação ainda é “viável”, ressaltando que a proteção imediata poderia restaurar 6% da região afetada – fato que se soma aos 629 milhões de hectares que “ainda estão de pé”. Mesmo assim, qualquer esforço distinto viria “tarde demais”, alertou o coordenador geral da Coica, José Gregorio Díaz Mirabal, ao falar do estudo. “Entramos na zona de perigo”.
Indígenas amazônicos também têm usado a conferência deste mês para cobrar mais recursos para as comunidades locais. Puxando a fila, representantes originários de Peru, Colômbia e Venezuela – todos com números ambientais preocupantes – se uniram a entidades multilaterais de proteção para tentar colocar a causa no centro da discussão financeira do mundo. A raiz do problema está na desigualdade dos repasses: durante a década que se encerrou em 2020, os US$ 270 milhões doados por ano em média a essas comunidades nativas foram equivalentes a menos de 1% do montante total designado para o combate às mudanças climáticas no período, segundo um estudo da Fundação Rainforest, da Noruega. A mesma entidade revela que esse valor representa “só 30% do total necessário” para a conservação de florestas tropicais e da manutenção plena das comunidades que lá habitam.
Os apelos são feitos em sintonia com discursos de alguns líderes latino-americanos nos primeiros dias do evento. Ainda que outros países só comecem a falar oficialmente a partir da semana do dia 14 – como deve ser o caso do Brasil, representado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (que já recebeu 10 convites para reuniões bilaterais), o presidente colombiano Gustavo Petro foi um dos que já quebraram o silêncio. Na segunda (7), Petro iniciou sua fala dizendo que agora “é a hora da humanidade, não dos mercados”, cobrando o sistema capitalista pelos altos índices de consumo abastecidos por um modelo altamente poluente. O mandatário também disse “esperar aporte mundial” para salvar a Amazônia. Desde que assumiu o poder neste ano, o líder tem costurado alianças em prol da causa ambiental, uma de suas principais bandeiras: o próprio desfecho eleitoral brasileiro agrada o colombiano, que já conversou com Lula a respeito da criação de um bloco contra o desmatamento na região amazônica. Em outro discurso recente, também falou sobre outras soluções internas para o mesmo problema.
Quem também tem ganhado destaque nos primeiros dias de conferência – o que inclui conversas inesperadas com líderes europeus pelos corredores de Sharm El Sheikh – é o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Voltando a engatinhar pelos círculos da diplomacia (fruto de um esforço do próprio Gustavo Petro, como explicado na última edição do GIRO), o líder chavista vai (ou ao menos promete ir) pelo mesmo caminho de apoio a uma cooperação sul-americana diante dos problemas da Amazônia; por razões políticas, Caracas também vê o retorno de Lula a Brasília com bons olhos. “Se nós, sul-americanos, temos alguma responsabilidade, é parar a destruição da Amazônia e iniciar um processo de recuperação coordenado, eficiente, consciente”, disse Maduro. Mas há ceticismo por trás dessas palavras: ao contrário do recém-chegado Petro, o venezuelano está no poder desde 2013 e os números ambientais sob seu comando não estão nem perto de um nível exemplar, ainda que suas críticas ao sistema financeiro global tenham embasamento. Além disso, a recuperação econômica que sustentaria a continuidade de seu governo seria vastamente bancada pelo petróleo, justamente a principal causa – além do desmatamento – por trás do desastre climático.
Entre pedidos e promessas, a COP27 mostra novos rostos, números atualizados, mais disposição por mudanças, mas também um cenário preocupante e muito parecido com que se vê desde suas primeiras edições nos anos 1990: ainda falta colocar quase tudo em prática, rever as bases da economia mundial e desconcentrar o poder financeiro – este, sim, o grande desafio para o meio ambiente ante um iminente ponto de não retorno, em especial para a Amazônia.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇵🇪 Castillo vai encarar novo processo, agora por “traição à Pátria” – Mais daquilo que você já imagina: no sábado (5), um grupo de peruanos foi às ruas exigindo a renúncia do sempre cambaleante presidente Pedro Castillo. Os protestos percorreram o centro da capital Lima até chegarem às portas do Congresso, epicentro da crise contra o governo, quando agentes de segurança entraram em cena para (com a rispidez costumeira) dispersar a manifestação. O cerne dos pedidos pela saída do mandatário está na lista de investigações por corrupção contra Castillo – ele nega todas, dizendo-se vítima de “perseguição”. Lá como cá: em resposta ao coro contra o governante, apoiadores do presidente também se espalharam pelas ruas limeñas pedindo o fechamento do Legislativo – e foram igualmente recebidos com bombas e gás lacrimogêneo. Em meio a tudo isso, na sexta (11), uma subcomissão do Congresso aprovou um relatório que recomenda processar Castillo por “traição à Pátria” ao ver irregularidade em um possível referendo popular que poderia conceder uma saída ao mar para a Bolívia (uma causa histórica e que envolve questões sensíveis de soberania, mas que não está necessariamente nos planos do governo por enquanto, embora tenha sido citada por Castillo em uma entrevista desastrada no começo do ano). O pedido de inabilitação do presidente ainda precisa ir a plenário, onde a oposição deve encontrar o mesmo entrave que até aqui impediu que prosperassem os processos de vacância, similares a um impeachment: a necessidade de vencer a barreira de dois terços dos votos, só alcançável se a base aliada virar a casaca. Tentando vencer esse impasse, não são novas as manobras jurídicas da oposição para tentar remover Castillo do cargo de alguma outra forma, como já explicado no GIRO #153). Na AFP.
🇨🇱 Boric visita sul conflagrado pela 1ª vez e ataca ‘terrorismo’ – Visita com virada retórica: o presidente Gabriel Boric iniciou, na quinta (10), a primeira visita de seu governo à conflagrada região meridional da Araucanía, palco de históricos conflitos entre grupos mapuche e os proprietários locais – e não hesitou em criticar as organizações armadas que militam pela causa indígena, tachando seus atos recentes como “terroristas”. A viagem de Boric foi antecedida por uma série de incêndios em residências, uma escola e uma igreja, cenas que Boric comparou com a queima de sinagogas por nazistas e de livros pela ditadura chilena. A condenação enfática da violência pelo presidente – que contraria expectativas anteriores a sua chegada ao poder – é uma nova escalada no discurso contra a radicalização de grupos como a Coordenadoria Arauco Malleco (CAM), que no passado também assumiu a autoria de incêndios florestais, e antes da viagem disse que Boric não era bem-vindo na região, pois “sua viagem [...] obedece aos interesses da oligarquia, ao poder dos grupos econômicos que entram em confronto direto com a causa mapuche”. Via AFP.
🇸🇻 Crise no mercado de criptomoedas gera dúvida sobre situação de El Salvador – O colapso da FTX, considerada a segunda maior plataforma de criptomoedas do mundo, deixou investidores na mão e gerou dúvidas sobre a situação de El Salvador, cujo governo embarcou pesado no bitcoin ao longo do último ano. Houve até especulação de que o país manteria sua carteira cripto na FTX e estaria inviabilizado de acessar os milhões de dólares que colocou lá – embora ninguém saiba qual a situação real, o presidente Nayib Bukele veio a público garantir que não era o caso, e também disse que a recente desvalorização não implicou em uma perda de dinheiro para o país porque o prejuízo não foi realizado, isto é, as criptomoedas em queda ainda não teriam sido vendidas. Com apenas a palavra de Bukele para segurar o sonho cripto do Estado salvadorenho em meio a uma das maiores crises que esse novo mercado já viu, houve quem preferisse se concentrar na economia real: a outra notícia da semana envolvendo a nação centro-americana foi o avanço de um tratado de livre-comércio com a China, aprofundando a aproximação de San Salvador com Pequim, iniciada no atual governo.
🇨🇴 Cidade colombiana anuncia acordo com país de mentira – Parece saído de um livro de García Márquez, mas aconteceu na terça-feira (8) em Manizales, capital do departamento de Caldas, no centro da Colômbia: o prefeito Carlos Mario Marín publicou um vídeo emocionado nas redes sociais, dizendo que a cidade havia firmado um convênio para oferecer 5 mil cursos de inglês gratuitos para os moradores locais. Até aí, tudo bem. Só que o convênio havia sido firmado com… “Liberland”, um país europeu fictício que não é reconhecido por ninguém além de seus fundadores, um punhado de libertários contrários à cobrança de impostos. Quando a mancada veio à tona, o vídeo desapareceu das redes sociais e o governo de Manizales se apressou a dizer que não havia convênio algum, e que o representante de Liberland – um tal Randy Thompson, ingressado na Colômbia com passaporte estadunidense – havia apenas oferecido aulas gratuitamente através de uma plataforma online. Liberland, por sua vez, já publicou em sua página na internet que o governo de Manizales teria oferecido vantagens fiscais para os cidadãos liberlandenses (que não existem) que desejem investir na cidade, comprando imóveis ou abrindo negócios. Na CNN.
🇭🇹 Gangues liberam acesso a combustíveis após dois meses – Após cerca de dois meses, um dos principais terminais de combustíveis do Haiti voltou a ser aberto na terça-feira (8). Ocupado pelo grupo de gangues G9, encabeçado pelo ex-policial e autoproclamado líder revolucionário Jimmy “Barbecue” Cherizier, o depósito localizado na capital Porto Príncipe estava inacessível desde setembro, provocando um desabastecimento generalizado pelo país. Barbecue havia anunciado que seu grupo liberaria a área e, embora o governo tenha celebrado o fim do bloqueio como uma vitória própria, não está claro até que ponto as gangues continuam dominando a zona. O terminal, inacessível total ou parcialmente desde o final de 2021, deu contornos ainda mais dramáticos à eterna crise haitiana e fez o governo solicitar intervenção internacional em outubro, uma hipótese que ganhou força em semanas recentes mas que ainda segue em debate. Via AP.
Un clic:
REGIÃO 🌎
A Organização dos Estados Americanos (OEA) autorizou, na sexta (11), a contratação de uma empresa independente para investigar se o secretário-geral da entidade, Luis Almagro, efetivamente quebrou o código de ética interno após manter um relacionamento com uma subordinada. Perdendo apoio rapidamente, Almagro viu a resolução – apresentada por seu Uruguai natal e por Antígua e Barbuda – ser aprovada sem qualquer voto contrário: 30 favoráveis, duas abstenções e uma ausência. Almagro, no cargo desde 2015, já confirmou que o relacionamento existiu e durou três anos. Via EFE.
ARGENTINA 🇦🇷
De olho nas eleições presidenciais de 2023, a oposição argentina ligada ao ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) entrou em acordo por uma “trégua” entre seus integrantes, ao menos na esfera pública. A decisão veio após a ex-ministra de Segurança Pública, Patricia Bullrich, discutir abertamente com Horacio Rodríguez, chefe de gabinete do prefeito de Buenos Aires, ameaçando cagar a trompadas seu interlocutor. Embora de alas diversas, ambos integram a coalizão de Macri, e a pelea entre correligionários foi encarada como um espetáculo dantesco que afastaria o eleitorado. Agora, prometem os macristas, qualquer roupa suja será lavada dentro de casa. A preocupação dos opositores é perder espaço, como alternativa ao peronismo, para nomes ainda mais radicais à direita, caso do deputado Javier Milei, que vem demonstrando força nas primeiras pesquisas realizadas a um ano do pleito e já é visto como uma possível ‘terceira via’. Em El País.
O governo publicou, na sexta (11), o prometido programa “Preços Justos”, que busca conter a hiperinflação que vem assolando a economia local: na prática, um congelamento do que é cobrado por 1.788 itens essenciais de alimentação, higiene e limpeza. O alívio no bolso deve contar com pesada fiscalização e durar 120 dias, mas analistas já apontam que é improvável que seja capaz de melhorar as coisas no médio prazo, visto que medidas similares adotadas por outros governos acabaram em fracasso. Já se calcula que a inflação acumulada do país deve fechar acima dos 100% em 2022. No Página 12.
O tradicional mate é questão de orgulho nacional – e motivo de polêmica se alguém pisa fora da linha. Durante a semana, uma reportagem mostrando os produtos que a Seleção Argentina vai levar para passar seus dias durante a Copa do Mundo no Catar gerou memes e indignação, após o estoque de erva-mate exibido no vídeo trazer a marca mais popular… do vizinho Uruguai. A Canarias, famosa erva “tipo uruguaio” que na verdade é produzida no Brasil, seria a favorita do craque Lionel Messi, por influência de um ex-colega de clube, o uruguaio Luis Suárez. Após a polêmica, a assessoria de comunicação da Associação de Futebol Argentino (AFA) garantiu que havia erva-mate “para todos os gostos” e publicou imagens de pacotes de uma marca argentina. O país, que não ganha o Mundial desde 1986, é um dos favoritos ao título no Catar, e começa a sua jornada no dia 22, em um grupo compartilhado com Arábia Saudita, México e Polônia. No G1.
BOLÍVIA 🇧🇴
Com o presidente Luis Arce denunciando golpismo e os manifestantes ainda mobilizados, especialmente no epicentro dos protestos em Santa Cruz, o país segue convulsionado em torno da briga pela realização do Censo (entenda mais aqui) e sem horizonte para o fim do impasse. Líderes da mobilização cruceña devem realizar uma nova reunião neste domingo (13), discutindo os próximos passos das manifestações que vêm paralisando amplos setores no departamento mais oposicionista da Bolívia. A situação atingiu tal gravidade que até o futebol – sempre um bom termômetro para as crises na América do Sul – foi definitivamente suspenso na quinta-feira (10), com o Clausura (o campeonato do segundo semestre) sendo encerrado com seis rodadas por jogar e sem a proclamação de um campeão, ainda que com a definição de classificados para torneios internacionais. Em El Deber.
Ao passo que países como Peru e Equador já vêm tomando atitudes para diminuir a importação de mercúrio, a Bolívia, outro país amazônico, pouco fez para avançar com a regulação desse material tipicamente utilizado no garimpo irregular. Os motivos por trás desse atraso e os impactos para o bioma boliviano são evidenciados em nova reportagem do Mongabay. A investigação ecoa a preocupação da ONU registrada em um relatório publicado em outubro, mostrando que a distribuição desenfreada de mercúrio tem poluído bacias hidrográficas inteiras, o que leva ao envenenamento de animais e comunidades indígenas.
CHILE 🇨🇱
Após 55 dias, a polícia chilena encontrou, na quinta (10), o corpo do astrônomo britânico Thomas Richard Marsh, que estava desaparecido desde 16/9 no norte do país. Marsh, que desembarcou no Chile apenas dois dias antes do até aqui misterioso sumiço, tinha ido realizar pesquisas no observatório internacional de La Silla – a região do Atacama e seus arredores é uma das mais frequentadas pela astronomia devido à altitude e aos céus limpos. As autoridades não haviam divulgado uma possível causa para a morte do pesquisador de 61 anos, mas uma das hipóteses é que ele tenha sofrido um acidente, caindo de um barranco enquanto caminhava na vizinhança do observatório. No G1.
Un nombre:
Guacamaya – Ave conhecida como arara-macau no Brasil, nativa da região tropical das Américas. Na Colômbia, a guacamaya tricolor (vermelho, azul e amarelo) é considerada um símbolo nacional por carregar as mesmas cores da bandeira. A origem do nome é incerta, mas linguistas acreditam que provavelmente venha do taíno “huacamayo”. As guacamayas também foram escolhidas pelo presidente colombiano Gustavo Petro para batizar os novos helicópteros da patrulha ambiental amazônica. Além disso, também deram nome às recentes revelações da “Guacamaya Leaks”, vazamentos de um grupo de hackers que tornaram públicos diversos documentos sigilosos de países da região.
COSTA RICA 🇨🇷
A deputada oposicionista Sofía Guillén Pérez denunciou em plenário, na quarta (9), que outro legislador, da base aliada do governo de Rodrigo Chaves, estaria oferecendo cargos em troca do voto favorável a projetos impulsionados pelo Executivo. O debate da vez tinha relação com a tentativa de aprovar uma nova emissão dos chamados “eurobonos”, títulos de dívida pública em moeda estrangeira vendidos a investidores internacionais, com uma série de vantagens fiscais. Guillén afirmou que, em troca do voto, teria recebido o oferecimento de postos em embaixadas: “isso me deixou em choque e me ofendeu”, afirmou. Alexánder Barrantes, o deputado acusado da tentativa de coação, não negou as acusações e disse que apenas queria “negociar como se negocia em qualquer âmbito da vida econômica e política deste país”. Já o presidente Chaves, questionado sobre a briga envolvendo seu aliado, desconversou: “não vou me meter em disse-me-disse”. No Delfino.
CUBA 🇨🇺
Segue o jogo de morde e assopra na tímida reaproximação com os EUA. Semanas após o governo Joe Biden admitir que não repetia a mesma política de degelo diplomático dos anos de Barack Obama (2009-2017), emissários de Washington se encontraram, na quarta-feira (9), com altos funcionários de Cuba para discutir a expansão de serviços consulares estadunidenses em Havana. Representantes do Departamento de Estado dos EUA discutiram a reabertura do serviço de emissão de vistos a partir de janeiro, embora ainda sem data para a normalização do funcionamento da embaixada do país em Cuba, fechada desde 2017. Segundo os norte-americanos, Cuba também teria aceitado – pela primeira vez desde o começo da pandemia – voltar a receber voos com seus cidadãos deportados após serem pegos tentando entrar nos EUA. Via AP.
EQUADOR 🇪🇨
Agora sim, não há outro capítulo na novela: o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) decidiu, na quarta-feira (9), que o Equador vai mesmo disputar a Copa do Mundo de futebol masculino, que começa no próximo final de semana. O longo imbróglio jurídico iniciado pelo Chile, que buscava comprovar uma falsificação na nacionalidade do jogador Byron Castillo para ir à Copa no lugar dos equatorianos, já havia sido resolvido anteriormente pela FIFA – com ganho de causa para o Equador – mas foi levado à instância máxima do esporte como um último recurso desesperado, já que haveria pouco tempo para inverter as equipes às vésperas do torneio. Na corte suíça, uma vitória pírrica para os chilenos: a Seleção Equatoriana até foi punida, mas não do jeito que os reclamantes queriam – multa de 100 mil francos suíços (R$ 565 mil) e a perda de três pontos nas próximas Eliminatórias, para o Mundial de 2026, o que não resolveu em nada a vida do Chile. Mesmo com a vaga garantida, o que significa que o país fará o jogo de abertura contra o anfitrião Catar no próximo domingo (20), o presidente Guillermo Lasso já anunciou que não irá à nação asiática, citando a crise de segurança vivida pelo país como motivo para não se ausentar. No GE.
GUATEMALA 🇬🇹
Os EUA voltaram a criticar publicamente as movimentações do governo guatemalteco nos últimos meses, que envolveram o cerceamento a jornalistas críticos à gestão do ultraconservador Alejandro Giammattei e a procuradores ligados aos esforços anticorrupção na nação centro-americana. Na terça (8), o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, disse que seu país está “alarmado” com o “padrão continuado” de ações contra pessoas envolvidas na investigação de corrupção e violações de direitos humanos. Ainda neste ano, o recrudescimento das pressões do governo contra vozes contrárias fez a Guatemala voltar a ser colocada na lista de “graves violações” elaborada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que normalmente só contava com governos no extremo à esquerda do espectro político – Cuba, Nicarágua e Venezuela. Via Reuters.
HONDURAS 🇭🇳
A presidenta Xiomara Castro exigiu, na terça (8), a “liberdade imediata” de membros da comunidade afro-indígena garífuna de Punta Gorda, do departamento caribenho de Islas de la Bahía, que um dia antes haviam sido detidos por forças de segurança durante uma controversa e violenta operação de despejo. “Não fui informada”, disse a mandatária, que também cobrou mais informações por parte de autoridades à frente da investida contra os grupos originários. Segundo a presidenta, que pediu “respeito aos direitos humanos”, a causa dos garífuna remete a uma luta por “suas terras ancestrais”, fato que deve “ir a julgamento, não terminar em despejo”. ONGs que monitoram o caso denunciam que os agentes responsáveis pela truculência agiram de forma racista. Outro elemento que aumentou os questionamentos ao redor do episódio foi a presença de militares no momento da ação, medida que confronta o plano de governo de Xiomara. Na Prensa.
Dale un vistazo:
✨ ÚLTIMA CHAMADA para o Baile de La Gambeta, evento que acontece neste sábado (12) sob a batuta musical de Matias Pinto e seu set muy latino. A festa acontece no galeanesco bar Sol y Sombra, na Rua Santa Madalena, 250, no bairro da Bela Vista, em São Paulo.
MÉXICO 🇲🇽
“Me dou bem com os dois”. Foi mais ou menos isso que o presidente Andrés Manuel López Obrador disse na quinta (10), durante uma de suas típicas coletivas de imprensa, ao comentar sua relação com o presidente dos EUA Joe Biden e seu antecessor, Donald Trump (2017-2021). Citando o “afeto” nutrido em tais relações, AMLO chegou a dizer que sua relação com Trump foi “respeitosa” – ainda que durante os anos sob domínio do Partido Republicano as políticas migratórias entre as duas nações norte-americanas tenham sido das mais agressivas que se pode imaginar, com direito a um longo silêncio diplomático entre México e Washington. As palavras pragmáticas do líder mexicano não vêm à toa: ainda que ele próprio não pretenda se manter na política após o fim de seu mandato em 2026, sabe que tanto a reeleição de Biden e quanto a volta de Trump à Casa Branca são cenários possíveis nas eleições de 2024. No Bloomberg Línea.
NICARÁGUA 🇳🇮
Novo passo para o controle absoluto do regime de Daniel Ortega sobre a política do país. Na segunda-feira (7), a autoridade eleitoral nicaraguense confirmou que os sandinistas haviam obtido a vitória nas eleições municipais do último final de semana – em todos os 153 municípios do país. Com organizações de oposição colocadas à margem da legalidade nos últimos anos, o que na prática inviabilizou as chances dos partidos oposicionistas que ainda controlavam apenas 12 cidades antes do pleito, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) já havia afirmado, às vésperas da votação, que não estavam dadas “as condições mínimas” necessárias para considerar o processo eleitoral como limpo ou confiável. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
O escândalo da Odebrecht no país continua a se arrastar, com novos desdobramentos de tempos em tempos. Na segunda (7), a Justiça decidiu convocar 36 pessoas a julgamento por suposto recebimento de subornos e lavagem de dinheiro para a empreiteira brasileira, incluindo os ex-presidentes Ricardo Martinelli (2009-2014) e Juan Carlos Varela (2014-2019). Em setembro, a promotoria já havia solicitado que ambos fossem processados. Embora os tribunais panamenhos ainda tenham que decidir sobre a questão, a própria Odebrecht já admitiu – à Justiça dos EUA – que pagou US$ 59 milhões em subornos para ganhar contratos para obras públicas no Panamá, de um total de US$ 788 milhões destinados a autoridades de diferentes nações latinas enquanto o esquema operou na região. No UOL.
PARAGUAI 🇵🇾
A fuga de quatro detentos da penitenciária de Tacumbú, a maior do país, na madrugada de quinta-feira (10), fez o governo iniciar uma investigação sobre os agentes da própria prisão – além de decretar intervenção na administração do local. Segundo as primeiras informações, os apenados teriam fugido pela janela de um banheiro ao lado da sala do diretor da cadeia, o que aumentou as suspeitas de que poderia ter havido colaboração interna para facilitar a saída. Tão logo o interventor foi anunciado, nova luz sobre os problemas do sistema prisional paraguaio: Domingo Antonio Amarilla, o nomeado para comandar Tacumbú pelos próximos 30 dias, já havia dirigido a mesma penitenciária anteriormente, com um histórico desastroso – foi sob seu comando, em fevereiro de 2021, que a prisão viveu uma rebelião que deixou sete detentos mortos. À época, ele foi afastado do cargo. Via EFE.
Não é só na Bolívia que o Censo gera polêmica: a cobertura do novo estudo demográfico nas três áreas mais populosas do Paraguai – a capital Assunção, a cidade fronteiriça de Ciudad del Este e o departamento Central – variou entre 73% e 75%, informou na quinta-feira (10) o diretor do Instituto Nacional Estatística (INE), Iván Ojeda. Os números, porém, ficaram abaixo da meta de cobertura. E deu problema, já que vários paraguaios dos setores industrial e comercial chegaram a interromper o expediente por até 13 horas para facilitar o trabalho dos funcionários do Censo, que no país é realizado majoritariamente em um único dia. Enquanto o INE minimiza os resultados até aqui e diz que o processo ainda “não está finalizado”, o presidente da Câmara, Carlos María López, não poupou palavras para definir o procedimento: “um fracasso”, bradou. Via EFE.
Una palabra:
Kallawayas – Conhecidos como curandeiros ou xamãs tradicionais dos Andes, os kallawayas utilizam plantas, animais, minerais, e terapias originárias em seus rituais. Geralmente são nômades e, graças a essas peregrinações por diversas regiões, seu conhecimento sobre plantas medicinais inclui um repertório de cerca de 980 espécies vegetais. Em 2008, a cosmovisão kallawaya foi declarada pela Unesco como parte do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
PORTO RICO 🇵🇷
Após meses prometendo, o governador Pedro Pierluisi sancionou, na quarta (9), a lei que transforma os serviços de saúde da ilha em “essenciais”. Apesar do que pode parecer à primeira vista, porém, não se trata de uma mudança direta na forma como pacientes vão acessar o serviço, mas sobretudo um incentivo aos profissionais de saúde: uma revisão na tabela de pagamentos e a disponibilidade de orçamento para manutenção e melhorias dos hospitais vinculados ao Estado. Entidades médicas porto-riquenhas vinham cobrando a medida como uma forma de evitar a fuga de profissionais, que buscam salários melhores nos EUA. No Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk (que substituiu Michelle Bachelet no cargo em setembro), lançou um apelo na quinta-feira (10), pedindo a interrupção de deportação de cidadãos haitianos de volta ao país natal – um pedido estendido a toda a região, mas focado especialmente na República Dominicana, com quem o Haiti divide a ilha de Hispaniola. Türk enfatizou que a violência e as sistemáticas violações ocorridas do outro lado da fronteira “não permitem, atualmente, um retorno seguro, digno e sustentável de haitianos ao país”. O governo dominicano vem intensificando os investimentos militares e deportações nos últimos anos para conter a imigração indocumentada em meio ao agravamento da crise no Haiti, em uma série de medidas que inclui até a construção de um muro na divisa. Via AP.
URUGUAI 🇺🇾
O escândalo de falsificação de documentos que levou à prisão do ex-chefe da segurança pessoal do presidente Luis Lacalle, Alejandro Astesiano (relembre aqui), ganhou novos desdobramentos: segundo informações reveladas pela investigação durante a semana, Astesiano, que tinha acesso às instalações do governo uruguaio tão bem apessoado que era, chegou a utilizar o sistema de câmeras da capital para operar seu negócio fraudulento. A nova ponta solta foi achada após investigadores encontrarem capturas de imagens no escritório utilizado pelo antigo funcionário, hoje preso preventivamente. E o buraco pode ser ainda mais profundo: segundo autoridades à frente do caso, o ex-segurança tinha condições de “coletar informações de qualquer órgão nacional ou estrangeiro”, tamanha a influência que exercia dentro do círculo de poder do paisito. No Infobae.
VENEZUELA 🇻🇪
Fronteiras terrestres, reencontro de presidentes depois de vários anos e, agora, retomadas no setor aéreo: na segunda (7), uma aeronave das linhas áreas Turpial reiniciou de forma oficial o trajeto entre a Venezuela e a Colômbia após dois anos de suspensão. O avião decolou da capital Caracas e desceu no aeroporto internacional de El Dorado, em Bogotá. “Depois de muitos anos, a operação aérea entre Colômbia e Venezuela é reativada com grande celebração”, disse o ministro colombiano de Transportes, Guillermo Reyes, prometendo que o voo concluído na semana será “o primeiro com o qual toda a operação aérea será reativada”. Sorrisos e agradecimentos também foram vistos do lado venezuelano da fronteira, tanto entre autoridades quanto entre representantes do setor de aviação. No Globovisión.
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