Chile propõe 17 votos indígenas na Constituinte
Venezuela: oposição quer desembarcar de Guaidó | Cuba voltará a ter moeda única | Aborto legal avança na Argentina | Costa Rica ganha US$ 60 mi para preservar ambiente
Desde que o acordo para começar a mover as engrenagens da Assembleia Constituinte do Chile foi feito, ainda em 2019, havia previsão de que parte dos assentos seria reservada aos povos originários. Quantos seriam e como eles se integrariam aos 155 membros, porém, nunca foi estabelecido – um tema adiado para depois do plebiscito que, em outubro, confirmou que o Chile realmente escreverá uma nova Constituição com uma convenção eleita exclusivamente para este fim. Agora, na quinta-feira (10) à noite, uma Comissão Mista formada por deputados e senadores apresentou a proposta que vai ser votada em plenário: segundo o texto, 17 dos 155 assentos seriam dedicados exclusivamente aos indígenas, pouco mais de 10% do total.
Em discussão, estavam tanto o número de assentos abertos aos povos originários quanto a forma como eles seriam integrados à Assembleia: como parte dos 155 membros previstos originalmente ou como assentos “extras”, que elevariam o total de representantes. O lado conservador do Congresso sempre foi contrário às vagas “a mais”, temeroso das consequências: uma Constituinte maior poderia tornar mais fácil a aprovação de pautas progressistas, uma vez que serão necessários 2/3 dos votos para a tomada das principais decisões e há expectativa de que os representantes indígenas votem mais à esquerda, sobretudo em temas relacionados a terra, água e segurança. A esquerda pediu 18 vagas extras para os povos nativos, mas chegou a ceder um meio-termo: nove deles entrariam entre os 155 e só a outra metade seria contabilizada “a mais”, elevando o total de membros da Assembleia para 164. Para os próprios povos originários, porém, uma representação justa e proporcional ao peso que têm no Censo passava por 24 assentos extras, totalizando 179 membros.
No fim dos debates, porém, prevaleceu a tese governista: nem um assento a mais na contagem total e, de quebra, uma vaga a menos. O número final de 17, em vez de 18, acabou vindo da vontade de garantir representatividade a outra parcela ainda mais minoritária da população: a oposição propôs que ao menos um assento seja reservado aos afrodescendentes, tema que ainda não ficou definido nesta semana e acabará submetido a votação separada. A dificuldade se dá porque, de acordo com uma convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT), os descendentes de africanos se enquadrariam como um “povo tribal” – isto é, que compartilha muitas características com os indígenas, mas não é nativo da região – e, portanto, estariam fora da reserva de assentos destinada aos povos originários.
Apesar de acabar fracassando em quase todas as suas demandas, a oposição de esquerda celebrou a possibilidade de garantir, pela primeira vez na história chilena, representações de minorias na elaboração de uma Carta Magna. Já a deputada Emilia Nuyado, presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Povos Originários da Câmara, considerou “decepcionante” a pouca insistência dos parlamentares progressistas em reverter o baixo número proposto pelo governo: “primou a herança transversal da direita, da esquerda e do centro de ter atitudes discriminatórias, classistas e racistas em relação aos povos originários”, criticou.
Consequência direta das manifestações que estouraram em outubro de 2019, a Assembleia Constituinte do Chile vem se destacando pelas provisões inclusivas, ainda que falhas, em sua montagem: além da presença das nações indígenas, ela também será paritária em gênero, com metade dos assentos reservados a homens e a outra metade a mulheres. A confirmação das 17 vagas para indígenas (e do eventual assento para afrodescendentes) deve ir a votação nas duas câmaras do Congresso na próxima semana. Já a escolha dos membros da futura Constituinte está prevista para as eleições de 11 de abril de 2021.
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😷 Covid: em um estabilidade quase total em relação à semana passada, a América Latina manteve o patamar acima do meio milhão de novos casos e das 12 mil mortes semanais, voltando a dar indícios preocupantes de que a baixa dos últimos meses parece ter realmente ficado para trás. Líderes em números absolutos, Brasil e México também vêm apresentando curva ascendente. Leia nosso levantamento semanal da situação da pandemia na região.
Un sonido:
ARGENTINA 🇦🇷
Os avanços nos direitos civis têm sido a bola da vez no país. Dias após o Senado aprovar um imposto extraordinário sobre grandes fortunas, como forma de amparar a economia golpeada pela pandemia, e de legalizar o cultivo da maconha para uso medicinal, foi a vez da Câmara dar sinal verde para a aprovação da lei do aborto, que pretende legalizar e despenalizar a interrupção da gravidez até a 14ª semana de gestação. Agora, o texto vai ao Senado, que barrou a medida em 2018. Dessa vez, porém, há maioria governista entre os senadores, e a Casa é comandada pela vice-presidente Cristina Kirchner. A votação que decide se o projeto volta ao presidente Alberto Fernández para ser sancionado pode acontecer no final de dezembro ou em fevereiro de 2021, após o recesso parlamentar.
O presidente Alberto Fernández anunciou, na sexta (11), quatro acordos de investimento com a China, totalizando cerca de US$ 4,69 bilhões para revitalizar ferrovias no interior argentino nos próximos anos. Além de um bem-vindo alívio à combalida economia platina, a parceria é mais um passo na busca chinesa por amplificar sua influência sobre as Américas, através de investimentos em infraestrutura, emulando uma estratégia já vista há anos na África. A expectativa é que as obras gerem 28 mil empregos. No Valor.
BOLÍVIA 🇧🇴
A meses das chamadas eleições subnacionales, em 7 de março de 2021, quando os bolivianos vão escolher governadores e prefeitos, os principais partidos de direita não conseguem maioria para a criação de uma coalizão forte, o que pode determinar uma retomada de espaço da esquerda em nível regional. Além da falta de consenso entre os partidos, a rixa existe até dentro do Comitê Cívico pró Santa Cruz, organização que liderou o movimento a favor do golpe em 2019. Dentro do Comitê, nem mesmo Luis Fernando Camacho é favorito para concorrer à liderança do departamento de Santa Cruz: antes presidente do Comitê e famoso por incorporar certo messianismo na onda golpista, Camacho ficou em 3º lugar nas eleições presidenciais de 2020 e venceu no seu departamento de origem, mas vem perdendo força após Luis Arce triunfar nacionalmente. Em El Deber.
O Sereci, Serviço de Cadastro Cívico da Bolívia, reconheceu pela primeira vez a “união livre” entre duas pessoas do mesmo sexo no país, após uma longa batalha judicial. A decisão permitiu que David Víctor Aruquipa Pérez e Guido Alvaro Montaño Durán sejam enquadrados como casal, anulando uma decisão de 2018 do mesmo Sereci. A Bolívia é considerada um dos países mais atrasados da região na questão de gênero. Em El Comercio.
CHILE 🇨🇱
O presidente Sebastián Piñera apresentou uma denúncia contra si mesmo às autoridades sanitárias após perambular pelo balneário de Cachagua, a 160 km da capital, sem usar máscaras – o que, em locais públicos, é obrigatório pela lei. Para piorar, o mandatário parou para tirar fotos com banhistas que o abordaram, e as imagens não demoraram a viralizar, gerando críticas. Apesar do relatório em tom de mea culpa, o comportamento pouco responsável de Piñera é reincidente: além de furar a quarentena para comprar vinho, o conservador já foi cobrado após aglomerar pessoas no velório de seu tio, o sacerdote Bernardino Piñera, em um momento em que vários chilenos já eram privados de se despedir de seus entes queridos. Na DW.
COLÔMBIA 🇨🇴
Ninguém trabalha tanto quanto os colombianos. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país tem a maior média de carga de trabalho na região, com 48 horas semanais. Outros latino-americanos seguem dentro da média geral de 40 horas, ou até abaixo. O dado preocupa: apesar da carga mais longa, a Colômbia tem um PIB per capita inferior ao de vizinhos que trabalham menos, fato que pode estar relacionado à falta de pagamento de hora extra e à informalidade. No Infobae.
A paralisação da corrida de toros durante a pandemia pode ter sido o início do fim de uma atividade considerada cruel, mas que pertence ao imaginário cultural hispânico. Autoridades de organizações protetoras dos animais têm celebrado o fato de que a temporada de touradas em 2021 sequer começará, por conta de um decreto nacional que quer evitar aglomerações antes da chegada da vacina. A ideia, agora, é que o hiato causado pela covid-19 enfraqueça a prática e leve o legislativo a votar uma proibição definitiva, algo há décadas encorajado pelos tribunais. Segundo a ONG PETA Latino, touradas ainda acontecem em México, Peru, Equador e Venezuela. Na DW.
Un clic:
COSTA RICA 🇨🇷
Exemplo de ambientalismo na América Latina, a Costa Rica foi “premiada”, na sexta (11), com um subsídio de US$ 60 milhões do Banco Mundial para seguir aprimorando a preservação ambiental. O dinheiro será destinado a famílias, comunidades e entidades públicas que possuam terrenos com área florestal, para que ampliem ou, pelo menos, mantenham as medidas de conservação que funcionam hoje. O pagamento, ao longo de cinco anos, está atrelado ao compromisso de reduzir as emissões em pelo menos 12 milhões de toneladas de dióxido de carbono até 2025. No Nación.
Com o país vivendo um aumento das internações por covid-19, mesmo o bem estruturado sistema de saúde costarriquenho pode não dar conta da nova onda da pandemia (contamos mais no GIRO #59). Em sinal de cooperação e aproveitando os números hoje mais baixos em seu país, o presidente salvadorenho Nayib Bukele afirmou ter 700 leitos de UTI disponíveis e ofereceu uma centena deles para os vizinhos. “É só coordenar o traslado”, tuitou Bukele. Costa Rica e El Salvador, embora próximos, não fazem fronteira terrestre. Na Prensa Gráfica.
CUBA 🇨🇺
O país vai unificar seu sistema monetário na virada do ano, anunciou o presidente Miguel Díaz-Canel na quinta-feira (10), confirmando uma especulação que vinha desde setembro (leia no GIRO #47) e levando a cabo uma promessa feita por Raúl Castro ainda em 2013. Com a reforma econômica, a única moeda válida no país passará a ser o peso cubano “normal” (conhecido pela sigla CUP), e o peso conversível (ou CUC) será extinto. A moeda dupla foi instituída nos anos 1990 como uma forma de driblar a crise econômica após o colapso da União Soviética: enquanto são necessários 24 CUP, usados no dia a dia da ilha, para comprar US$ 1, a taxa de câmbio oficial do CUC era de paridade total, o que fez dela a moeda preferencial para importações e para o setor turístico – mas muito menos acessível à população em geral. O governo diz que a mudança ajudará nas reformas que buscam combater a crise econômica, mas ainda não está claro o que mudará nos bolsos dos cubanos diante do que, na prática, será uma inédita e definitiva desvalorização oficial do dinheiro local diante do dólar. Via AP.
Em um caso que mais parece saído de uma obra de realismo mágico, a chamada “Síndrome de Havana” pode ter sido causada, mesmo, por micro-ondas direcionadas à Embaixada dos Estados Unidos. O bizarro episódio ocorreu entre 2016 e 2017, quando funcionários da missão diplomática estadunidense na capital cubana passaram a relatar sintomas como enjoo, perda de equilíbrio e ansiedade, algo que resumiram como uma “bruma cognitiva”. Mais tarde, a Embaixada do Canadá também teve casos semelhantes. Desde então, uma investigação tem tentado entender se houve um ataque biológico contra os edifícios, e agora um informe da Academia Nacional de Ciências dos EUA reafirmou o que antes parecia uma teoria da conspiração: os sintomas são consistentes com os que seriam produzidos por uma “energia de radiofrequência pulsada ou dirigida”. O documento não apontou culpados, mas lembrou que a União Soviética teria feito estudos com esse tipo de equipamento no passado. Na BBC.
EL SALVADOR 🇸🇻
O presidente Nayib Bukele celebrou a decisão judicial que ordenou que o Departamento de Segurança Interna dos EUA, conhecido pela sigla DHS, prorrogasse o Programa de Status de Proteção Temporária (TPS) de janeiro a outubro de 2021. Atualmente, 200 mil salvadorenhos são contemplados pelo TPS, que permite que imigrantes trabalhem sem risco de deportação. A declaração de Bukele também é um aceno à gestão vindoura de Joe Biden, cuja eleição foi reconhecida pelo governo em San Salvador. O salvadorenho também espera que o democrata siga sua promessa de legalizar o status de imigrantes sem documentos. Na CNN.
EQUADOR 🇪🇨
O Conselho Nacional Eleitoral confirmou a candidatura da chapa progressista composta por Andrés Arauz e Carlos Rabascall, da legenda Unión de la Esperanza (UNES), para as eleições que definirão o novo presidente em fevereiro de 2021. Os dois, favoritos nas pesquisas, são ligados ao ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), que hoje vive exilado na Bélgica para fugir da justiça (escapando do que, segundo ele, configura lawfare). Inicialmente, Correa pretendia concorrer à vice-presidência, mas foi impedido pelo mesmo tribunal que agora aprovou a participação do “binômio da esperança”, como a UNES tem se referido aos correístas. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
O epidemiologista Edwin Asturias, chefe da Comissão que lidera a luta contra a covid-19 no país, anunciou que vai voltar ao seu posto na Universidade do Colorado, nos EUA. Em carta ao presidente Alejandro Giammattei, Asturias disse que cumpriu a missão e que o pedido da universidade para que retornasse é irrevogável. Ele assumiu o cargo em 4/6, quando a América Latina passou a viver seus piores dias na pandemia. Com a mudança, o controle da comissão volta ao Ministério da Saúde. Via AP.
Reafirmando o posicionamento do dia dos protestos de 21/11, quando manifestantes chegaram a colocar fogo no Congresso, a Procuradoria de Direitos Humanos (PDH) determinou que as forças policiais efetivamente violaram esses direitos durante sua ação. Citando os casos de dois manifestantes que perderam um olho cada em decorrência da repressão, a PDH identificou como imputáveis o ministro de Governo, Gendri Reyes, o diretor da Polícia Nacional, José Antonio Tzubán, além dos agentes diretamente responsáveis pela violência. Os protestos, que começaram contra o orçamento de 2021, levaram ao arquivamento da proposta original, que previa aumento geral de gastos mas reduções em áreas como saúde e educação. Um texto alternativo segue em discussão. Na Prensa Libre.
Una expresión:
Un pichintún – esta expressão originada no mapudungun, o idioma dos mapuche, permanece de uso comum no Chile. Um pichintún (derivado de püchintun, “ser pouco”) representa uma porção bem pequena, algo que é muito pouco, quase nada – como a quantidade de assentos que os povos originários devem receber na Constituinte do país.
HAITI 🇭🇹
A Fundação Devoir de Mémoire recebeu do governo argentino o Prêmio Internacional Emilio Mignone de Direitos Humanos, pelo trabalho de resgate da memória histórica e pelo fortalecimento do Estado de Direito no país. O Ministério de Relações Exteriores da Argentina também destacou o papel da entidade na publicação de testemunhos históricos sobre a violência colonial, que ainda marca o Haiti. O chanceler argentino, Felipe Solá, valorizou o trabalho da organização: “luta por uma história marcada por acontecimentos trágicos”. Via EFE.
A crise geral no Haiti, quase atemporal, tem respingado na diplomacia. Temendo sequestros, representantes de países vizinhos em território haitiano têm reduzido o contingente em embaixadas e consulados. O expediente de bancos também é afetado: por conta do pico de assaltos, funcionários estão proibidos de usar celular. A escalada de violência e vazio institucional tem preocupado autoridades de diversos países, sobretudo da República Dominicana, único país que divide fronteiras terrestres com o Haiti. No Listin Diario.
HONDURAS 🇭🇳
O estrondo social visto na vizinha Guatemala pode ser um exemplo para o governo em Tegucigalpa. Pelo menos é o que diz a Frente Parlamentar contra a Corrupção em Honduras, que pede uma aprovação “transparente” do orçamento para 2021. Segundo o grupo, aprovar o texto em tempo recorde e sem as devidas informações favorece a corrupção e pode colocar uma crise no caminho. No Infobae.
MÉXICO 🇲🇽
A vacinação já tem data para começar. Segundo o presidente López Obrador, as primeiras doses do imunizante contra a covid-19 serão aplicadas a partir da terceira semana de dezembro. A primeira fase de uma campanha nacional que será “universal e gratuita” pretende vacinar 125 mil profissionais da saúde antes do fim do ano. Essa remessa é parte de um carregamento de 250 mil doses das companhias Pfizer e BioNtech, que também vai imunizar pessoas acima de 60 anos nos primeiros meses de 2021. A situação segue se agravando no país: na sexta (11), o México, que testa pouco, chegou ao seu recorde diário de casos da doença, com 12.253 novos contágios confirmados. Em El Universal.
Em um país marcado pela cultura de impunidade, a solução não vem pelo caminho óbvio. Muitas vezes, vira até arte. Em todo o país, cidadãos afetados pela morosidade da justiça têm criado “antimonumentos”, com grandes números que simbolizam o número de vítimas de crimes que seguem sem um desfecho justo. Segundo o antropólogo Alfonso Díaz Tovar, que estuda o fenômeno, as construções chamativas cumprem um papel social: “enquanto os monumentos representam ideias gerais sobre a história de uma nação, os antimonumentos simbolizam histórias que ainda não terminaram”. A história dos sete erguidos até agora, na BBC.
NICARÁGUA 🇳🇮
Em longa contagem regressiva para as eleições que ainda estão a onze meses de distância – devem ocorrer em 7 de novembro de 2021 – o presidente Daniel Ortega voltou a acusar os Estados Unidos de estarem por trás das organizações opositoras. Segundo o mandatário, a potência ao Norte quer provocar instabilidade que leve a protestos semelhantes aos de 2018 e, eventualmente, substituir Ortega por um fantoche de Washington. As manifestações contrárias ao governo ocorridas há mais de dois anos – e a subsequente repressão – foram decisivas para abalar a confiança internacional no governo em Manágua, com inúmeras denúncias de violações de direitos humanos sendo trazidas à atenção internacional. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
A pandemia provocou uma “fuga” massiva de estrangeiros que residiam no país. Ao longo de 2020, cerca de 20 mil pessoas radicadas em solo panamenho acabaram retornando a seus países de origem, uma lista liderada por nicaraguenses e colombianos. Em função da crise, muitos perderam seus empregos e ficaram sem condições de manter níveis mínimos de subsistência. O ano pandêmico promete índices avassaladores para um país tão dependente da integração internacional: o PIB deve cair 9%, o desemprego saltou de 7% para 25%, e a informalidade pulou dez pontos percentuais, atingindo 55% da população economicamente ativa. Segundo analistas, a saída de tantos estrangeiros também deve provocar uma queda na arrecadação e na atividade comercial que será sentida mesmo durante uma eventual recuperação econômica. Via EFE.
Em pleno recorde de contágios, a região metropolitana da Cidade do Panamá convive com um colapso em sua rede hospitalar. Segundo os médicos locais, ainda há condições de internar pacientes com covid-19 em UTIs, mas o problema começa quando se fala em outros tratamentos para vítimas de violências graves. “Pacientes com traumatismo múltiplo, um baleado na área do tórax ou um esfaqueado, são mais problemáticos porque não temos os insumos e os equipamentos necessários para as cirurgias que necessitam”, disse Cosme Trujillo, diretor do Hospital San Miguel Arcángel, um dos principais da capital. Em La Estrella de Panamá.
Un nombre:
Arauco – uma das formas pelas quais o sul chileno é conhecido, esse termo é outro que encontra suas origens no mapudungun, a partir da palavra ragko, que significa “água gredosa”. A greda, no caso, é uma variedade de argila abundante nos rios da região. Hoje, Arauco é o nome de uma província na região do Biobío, ao centro-sul do Chile. Apesar da proximidade dos termos, no entanto, acredita-se que o gentílico “araucano”, utilizado pelos invasores espanhóis para se referir aos mapuche, possa ter outra origem: do termo inca aucca ou awka, que significa “inimigo”, descrevendo bem a relação que esses dois povos pré-colombianos mantinham naquele momento. Seja qual for a raiz exata, é certo que perto de Arauco também está a região de La Araucanía, esta sim tendo derivado seu nome do gentílico: é, simplesmente, o “lugar onde vivem os araucanos”.
PARAGUAI 🇵🇾
O sequestro do ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013) completou três meses na quarta-feira (9), ainda sem respostas. Segundo a família do político, que segue sem contato com os sequestradores apesar do cumprimento do acordo pelo resgate, o governo paraguaio vem perdendo “de 2 mil a zero” do EPP, a guerrilha responsável pelo sequestro. Em resposta às críticas dos Denis, o capitão Óscar Chamorro, que cuida do caso, disse que as autoridades também estão insatisfeitas com a própria impotência. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
O ex-presidente Martín Vizcarra (2018-2020), destituído em um processo que levou o Peru a ter três mandatários em sete dias em novembro, pode ver sua situação política se agravar. Isso porque o escândalo que serviu de pretexto para seu afastamento pode ganhar um novo depoimento que reforçaria as acusações que levaram à crise de semanas atrás, incluindo um suposto repasse vindo dos fundos de um hospital. Se a vida de Vizcarra no Executivo acabou, a no Congresso ainda não: semanas após sua destituição, o ex-presidente anunciou que vai concorrer a uma das vagas, o que pode ser um novo capítulo em sua vida política e uma chance de imunidade parlamentar para driblar a Justiça. No Canal N.
PORTO RICO 🇵🇷
Mais de um mês depois das eleições gerais na ilha, em 3/11, o partido anticolonialista Movimento Vitória Cidadã (MVC) reclama de fraude nos resultados. O deputado Manuel Natal Albelo, candidato à prefeitura de San Juan, amigo pessoal de René Pérez (o “Residente”, ex-Calle 13) e um dos fundadores do MVC, acusou o presidente do órgão eleitoral de ser conivente com a aparição misteriosa de cédulas não contabilizadas. Desde o dia 10/11, uma semana após a votação, surgiram pelo menos 320 pacotes com votos não incluídos nos cálculos oficiais. A comissão eleitoral ainda não declarou um vencedor na corrida pela capital porto-riquenha, mas informou que só falta contar os votos antecipados e de não residentes na ilha. Miguel Romero, do Partido Novo Progressista, lidera as urnas com 36% dos votos válidos, contra 33% de Natal. A diferença é de 3.186 votos. Na Prensa Latina.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Dois irmãos do ex-presidente Danilo Medina (2012-2020) e um grupo de funcionários do governo passado receberam ordens de prisão na chamada Operación Antipulpo, acusados de envolvimento em um mega esquema de corrupção. Segundo a procuradoria, o grupo teria montado uma rede que colocava empresas privadas na rota de contratos públicos. No caso dos irmãos do ex-mandatário, o problema era ainda maior por conta da relação com o chefe do Executivo. Enquanto Alexis Medina, apontado como cabeça do esquema, foi condenado a passar três meses em prisão preventiva, sua irmã, Magalys Medina, cumprirá o mesmo tempo à espera de julgamento em casa. O nome da operação é uma metáfora: em português, “antipulpo” significa, literalmente, “antipolvo”. Segundo o Ministério Público, o batismo foi inspirado no molusco que, assim como os corruptos, “tem tentáculos espalhados” em instâncias do Estado. Na DW.
URUGUAI 🇺🇾
Morreu, no domingo (6), aos 80 anos, o ex-presidente Tabaré Vázquez (2005-2010 e 2015-2020), um dos líderes da coalizão de centro-esquerda Frente Ampla. Símbolo do avanço progressista e primeiro líder à esquerda a comandar a capital (foi intendente de Montevidéu no período 1990-1994) e o país, Tabaré vinha lutando contra um câncer de pulmão diagnosticado em 2019 e, recentemente, recuperava-se de uma trombose. Pouco antes de morrer, falou de seu legado em uma entrevista, que acabou sendo sua despedida. Como bom uruguaio, o ex-presidente também tinha laços com o futebol: antes de vencer sua primeira eleição na política partidária, Vázquez presidiu o charmoso Progreso que, durante sua gestão, levou o título nacional de 1989, em uma das grandes surpresas da história do esporte local. Em El País.
Os piores dias da pandemia estão em curso. Após viver a maior incidência de casos e mortes por covid-19 entre novembro e dezembro, o país já enfrenta o estágio de transmissão comunitária pela primeira vez desde o início da crise. Além de acelerar a proliferação da doença, o quadro compromete o trabalho de rastreio e controle de focos, o que, aliado à alta testagem, vem sendo o grande diferencial do país até aqui. Se antes cifras de novos casos e casos ativos acima dos três dígitos eram raras, agora são uma infeliz realidade: na quinta-feira (10), o país registrou 390 casos, recorde em 2020, fechando a semana com mais de 2 mil casos em sete dias pela primeira vez, além de 10 novos óbitos (nunca haviam sido mais que seis em uma semana). O pico inédito levou a prefeitura da capital, o ponto mais afetado pela onda, a fechar estabelecimentos, postura que vinha sendo evitada no país. O panorama do coronavírus no Uruguai foi explicado pelo GIRO neste vídeo. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
O líder oposicionista e ex-candidato presidencial Henrique Capriles mandou recado para o governo eleito dos EUA: “esgotou-se” o plano de apoiar o autoproclamado presidente Juan Guaidó, que deixou de ser o presidente da Assembleia Nacional e perderá o cargo de deputado a partir de 5 de janeiro de 2021 (leia mais no GIRO #59). Atualmente, Guaidó ainda tem respaldo da comunidade internacional, mas seu nome vem se esfarelando depois de sucessivas tentativas frustradas de tirar Nicolás Maduro do poder. “Quando Guaidó era a figura, eu o apoiei, mas não me peçam para passar pano às mancadas, aos erros”, disse no fim da entrevista à BBC.
O também líder oposicionista Leopoldo López viajou à Colômbia na quarta-feira (9) para participar de reuniões com políticos locais e representantes do governo de Iván Duque. O objetivo dos encontros é criar uma “frente internacional” para tirar Maduro da presidência venezuelana. Após uma fuga bem sucedida rumo ao exílio na Espanha, a escolha do novo destino de López não foi por acaso: Duque é um dos chefes de Estado mais críticos ao governo Maduro na região e sua fama antichavista alimenta as esperanças da oposição venezuelana. Via EFE.
Enquanto os conterrâneos fazem apelo aos líderes estrangeiros, Juan Guaidó tenta manter o que ainda resta de apoio junto à população venezuelana. “O que eu posso garantir é que fico em Caracas”, disse em entrevista à Associated Press nesta semana. Guaidó convocou uma consulta popular online, que se encerra neste sábado, para que os venezuelanos digam se estão ou não de acordo com as últimas eleições legislativas. Assim como o autoproclamado presidente, a União Europeia e o Brasil rejeitaram a legitimidade da disputa eleitoral, por não considerá-la justa ou livre. As autoridades eleitorais venezuelanas deram a vitória aos governistas, com quase 70% dos votos válidos – no entanto, boa parte dos partidos de oposição se recusaram a participar e o comparecimento foi de apenas 31% dos eleitores inscritos. Via AP.
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