‘Pandora Papers’ liga 15 líderes latinos a paraísos fiscais
Peru: primeiro-ministro cai após 69 dias | Haiti: crianças brasileiras entre os deportados | Colômbia: 1ª eutanásia em paciente não terminal | Venezuela: Maduro quer volta de investidores colombianos
O Panamá, pequeno país centro-americano de pouco mais de 4 milhões de habitantes, não costuma ser destaque neste GIRO. Não é nem o mais pobre do continente, nem o que tem um governo mais autoritário e nem o que passa pela crise econômica mais aguda. Relativamente estável para os padrões da região, a nação é conhecida por não fazer muito alarde. E há quem se interesse por isso: conhecido por ser um paraíso fiscal, o país é um dos principais destinos de fortunas de um sem-número de personalidades e políticos pelo mundo, que se apoiam na legislação panamenha com a intenção de resguardar seus milhões de dólares do imposto de renda de seus respectivos países. Por ter condições de abrigar imensas quantias em contas bancárias e empresas (que muitas vezes sequer funcionam), conhecidas como offshores, o Panamá está mais uma vez na mira do que já é considerada a maior colaboração de investigação jornalística da história, que se vale de um vazamento de mais de 11,9 milhões de documentos confidenciais de políticos, famosos e magnatas. Conhecido como Pandora Papers, o furo arrebatador que veio à tona essa semana recai sobre a América Latina como em nenhuma outra região no mundo (com respingos importantes também no Brasil): são 15 lideranças latino-americanas envolvidas nos escândalos, sendo três presidentes atualmente no cargo. Nesta edição, o GIRO LATINO lista os nomes destas lideranças, em especial aquelas que ainda vestem a faixa presidencial enquanto se esquivam das denúncias.
Sebastián Piñera, presidente do Chile, é um dos principais nomes citados no Pandora Papers: segundo as novas investigações, o mandatário e bilionário, dono da 4ª maior fortuna do país (quase US$ 3 bilhões, segundo a Forbes), criou duas empresas obscuras em nome de seus quatro filhos enquanto disputava a corrida eleitoral que lhe rendeu a faixa presidencial pela primeira vez, em 2010. A revelação, no entanto, é um desdobramento de investigações feitas em 2016, só dando mais detalhes dos misteriosos negócios da família Piñera Moral nas Ilhas Virgens Britânicas, outro conhecido paraíso fiscal. A bomba de agora, no entanto, é mais grave: segundo o Pandora Papers, também antes de abraçar a presidência, Piñera vendeu sua parte em ações da mina chilena de Dominga ao empresário Carlos Alberto Délano, que é um de seus melhores amigos. A transação milionária (US$ 152 milhões) teve apenas US$ 14 milhões repassados por meio de documentações feitas no Chile; os outros US$ 138 milhões foram assinados nas Ilhas Virgens Britânicas, o que aumentou as suspeitas. Por se tratar de um valor alto, a última parcela da venda, que ficaria pendente até o final de 2011 (já com Piñera ocupando o Palácio de La Moneda) só seria paga com uma condição: que o Estado ignorasse o pedido de ambientalistas e não declarasse Dominga como reserva natural, o que imporia uma série de entraves jurídicos à exploração. Negando as acusações de conflito de interesse e dizendo operar dentro da lei, Piñera – que já acumula desgastes que vão da crise social de 2019 à sua esburacada gestão socioeconômica durante a pandemia – comentou o caso: “ser presidente me trouxe mais prejuízos que benefícios”. E o ato final desse prejuízo veio a galope: nesta sexta (8), o Ministério Público do Chile abriu uma investigação contra o presidente por conta do caso Dominga. Em fim de mandato e a ponto de deixar o cargo em março do ano que vem, Piñera pode, no limite, até ser preso dependendo do resultado das investigações. O caso da mineradora já era conhecido pela Justiça desde 2017 – mas não com tantos detalhes e provas. Segundo a diretora anticorrupção do MP chileno, Marta Herrera, “podemos dizer que esse é realmente um fato novo”.
Guillermo Lasso, presidente do Equador, tem pouco tempo de casa e vinha caminhando bem: foi eleito em abril de 2021, avançou a vacinação contra a covid-19 durante seus 100 primeiros dias e vem sendo elogiado por não interferir em debates sobre a lei do aborto e por traçar acordos comerciais com a China. Mas a lua-de-mel pode ter chegado ao fim: segundo revelações do Pandora Papers, o ex-banqueiro recorreu a até 14 empresas offshore no Panamá e nos EUA para manter seu patrimônio milionário longe de território equatoriano. Em 2017, ainda sob o governo do socialista Rafael Correa (2007-2017), o Equador passou a proibir por lei que candidatos sejam beneficiários de empresas em paraísos fiscais. E foi na terceira (e finalmente vitoriosa) tentativa de chegar à presidência, no início de 2021, que Lasso se desfez de sua rede offshore: atualmente, 10 das 14 empresas fora do país ligadas ao mandatário e sua família estão inativas. Em resposta ao furo jornalístico, Lasso disse: “sempre cumpri a lei equatoriana que proíbe candidatos e funcionários públicos de manter empresas offshore, como indiquei em minhas declarações juramentadas”. Resta ver, agora, quais serão os impactos das novas revelações, que queimam ainda mais o filme de um líder aparentemente moderado, mas que tem um histórico financeiro pouco transparente, como o GIRO também contou neste podcast.
Luis Abinader, presidente da República Dominicana, foi o primeiro líder eleito no continente durante a pandemia, em julho de 2020. Em seu primeiro ano, teve uma gestão discreta, focada no combate à covid-19 – a maior polêmica, talvez, tenha sido a construção de um muro na fronteira com o Haiti. Mas o social-democrata também teve nome citado nos Pandora Papers. Segundo documentos revelados, o mandatário e dois de seus irmãos aparecem como donos de duas empresas criadas no Panamá em 2011 e 2014. E ainda de acordo com o braço jornalístico dominicano nas investigações, o perfil jurídico dessas companhias se valiam de um instrumento que ocultava seus beneficiários; Abinader só resolveu declarar como usufrutuário das ações em 2018, quando foi obrigado a fazer isso por força legal. Quando foi eleito, dois anos depois, o presidente declarou nove empresas offshore que controlava através de uma sociedade fiduciária, ainda que defenda que não tenha participação nela. Assim como seu homólogo chileno e a cantora colombiana Shakira (outra personalidade na mira do fisco e dos Pandora Papers), o dominicano recorreu aos serviços do escritório OMC Group, com sede no Panamá.
Além dos três presidentes citados, outros 12 ex-líderes são mencionados direta ou indiretamente no novo furo jornalístico. Na Argentina, são citados Durán Barba, guru político do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), a filha do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) e Daniel Muñoz, que foi secretário do também ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2010). Também entram na lista os colombianos César Gaviria (1990-1994) e Andrés Pastrana (1998-2002), o peruano Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), o paraguaio Horacio Cartes (2013-2018), os panamenhos Juan Carlos Varela (2014-2019) e Ricardo Martinelli (2009-2014) e o hondurenho Porfirio Lobo (2010-2014). No México, um dos países com mais nomes citados, destacam-se pessoas próximas a lideranças: além de figuras da alta cúpula do ex-presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018), um dos nomes que mais geram rebuliço por lá são o de Julio Scherer Ibarra, que até setembro trabalhava como assessor jurídico do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, e o de Arganis Díaz Leal, atual ministro de Comunicações e Transportes.
Há mais de 100 edições, o GIRO traz a América Latina para perto de você. Que tal nos acompanhar nas próximas 100? Participe de nossa campanha de financiamento coletivo!
Un sonido:
DESTAQUES
🇵🇪 Polêmico chefe de gabinete cai após 69 dias – Como quase tudo envolvendo o novo governo do Peru, o tempo do primeiro-ministro Guido Bellido à frente do cargo foi breve. Mais precisamente, 69 dias. Na quarta (6), o presidente Pedro Castillo forçou a renúncia do segundo nome mais poderoso do país, alegando ser uma decisão a favor da “governabilidade”. A opção do presidente por se livrar do político mais polêmico de sua já contestada gestão (veja o resumo turbulento do primeiro mês do governo no GIRO #96) veio dias após declarações de Bellido que soaram negativas na política e na economia: primeiro, o chefe dos ministros ameaçou o consórcio que opera o maior campo de gás do país, dizendo que o governo o nacionalizaria caso os royalties pagos ao Estado não fossem renegociados. Uma ferida aberta, já que o discurso da nova gestão é bastante favorável a rever os atuais termos de exploração. Após a declaração do agora ex-ministro, o mercado reagiu e o sol peruano atingiu seu máximo histórico frente ao dólar (4,14 para 1). Depois, Bellido também jogou lenha numa fogueira sempre acesa por lá: a questão Venezuela. Ele chegou a convidar o chanceler do próprio governo, Óscar Maúrtua, a renunciar, após o vice da pasta sugerir que o Peru não reconhecia as lideranças do governo Nicolás Maduro. Horas depois do fim da curta era Bellido, Pedro Castillo também substituiu seis de seus 19 ministros, sepultando nomes mais radicais para tentar acalmar adversários. Para o lugar de Bellido, chega Mirtha Vásquez, uma advogada feminista, ecologista e defensora dos direitos humanos, e que já assumiu indicando que reformar a Constituição (um tema que vem e volta desde a campanha eleitoral de Castillo) não é prioridade do governo. Em El País.
🌎 Crianças brasileiras entre haitianos deportados – A deportação de migrantes detidos na fronteira dos EUA de volta para o Haiti (leia no GIRO #100) teve um efeito colateral inesperado: entre as pessoas expulsas para Porto Príncipe, há pelo menos 85 crianças filhas de haitianos mas nascidas no Brasil, portanto cidadãs do país sul-americano e com direito de assistência (e repatriação) por parte do governo brasileiro. Quase 400 outras são nascidas no Chile. As famílias dos migrantes, porém, não sabiam que o governo brasileiro tem obrigação de ajudá-los ou desconheciam uma maneira de acionar esse apoio, que até agora não foi sinalizado pelo Itamaraty. Via DW.
🇨🇴 1ª eutanásia em paciente não terminal – Uma eutanásia histórica está marcada para este domingo (10) na Colômbia: Martha Sepúlveda, de 51 anos, será a primeira pessoa do país a se submeter ao procedimento sem possuir um quadro terminal. Ela sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa do sistema nervoso que leva a uma paralisia progressiva e sem cura. Autorizada no país desde 1997 para doentes terminais, a eutanásia foi ampliada em julho após o Supremo colombiano entender que ela poderia também ser oferecida a pacientes sem iminência de morte, mas com doenças incuráveis em decorrência das quais haja “um intenso sofrimento físico ou psíquico”. Na CNN.
🇻🇪 Maduro quer volta de investidores colombianos – Após seis anos de interrupção do comércio pela extensa fronteira terrestre entre a Venezuela e a Colômbia, nesta semana Nicolás Maduro acenou para os vizinhos: “convido os empresários colombianos a retomar seus investimentos, suas vendas e toda a atividade econômica comercial com a venezuela”, disse o líder chavista, que ainda citou outros latino-americanos que não suspenderam totalmente suas relações com Caracas – “aqui está o México, produzindo, trabalhando; aqui está o Brasil investindo”. O apelo de Maduro veio na sequência do anúncio oficial, pelo governo venezuelano, da abertura comercial da fronteira com a Colômbia, válida desde segunda-feira (4). Via AFP.
🇭🇳 Zelaya não aparece no Pandora Papers – A maioria dos líderes latinos listados no Pandora Papers é de linha conservadora. Até agora, o único político de alto escalão à esquerda que teve o nome diretamente ligado à nova investigação foi o ex-presidente Manuel Zelaya (2006-2009). Mas… era fake news. Após o nome do mandatário derrubado por um golpe em 2009 aparecer em sites de notícias, o fato foi desmentido por agências de checagens. Zelaya não é um alvo casual: está envolvido na corrida eleitoral deste ano, já que sua esposa, Xiomara Castro, aparece entre os três principais nomes do pleito presidencial que ocorre em 28/11. Na verdade, porém, o único ex-presidente hondurenho que aparece no novo escândalo é Porfirio Lobo (2010-2014), como conta a reportagem do Plaza Pública.
Un hilo:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
Os países da América Latina e do Caribe estão perto de recuperar as perdas econômicas por conta da pandemia, mas as sequelas são duras e os governos devem se concentrar nos problemas que já tinham antes da covid-19, disse o Banco Mundial em seu relatório semestral sobre a região, apresentado na quarta-feira (6). Na média, o PIB da região crescerá 6,3% em 2021, prognóstico melhor do que os 4,4% feitos pela entidade há sete meses, mas ainda inferior à queda do PIB regional de 6,7% no ano passado. “A América Latina tem problemas de infraestrutura, educação, política energética, capacidade empresarial e inovação que antecedem a pandemia e, se não os atacar, o crescimento não será suficiente para reduzir a pobreza”, disse a entidade. Em El País.
Após meses de discussões, o Brasil e a Argentina fecharam um acordo para reduzir a Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul em 10% sobre as taxas atuais, confirmou o Itamaraty (isso significa, por exemplo, que um produto que hoje é taxado em 12% passaria a ter impostos de 10,8%). A medida foi anunciada em declaração conjunta à imprensa dos chanceleres Carlos França, do Brasil, e Santiago Cafiero, da Argentina. O entendimento, agora, deverá ser repassado a Paraguai e Uruguai. A TEC funciona como um imposto de importação uniformizado entre os membros do Mercosul, cobrado para produtos de fora do bloco. Esse mecanismo evita que um produto entre por um país pagando imposto menor e seja enviado a outro país dentro do mesmo bloco econômico sem tarifa. Via Agência Brasil.
ARGENTINA 🇦🇷
17 anos depois, a juíza Elena Highton de Nolasco, única mulher a integrar a Corte Suprema do país, vai renunciar ao cargo. A magistrada comunicou sua decisão, válida a partir de novembro, sem tornar públicas as razões. Ainda que Nolasco, de 78 anos, já tenha ultrapassado o limite de idade para o cargo estabelecido na Constituição (de 75 anos), ela contava com um permissão especial para atuar e prometia seguir à frente do posto enquanto pudesse. No entanto, o burburinho aponta para um recuo relacionado à recente crise envolvendo a corte (saiba mais no GIRO #100): no final de setembro, a juíza se ausentou da votação que levou à eleição de Horacio Rosatti como novo presidente do Tribunal. Se Nolasco passou boa parte de seu tempo no cargo durante governos kirchneristas, Rossatti é um dos magistrados indicados pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) em seu segundo ano de mandato. Em El País.
A Argentina anunciou na terça (5) novas restrições à compra de dólares, seja por transações de venda de títulos ou ações do governo. Segundo estabeleceram órgãos reguladores, agora há um limite de US$ 50 mil por semana para a venda de títulos negociáveis, além de um freio na frequência dessas transações: apenas uma a cada 30 dias. Segundo as entidades financeiras, a resolução busca “conter o impacto de oscilações dos fluxos financeiros sobre a economia real”, reduzindo volatilidades. Em El País.
Um dos processos que corriam na Justiça contra a vice-presidenta Cristina Kirchner foi encerrado nesta quinta-feira (7), concluindo que as alegações contra ela e outros membros do governo “não constituem crime”. A investigação buscava determinar o suposto acobertamento, por Kirchner, do possível papel do Irã no atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994, que deixou 85 mortos. O caso contra Cristina Kirchner se tornou famoso à época em que ela era presidenta (2007-2015) porque o procurador responsável, Alberto Nisman, apareceu morto poucos dias antes de depor no Congresso sobre as acusações contra a então mandatária. Cristina era acusada de tentar esconder o envolvimento dos iranianos em troca de benefícios comerciais, alegações sobre as quais a Justiça agora diz não haver evidências concretas. Via Reuters.
BOLÍVIA 🇧🇴
Na segunda-feira (4), um grupo de manifestantes ocupou a sede da Associação de Produtores de Folha de Coca de La Paz (Adepcoca), em protesto às recentes mudanças no comando da entidade. O objetivo era reconduzir ao cargo o dirigente Armin Lluta (representante dos cocaleros da região de Yungas), substituído por Arnold Alanes (próximo ao governo do presidente Luis Arce) em 21/9, após uma eleição marcada pelo desaparecimento de Lluta, encontrado 24 horas depois com o rosto ensanguentado. Em razão dos protestos que ganharam força nas duas últimas semanas, a assembleia da entidade definiu a convocação de uma nova eleição sem os candidatos anteriores. O mercado da Adepcoca é responsável por 90% do comércio legal da planta no país. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
O país anunciou novas facilidades para vacinados que desejem ingressar em território chileno: a partir de 1º/11, todos os viajantes (residentes ou turistas, nacionais ou estrangeiros) que já tenham completado o esquema vacinal contra a covid-19 poderão evitar a quarentena obrigatória de cinco dias desde que apresentem um teste PCR negativo na chegada. Via EFE.
O laboratório sino-canadense CanSino deve enviar na próxima semana a documentação necessária para o Instituto de Saúde Pública (ISP) chileno, buscando iniciar no país os ensaios clínicos de um reforço inalável em crianças e adolescentes à sua vacina de dose única Convidecia, que já está em uso no Chile. No final de julho, a CanSino havia publicado na revista médica The Lancet os primeiros resultados do reforço vacinal em spray, mas em adultos. De acordo com os dados, a vacina em aerossol foi tolerada pelos voluntários e gerou boa resposta de anticorpos neutralizantes. Em La Tercera.
Una expresión:
Paraíso fiscal – usado para se referir a países onde o regime tributário é vantajoso para quem não reside ali mas decide adotar um endereço fiscal no lugar, o termo (que existe em português e espanhol) é consequência de um erro de tradução. A expressão original, em inglês, é tax haven, literalmente “refúgio fiscal”, mas na primeira conversão para uma língua latina alguém teria confundido com Heaven, ou paraíso. Supostamente, o termo equivocado que se popularizou por aqui veio do francês, quando o tax haven virou paradis fiscal e, como o sentido acabava funcionando de todos os modos, ficou por isso mesmo. O fato de muitos “paraísos fiscais” acabarem em lugares geralmente considerados paradisíacos, como ilhas do Caribe, só ajudou a perpetuar a tradução tão errada e tão correta.
COLÔMBIA 🇨🇴
“Múltiplas ameaças de mortes” e falta de proteção das autoridades. Foram os motivos que levaram o senador da oposição Gustavo Bolívar a deixar o país. Segundo Bolívar, ele não recebeu a proteção quando se deslocou para Barranquilla para um comício de apoio ao socialista e candidato à presidência em 2022, Gustavo Petro. “Voltarei ao país quando as condições de segurança melhorarem. Também solicitei medidas cautelares à CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos)”. Na Semana.
COSTA RICA 🇨🇷
O FMI, Fundo Monetário Internacional, concluiu nesta semana sua visita virtual à Costa Rica para monitorar o cumprimento do que foi acordado entre o governo e o órgão para acessar linhas de crédito. As conversas ainda seguem nos próximos dias, mas o Fundo já antecipou que “todas as metas” foram cumpridas “folgadamente”, o que indica que novos empréstimos previstos para os próximos anos não deverão encontrar muitos empecilhos. O FMI elogiou a postura “proativa” da Costa Rica diante da pandemia e projeta um crescimento do PIB real do país na ordem de 4,7% em 2021. O acordo com o FMI, sempre acompanhado de medidas de austeridade, foi alvo de protestos em 2020. No Delfino.
CUBA 🇨🇺
Nada menos que 12 dos 24 jogadores da seleção cubana que disputava o Campeonato Mundial sub-23 de beisebol desertaram, durante o torneio realizado no México. Fato comum entre esportistas da ilha (que, muitas vezes, unem a fuga da crise a oportunidades de assinar contratos milionários no exterior), essa foi a maior já vista nas últimas décadas, o que obviamente gerou alarde político: enquanto Havana insiste que a decisão dos atletas é um misto de traição e acosso por parte dos EUA, Washington, por sua vez, aproveita as deserções para criticar os socialistas adversários. Em El País.
O governo anunciou que vai realizar “exercícios militares” em novembro, pedindo ainda que os civis se preparem para um “dia nacional de defesa” em 20/11, mesma data em que grupos dissidentes estão convocando uma nova rodada de manifestações massivas, buscando emular as cenas de julho (leia no GIRO #90), quando o país foi tomado por alguns dos maiores protestos desde a Revolução. Durante a semana, exilados em Miami prometeram criar uma “frente ampla social” rumo a uma greve nacional em Cuba, durante uma cerimônia realizada na sede dos ex-combatentes da Baía dos Porcos, a operação fracassada de reação a Fidel Castro conduzida por expatriados com apoio dos EUA em abril de 1961. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
O presidente Nayib Bukele anunciou no início da semana que o sistema de saúde salvadorenho vai aplicar uma terceira dose da vacina contra a covid-19 para a população acima dos 18 anos. De acordo com o governo, o intervalo entre a segunda e a terceira inoculação será de, pelo menos, quatro meses. O país centro-americano (que já tem 55% de sua população totalmente vacinada) passa a integrar uma lista ainda restrita, pois poucos países do mundo já avançam com a dose de reforço. Via EFE.
EQUADOR 🇪🇨
Um chamado para prisões mais “humanas”. Assim falou o papa Francisco após o maior massacre prisional da história do Equador, que deixou 118 pessoas mortas e dezenas de feridos na semana passada. Dizendo-se “muito triste” com os acontecimentos, o pontífice lamentou o que chamou de “terrível explosão de violência entre presidiários pertencentes a gangues rivais”. Por ser argentino, Francisco costuma dar um pouco mais de atenção a temas do subcontinente: “que Deus ajude a curar as feridas do crime que escraviza os mais pobres”, disse. Via AP.
GUATEMALA 🇬🇹
Duas brigadas de vacinação móvel foram “sequestradas” em Maguilá, um vilarejo do norte do país, após a população local se recusar a receber o imunizante contra a covid-19. Os profissionais de saúde que fariam a aplicação foram retidos por sete horas, agredidos física e verbalmente, e só foram liberados com intermediação da polícia, após os moradores destruírem frascos equivalentes a pelo menos 50 doses. Autoridades de saúde guatemaltecas culparam a desinformação antivacinas que circula nas redes sociais pela hostilidade, enquanto a imprensa da região disse que a resistência teria vindo após um morador sofrer com efeitos colaterais da injeção. O ceticismo só complica ainda mais um cenário precário: apenas 15% da população guatemalteca completou o esquema vacinal até aqui, uma das piores taxas da América Latina. Na BBC.
HAITI 🇭🇹
Martine Moïse, viúva do presidente Jovenel Moïse, assassinado em julho em um atentado que também deixou a então primeira-dama ferida, depôs nesta semana como testemunha em meio às investigações que tentam desbaratar a trama que levou ao magnicídio. “Respondi 80 questões, dei a ele [o juiz responsável] toda informação que eu tinha”, declarou Martine à imprensa. Ela também fez um apelo para que qualquer pessoa que saiba detalhes sobre o atentado se apresente às autoridades. Avançando a passos lentos, a investigação já apontou até mesmo para um possível envolvimento do atual primeiro-ministro Ariel Henry (que detém o poder de fato no país hoje) com o maior suspeito de tramar o crime, mas investigadores e juízes que tentaram acossar o centro do poder acabaram sendo removidos de seus postos ou renunciando. Via AP.
Un clic:
Exploradores argentinos preparam o mate na Antártica.
HONDURAS 🇭🇳
Um incêndio de grandes proporções devastou a comunidade da ilha de Guanaja, conhecido destino turístico por suas praias paradisíacas, no último sábado (2): embora sem causar mortes, o fogo destruiu ou danificou ao menos 136 casas, o equivalente a 40% da ilha de pouco mais de 3 mil habitantes. O governo prometeu auxiliar os moradores na reconstrução, mas especialistas já afirmam que, dada a dimensão do estrago, os trabalhos devem levar no mínimo um ano. Muitos habitantes desabrigados decidiram deixar Guanaja nos últimos dias para viver com parentes ou amigos no continente. De acordo com os bombeiros, o incêndio teria começado acidentalmente de madrugada, causado por uma vela em uma residência. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
A pandemia ainda não acabou, mas o turismo voltou com tudo. Em setembro, o México ultrapassou um marco no setor, vendo o aeroporto de Cancún, principal destino paradisíaco do país, ultrapassar os níveis de passageiros que tinha antes da crise sanitária começar. Segundo operadores do aeroporto, houve um aumento de 4,4% do fluxo de passageiros em comparação ao mesmo período em 2019. Dando conta de vacinar 37% de sua população com as duas doses até agora, o país já permite que pessoas vacinadas (mexicanos ou não) acessem pontos turísticos, tudo mediante comprovação. Via AP.
O presidente López Obrador disse que a eventual não aprovação da nacionalização das reservas de lítio pelo Congresso será um “ato de traição à pátria”, e garantiu que, mesmo na hipótese de o projeto ser derrubado pelos legisladores, seu governo não fará novas concessões para a exploração privada do recurso. “Vamos negar qualquer solicitação”, afirmou AMLO, de olho em garantir que o Estado mantenha a soberania sobre uma matéria-prima que vem se tornando cada vez estratégica, já que é utilizada, entre outras aplicações, na bateria de veículos elétricos – um mercado em franca expansão e que vem recolocando no centro dos interesses internacionais países com reservas abundantes de lítio, como o próprio México e a Bolívia (saiba mais neste vídeo). Na Forbes.
NICARÁGUA 🇳🇮
Sem conseguir conter uma alta de contágios por covid-19 (mesmo sendo um dos países que mais omite dados oficialmente), a Nicarágua aprovou o uso emergencial das vacinas de produção cubanas, Abdala e Soberana 02, e promete adquirir 7 milhões de doses. Até aqui, o país deu conta de vacinar muito pouco, mesmo para os padrões latino-americanos: só 5% da população completou o esquema vacinal, com doações da Astrazeneca e doses compradas da Sputnik V. Na DW.
Em um cenário de perseguição a todos os líderes que obtenham algum destaque contrariando o presidente Daniel Ortega, um grupo de opositores no exílio e na clandestinidade pediu que a comunidade internacional não reconheça os resultados das eleições presidenciais, que agora estão a um mês de distância, marcadas para 7/11. No poder desde 2007 e pronto para conquistar mais um mandato, nos últimos meses Ortega viu a Justiça alinhada ao governo encarcerar sete pré-candidatos e forçar outros dois ao exílio, além de jogar na ilegalidade três partidos contrários ao líder sandinista (saiba mais neste vídeo). Via AFP.
PANAMÁ 🇵🇦
Tristemente famosa como o trecho com mais obstáculos naturais no longo caminho da migração rumo ao norte das Américas, a passagem de Darién é também um cemitério de pessoas que jamais serão identificadas. Diante de corpos que não resistiram à travessia e são deixados para trás sem documentos ou parentes que os reconheçam, as autoridades panamenhas vêm enterrando os migrantes mortos em valas comuns na região. No que vai de 2021, o Panamá já recuperou cerca de 50 corpos em Darién, e estima que até 90 mil pessoas – na maioria, haitianos – tenham cruzado a passagem, vindas da Colômbia. Via AP.
PARAGUAI 🇵🇾
Pela terceira semana consecutiva, o Rio Paraguai registrou seu menor nível da história no porto de Assunção, atingindo o recorde de -0,75 m na quarta-feira (6). Nos dias seguintes, a sequência de baixas deu uma trégua, com o nível subindo 4 centímetros até sexta, ainda assim muito abaixo do ideal para a navegação. A seca histórica, que atinge o rio pelo segundo ano consecutivo, envolve toda a região, e ainda afeta outro leito importantíssimo não apenas para o Paraguai, mas também Argentina e Brasil: o Rio Paraná, que está cerca de 3 metros abaixo de sua altura média para esta época. Os diferentes transtornos causados pela crise hídrica, nesta matéria da BBC.
PERU 🇵🇪
A nação andina, assim como El Salvador, também dá novos passos no uso da terceira dose da vacina em sua campanha contra a covid-19. No caso peruano, no entanto, a novidade vale para profissionais de saúde, maiores de 65 anos e imunossuprimidos. Segundo o ministro da Saúde, Hernando Cevallos, a etapa se inicia no dia 15. “Não vamos permitir que morra mais um único médico por falta de vacinas”, disse. Até o momento, 36% da população do país já tomou as duas doses da vacina contra a covid-19. O Peru é a nação com mais mortes proporcionais na pandemia em todo o mundo: oficilmente, um a cada 168 peruanos faleceu em decorrência do coronavírus (no Brasil, por exemplo, essa taxa está em um a cada 357). No Gestión.
Dale un vistazo:
📺 Tempero de Família, programa de culinária tocado por Rodrigo Hilbert, está numa temporada bastante latina: em Soy Loco Por Ti América, são várias as receitas típicas do continente – e de uma forma bem possível de fazer e sem tantos segredos. A cada programa da série, que passa no GNT, um ou mais pratos da vizinhança aparecem para mostrar que não há cardápio mais rico que os nossos.
PORTO RICO 🇵🇷
Estado livre associado aos EUA (entenda melhor esse status neste episódio de nosso podcast), Porto Rico tem uma relação umbilical com o gigante ao norte – e ela também diz respeito à forma como os moradores da ilha se alimentam. Mais de 80% do que se come ali é importado, e críticos do modelo apontam que “os Estados Unidos não querem motivar o crescimento da produção” para não perder um mercado importante, o que leva empresas locais à falência e um monopólio prático dos produtores estadunidenses, que podem impor os preços que lhes convenham. Uma longa análise dessa situação de dependência, no New York Times.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Uma onda de apagões vem tomando conta do país nos últimos dias, gerando preocupações e dúvidas sobre o estado do sistema elétrico local. Segundo Antonio Almonte, ministro de Energia e Minas dominicano, a reativação econômica causada pelo arrefecimento da pandemia pesou sobre o fornecimento, levando às falhas. Escorada na energia termelétrica, a República Dominicana precisa importar carvão para garantir a distribuição, e promete que o combustível não vai mais faltar até o final deste ano. Ainda assim, Almonte reconhece que a dependência de um único produto vindo do exterior potencializa os riscos: “queremos garantir várias fontes de abastecimento”, afirmou. No Hoy.
URUGUAI 🇺🇾
Na tentativa de apaziguar os ânimos aflorados por conta das desavenças ao redor do Mercosul (saiba mais no abre do GIRO #98), o ministro de Relações Exteriores do Uruguai, Francisco Bustillo, foi a Buenos Aires para se encontrar com seu par argentino, Santiago Cafiero. O encontro de duas horas teve na pauta a diminuição dos atritos entre os membros do bloco sul-americano, em especial entre os vizinhos platinos, que vinham discordando muito em relação a flexibilizar ou não as atividades do grupo econômico. Segundo representantes dos dois governos, a conversa foi “frutífera”. A rodada de conversas individuais também terá ambos os chanceleres austrais em contato com o Brasil. No MercoPress.
VENEZUELA 🇻🇪
Um grupo de 24 jogadoras de futebol das diferentes categorias das seleções venezuelanas divulgou um carta aberta acusando o ex-treinador das equipes femininas do país, o panamenho Kenneth Zseremeta, de assédio e abuso físico, psicológico e sexual. De acordo com o texto, uma das jogadoras teria sido abusada por Zseremeta desde que tinha 14 anos. Jogadoras LGBTQIA+ dizem ter sofrido constante acosso sobre sua sexualidade, enquanto heterossexuais teriam sido alvo de convites, mensagens e presentes inapropriados. O treinador, que deixou a Venezuela em 2018, publicou uma extensa carta em resposta se defendendo das acusações. A procuradoria venezuelana solicitou a prisão preventiva de Zseremeta, embora o pedido tenha pouco efeito com ele fora do país. Via AP.