Chile: extrema direita cresce dois anos após “explosão social” de 2019
Renasce aliança opositora em Honduras | Partido governista “rompe” com presidente peruano | México: confirmada estátua substituta de Colombo | Paraguai: Facção nega autoria de chacina na fronteira
Faltando pouco mais de um mês para as eleições presidenciais de 21/11, o Chile encontra um cenário distinto daquele visto nas disputas a que o país se habituou desde o final da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Com a antiga coalizão de centro-esquerda buscando novos rumos e a direita mais tradicional da pós-redemocratização lidando com as crises sucessivas do estallido social de 2019 e o repuxo econômico da pandemia que veio a seguir, a ultradireita usualmente adormecida começa a ganhar espaço: José Antonio Kast, comparado a Jair Bolsonaro e antes visto como uma opção radical que dificilmente chegaria a um segundo turno, passou a aparecer na vice-liderança das pesquisas de opinião. Gabriel Boric, da “nova esquerda” que ganhou força no último biênio, ainda lidera, mas por uma margem muito mais estreita do que o clima político pós-2019 poderia sugerir: na mais recente pesquisa do instituto Cadem, Boric surge com 21% das intenções de voto, frente aos 18% de Kast, que cresceu três pontos, com a centrista Yasna Provoste correndo atrás com 13% e Sebastián Sichel, o nome do governo Piñera, caindo a um distante quarto lugar, com 10%.
Os dias não têm sido fáceis para Piñera formar um sucessor. Implicado no escândalo dos Pandora Papers (leia mais no GIRO #102), o impopular mandatário agora convive com uma nova acusação constitucional, processo que semelhante a um impeachment que pode, no limite, levar ao seu afastamento. Embora o processo tenha pouco efeito prático em relação ao que resta de seu mandato (Piñera não pode se reeleger e deixa o governo em março), é mais um elemento na montanha de críticas que vêm de todos os lados do espectro político. Com índices de rejeição nas nuvens desde o início dos protestos há dois anos e hoje contando com apenas 15% de apoio, o mandatário cada vez mais conduz um governo moribundo – e que segue se colocando em posições impopulares, exemplo do recente decreto de um estado de exceção no sul do país, com o agravamento do conflito agrário com grupos indígenas mapuche nos últimos dias.
Conforme a campanha presidencial tem avançado, o eleitorado descontente com os ventos progressistas que varrem o Chile desde 2019 parece cada vez mais desenganado em relação ao oficialista Sichel, concentrando-se na outra alternativa (muito mais) conservadora – Kast. A mudança potencialmente sísmica no equilíbrio de forças a caminho do pleito junta outros fatores, a exemplo do enfraquecimento do entusiasmo à esquerda, com críticas que vêm se somando em relação à atuação da Convenção Constitucional, o órgão encarregado de redigir a nova Carta Magna e majoritariamente composto por forças progressistas.
Nesta semana em que a Constituinte completou 100 dias de instalação, uma nova pesquisa de opinião encomendada pelo jornal La Tercera e outros grupos econômicos e midiáticos reforçou a percepção de que o processo não avança a contento: 62% dos consultados entendem que os trabalhos estão “mais lentos que o esperado”, 57% dizem que o órgão “está perdendo tempo em assuntos que escapam ao papel para o qual foi eleito” e apenas 19% concordam com a afirmação de que “a Convenção conseguiu acordos importantes neste tempo”.
Em três meses de trabalho, os constituintes se dedicaram mais a discutir as normas do funcionamento interno da própria assembleia do que a levar adiante as pautas que serão incluídas no texto, aumentando as críticas da direita de que o órgão custa muito caro para fazer pouco. O descrédito em relação à Convenção Constitucional também inclui episódios como a desmoralização de Rodrigo Rojas Vade, um dos líderes proeminentes da luta por um cambio social e membro eleito da assembleia, após a revelação de que havia inventado um câncer para ganhar fama (leia mais no GIRO #98). Ele acabou renunciando, enquanto sua coalizão, a Lista do Povo, que chegou a ter a terceira maior bancada, implodia.
Nesse cenário em que a direita a que o eleitor chileno se acostumou começa a caminhar em areia movediça e a nova esquerda ameaça perder o ímpeto dos últimos tempos, há ainda outro detalhe que aumenta as incertezas para novembro: o voto facultativo. Um dos poucos países da região que derrubou a obrigatoriedade da participação eleitoral, ainda em 2012, o Chile convive com abstenções que frequentemente ultrapassam 50% dos cidadãos habilitados, mantendo grandes dúvidas sobre o rumo dos resultados até o dia do voto, especialmente em disputas parelhas como a que agora se anuncia. Na última pesquisa Cadem, a soma de indecisos e eleitores que afirmam que não comparecerão continua superando o total de qualquer candidato, batendo em 27%.
O futuro presidente do Chile será o responsável por convocar o plebiscito que decidirá se a nova Constituição (que ainda não existe) será efetivamente adotada ou não. Embora o mandatário não tenha ingerência sobre o processo, o nome escolhido pode servir como uma janela para compreender o tipo de tolerância que os chilenos terão em relação a mudanças mais progressistas que venham a ser incluídas no texto. Kast, apesar do crescimento recente, ainda é o candidato com a maior rejeição, mas em um nível que não impediria uma eventual vitória: cerca de 30%. Na próxima segunda-feira (18), os movimentos à esquerda que dominam a Constituinte e se aglutinam em torno de Gabriel Boric para as presidenciais devem tomar as ruas do país, comemorando o segundo aniversário do início do estallido social. Sobre a multidão, deverá pairar também a dúvida sobre se o Chile dos últimos anos não marcha rumo à arapuca lampedusiana, mudando tudo para que tudo seguisse igual.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇭🇳 Renasce aliança opositora em Honduras – A 45 dias das eleições presidenciais de 28/11, surge uma “frente ampla” de oposição que pode mudar definitivamente o cenário: terceiro colocado nas pesquisas mais recentes, Salvador Nasralla anunciou a retirada de seu nome do pleito para formar uma aliança com a esquerdista Xiomara Castro, que vem se alternando na primeira colocação com o governista Nasry Asfura, dependendo do instituto que realiza a pesquisa. O movimento, visto como necessário em um sistema eleitoral que não tem segundo turno, é exatamente o inverso da estratégia adotada pelos dois em 2017: na ocasião, foi Castro, que vinha atrás, quem saiu de cena para apoiar Nasralla – ainda assim, não foi suficiente, e ele acabou derrotado pelo presidente Juan Orlando Hernández por 1,5 ponto percentual. Agora, com JOH fora da disputa por ter cumprido dois mandatos e vendo Asfura sem conseguir despontar para valer nas pesquisas também pelo desgaste na imagem dos governistas, a oposição volta a criar esperanças. Se eleita, Xiomara Castro, que é esposa do ex-presidente Manuel Zelaya (2006-2009, quando foi derrubado por um golpe), se tornaria a primeira mulher a governar Honduras. Em El Heraldo.
🇵🇪 Partido governista “rompe” com presidente – Tentar governar. É o que quer a gestão do presidente Pedro Castillo, dias após o maior terremoto político que terminou com a saída do primeiro-ministro Guido Bellido e de outros seis integrantes do gabinete. Quem agora ocupa o cargo de Bellido e tenta investir em um discurso agregador é Mirtha Vásquez, de perfil progressista e distante das polêmicas do antigo braço-direito do presidente. Na quarta (13), ela anunciou uma rodada de conversa com todos os setores da oposição no Congresso (dominado por adversários do governo e capaz de derrubar presidentes a bel-prazer). Para começar, buscou se reunir com a líder da Casa, María del Carmen Alva, uma das principais críticas da esquerda no comando. Para a nova primeira-ministra, trata-se de um gesto “muito saudável para a governabilidade do país”. Mas, no Peru, tentar não é garantia de conseguir: na mesma semana em que a nova premiê dava indícios de que mares mais calmos passariam sob a canoa do governo, o Perú Libre, partido que elegeu Pedro Castillo – que, vale dizer, não era o primeiro cotado a sair como presidente pela sigla – decidiu que não daria voto de confiança à nova composição ministerial anunciada pelo presidente. A bomba foi anunciada por Vladimir Cerrón, presidente do partido e talvez um dos nomes mais radicais dentro da esquerda peruana. Segundo ele, que prometeu mudanças na bancada do PL no Congresso, as últimas decisões de Castillo significaram um “giro à centro-direita”. Mas não é certo que uma ruptura entre Castillo e a legenda seja necessariamente ruim para as ambições de um governo que busca se equilibrar na corda bamba: ainda que o mandatário perca certo apoio caso o Legislativo opte um dia, por exemplo, por votar uma moção de vacância (algo similar a um processo de impeachment, mas muito mais fácil de acontecer), romper com o partido mais rechaçado pelo establishment peruano que dita o ritmo na Casa pode ser uma estratégia de sobrevivência. De todo modo, Mirtha Vásquez, que já queria dialogar com a oposição, agora anuncia também conversas com o próprio partido do presidente em busca do voto de confiança, a partir da próxima segunda (18). Em El Comercio.
🇲🇽 Confirmada substituta de Colombo – Aproveitando a efeméride que marca o início da invasão espanhola na região, o México anunciou no dia 12 o desenho que vai inspirar a escultura destinada a substituir a estátua de Cristóvão Colombo na capital do país: será uma réplica da “jovem de Amajac” (veja em Un clic), peça da cultura huasteca com influência mexica, que foi encontrada no início deste ano. A Cidade do México havia removido a estátua de Colombo em 2020 e, há um mês, confirmou que ele não voltaria para o lugar habitual, sendo substituído por uma mulher indígena. A arte, porém, não havia sido confirmada até agora. Da “jovem de Amajac” pouco se sabe até aqui mas, com base na localização e no estilo, arqueólogos acreditam se tratar da representação de uma mulher que exerceu um posto de liderança durante o chamado período Pós-Clássico Tardio Mesoamericano, entre meados do século 15 e o ano de 1521. Na BBC.
🇵🇾 Facção nega autoria de chacina na fronteira – A divisa entre o Brasil e o Paraguai, precisamente entre os municípios de Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, é uma zona de guerra. Nesta semana, foram pelo menos seis assassinatos violentos na região, incluindo uma chacina que deixou quatro pessoas mortas em um único dia. Entre os mortos, além de um policial executado a tiros, está a filha do governador do departamento fronteiriço de Amambay, Ronald Acevedo. As primeiras investigações indicaram que a jovem de 21 foi morta por estar andando junto com um homem que era o alvo dos sicários. Mas não são necessariamente lobos solitários: a nova onda de violência começou apontando para a facção PCC, que nos últimos anos tem ampliado sua rede de ação para além do território brasileiro. Uma das teorias é que a facção nascida em São Paulo tenha dado o recado contra abusos a detentos brasileiros em presídios paraguaios. O próprio PCC, porém, negou envolvimento: “prezamos a vida acima de tudo” e “quando temos que tomar alguma atitude referente a alguém este mesmo é comunicado que está decretado [sic] a morte”, disse a facção, em uma mensagem interceptada pelo serviço de inteligência do governo de São Paulo. Outras linhas de investigação já sugerem que o massacre poderia ter relação com o narcotráfico ou o não pagamento de dívidas. Em El País.
🇦🇷 Preços congelados (outra vez) – Para conter a inflação, o fantasma do congelamento de preços voltou a pairar sobre a economia do país. Nesta semana, o governo de Alberto Fernández se viu obrigado a negociar com setores da indústria e do comércio o congelamento de preços de uma cesta de pelo menos 1.245 produtos básicos, pelo prazo de 90 dias. Com a decisão, os peronistas pretendem conter a escalada inflacionária, que, ainda que já venha em alta galopante desde pelo menos 2016, acelerou na pandemia e já superou a casa dos 50% no índice anual. Além de se tratar de uma medida já adotada pelos governistas em outras ocasiões, a manobra – que invariavelmente fracassa no médio prazo – também pretende arrefecer os ânimos às vésperas das decisivas eleições legislativas de novembro (que podem ser um ponto de inflexão para Fernández, para o bem ou para o mal). Em La Nación.
Un hilo:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
A Opas, Organização Pan-Americana da Saúde, pediu na quarta (13) uma ação conjunta nas Américas para ajudar todos os países da região a alcançar a meta de cobertura vacinal contra a covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 40% de população até o final deste ano. Segundo o órgão, apenas nove países da região vacinaram 50% de seus habitantes, enquanto Haiti, Guatemala e Nicarágua, entre outras nações caribenhas, ainda não alcançaram 20% da cobertura vacinal. “Sem uma ação conjunta para ampliar a taxa de vacinação e as medidas de saúde pública, é possível que a covid-19 se torne endêmica na região”, disse a diretora da Opas, Carissa Etienne. Via Agência Brasil.
A pequena Curaçau, ilha caribenha localizada 65 km ao norte da Venezuela e ligada politicamente aos Países Baixos, está sendo acusada de violações de direitos humanos contra migrantes venezuelanos. Segundo a Anistia Internacional, o governo local mantém os migrantes em prisões superlotadas, em condições de abuso físico e verbal e privação sensorial, além de separar famílias e até mesmo deportar crianças sem os pais. Cerca de 17 mil migrantes venezuelanos, fugindo da crise no próprio país, estariam vivendo em Curaçau de forma irregular, um número significativo em uma ilha de apenas 155 mil habitantes. No site da Anistia Internacional.
Sob o título “Macondo acordou”, referência à alegoria latino-americana criada pelo colombiano Gabriel García Márquez, o novo relatório do Latinobarômetro, divulgado esta semana, deu detalhes do clima de descontentamento social vivido na América Latina após um ano e meio de pandemia. Mencionando quase todos os líderes da região, em especial os que usaram a crise de saúde para afrontar a democracia, o estudo é um resumo dos últimos tempos. Em El País.
ARGENTINA 🇦🇷
Em momento de dificuldades, com queda de braço dentro do próprio governo e a perspectiva de perder espaço nas eleições legislativas de 14/11, os peronistas vão às ruas neste domingo (17): é um novo Día de la Lealtad, efeméride que recorda quando, em 1945, apoiadores de Juan Domingo Perón realizaram gigantescas mobilizações para exigir a liberação do então ex-vice-presidente, detido poucos dias antes em um golpe palaciano. Perón, popular pela legislação trabalhista que ajudou a implementar quando ministro (1943-1945), chegaria ao topo do governo no ano seguinte. O presidente Alberto Fernández convocou a marchar “a todas as praças do país” para celebrar o dia, cujo 75º aniversário em 2020 acabou esvaziado pela pandemia. “Façamos em paz e unidade, celebremos em família com todos os cuidados e respeitando os protocolos”, pediu Fernández. No Página 12.
BOLÍVIA 🇧🇴
Na segunda-feira (11), o presidente Luis Arce enfrentou sua primeira greve geral desde que assumiu o mandato, em novembro de 2020. Os manifestantes ocuparam as ruas de La Paz com bandeiras da Bolívia, wiphalas e cartazes pedindo a revogação do projeto de lei Contra a Legitimação de Ganhos Ilícitos – criticado por juristas que consideraram a redação confusa e inconstitucional. A controversa proposta, que já tinha sido aprovada pela Câmara, previa a abertura de investigações financeiras, a quebra de sigilo bancário e até o congelamento de contas de qualquer cidadão mediante decisões administrativas. Na quinta (14), após perceber que não venceria a queda de braço no Senado, o governo retirou o projeto de tramitação. Na CNN.
Un nombre:
Chile – caso raro de país que carrega um nome que já era utilizado pelos povos originários antes da chegada dos espanhóis (Chili era como chamavam as terras ao sul do Atacama), “Chile” tem várias possíveis origens e poucas certezas. Por ser pré-hispânico e se assemelhar a diferentes palavras das várias línguas indígenas, os caminhos são vastos: poderia vir do aimará chilli, “lugar onde acaba a terra”; ou de Tili, o título dado ao cacique que governava a região mais ao norte na época em que os incas chegaram por ali; ou de chili, nome onomatopeico dado pelos mapuche a partir do canto de um pássaro que, hoje, por lá se chama trile e aqui, sargento; ou, quem sabe, poderia ainda vir do quéchua chili, “a flor e nata da terra”. Misterioso e ancestral, o nome também pode, simplesmente, ter sido carregado pelos rios aos diferentes povos que ali viveram: há quem defenda que o “vale do Chile” derivava de um hidrônimo, e a palavra na verdade se referiria originalmente a algum rio (ou vários) da região. Com grande parte de seu território integrando o Vice-Reino do Peru por três séculos do período colonial, o sul já era chamado de Capitania-Geral do Chile antes da independência, e o novo país adotou formalmente o nome em 1824.
COLÔMBIA 🇨🇴
Uma ligação contra a violência de gênero. Essa é a proposta da linha de apoio Calma, desenvolvida pela prefeitura de Bogotá para homens que precisem de ajuda na hora de lidar melhor com suas emoções ou de resolver situações de conflito conjugal, familiar ou entre amigos. A iniciativa oferece 10 sessões de terapia gratuitas por telefone, na qual os homens conversam sobre suas inseguranças e corrigem atitudes machistas. Dados da capital colombiana indicam que 66% dos casos de violência doméstica ocorrem entre casais, sendo que os ciúmes são a motivação em 55% dos casos e, em 76% das vezes, a causa é o mau gerenciamento das emoções por parte dos homens. Para evitar episódios assim, residentes da cidade podem ligar para o serviço de atendimento. Na BBC.
Crise do café: com as condições climáticas desfavoráveis afetando a safra do Brasil, o maior exportador do mundo, quem tenta tirar proveito da situação são os produtores da segunda colocada quando o assunto é o café arábica, a Colômbia – nem que, para isso, seja preciso descumprir vendas acertadas previamente. Os preços da commodity já subiram 55% neste ano, o que incentivou os exportadores colombianos a não entregar o produto para quem já havia garantido a compra por valores menores. Em vez disso, preferem dar “default” nos contratos anteriores para lucrar vendendo outra vez, agora com os valores atuais. Estima-se que produtores da Colômbia já tenham deixado de entregar cerca de 1 milhão de sacas de café que estavam vendidas, ou 10% de toda a produção do país, em um movimento que pode inflacionar ainda mais os preços ao redor do mundo. Via Reuters.
COSTA RICA 🇨🇷
O governo anunciou na quarta (13) que, a partir de dezembro, serão exigidos certificados de vacinação contra a covid-19 na maioria dos estabelecimentos, como restaurantes, bares, lojas, academias, hotéis e áreas esportivas. Segundo o presidente Carlos Alvarado, a medida (que também vai valer para turistas internacionais) é uma “proteção à saúde” e reafirma a ideia de que “cada pessoa não vacinada coloca em risco os demais e a si mesma”. Ainda que a Costa Rica tenha bons números de vacinação, com 47% da população com esquema vacinal completo, as novas restrições têm como objetivo pressionar o mais de meio milhão de costa-riquenhos adultos que ainda não receberam a injeção. No CRHoy.
CUBA 🇨🇺
Os ecos de julho, data da maior manifestação política contra o governo desde a Revolução, seguem fazendo barulho: desta vez, grupos de oposição ao poder agendaram uma marcha para 15/11, prometendo manter os atos apesar de Havana bater o pé e proibi-los. Pelas redes sociais, organizações civis disseram que “nossa decisão será marchar cívica e pacificamente pelos nossos direitos”, a despeito das negativas do governo. Segundo a administração do presidente Miguel Díaz-Canel, que reiterou o sistema socialista como “irrevogável” dentro dos princípios constitucionais cubanos, os atos têm como objetivo promover uma mudança do sistema político na ilha e seriam financiados e apoiados pelos EUA. Na DW.
EL SALVADOR 🇸🇻
Nem o futebol escapa às ganas de controle total do presidente Nayib Bukele que, além do Executivo, também passou a dominar o Legislativo e o Judiciário salvadorenhos em 2021: na quarta (13), após a seleção local perder por 2x0 dentro de casa para o favorito México nas Eliminatórias da Copa do Mundo, o mandatário sugeriu que poderia tomar uma ação mais enfática para tentar melhorar o estado do futebol de El Salvador. “Acredito que é hora de intervir… nos sancionam por um par de anos e depois voltamos jogando de verdade”, escreveu Bukele no Twitter, em referência ao fato de que a FIFA, a entidade máxima do futebol, costuma punir duramente as seleções de países cujos governos alteram a gestão das federações locais. Sem disputar uma Copa do Mundo desde 1982 e em penúltimo lugar no octogonal final de suas Eliminatórias (só três times avançam diretamente ao torneio), El Salvador tem poucas chances de estar no Catar em 2022. Em El Universal.
EQUADOR 🇪🇨
Passadas duas semanas do maior massacre carcerário da história do país, ocorrido em meio a conflitos internos de gangues rivais, o presidente Guillermo Lasso admitiu a possibilidade de negociar com os grupos criminosos. “Entre a força e o diálogo, e a pacificação pela via do diálogo com a intermediação da igreja e de grupos evangélicos, vou pelo caminho do diálogo e do acordo, mas o Estado não pode permitir ser submetido por eles”, disse o presidente em uma entrevista. Analistas, porém, consideram improvável que uma negociação efetiva tenha lugar. No que vai do ano, o Equador já teve 226 mortes em motins e conflitos em prisões, 119 deles registrados apenas no massacre de 28/9. Via AP.
O mesmo Lasso, porém, tem outra dor de cabeça pela frente: na última semana, o Congresso aprovou a abertura de uma investigação contra o presidente, que foi citado nas revelações do Pandora Papers (leia mais na abertura do GIRO #102, que explicou os impactos do furo jornalístico contra lideranças latinas). Ex-banqueiro e acionista de várias empresas, Lasso tem um longo histórico de envolvimento com companhias em paraíso fiscal, e chegou a mudar seu status legal frente a algumas delas depois de 2017. Foi quando o então presidente Rafael Correa (2007-2017) proibiu essa prática entre candidatos à presidência. O lastro dessas operações, no entanto, foi trazido à tona com mais detalhes pelas novas reportagens. A Comissão Constitucional do Equador tem até 30 dias para redigir um relatório que decidirá se Lasso descumpriu a lei. Na teleSUR.
Una expresión:
Manso como gato de boliche – é uma expressão usada por conesulinos, em especial os platinos de Argentina e Uruguai, para dizer que estão tranquilos e despreocupados em relação a algo. Nesses países, boliche é o nome dado a pequenas vendinhas ou armazéns. Já os gatos que frequentam esses estabelecimentos, também por estarem acostumados ao entra e sai dos clientes, são conhecidos por estarem sempre de papo para o ar, às vezes à espera de um chamego.
GUATEMALA 🇬🇹
Uma demanda antiga, mas que segue com protestos constantes: ex-militares guatemaltecos voltaram a bloquear as principais estradas do país durante a semana, exigindo que o Estado pague uma compensação financeira por sua participação na longa guerra civil (1960-1996). O tema causa grande divisão no país, já que as forças militares foram instrumento no genocídio promovido contra os povos originários durante o conflito, mas voltou à tona nos últimos meses com o avanço de um projeto (hoje em análise no Congresso) para realizar o pagamento único para os antigos fardados. A proposta é dar 120 mil quetzais (R$ 84,5 mil) para cada ex-militar ou, no caso dos que já morreram, seus familiares. Estima-se que até 200 mil maias tenham sido mortos pela repressão durante o chamado “Holocausto Silencioso” da guerra civil, que se intensificou no início dos anos 1980. Na Prensa Latina.
HAITI 🇭🇹
Uma situação insólita em um país em colapso: mesmo sendo o local que menos vacina contra a covid-19 na América Latina, tendo aplicado somente 96 mil doses até agora (a Bolívia, com população semelhante, aproxima-se de 7 milhões, por exemplo), o Haiti tornou-se nesta semana doador de imunizantes para os vizinhos. Com 250 mil doses da Moderna a ponto de expirar em 6/11 e sem estrutura para administrá-las a tempo, o governo concordou em ceder os frascos a que teria direito para Honduras, através do mecanismo Covax – em troca, a promessa é que os haitianos recebam 100 mil doses com validade mais longa para continuar sua campanha no final de outubro. Os lotes de Moderna que Porto Príncipe agora deve enviar a Tegucigalpa representam metade de um carregamento que o país caribenho recebeu em julho, vindo dos EUA. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Atendendo a um pedido dos Estados Unidos, o México vai voltar a exigir visto para brasileiros que quiserem entrar em seu território, 17 anos após extinguir a obrigatoriedade. O objetivo é debelar a imigração irregular: como viajantes do Brasil têm facilidades para ingressar no México, o país se converteu em um destino intermediário atrativo para aqueles que tentam rumar aos EUA, desembarcando na nação latina e seguindo por terra em busca de uma passagem desguarnecida na divisa. A pressão imigratória brasileira, que antes não era vista como uma grande ameaça pelos EUA, explodiu com as crises dos últimos dois anos: de 18 mil brasileiros detidos na fronteira em 2019, o número já passou para 46 mil nos doze meses entre outubro de 2020 e setembro de 2021. O Brasil é o sexto colocado entre as nacionalidades com mais detenções feitas pelos agentes de fronteira estadunidenses. No G1.
NICARÁGUA 🇳🇮
Segundo uma nova pesquisa da CID-Gallup, 65% dos nicaraguenses votariam em uma das opções da oposição para destronar o presidente Daniel Ortega, no cargo desde 2007 e responsável por uma escalada autoritária desde 2018. Mas há um problema: no pico de seu ímpeto autocrata, Ortega já ordenou a prisão de sete nomes que se colocariam na briga pela presidência em Manágua (saiba mais neste vídeo) nas eleições de novembro deste ano. De acordo com o estudo, apenas 19% dos eleitores optariam por dar um novo mandato ao presidente sandinista e à sua esposa e vice-presidenta, Rosario Murillo. Em maio, as intenções de voto para o casal rondavam a casa dos 28%, mas a maioria das detenções contra os postulantes ao poder ainda não havia acontecido. Em El País.
Do lado sandinista, o discurso é o mesmo: que há ingerência por parte dos EUA em seus assuntos internos (argumento usado para muitas das prisões de opositores do governo). É o que disse a chancelaria da Nicarágua em nota, apontando para uma “contínua interferência” do embaixador estadunidense em Manágua, Kevin Sullivan. “Não somos colônia de ninguém”, diz o documento. Apesar de os sandinistas usarem esse pretexto para investir em prisões arbitrárias e que abalam o processo eleitoral de logo mais, é fato que os EUA seguem se pronunciando sobre as eleições por vir: na quinta (14), o Departamento de Estado em Washington, como costuma fazer quando algo o desagrada na região, disse que o pleito de novembro “perdeu toda a credibilidade”. Via AP.
Un clic:
Montagem projeta como ficaria o local da antiga estátua de Colombo na Cidade do México após a instalação da réplica da “jovem de Amajac”.
PANAMÁ 🇵🇦
Uma exumação coletiva de restos mortais vem sendo realizada nos últimos dias, com um objetivo claro: encontrar vítimas desaparecidas durante a invasão dos EUA ao país, em 1989. A operação ingerente, que aconteceu (e foi bem sucedida) sob pretexto de encerrar a ditadura do general Manuel Noriega (1983-1989) deixou ao menos 300 civis panamenhos mortos, enquanto as baixas de soldados norte-americanos chegaram a 23. Segundo organizações de memória e direitos humanos, que cobram a elaboração de comissões especiais de investigação, o número real de vítimas da invasão pode ser muito maior. Via Reuters.
PARAGUAI 🇵🇾
Em decisão histórica, o Comitê de Direitos Humanos da ONU concluiu que o país violou os direitos a terras tradicionais de uma comunidade indígena, devido à falta de prevenção e controle da contaminação tóxica desses territórios por parte do Estado. Segundo o grupo que analisou o caso, a noção de “domicílio” (também violada) deve ser entendida no contexto da relação especial que os povos originários mantêm com seus territórios, incluindo seus rebanhos, lavouras e os espaços relacionados à caça e à pesca. A denúncia partiu de um professor da comunidade indígena Campo Agua’ẽ, do Povo Ava Guaraní. Para a ONU, “graves danos ambientais impactam a vida familiar, a tradição e a identidade dos povos indígenas, podendo inclusive levar ao desaparecimento de sua comunidade”. No ONU News.
PERU 🇵🇪
O Peru conquistou o primeiro campeonato mundial… de balão (ou bexiga)! Em uma improvável competição que reuniu um streamer conhecido no Twitch, um jogador de futebol, participantes de 32 países e uma audiência de mais de 600 mil pessoas online ao mesmo tempo, a primeira Copa do Mundo de Balão disputada na Espanha ganhou as graças da internet na quinta (14), com regras simples: em um espaço delimitado e com obstáculos, dois atletas tinham dois minutos para evitar que o balão caísse no chão, sempre com tapas para o lado ou pra cima, em um jogo inspirado em uma brincadeira infantil. No fim das contas, o peruano Francesco de la Cruz – que havia feito a primeira partida da história do torneio, um 6x4 sobre a Bulgária – acabou eliminando Mongólia, Argentina e Espanha a caminho de um triunfo acachapante na decisão: 6x2 sobre a Alemanha e Mundial de Globos para os andinos. O feito recebeu até congratulações do presidente Pedro Castillo. No Yahoo.
PORTO RICO 🇵🇷
A ilha está no escuro. Nas últimas semanas, milhares de habitantes do território têm enfrentado apagões, reparos lentos do sistema elétrico e um atendimento ruim por parte da empresa Luma Energy, responsável por parte da distribuição de energia por lá. Diante de protestos contra o sistema precário, políticos porto-riquenhos e outros dos EUA (país ao qual Porto Rico está associado como estado livre) têm tentado soluções, questionando a companhia pelo serviço e pelo aumento dos preços. O problema, porém, parece ser mais profundo: em entrevista, o CEO da Luma Energy, Wayne Stensby, disse que “em quase todas as medidas, Porto Rico tem o pior sistema de eletricidade em termos de desempenho nos Estados Unidos” e que os funcionários da empresa tentam, dia após dia, reparar os problemas que já existiam previamente. A rede elétrica foi devastada pelo furacão María, em 2017, e desde então a instabilidade reina. Na sexta (15), cerca de 4 mil pessoas marcharam pelas ruas da capital San Juan, em nova manifestação contra a fornecedora. Na NBC.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O turismo vai voltando: durante a semana, o país divulgou que recebeu mais de 365 mil visitantes ao longo de setembro, superando em 14% o número registrado em 2019 (ano anterior à pandemia de covid-19). Segundo o ministro do Turismo, David Collado, trata-se de um dado “histórico” para o país, que é um dos que mais depende da atividade turística na região. Ainda de acordo com Collado, a alta no setor “que nem sequer era sonhada no início do ano” deve impulsionar a criação de postos de trabalho. Pesquisas de sites de reserva indicam que a República Dominicana lidera o ranking de recuperação turística em 2021, superando Brasil e México – o que se deve, também, a um plano de vacinação de profissionais do setor e de um esquema de auxílio médico a turistas no pior momento da pandemia. Via EFE.
Foi o maior julgamento por corrupção da história do país, mas o resultado frustrou os procuradores: na quinta (14), um ex-ministro e um empresário foram os dois únicos condenados pelo escândalo dos subornos pagos pela construtora brasileira Odebrecht para conseguir contratos no país, entre 2001 e 2014. Víctor Díaz Rúa, que ocupou a pasta de Obras Públicas de 2007 a 2012, recebeu uma pena de cinco anos por lavagem de ativos provenientes de enriquecimento ilícito. Já Ángel Rondón, que era representante comercial da Odebrecht no país, foi condenado a oito anos por suborno e lavagem de ativos. A procuradoria anticorrupção da República Dominicana prometeu recorrer das sentenças, de olho nas condenações que ainda não vieram – uma delas, de Andrés Bautista, senador por quatro mandatos, ex-presidente do senado e do Partido Revolucionário Moderno (PRM), que governou o país no início do século e voltou ao poder em 2020 com Luis Abinader. A Odebrecht admitiu ter distribuído mais de US$ 92 milhões em propinas para lideranças dominicanas. Via AP.
URUGUAI 🇺🇾
O uruguaio Luis Almagro, atual secretário-geral da OEA, tem planos para a vida após o fim de sua controversa gestão em 2025: voltar ao país natal e se dedicar à política. Resta ver, agora, em que canto dela. Antigo chanceler do ex-presidente Pepe Mujica (2010-2015) pela coalizão de centro-esquerda Frente Ampla, Almagro acabou expulso do partido em 2018 por uma postura quase obsessiva pela situação de países como Venezuela e Cuba – enquanto não colocava a mesma energia para se posicionar contra abusos aos direitos humanos em países comandados por governos conservadores. “Sim, tenho e tive divergências com alguns atores de esquerda em questões de princípios, democracia e direitos humanos. Se alguém defende ditaduras para mim e leva isso de forma pessoal a ponto de questionar uma atuação, bem, é isso”, disse o dirigente. Entre as divergências citadas, porém, não mencionou seu papel à frente do golpe na Bolívia em 2019, que aconteceu sob os olhares indiferentes da mesma OEA diante da violência estatal vista após a derrubada de Evo Morales. Em El País (UY).
Com os números da pandemia sob controle nos últimos três meses, o Uruguai avança nas flexibilizações – e em maneiras de evitar que elas levem a um repique de casos no futuro. Nesta semana, enquanto anunciava o fim da obrigatoriedade para o uso de máscara em lugares abertos, o governo também confirmou que viajantes que ingressarem no país a partir da reabertura de novembro poderão se vacinar em solo uruguaio. “É um serviço mais que será oferecido aos turistas”, afirmou Tabaré Viera, o ministro do Turismo, ainda sem dar detalhes de como o programa funcionará na prática. No Ámbito.
VENEZUELA 🇻🇪
O chanceler Félix Plasencia exigiu à ONU que seja feita justiça pelo assassinato de dois jovens venezuelanos em território colombiano, linchados e mortos após supostamente furtarem uma loja no município fronteiriço de Tibú, no departamento de Santander. O discurso foi endereçado ao secretário-geral da entidade, Antonio Guterres, e à Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet. Segundo Plasencia, a violência contra os meninos de 12 e 15 anos é resultado do “contexto xenófobo” da política migratória promovida pelo governo do colombiano Iván Duque (talvez o principal adversário do poder em Caracas). O coro foi engrossado pelo procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, que denunciou as “políticas discriminatórias” contra os venezuelanos na Colômbia – que é, com folga, o destino que mais recebe migrantes e refugiados do vizinho em crise. Em La Diaria.
Raúl Isaías Baduel, general que foi comandante do Exército Bolivariano (2004-2006) e ministro de Defesa (2006-2007) durante os dias de Hugo Chávez, e depois se tornou um ardente crítico do governo e acabou preso, morreu sem recuperar a liberdade, nesta terça (12), aos 66 anos. O anúncio foi feito pelo procurador-geral Tarek William Saab, que atribuiu o óbito do militar a uma parada cardiorrespiratória decorrente da covid-19. Baduel foi detido pela primeira vez em 2009, sob a acusação de desvio de fundos e abuso de autoridade, e muitos críticos do chavismo o consideravam prisioneiro político, incluindo os EUA, que pediram uma investigação independente sobre a morte. Transferido à prisão domiciliar em 2015, Baduel voltou ao regime fechado dois anos mais tarde, e viu novas acusações se acumularem contra si, o que acabou com suas chances de um indulto. Na BBC.