Boicote a petróleo russo reaproxima EUA e Venezuela
Chile: Boric assume a Presidência | Equador: movimento indígena acumula vitórias | Guatemala: retrocessos em direitos reprodutivos e civis | Haiti: colombianos presos denunciam torturas
Apesar do isolamento diplomático e das duras sanções econômicas impostas à Venezuela nos últimos anos, os Estados Unidos agora veem o adversário sul-americano – detentor das maiores reservas de petróleo do mundo – como uma alternativa de mercado em meio ao boicote estadunidense às negociações de óleo e gás dos russos, medida anunciada na terça-feira (8).
Os últimos dias contaram com inesperados sinais de reaproximação. Totalmente rompidos desde 2019, os dois países fizeram acenos mútuos à possibilidade de estreitar laços em benefício comercial: o presidente Nicolás Maduro confirmou que recebeu, no Palácio de Miraflores, em Caracas, uma delegação de altos funcionários dos EUA, com quem tratou da flexibilização das sanções petrolíferas e das possibilidades de retomar o negócio energético. Segundo o mandatário, que prometeu novos encontros até que se chegue a um acordo, a conversa foi “respeitosa, cordial e muito diplomática” – tom bastante diferente do que vinha sendo adotado até então.
Essa foi a primeira conversa em nível de alto escalão político entre os dois países, o que por si só já mostra um avanço. No mesmo dia, especulou-se que um dos presentes no encontro seria Juan Gonzalez, principal assessor da Casa Branca para a América Latina. Além dele, teriam feito parte da reunião enviados especiais para “assuntos de reféns” – já que, segundo a própria secretaria de imprensa do governo em Washington, além do tema de “segurança energética”, o encontro tinha como objetivo discutir a situação de nove cidadãos estadunidenses presos em território venezuelano. Ainda não há datas para as próximas negociações.
O clima amistoso em nome da oportunidade de fechar negócio teve rápida resposta da parte venezuelana. Três dias depois da roda de conversas, o governo Maduro soltou dois presos para que retornassem aos EUA: o primeiro é Gustavo Cárdenas, executivo da Citgo, subsidiária norte-americana da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), detido por corrupção desde 2017. O outro é Jorge Alberto Fernández, turista preso em 2021 e acusado de “terrorismo” por carregar um drone. Nos últimos anos, o governo chavista acusa atores internacionais de uma tentativa de assassinar o presidente, como parte de um complô para reconfigurar o poder em Caracas. E os tais drones, supostamente a arma da vez, entraram na mira das autoridades.
Ainda não é certo que vá nascer um relacionamento novo em folha desse flerte inusitado entre Maduro e o governo Joe Biden. Para além das naturais dificuldades de se reconstruir uma relação diplomática minada – sobretudo nos anos de Donald Trump, que intensificou deliberadamente o sufocamento contra os “inimigos” Venezuela e Cuba e ofereceu US$ 15 milhões pela captura de Maduro –, também pesa o contrassenso venezuelano de abrir diálogo com os EUA enquanto mantém aliança com a Rússia. Dias antes do encontro para tratar do petróleo, o próprio presidente sul-americano, que há anos conta com o respaldo militar de Vladimir Putin, prometeu “apoio total” à causa russa no contexto da guerra. Talvez para demonstrar que a manobra da Venezuela não implica necessariamente em um rompimento de relações com Moscou, a vice-presidenta venezuelana Delcy Rodríguez se encontrou na quinta (10) com o chanceler russo Sergei Lavrov. O pragmatismo ficou evidente: ainda que exaltando os laços com o “bom amigo” Lavrov, Rodríguez disse que os dois conversaram sobre o “assunto internacional complexo” – classificação bem diferente da que foi dada pelo chavismo semanas atrás.
Após as incertezas causadas pelo encontro dos emissários de Washington com Maduro, os EUA se apressaram em recordar que seguem reconhecendo o autoproclamado Juan Guaidó como o presidente legítimo em Caracas, reforçando que se encontraram também com ele durante a mais recente visita. Na prática, porém, o diálogo em Miraflores só aprofunda a impressão que vem dos últimos anos: apesar de ainda ser visto como um interlocutor formal pelas potências ocidentais, Guaidó tornou-se um projeto fracassado e nunca dispôs de qualquer poder prático para ditar os rumos dentro da Venezuela ou de suas relações internacionais.
Para a Venezuela, a chance de vender sua abundante commodity a um dos maiores mercados consumidores do planeta pode significar uma dupla solução em uma só: retomar o volume de vendas para os EUA representaria, ao mesmo tempo, ver um alívio geral por conta de sanções afrouxadas e, por tabela, usar esse ganho econômico para retomar maiores patamares de extração. Com a crise dos últimos anos que se somou à pandemia, há um evidente “pré e pós sanções” no que diz respeito ao volume de petróleo extraído: hoje, o país produz cerca de 800 mil barris de petróleo por dia; em anos áureos antes da atual crise, o número chegou a passar de 3 milhões.
A benesse também pode vir em uma hora politicamente estratégica para Maduro, já que seu governo saiu do foco por conta dos problemas gerais da pandemia – antes, o acirramento da crise venezuelana levou inclusive à criação do inócuo Grupo de Lima e especulações de golpe ou ingerência estrangeira no país. O próprio presidente admitiu nos últimos dias sua intenção de voltar a se sentar para negociar com a oposição, fato que vem na esteira de um 2021 bem menos atribulado em termos políticos: nas votações regionais do último ano, os adversários do chavismo encerram o boicote às eleições e mesmo os observadores internacionais admitiram “avanços” nos processos mais recentes.
Depois de muitos anos e mesmo depois de parecer impossível, a bola está com a Venezuela. Para um país isolado, que viu a inflação bater 686,4% em 2021, segundo dados do próprio Banco Central, e que teve a cabeça de seu presidente posta a prêmio pelos mesmos EUA há dois anos, uma chance como essa pode significar bem mais do que só a venda de petróleo: pode ser a oportunidade para o chavismo para tirar o pé da crise, voltar à diplomacia e se consolidar ainda mais no poder – dessa vez, com a “bênção” dos EUA, que pode afastar o repúdio do resto do mundo.
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DESTAQUES
🇨🇱 Chile empossa novo presidente – Gabriel Boric é, desde às 12h23 desta sexta-feira (11), o novo presidente do Chile. Aos 36 anos, é o mais jovem a ostentar esse título na história do país e representa a chegada ao poder da “nova esquerda” que ascendeu nos protestos estudantis dos anos 2010 e passou a ganhar maior destaque com o estallido social de 2019. Em uma cerimônia que contou com a presença de figuras tão variadas como o rei espanhol Felipe VI ou a ex-presidenta brasileira Dilma Rousseff (2011-2016), Boric dá início a um mandato que já tem a garantia de um encontro com a história, com a convocação nos próximos meses de um plebiscito pela adoção (ou não) da nova Constituição chilena, que ainda está sendo escrita. Com um gabinete majoritariamente feminino, dado raro na América Latina, Boric também anunciou a primeira mulher a ocupar uma função de edecán (cargo de “ajudante-de-ordens”, que funciona como conexão imediata do presidente com as três Forças Armadas e a polícia militar): a tenente-coronel Cecilia Navarro, que fará a intermediação entre La Moneda e os Carabineros. Antes mesmo da posse, o governo entrante também anunciou a retirada imediata de 139 petições judiciais contra presos do estallido social. Eles poderiam ser processados com base na Lei de Segurança do Estado, cujo uso a nova administração entende como uma “perseguição injusta e desproporcional”. Em La Tercera.
🇪🇨 Movimento indígena conquista vitórias e anistias – O Congresso aprovou, na quinta (10), a anistia de 268 ativistas ambientais, em sua maioria indígenas, que eram alvos de processos judiciais por sua participação em movimentos em defesa da natureza – entre os beneficiados, está Leónidas Iza, presidente da poderosa Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie). A anistia em massa se soma a uma série de conquistas recentes para os povos originários: em janeiro, a Justiça atendeu a uma demanda da Conaie e considerou inconstitucional a atual lei de recursos hídricos, que agora deverá ser reescrita para contemplar as demandas das comunidades indígenas; no início de fevereiro, o Tribunal Constitucional também reconheceu o direito dos indígenas a opinarem – através de uma consulta prévia – sobre o avanço de projetos extrativistas e de exploração de petróleo em suas terras na Amazônia. Via EFE.
🇬🇹 Guatemala aprova retrocessos em direitos reprodutivos e civis – Notícias que mostram que há muito a avançar: em pleno Dia Internacional da Mulher, o Congresso do país aprovou uma lei que aumenta as penas de prisão em casos de aborto – de três para 10 anos–, proíbe o casamento igualitário e barra o avanço da educação sobre diversidade sexual. Chamada de “Lei para a Proteção da Vida e da Família”, a medida também atualiza o Código Civil, determinando ser “expressamente proibido” a realização de matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Tanto o legislativo do país quanto o presidente Alejandro Giammattei são abertamente conservadores e pretentendem, por meio da nova legislação, declarar a Guatemala como Capital Ibero-Americana “pró-vida” – como é genericamente rotulado o movimento contra a interrupção da gravidez (mesmo quando a vida da mãe está em risco). As decisões foram criticadas pela oposição à esquerda e por organizações de direitos humanos. Via AFP.
🇭🇹 Colombianos presos denunciam torturas – Supostos mercenários colombianos foram um dos elementos centrais no assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, em julho de 2021. Agora, eles voltam ao noticiário com um apelo por ajuda internacional: os 18 ex-militares sul-americanos que estariam envolvidos no magnicídio, mas alegam inocência, vêm denunciando maus tratos e torturas sofridos na cadeia haitiana. Na Colômbia, familiares enviaram uma carta ao presidente Iván Duque e a outras autoridades com um alerta sobre desnutrição e problemas de saúde em geral dos detidos no Haiti. Além de violência física – um deles diz ter os dentes quebrados, inflamação no rosto e problemas respiratórios decorrentes dos abusos – os prisioneiros afirmam que só recebem um prato de arroz por dia como alimento. Em El Tiempo.
🇲🇽 Anunciadas punições por carnificina em estádio – As cenas chocaram o mundo no último sábado (5): uma verdadeira guerra instalada nas arquibancadas do estádio La Corregidora, em Querétaro, que se estendeu para o próprio campo de futebol, entre torcedores da equipe local e do Atlas. Informações iniciais da imprensa que estava presente, jamais confirmadas, chegaram a citar mortos e jogaram o número para mais de 20 vítimas. As autoridades locais, porém, afirmam que ninguém morreu e se limitaram a citar feridos – embora não seja incomum que polícia e governos mexicanos minimizem a dimensão de tragédias do tipo, escondendo os números reais. Os vídeos do episódio exibiam uma flagrante ausência das forças de segurança enquanto a brutalidade tomava conta do estádio. Com mortes ou sem, e enquanto se aguarda uma consequência fora de campo, as punições esportivas já foram anunciadas: o Querétaro está impedido de jogar com público por um ano, as torcidas organizadas estão suspensas por três anos, a diretoria do clube está banida de trabalhar no esporte por outros cinco e o time será administrado por um interventor, que deverá colocar a instituição à venda. No jogo em si, o Querétaro foi decretado perdedor por 3 a 0, além de receber uma multa. Foram emitidos 26 mandados de prisão contra suspeitos pela briga. No GE.
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MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
O governo Joe Biden, nos EUA, está considerando encerrar uma política iniciada pela pandemia e que abriu margem a deportações draconianas nos últimos dois anos, revelou a agência Reuters. Conhecida como “Title 42”, a medida inaugurada ainda no governo Trump, em março de 2020, se valia das restrições sanitárias relacionadas à covid-19 para impedir qualquer pedido de asilo, e esteve por trás de episódios brutais contra migrantes como a deportação massiva de haitianos que aguardavam na fronteira, em setembro (leia no GIRO #100). Mais de 1,6 milhão de migrantes foram removidos utilizando o Title 42, cuja manutenção agora é considerada desnecessária por muitos especialistas em saúde. A derrubada da medida recolocaria em cena o antigo sistema de solicitação de asilos nos EUA.
Duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) pousaram no Brasil na manhã de quinta (10) trazendo um grupo de repatriados brasileiros e de cidadãos de países vizinhos. Além das 42 pessoas do Brasil, o voo vindo da Polônia trazia a bordo cinco argentinos e um colombiano, além de 14 crianças e animais de estimação. Após escalas em Portugal, Cabo Verde e Recife, a operação desceu em Brasília, onde os repatriados foram recebidos por membros do governo brasileiro. Via Agência Brasil.
ARGENTINA 🇦🇷
A Câmara de Deputados aprovou, na sexta (11), o controverso acordo para refinanciar a dívida de US$ 45 bilhões do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), acalmando os mercados. Apesar de protestos nas ruas e de discordâncias internas na própria base governista, a votação foi esmagadora: 202 votos a 37, além de 13 abstenções. O acordo gira em torno de dívidas contraídas durante o governo Mauricio Macri (2015-2019) e permitiria que a Argentina só começasse a pagar o Fundo em 2026, com prazo final em 2034 – antes, o grosso dos pagamentos deveria acontecer entre 2022 e 2023, situação considerada inviável pelo atual governo, que temia dar default. O Senado ainda precisa aprovar os termos para o acordo passar a valer e as discussões devem ter lugar na próxima semana. No Clarín.
Um trem com 500 pessoas a bordo descarrilou em Olavarría, no meio do trajeto entre a capital Buenos Aires e a cidade de Bahía Blanca, 650 km ao sul. Pelo menos 21 pessoas ficaram feridas depois que os cinco primeiros vagões saíram dos trilhos. Pelo Twitter, a estatal Trenes Argentinos disse que o acidente ocorreu “por razões desconhecidas que estão sendo investigadas”. O acidente provocou a interrupção dos serviços no trajeto até, pelo menos, o próximo dia 17. Via Reuters.
BOLÍVIA 🇧🇴
Sob a justificativa de controlar a migração indocumentada na região e o trânsito de grupos criminosos, o governo do Chile anunciou que vai ampliar um fosso, construído há cinco anos, na fronteira com a Bolívia. Há cerca de dois anos, a província de Colchane se transformou na porta de entrada de milhares de migrantes – majoritariamente venezuelanos – que atravessam a fronteira a pé e por passagens clandestinas, vindos do lado boliviano. Pelo menos 23 migrantes morreram no último ano tentando entrar no país. Grande parte dos que conseguem chegar às cidades chilenas se instalam em barracas, nas praças ou caminham sem rumo pedindo ajuda. Via EFE.
Conhecido por ter assassinado o guerrilheiro Ernesto Che Guevara, o sargento boliviano Mario Terán Salazar, de 80 anos, faleceu na última quinta-feira (10). Foi quando tinha apenas 25 de idade, em 1967, que o militar foi escolhido para uma operação que o marcaria para sempre: a que ceifaria a vida de Che, um dos líderes da Revolução Cubana e ícone dos movimentos que pregavam a luta armada em toda a América Latina. Em uma rajada curta de oito tiros, Terán matou uma das figuras revolucionárias mais importantes do século 20. A partir daí, sabe-se que pelo menos três balas ultrapassaram os pulmões de Guevara. O militar preferiu o anonimato, sempre evitando a imprensa. Chegou, inclusive, a afirmar que o assassino não havia sido ele, mas outro militar com mesmo nome e sobrenome. O oficial morava em Santa Cruz de La Sierra e estava internado na Corporação da Previdência Social Militar (Cossmil), onde tratava de doenças relacionadas à velhice. Em La Razón.
Un nombre:
Eulalia Guzmán – professora e arqueóloga mexicana que viveu entre 1890 e 1985, Guzmán se destacou no início do século passado pelo empenho na alfabetização de mulheres de seu país, especialmente as de classes mais baixas. Hoje, seu nome batiza uma das principais artérias rodoviárias da Cidade do México, e também resume uma desigualdade visível nas homenagens públicas às mulheres: a via Eulalia Guzmán é uma das principais do país a receber um nome feminino, e mesmo ela é mais reconhecida pela sua denominação secundária, “Eje 2 Norte”. Em 2021, um levantamento mostrou que 92% das ruas da capital mexicana com nome de pessoas – reais ou mitológicas – homenageavam homens.
CHILE 🇨🇱
Os primeiros casamentos igualitários da história do país foram celebrados nesta quinta-feira (10), com o matrimônio de um casal de homens e outro de mulheres ao longo do dia. Na cerimônia que oficializou o casamento de Jaime Nazar e Javier Silva, compareceram membros do governo de Sebastián Piñera, no dia final do mandato – o próprio (agora ex-)presidente depois recebeu os recém-casados em La Moneda. Apesar de conservador, Piñera apoiou a mudança na lei em seu último ano de governo, e a legislação que reconhece os matrimônios homoafetivos entrou em vigor justamente na véspera da passagem de faixa. De acordo com uma pesquisa do Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh) feita em novembro, cerca de 83% das pessoas consultadas cogitam se unir em matrimônio, e outras 92% devem anular suas uniões estáveis – o máximo permitido até agora – para se casar. Via AFP.
COLÔMBIA 🇨🇴
Mais de 38 milhões de colombianos estão habilitados para ir às urnas no domingo (13), iniciando um ciclo eleitoral em 2022 que terminará com a escolha de um novo presidente. Por enquanto, a votação deste final de semana começa pela renovação do Congresso, com a escolha de 108 senadores e 188 deputados, sendo 161 ligados aos 32 departamentos e à capital. As outras cadeiras são referentes a grupos minorizados, como afro-colombianos, indígenas, representantes de porções insulares, vítimas das guerra civil e membros dos Comunes – partido político surgido da pacificação das FARC, em 2016. Pela primeira vez, as vítimas do conflito armado vão poder eleger representantes próprios na Câmara, com reserva de 16 vagas. Além de reformular o legislativo, eleitores têm outra missão: definir quais nomes dentro de três coalizões vão para a disputa presidencial. Principal favorito para ser o representante da coligação Pacto Histórico nas eleições de 29/5, o líder de esquerda Gustavo Petro também seria eleito presidente em todos os cenários possíveis se os números atuais forem mantidos até maio. Para analistas, a frente progressista poderia reconfigurar o “equilíbrio de forças” em um país historicamente conservador. Na CNN.
COSTA RICA 🇨🇷
Semana de aprovações importantes: depois que o presidente Carlos Alvarado sancionou uma lei para reformar o regime de pagamento de servidores públicos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu sinal verde para um crédito de US$ 300 milhões. A medida, abraçada por San José diante das sequelas econômicas causadas por dois anos de pandemia, foi desenhada durante uma missão do Fundo que teve início em 22/2. A entidade financeira, que costuma estabelecer custosas contrapartidas de austeridade aos tomadores de empréstimo, disse que o país centro-americano “cumpre as metas” para levar a negociação adiante. Na Bloomberg.
CUBA 🇨🇺
Uma nova exigência panamenha, que passou a cobrar vistos de passagem para viajantes cubanos com pouco tempo de aviso prévio, pegou muitos cidadãos da ilha desprevenidos e provocou protestos. Na quarta (9), cerca de 400 pessoas se reuniram em frente à embaixada do Panamá em Havana, cobrando explicações a respeito da nova medida – muitos seguravam seus passaportes e exibiam bilhetes aéreos comprados antes do anúncio da exigência, e agora corriam o risco de ter a viagem impedida por não contar com o visto. A nova obrigatoriedade foi implementada pelo Panamá como um mecanismo extra para conter o fluxo migratório irregular, já que muitos cubanos iam até o país antes de iniciar uma jornada por terra rumo aos EUA. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
Com a taxa de feminicídio entre as mais altas do mundo e uma das mais duras leis de proibição ao aborto, a capital de El Salvador foi cenário de uma expansiva marcha do Dia Internacional da Mulher, na terça (8). Milhares foram às ruas protestar contra as medidas do país, que coloca as salvadorenhas numa condição de risco e vulnerabilidade. Em função da restrição total à interrupção da gravidez, muitas mulheres vão parar na cadeia mesmo após sofrerem abortos espontâneos – embora o Código Penal estabeleça pena de dois a oito anos de prisão por aborto, promotores e juízes costumam classificar casos de perda do bebê como “homicídio agravado”, o que eleva a pena para 30 a 50 anos na cadeia. Na BBC.
O massacre de oito pessoas em 1989, no marco da Guerra Civil do país, rendeu outras 11 acusações nos últimos dias, uma semana após o ex-presidente Alfredo Cristiani (1989-1994) ser implicado no caso. Todos os novos nomes são ex-militares, dois dos quais já faleceram e outro – um velho coronel ironicamente chamado Inocente Montano, que era vice-ministro de Segurança Pública na ocasião da matança – já cumpre pena de 133 anos de cadeia na Espanha pelo mesmo crime. O episódio brutal ocorreu em 16 de novembro daquele ano, quando um grupo de militares invadiu o campus da Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas (UCA) e executou seis jesuítas (cinco deles espanhóis) vinculados à chamada Teologia da Libertação, corrente à esquerda dentro da Igreja, além de uma cozinheira e sua filha que estavam no recinto. De todos os denunciados até aqui, apenas o general reformado Juan Rafael Bustillo compareceu ao tribunal para escutar as acusações que pesam contra si. Via AP.
EQUADOR 🇪🇨
O presidente Guillermo Lasso vem sinalizando que deve vetar a nova lei do aborto no país ao longo da próxima semana, embora não esteja claro se o fará de forma total ou parcial. O aborto para casos de estupro foi despenalizado em abril de 2021 no país, mas desde então faltava uma regulamentação, finalmente aprovada pelo Congresso em fevereiro – é esse texto, mesmo com limites estritos, que Lasso pode barrar, o que faz cair por terra as promessas do próprio mandatário, que dizia não deliberar sobre assuntos de Estado ainda que fosse pessoalmente contra menores restrições. Os legisladores equatorianos impuseram um limite de 12 semanas para a interrupção da gravidez na maioria dos casos, excepcionalmente ampliados para 18 se a vítima da violação é menor de idade, indígena ou moradora de área rural. O caso também é observado com atenção fora do país, e congressistas dos EUA enviaram uma carta a Lasso manifestando preocupação com a indicação de veto. No América Economía.
Un clic:
HAITI 🇭🇹
Um barco carregando dezenas de migrantes haitianos encalhou na costa da Flórida, nos EUA, e 163 pessoas foram resgatadas para receber atendimento médico. Segundo autoridades estadunidenses, há forte suspeita de uma operação sistemática de tráfico humano, já que embarcaçoes semelhantes – sempre superlotadas – se tornaram ainda mais comuns do que antes nos últimos tempos: em janeiro, um barco com 176 haitianos foi parado em local próximo; no final de fevereiro, outro carregando 179 pessoas foi interceptado nas Bahamas, e na última semana mais um caso foi registrado naquele país, com 123 pessoas a bordo. Via AP.
HONDURAS 🇭🇳
Juan Carlos Bonilla, ex-diretor da Polícia Nacional de Honduras entre 2012 e 2013, foi preso na quarta-feira (9) em mais um desdobramento das detenções ocorridas a pedido dos EUA, que vêm investigando autoridades hondurenhas por envolvimento com o narcotráfico e solicita extradição para que sejam julgados em solo norte-americano. El Tigre Bonilla é acusado de ser co-conspirador com o ex-deputado Juan Antonio Tony Hernández, que foi condenado à prisão perpétua no ano passado pela justiça estadunidense. Tony, por sua vez, é irmão do ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), que deixou o cargo em janeiro e foi detido três semanas depois, e ainda aguarda que a Justiça hondurenha decida sobre sua extradição para os EUA. Ele também é acusado de envolvimento com narcotráfico e crimes correlatos. Via AFP.
Não são só os EUA os possíveis interessados pelo petróleo venezuelano. Assim que os norte-americanos sinalizaram uma possível negociação com Caracas, um deputado do governista Libre garantiu que o Congresso hondurenho apoiaria que o país seguisse pelo mesmo caminho, o que seria feito por meio da Petrocaribe. Segundo o deputado, porém, seria necessário que o Executivo retomasse as ligações com a empresa petrolífera, algo que marcou o governo do ex-presidente Manuel Zelaya (2006-2009) – marido da hoje presidenta Xiomara Castro. “Os EUA também estão virando seus olhos para a Venezuela em busca de preços mais adequados”, disse. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
O presidente López Obrador diz “confiar” que o procurador-geral Alejandro Gertz Manero seguirá em seu cargo, apesar das pressões recentes para que renuncie (às quais o próprio Gertz diz que não cederá). O caso todo é digno de uma trama de novela e envolve desavenças pessoais: os recentes pedidos de afastamento de Gertz Manero são consequência do vazamento de áudios em que o procurador-geral dá a entender que teve acesso indevido a um projeto da Suprema Corte que concederia a liberdade a Alejandra Cuevas, implicada na morte de Federico Gertz, irmão do procurador. Alejandra Cuevas é filha de Laura Morán Servín, hoje com 94 anos e esposa de Federico – as duas são acusadas pelo procurador de “homicídio por omissão de cuidados” de seu irmão, que faleceu em 2015 após quase dois meses de internação hospitalar. Alejandro Gertz Manero diz que o vazamento do áudio seria uma forma de “extorsão midiática” para pressionar pela sua derrubada e pela soltura das acusadas. Na Forbes.
NICARÁGUA 🇳🇮
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, a ex-presidenta do Chile Michelle Bachelet, voltou a se manifestar sobre as constantes violações de garantias de opositores detidos em 2021, ainda durante a corrida eleitoral que deu a Daniel Ortega a vitória para seu quarto mandato consecutivo. Bachelet também apresentou um extenso relatório sobre a situação no país durante todo o último ano – “43 pessoas seguem detidas no contexto das eleições”, informa o documento. Como costuma fazer em resposta a tudo que tenha um tom crítico aos desmandos do presidente, o governo em Manágua acusou o dossiê de ser “manipulado”. A pasta da ex-líder chilena acompanha a situação de degradação sociopolítica no país desde 2018, ponto de virada na escalada autoritária dos sandinistas. Na CNN.
Un hilo:
PANAMÁ 🇵🇦
No ritmo regional de dar destaque a pautas ambientais, o país se tornou mais uma nação a reconhecer oficialmente “os direitos legais da natureza e as obrigações do Estado”. A lei foi assinada pelo presidente Nito Cortizo e estabelece que rios, biomas, montanhas e oceanos tenham direitos legais tal qual qualquer cidadão panamenho. O país centro-americano se junta aos latinos Bolívia, Equador, Brasil, Colômbia e México entre os que adotaram determinações legais semelhantes. No EcoTV.
PARAGUAI 🇵🇾
Cruzar a fronteira e abastecer no Paraguai. Essa é a solução encontrada por muitos brasileiros em meio à alta de preços dos combustíveis por aqui. Com o novo pico anunciado durante a semana, a diferença nos postos chega, em média, a R$ 2 por litro, atraindo motoristas principalmente da cidade de Ponta Porã (MS), que faz divisa com Pedro Juan Caballero. Além de cidades paraguaias, quem também tem recebido filas de carros vindos do Brasil é a Argentina – que, inclusive, anunciou restrições de horário e abastecimento para evitar escassez nas bombas. Com subsídios maiores, o combustível vendido nos países vizinhos tornou-se especialmente atrativo em épocas de alta desde a mudança na política de preços da Petrobras, no final de 2016, que atrelou os valores brasileiros às flutuações do mercado internacional, cotado em dólar. No G1.
PERU 🇵🇪
Com o risco de se tornar o terceiro presidente do Peru a sofrer o processo de impeachment em três anos, Pedro Castilho, enfrenta, novamente, uma moção de vacância. Essa é a segunda vez que o presidente corre risco de perder o mandato em menos de oito meses de governo. Agora, o pedido de afastamento liderado por partidos da direita lista 20 itens, incluindo uma acusação de lavagem de dinheiro. Castillo também é acusado de se encontrar fora da agenda oficial com empresários interessados em obter vantagens em obras públicas. Até o momento, a ação já reuniu 49 assinaturas – para ser aceita e avançar para uma eventual votação são necessários 52 apoios, e os opositores acreditam que devem consegui-los no dia do debate no plenário, que ainda não possui data definida. Em El Comercio.
Também foi aprovado o quarto gabinete do governo Castillo, cujos ministérios agora têm uma média de menos de dois meses de duração desde que o governo assumiu. Após um longo debate de mais de sete horas, o Congresso, liderado pela oposição de direita, aprovou o gabinete liderado pelo advogado Aníbal Torres, com 64 votos a favor, 58 contra e duas abstenções. Via Reuters.
PORTO RICO 🇵🇷
Seguindo a tendência regional, ainda mais acelerada em pontos turísticos do Caribe, o governo da ilha anunciou a suspensão de quase todas as restrições relacionadas à pandemia, incluindo o uso de máscaras – que só continua obrigatório no interior dos serviços de saúde. Também foram derrubadas as limitações de ocupação de lugares onde pode ocorrer aglomeração, e a exigência de apresentar certificado de vacina ou teste negativo para frequentar determinados estabelecimentos. O governador Pedro Pierluisi garantiu que as novas flexibilizações não impedem o Ministério da Saúde de voltar a fazer exigências específicas se julgar conveniente. No Mercopress.
Dale un vistazo:
🎵 La Delio Valdez – se você não conhece, fica a dica para começar a escutar nos principais tocadores ou, caso esteja em São Paulo, uma boa pedida é prestigiar o show da orquestra de cumbia e reggae de Buenos Aires. Os músicos estarão na capital paulista no dia 17/3 na Casa Natura Musical, com o projeto Somos Mucho!. Ingressos e mais informações aqui.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A inflação voltou a ser um temor central no mundo inteiro com a escalada dos preços de combustíveis causada pela guerra na Ucrânia, e muitos governos já estão se mobilizando em busca de caminhos para amenizar o impacto na população. O dominicano Luis Abinader puxou a fila na América Latina, anunciando na segunda-feira (7) um pacote com taxa zero para a importação de produtos da cesta básica, subsídios para que o transporte público não aumente o preço das passagens e congelamento dos preços de combustíveis pelos próximos quatro meses (desde que o valor do barril do petróleo WTI fique entre US$ 85 e 115), entre outras políticas temporárias. No Listin Diario.
E uma das soluções, como costuma acontecer no país caribenho, pode vir do turismo: já com números elevados em 2021, o setor bateu um recorde para o mês de fevereiro (agora, com o segunda melhor performance na história). Foram mais de 566 mil turistas chegando nas praias paradisícas da ilha, um aumento de 268% em comparação ao mesmo período no último ano. Como explicado em edições passadas, a República Dominicana anunciou uma suspensão total de restrições da pandemia para alavancar ainda mais a atividade turística, tornando-se o primeiro país latino-americano a fazê-lo. No Expreso.
URUGUAI 🇺🇾
O presidente Luis Lacalle Pou disse que o país estaria disposto a receber refugiados ucranianos, baseado no histórico nacional de “braços abertos”. O mandatário afirmou, porém, que o assunto ainda não foi debatido com nenhum órgão oficial e se tratava apenas de uma intenção. Em outros anos, durante o governo do ex-presidente Pepe Mujica (2010-2015), o paisito chegou a abrir as portas para quatro sírios, um tunisiano e um palestino, como parte de uma cooperação nos anos de Barack Obama para fechar (o que, de fato, nunca ocorreu) a brutal prisão dos EUA na região cubana de Guantánamo. No Hola.
Autoridades de direitos humanos iniciaram, na quinta-feira (10), a escavação em um antigo edifício da Presidência do país em busca de restos humanos – os trabalhos começaram após um encanador que efetuou serviços no prédio há mais de uma década denunciar ter visto fragmentos de ossos, levantando suspeitas de que poderiam ser locais de enterro clandestino de vítimas da última ditadura (1973-1985). O prédio, hoje ocupado pelo Correio Uruguaio, funcionou oficialmente como garagem durante o regime militar, e investigadores dizem ter localizado setores semelhantes a celas para prisioneiros. O Uruguai ainda contabiliza 197 desaparecidos políticos durante a ditadura. Via EFE.
VENEZUELA 🇻🇪
Um aplicativo de delivery criado por imigrantes venezuelanos para imigrantes venezuelanos. Esse é o “Turpi”, uma ferramenta idealizada na cidade equatoriana de Guayaquil e pensada a partir das dificuldades em conseguir emprego formal por imigrantes – que tem no território equatoriano um dos principais destinos de refúgio. Efeito do aumento de trabalho informal na América Latina, a plataforma quer conectar entregadores e pequenos comerciantes venezuelanos, para ajudar na regularização da permanência no país e na construção de oportunidades entre pessoas que chegam a um país precisando começar do zero. No Nexo.
Desde o começo da crise no país, mais de 6 milhões de pessoas cruzaram as fronteiras rumo a destinos mais estáveis economicamente. Agora, ainda que a situação seja grave, ligeiros sinais de melhora nos números têm feito muitos venezuelanos voltarem ao país natal. Como expicado no abre desta edição, a alta nos preços do petróleo (e as possibilidades de fazer negócio com os EUA) devem dar um alento à sequência de quedas brutais na economia. Mesmo assim, não será fácil: para a economia venezuelana voltar ao nível de 1997, por exemplo, seria necessário um extraordinário crescimento anual de 10% pelos próximos 18 anos. No Economista.
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