Agosto eleitoral: entenda as próximas 3 votações latino-americanas
Eleitores de Argentina, Equador e Guatemala vão às urnas com diferentes crises à espreita
Dedo (ou papel) na urna e gritaria: é mais ou menos por aí que a banda vai tocar no continente no mês de agosto, quando três países latino-americanos abrem votação para definir o futuro político em momentos bastante conturbados.
O festival eleitoral já começou em algumas províncias na Argentina, mas a rigor, o dia em que o processo ganhará corpo para valer será em 13/8, quando a maioria dos eleitores comparecerá às tradicionais PASO nacionais (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), modelo de votação prévio criado durante o primeiro mandato da ex-presidenta Cristina Kirchner (2007-2015) para “filtrar” candidaturas: além de tirar da corrida candidatos que obtiverem menos de 1,5 % dos votos válidos, as primárias do país vizinho também separam o joio do trigo, selecionando as listas que vão representar cada partido ou coligação na votação oficial em 22/10. O calendário eleitoral argentino, porém, é um tanto complexo, com datas distintas para as disputas regionais em cada província – Córdoba e Tucumán, por exemplo, já elegeram governadores no mês passado. Se as eleições presidenciais exigirem um segundo turno, ele será em novembro.
O cenário é diferente, porém, na Guatemala e no Equador, as outras duas nações com cargos eletivos em jogo no próximo mês. Do lado guatemalteco, o clima é de final de jogo: em 20/8, cidadãos voltarão às milhares de seções eleitorais pelo país, de Petén a Santa Rosa, da capital a Quetzaltenango, para definir quem será o próximo presidente. O mandato será de quatro anos, a partir de meados de janeiro de 2024. Dois nomes brigam por uma única vaga: de um lado, a empresária conservadora (e velha conhecida dos eleitores) Sandra Torres defende as cores da tradicional Unidade Nacional da Esperança (UNE) – partido que, apesar da popularidade e da vitória de sua presidenciável no primeiro turno, perdeu terreno no Congresso, indo de primeira a segunda força no Legislativo unicameral; de outro, quem tenta sorte é a ‘zebra’ Bernardo Arévalo, presidenciável à frente do jovem partido de centro-esquerda Semilla. Ao contrário da UNE, a sigla progressista viveu sua primavera eleitoral em junho, tornando-se a terceira maior representação no Congresso e dando vida à esperança de uma possível vitória de Arévalo.
Leia mais: 1º turno na Guatemala – esquerda segue na briga; direita leva Congresso
Falando assim, até parece que o voo foi tranquilo – mas esteve longe disso. Antes mesmo do primeiro turno em 25/6, o processo eleitoral guatemalteco já vivia cercado de desconfiança pela exclusão de quatro presidenciáveis, incluindo o empresário Carlos Pineda, que chegou a liderar pesquisas divulgadas à época. Toda essa crise anterior à abertura das urnas, explicada em detalhes pelo GIRO, levou a população, observadores e entidades internacionais a questionarem as decisões dos órgãos eleitorais. Além disso, o escândalo voltou a apontar os holofotes ao governo do presidente Alejandro Giammattei, líder cuja escalada autoritária em anos recentes foi marcada pelo aparelhamento do Ministério Público, usado pelo governante para perseguir adversários judicialmente – tendência que acabou sendo decisiva para anuviar o tabuleiro eleitoral em 2023.
Se o clima já era tenso antes da primeira votação, piorou depois dela: vários partidos (incluindo a UNE de Sandra Torres) denunciaram uma suposta fraude eleitoral em junho, os órgãos competentes barraram a divulgação oficial dos resultados – e só voltaram atrás dias depois. E como se um problema só não fosse suficiente, o Ministério Público (o mesmo acusado de agir aos sabores do governo) resolveu, de forma totalmente questionável, determinar a suspensão do Semilla de Bernardo Arévalo (entenda o caso aqui). Apesar do novo solavanco, a turbulência passou, as altas cortes rejeitaram a suspensão do partido de Arévalo e as campanhas seguiram seus caminhos. Resta ver, agora, se o turno derradeiro no final de agosto trará novas dores de cabeça. Mas é certo que vai ter emoção – já que a menos de um mês da decisão não há pesquisas eleitorais apontando qualquer tendência.
Se na Argentina a votação é prévia e na Guatemala já está em momentos finais, as eleições equatorianas, também com primeiro turno marcado para 20/8, sequer estavam no calendário original – que só tinha na agenda uma nova abertura de urnas em 2025. Tudo mudou, porém, quando o presidente Guillermo Lasso, acuado por ameaças de impeachment, resolveu invocar um artigo da Constituição – a chamada “morte cruzada” – que lhe permitiu dissolver o Congresso Nacional, apinhado de adversários obviamente favoráveis à sua destituição. Nunca ativada antes, a medida cobra um preço caro: até obriga uma nova votação para renovar as 137 cadeiras legislativas, mas também força o presidente a entregar o cargo em seis meses, para que uma nova votação também escolha seu substituto – no caso, para um mandato-tampão que se encerra daqui a dois anos, quando Lasso passaria a faixa originalmente.
Uma coisa é certa: a inesperada crise eleitoral abrirá caminho para um novo presidente. Com Lasso fora da disputa (ele até pretendia concorrer de novo, mas desistiu), os olhos da opinião pública agora se voltam para as oito chapas que competem no final de agosto. Há velhos e novos rostos na lista: após deixar o movimento Pachakutik, principal legenda indígena do país e partido que ele representou nas eleições de 2021, Yaku Pérez volta à pista e aparece em terceiro lugar nas pesquisas, agora encabeçando a coalizão “Claro que se puede”, que aglutina grupos de esquerda (leia a entrevista dada por Pérez a um editor deste GIRO). Em segundo lugar nos sondeos recentes está Otto Sonnenholzner, que ocupou o cargo de vice-presidente entre 2018 e 2020, durante o governo de Lenín Moreno. Com intenções eleitorais, ele renunciou ao posto meses antes da votação que terminaria com a vitória de Guillermo Lasso.
A estrela equatoriana até aqui é a única mulher candidata ao trono em Quito. Luisa González, parlamentar destituída pela morte cruzada em maio, caiu para cima: após deixar o Congresso, foi escolhida para representar o movimento de esquerda Revolução Cidadã, liderado a um oceano de distância pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), atualmente asilado político na Bélgica e na mira da justiça equatoriana. Conhecida por ter ocupado diversas posições durante os anos de Correa, González disse em uma entrevista recente que terá no líder político a figura de um de seus “principais assessores”. Jurista de formação, ela também promete levar adiante a agenda que marcou os anos do correísmo: o aceno a movimentos populares por meio de programas sociais, mas, ao mesmo tempo, uma visão conservadora no campo dos costumes – repetindo seu tutor, ela também se posicionou contra a legalização do aborto, por exemplo.
A favorita, no entanto, sabe que o jogo não está ganho: ainda que muitos eleitores associem Correa a um período de bonança, abastecido pelo boom das commodities do início do século, a situação, agora, é outra. Com uma explosão de homicídios, o Equador viu 2022 se tornar o ano mais violento de sua história, muito em função do avanço veloz do crime organizado. E nada mudou no que vai do ano: como relatado na seção do país nesta edição, políticos seguem sendo mortos e os presídios são palcos de banhos de sangue em meio aos conflitos entre grupos criminosos. De acordo com levantamentos recentes, em nenhum outro país do continente, os cidadãos se sentem tão inseguros. E, dependendo do peso que esse tema tiver na opinião pública, nomes menos conhecidos podem levar vantagem e cavar uma vaga no segundo turno.
Três países, três votações, diferentes caminhos, mas uma certeza: quem segue e assina o GIRO, certamente (e para variar) vai saber de tudo.
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🇧🇴 Acordo Bolívia-Irã gera questionamentos da Argentina por caso AMIA – Os impactos de um memorando assinado entre os governos da Bolívia e do Irã na metade de junho, de olho em expandir a cooperação bilateral na área de segurança e defesa, não demoraram a atravessar a fronteira. Além de incomodar a oposição boliviana, o acordo despertou questionamentos por parte do governo da Argentina, que por meio de sua chancelaria cobrou explicações da embaixada boliviana em Buenos Aires, sobretudo para entender o “alcance” da medida assinada entre os andinos e Teerã. Quem também demonstrou preocupação foi a Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA), que num comunicado associou os iranianos “ao grupo terrorista Hezbollah, responsável pelo ataque à sede da AMIA que provocou 85 mortos” em 1994. Ferida aberta na sociedade argentina, o ataque à AMIA se tornou pivô de uma intrincada crise política e diplomática nas últimas décadas, com acusações de acobertamento, a misteriosa morte de um procurador (que acusou formalmente o Irã), acusações contra membros do Hezbollah e várias perguntas sem resposta. Após o impasse com os vizinhos do Cone Sul, o governo boliviano veio a público e disse que os novos acordos buscam, apenas, facilitar a aquisição de drones de vigilância, que seriam usados na fronteira no combate ao contrabando e ao tráfico de drogas. De La Paz, o ministro da Defesa, Edmundo Novillo, completou dizendo que as preocupações do governo homólogo são “exageradas”.
🇪🇨 Equador decreta estado de exceção após morte de prefeito e novo massacre prisional – Parece notícia repetida: após uma nova onda de violência no final de semana, o presidente Guillermo Lasso decretou na segunda (24) estado de exceção nas províncias costeiras de El Oro e Manabí e na cidade de Durán, todos pontos bastante afetados pelo avanço da criminalidade nos últimos meses. A determinação veio após o assassinato do prefeito da cidade de Manta, Agustín Intriago, e da atleta de futebol feminino Ariana Chancay. Os dois foram mortos a tiros por um homem desconhecido, que abriu fogo enquanto o político visitava obras em um bairro popular da cidade. Até o fechamento desta edição, a polícia havia detido um homem de nacionalidade venezuelana, considerado um dos suspeitos de atirar contra a dupla. O decreto também estabeleceu, por 60 dias, um toque de recolher noturno diante do que Lasso chamou de um momento de “comoção interna grave” e levou o governo a designar militares em patrulhas nas zonas mais afetadas pela violência. Além dos ataques em Manta, outro filme conhecido se repetiu: na terça-feira, autoridades em Guayaquil – considerada o epicentro da atual crise nacional de violência – já reportavam a morte de pelo menos 31 detentos na penitenciária da cidade, fruto de uma nova rebelião iniciada no final de semana. Desde 2020, a intensa disputa entre grupos criminosos dentro das prisões deixou mais de 450 mortos em massacres similares. Com um recorde histórico de homicídios em 2022, o Equador se aproxima do primeiro turno das eleições de 20/8 com a segurança pública pautando o debate eleitoral.
🇸🇻 El Salvador: Congresso aprova julgamentos em massa ante colapso prisional – Parecia um passo lógico diante de quase 72 mil prisões feitas no país desde março do ano passado, mas apenas nesta quarta-feira (26) o caminho foi formalizado: o Congresso de El Salvador, com maioria governista, aprovou novas regras para facilitar o julgamento “em massa” de detentos presos sob suspeita de integrar as gangues do país. A nova legislação permitirá que os réus tenham seus casos agrupados de acordo com o local em que viviam ou a pandilla em que supostamente atuavam naquela zona, unificando sentenças. Segundo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Gustavo Villatoro – que recentemente esteve no Brasil para apresentar o modelo salvadorenho a deputados brasileiros –, até 900 detentos poderão ser aglutinados para enfrentar os tribunais. A reforma também aumentou a pena para aqueles condenados por liderar gangues, de 45 para 60 anos de cárcere. Como em outras mudanças sob a gestão do presidente Nayib Bukele, grupos de direitos humanos e integrantes do minoritário bloco de oposição legislativa denunciam a mudança como uma nova forma de violar garantias fundamentais – no caso, a garantia ao devido processo legal – em nome do combate ao crime organizado. Via AP.
🇵🇪 Aliança improvável junta fujimorismo e ex-partido de Pedro Castillo para chegar ao comando do Congresso – Um grande acordo nacional, com esquerda, direita, com tudo? Na quarta-feira (26), uma aliança que dois anos atrás seria considerada impossível ajudou o deputado Alejandro Soto a chegar à presidência do Congresso para o período 2023-2024: sua base de apoio incluía o Fuerza Popular, partido vinculado ao fujimorismo, e o Perú Libre, sigla que em 2021 elegeu Pedro Castillo contra a própria Keiko Fujimori, filha de Alberto – e um partido que, em suas origens, nunca negou sua forte tendência marxista, tudo o que os seguidores do ex-ditador de direita sempre abominaram. Desde as eleições ocorridas há dois anos, é claro, muita água rolou: Castillo tentou dissolver o Congresso e acabou ele próprio derrubado (e preso); sua vice Dina Boluarte, já rompida com o Perú Libre, assumiu o poder, e enormes protestos tomaram conta do país cobrando (em vão) eleições antecipadas, com os manifestantes sendo alvo de violenta repressão que segue rendendo investigações internacionais por violações de direitos humanos. Nesse cenário e com um Congresso com taxas baixíssimas de aprovação, porém ainda crucial dentro do jogo político do país andino, parece ter vencido o fisiologismo das uniões improváveis: no comando do Legislativo unicameral peruano, o conservador Soto agora é o sucessor imediato de Boluarte, tendo como primeiro vice Hernando Guerra García, ligado ao fujimorismo, e segundo vice Waldemar Cerrón, do Perú Libre (ele próprio irmão de Vladimir Cerrón, que chegou a ser vice na chapa presidencial de Castillo mas foi afastado em função de uma investigação anterior por corrupção). Via EFE.
🌎 Em número recorde, equipes latinas sofrem na Copa do Mundo feminina – A maior Copa do Mundo de futebol feminino da história também é aquela com maior número de equipes latino-americanas até hoje. Ao todo, seis países levam as bandeiras da região ao torneio que começou no último dia 20 na Austrália e na Nova Zelândia: Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Haiti e Panamá – essas duas últimas, fazendo suas estreias. A vizinhança caribenha ainda é representada pela Jamaica. Com expectativas muito diferentes entre si – a rigor, só o Brasil entra no torneio com alguma chance de pleitear o título – as equipes da região jogam, sobretudo, para consolidar o esporte feminino em uma parte do mundo em que a versão masculina já conquistou corações há mais de um século. A Copa chega a este final de semana em meio à segunda rodada, com o Brasil enfrentando a França a partir das 7 horas deste sábado (29) após golear o Panamá por 4 a 0 na estreia – um novo triunfo garante a classificação antecipada das brasileiras. Dentre as equipes latinas que já jogaram duas vezes, porém, ambas encaminharam suas eliminações: a Argentina, atual campeã entre os homens, mas que nunca venceu sequer um jogo na história dos Mundiais femininos, levou 1 a 0 da Itália e ficou no 2 a 2 com a África do Sul, e só tem uma chance remota de avançar se derrotar a poderosa Suécia (terceira colocada na última Copa e atual medalha de prata nas Olimpíadas) na última rodada, dia 2. Já o Haiti, que chegou à Copa apesar de todas as dificuldades envolvendo a modalidade no país, vem fazendo uma participação digna, mas não conseguiu ir além das expectativas de perder seus jogos – pelo menos, ambas as derrotas foram por apenas 1 a 0, sempre com gol de pênalti, para Inglaterra e China. As haitianas ainda podem avançar com uma combinação milagrosa de resultados na última rodada, mas estão obrigadas a derrotar a Dinamarca para abrir essa possibilidade. A primeira fase da Copa do Mundo prossegue até a próxima quinta-feira (3/8), quando as duas melhores equipes de cada um dos oito grupos avançam para a fase de oitavas-de-final. No GE.
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ARGENTINA 🇦🇷
Fumaça branca? O governo argentino anunciou no domingo (23) que chegou a um acordo-base para a renegociação da dívida que o país tem com o Fundo Monetário Internacional (FMI), contraída durante o governo de Mauricio Macri (2015-2019) e atualmente avaliada em US$ 44 bilhões – valor alcançado após uma porção de tratativas nos últimos meses. Em um comunicado, a entidade financeira, que atua ao lado do Ministério da Economia e do Banco Central do país austral, revelou que a etapa atual concluiu “os principais aspectos do trabalho técnico” que vão pavimentar uma nova fase da negociação. O FMI também diz que passa a levar em conta, segundo o novo anúncio, “o forte impacto da seca” – que novamente atinge níveis históricos – que causa “prejuízos às exportações e às receitas fiscais do país”. Com um primeiro e importante sinal verde, Buenos Aires agora parte para uma série de medidas que buscam mitigar a crise fiscal, considerada parte indispensável nos assuntos relativos à renegociação da dívida. Na sexta (28), confirmando o sucesso das conversas, o FMI anunciou que o acordo firmado com Buenos Aires garantiu ainda a liberação de US$ 7,5 bilhões para o país sul-americano. Na DW.
CHILE 🇨🇱
Telefonar no Chile vai ficar mais fácil… para os brasileiros – e vice-versa. A Anatel, que regula as telecomunicações no Brasil, anunciou na quarta-feira (26) que os dois países chegaram a um acordo pelo fim das cobranças adicionais para a telefonia móvel em “roaming”, o sistema que permite ao consumidor utilizar a estrutura da rede local, fora da área de cobertura da própria operadora. Agora, brasileiros que estiverem viajando pelo Chile poderão se beneficiar dos mesmos planos de celular que já funcionam em seu próprio país, com tratamento igual sendo oferecido aos chilenos de passagem pelo Brasil. A não-cobrança de taxas adicionais vale para chamadas de voz, SMS e internet, e o benefício pode ser usufruído por um período de 90 dias consecutivos, e até 120 dias não-consecutivos em um mesmo ano. No G1.
COLÔMBIA 🇨🇴
O ex-paramilitar Salvatore Mancuso, preso nos Estados Unidos desde 2008 e condenado a 40 anos de reclusão por narcotráfico, foi indicado pelo presidente colombiano Gustavo Petro como “gestor de paz” no último domingo (23). O governo Petro agora pede a extradição dele para que cumpra a pena em solo sul-americano. Fundador das Autodefensas Unidas da Colômbia nos anos 1990, Mancuso era um pecuarista de ascendência italiana natural de Montería, norte do país. Em um processo no Tribunal Superior de Bogotá, o Ministério Público considera Mancuso culpado por 229 homicídios, 108 desaparições forçadas e 690 casos de migrações forçadas de pessoas – porém, conforme outras ações judiciais, as vítimas poderiam chegar aos milhares. Com a nova indicação, que não implica em deixá-lo em liberdade, a expectativa do governo é que ele dê mais detalhes sobre os crimes cometidos e ajude na identificação das vítimas. Em Caracol.
COSTA RICA 🇨🇷
Não um, não dois, mas um total de sete ex-presidentes da Costa Rica estiveram ao lado de outras dezenas de antigos mandatários ibero-americanos para, de forma conjunta, condenar o atual presidente Rodrigo Chaves por seus ataques à liberdade de imprensa. A posição dos políticos foi conhecida na segunda (24), por meio de uma declaração da Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (IDEA), grupo internacional que discute política e democracia. No documento, a IDEA questionou o fato de Chaves ter classificado jornalistas – notadamente de veículos locais conhecidos como o CRHoy e o La Nación, que traz a notícia desta seção – de “canalhas”, entre outros vários entreveros gerados por crises já contadas por este GIRO. Em resposta às críticas, o Executivo foi curto e grosso: até disse, por meio de seu porta-voz e ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, que a liberdade de imprensa segue sendo “fundamental” – no entanto, criticou campanhas de informação feitas por veículos que se posicionam “contra ou a favor” do governo e classificou a nota da IDEA de “ferramenta comercial”.
CUBA 🇨🇺
A crise é grave e não será resolvida tão cedo. E quem afirma isso é o próprio ministro da Economia, Alejandro Gil, citando os números oficiais da ilha: o crescimento do PIB neste ano está abaixo de 2%, e no geral a produção continua oito pontos percentuais atrás dos níveis pré-pandemia, confirmou o governo no último sábado (22). A maior preocupação reside no setor primário, com a produção da agricultura e da mineração quase 35% abaixo dos índices registrados em 2019. Além de culpar o embargo e o recrudescimento de sanções durante os anos de Donald Trump (2017-2021), Cuba ainda tenta encontrar formas de se recuperar dos impactos da pandemia, que implodiram suas exportações – no que vai do ano, confirmou Gil, o país ganhou apenas US$ 1,3 bilhão vendendo produtos para fora, o equivalente a míseros 35,7% do que era projetado. As dificuldades econômicas também se estendem para a vida cotidiana, com a inflação batendo em 45%, de acordo com os números do Ministério. Via Reuters.
Un nombre:
Enano Maldito – Literalmente “Anão Maldito”, era um personagem de uma tirinha satírica publicada no jornal Puro Chile (e depois no Las Noticias de Última Hora) entre 1970, ano da eleição de Salvador Allende, e 1973, quando o governo foi derrocado pelo golpe militar encabeçado por Augusto Pinochet e os dois jornais acabaram fechados pela nascente ditadura. O Enano Maldito, criação do cartunista Jorge Mateluna (não confundir com o ex-guerrilheiro homônimo), que assinava como Orsus, tinha como característica principal os ataques virulentos contra a direita política do país e o poder judicial.
GUATEMALA 🇬🇹
“Um plano” criado por autoridades guatemaltecas para conter a possível entrada de golpistas colombianos vindos de El Salvador. Bem ao estilo giro latino, o caso é complicado: dias atrás, autoridades salvadorenhas prenderam mais de 100 pessoas, em sua maioria cidadãos colombianos, acusados de integrar uma famosa rede de agiotagem regional – conhecidos como “gota a gota” ou “los pagadiario” (saiba mais em una expresión). A decisão foi seguida por um ultimato por parte do presidente salvadorenho Nayib Bukele: em 72 horas, segundo o mandatário, todos os envolvidos no esquema de extorsão – que se estima serem mais de 400 só em El Salvador – deveriam deixar o país. Nada mais simples, então, do que cruzar as divisas rumo à vizinha Guatemala. Dessa forma, frente ao temor de ver uma leva de supostos criminosos entrarem no país, o governo local designou tropas e ordenou na terça (25) uma série de operações de busca nas linhas dividindo o país. No Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
Notícias ruins – mas, dessa vez, no Brasil. Segundo autoridades do Paraná, pelo menos sete trabalhadores haitianos e um brasileiro morreram na quarta-feira (26) após várias explosões nas instalações de uma cooperativa agroindustrial na cidade de Palotina, região oeste do estado. Um cidadão do país caribenho seguia desaparecido até o fechamento desta edição. À medida que o caso e os motivos por trás do acidente seguem em investigação, primeiras informações apontam supostas irregularidades no funcionamento da firma, que contava com líquidos inflamáveis em suas dependências. Acidental ou não, a tragédia é um retrato do drama migratório haitiano, que há anos leva milhares de pessoas ao êxodo forçado, muitas vezes em busca de qualquer atividade remunerada – muitos, sem garantia, acabam sujeitos a toda sorte de problemas. Os números de trabalhadores registrados por si só são altos: dados oficiais dão conta que mais de 109 mil carteiras de trabalho foram emitidas pelo Brasil a cidadãos haitianos entre 2010 e 2019. No Estadão.
HONDURAS 🇭🇳
De cada 10 crianças em Honduras, três sofrem com má nutrição. Uma situação ainda mais grave na região ocidental do país, onde a alimentação inadequada dá lugar à absoluta falta de alimentos: por lá, o índice de 30% é para desnutrição crônica em crianças. Essas foram as descobertas de um novo levantamento capitaneado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), com apoio da ONU, divulgado no país centro-americano durante a semana. De acordo com os pesquisadores, o combo de pandemia, os furacões Eta e Iota (que devastaram o país no final de 2020) e a guerra na Europa prejudicaram a segurança alimentar de Honduras, onde 70% dos habitantes oficialmente estão abaixo da linha da pobreza. A pesquisa apontou que a desnutrição crônica passa diretamente pela dificuldade em colocar uma boa variedade de alimentos no prato, com uma dieta baseada apenas em milho e feijão, quando é possível obtê-los. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Nada de boias. Foi isso que determinou no final da última semana o Departamento de Justiça dos EUA, advertindo o governo do Texas pela instalação de uma imensa barreira de boias flutuantes usadas para conter a travessia no Rio Grande, nas linhas que dividem o território estadunidense e o México. Segundo o governo de Joe Biden, a instalação dos objetos é “ilegal” e apresenta “risco para a navegação, segurança pública e causa preocupações humanitárias”. Sem receber resposta por parte dos texanos, o governo federal finalmente decidiu na segunda (24) abrir um processo contra o estado sulista, alegando descumprimento de uma série de regras. Após a repercussão do caso, o presidente Andrés Manuel López Obrador endossou as críticas de seu homólogo em Washington, acrescentando que as infames boias representam uma “provocação” e “violam a soberania” de seu país. Na CNN.
NICARÁGUA 🇳🇮
O Equador já foi, Honduras está no caminho e, agora, quem caminha para firmar um Tratado de Livre Comércio (TLC) com a China é a Nicarágua. E tudo vai bem por enquanto: na segunda (24), o governo anunciou a “conclusão substancial” das tratativas referentes ao TLC, mantendo a expectativa, sinalizada em meses passados, de que o acordo será de fato assinado no mês de agosto, passando a valer em janeiro de 2024. Assim como seus vizinhos hondurenhos, que mais cedo este ano romperam relações com Taiwan e viraram o leme para Pequim, os nicaraguenses também avançaram os laços com os chineses após Manágua encerrar o contato com a ilha rebelde em 2021, dali em diante passando a reconhecer “apenas uma China”. Mencionando a “grande atenção” que a potência asiática tem dado ao que chamou de “relação de irmandade”, Laureano Ortega Murillo, filho do contestado casal presidencial e atual assessor para assuntos comerciais, projetou boas possibilidades para o país centro-americano. As negociações seguem – assim como as novidades no campo da diplomacia: durante a semana, o governo da Nicarágua anunciou que vai ‘trocar’ embaixadas com a Coreia do Norte, com abertura de postos diplomáticos em Manágua e Pyongyang. No El 19 e AFP.
Una expresión:
Gota a gota – Nome popular para se referir aos créditos informais de baixo montante, mas com taxas de juros abusivas – ou simplesmente agiotagem. A figura do gota a gota ou pagadiario é conhecida na América Latina como o sujeito que empresta dinheiro e arrecada os pagamentos aos poucos, de gota em gota. Essa prática é ilegal em muitos países e tem sido cada vez mais empregada por grandes organizações criminosas para além de suas fronteiras: em países onde o acesso a crédito é restrito pelas vias formais, os pagadiario são uma das poucas opções para quem precisa de dinheiro na mão de forma rápida. Recentemente, em El Salvador, mais de 100 gota a gota colombianos foram presos acusados de aplicar golpes financeiros nos seus clientes e lavar dinheiro do narcotráfico.
PANAMÁ 🇵🇦
Virou comum, e agora começa a acontecer inclusive em épocas que costumavam ver chuvas: o Canal do Panamá voltou a estender restrições na terça (25) como efeito das secas que atingem o país. Desta vez, para não reduzir outra vez a profundidade máxima autorizada para os barcos que circulam na passagem, a autoridade responsável vai limitar o número de navios que podem cruzar o Canal diariamente: até segunda ordem, só 32 poderão fazer a travessia, ante uma média que historicamente chega a 36 nessa parte do ano, normalmente mais chuvosa. O motivo tem a ver com o funcionamento da estrutura, que depende dos lagos vizinhos para operar o famoso sistema de eclusas – só que os mesmos lagos também abastecem as comunidades ao redor, exigindo um uso responsável em períodos de menos precipitação, como é o caso agora. “Sem precedentes na história”, definiu a Autoridade do Canal do Panamá, comentando sobre a atual falta de chuvas. Via Reuters.
PARAGUAI 🇵🇾
A três semanas de tomar posse em Assunção, o presidente eleito Santiago Peña passou por São Paulo na quarta-feira (26) e se reuniu com empresários brasileiros, convidando-os a investir na nação guarani. Peña enfatizou que o Paraguai “fez enormes esforços para se integrar a cadeias produtivas como o Brasil” e uma integração maior depende da capacidade de “diferenciar entre o que realmente é o Paraguai e o que muitas vezes é uma imagem ruim que nós, paraguaios, temos”. Foi a segunda viagem de Santiago Peña ao país vizinho desde que foi eleito, no final de abril, e ele ainda encontraria Lula na sexta (28), quando falaram de Itaipu – cujo cinquentenário tratado binacional expira agora em agosto – e dos rumos do Mercosul ante o travado acordo com a União Europeia, entre outros assuntos. Antes da reunião, o ensaboado político paraguaio não poupou seu futuro homólogo brasileiro dos elogios: “[Lula é] a figura política mais importante de nosso tempo”, disse. Ele sucede Mario Abdo Benítez no próximo dia 15/8. Via EFE.
PORTO RICO 🇵🇷
Derrota para grupos ambientalistas que tentavam barrar um projeto de dragagem na baía de San Juan, capital da ilha: um juiz federal dos EUA decidiu, na segunda (24), que as operações que buscam aumentar a navegabilidade na área podem seguir em frente, após considerar que os possíveis impactos foram adequadamente avaliados pelos responsáveis. Entidades protetoras do meio ambiente vêm argumentando que a proposta elaborada em 2018 foi feita às pressas e poderia ameaçar corais, tartarugas marinhas e contribuir para um aumento da poluição atmosférica – mas não conseguiram convencer a Justiça. A expectativa é que os trabalhos – conduzidos por engenheiros do Exército dos EUA – durem 10 meses, ao fim dos quais se espera que o calado máximo dos navios que circulam por San Juan seja ampliado. Hoje, os barcos precisam reduzir sua carga antes de entrar na região, para evitar o risco de encalhar. Via Reuters.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Com a popularidade sempre em bons níveis, o presidente Luis Abinader surpreendeu na quarta (26), em uma entrevista na TV, ao dizer que “não gosta” do modelo de reeleição consecutiva existente no país, que pode beneficiá-lo em breve. Para Abinader, o melhor sistema seria exigir que os mandatários cumprissem ao menos um período longe do cargo antes de se candidatar novamente – como ocorre, por exemplo, no Chile e no Uruguai. O que não quer dizer, porém, que o presidente dominicano esteja disposto a abrir mão de uma provável vitória no pleito marcado para maio do ano que vem: definindo seu trabalho como um “sacrifício” em nome do país e garantindo que “os melhores tempos ainda estão por vir”, Abinader citou indiretamente seus bons índices de aprovação e disse acreditar que seu partido tem tudo para vencer as eleições mesmo “sem fazer nenhuma campanha”. No Listin Diario.
URUGUAI 🇺🇾
Por trás da estabilidade social e política, o Uruguai guarda um lado obscuro: segundo um novo boletim do Ministério da Saúde divulgado no último dia 17, que marca justamente o Dia Nacional de Prevenção contra o Suicídio, o país bateu recordes históricos nessa triste estatística no último ano, atingindo uma taxa de 23 suicídios por 100 mil habitantes – número mas alto entre todos os países da América Latina. O dado revela uma alta pelo terceiro ano consecutivo e volta a jogar luz em um problema que vem numa crescente há três décadas, colocando o pequeno país em destaque mesmo se comparado a países de fora da região. Segundo especialistas, vários fatores podem explicar o fenômeno. Se, por um lado, os uruguaios enfrentam um enorme estigma ao redor de doenças psicológicas como em outros vários países, há elementos particulares: a laicidade, que supostamente leva muitos a desassociar o suicídio ao pecado religioso, e a incomum dinâmica social de um país com só 3,5 milhões de habitantes, entre outras questões.
VENEZUELA 🇻🇪
Buscando garantir mais apoio para as eleições de 2024, o governo de Nicolás Maduro vem estreitando suas relações com igrejas evangélicas e grupos normalmente associados à direita religiosa. Nas últimas semanas, lideranças ligadas ao partido governista PSUV – inclusive o próprio filho do presidente, Nicolás Maduro Guerra – realizaram encontros com pastores oferecendo trocas de favores, o que levantou alertas especialmente entre organizações que militam pelos direitos da população LGBTQIA+: a aproximação veio imediatamente após as igrejas reagirem aos eventos pelo Mês do Orgulho, em junho. No último final de semana, outro acontecimento voltou a lançar luz sobre a possibilidade de um cerceamento aos venezuelanos cuja orientação sexual desagrada aos ditames religiosos: no domingo (23), um grupo de 33 homens foi preso em um bar e sauna LGBTQIA+ em Carabobo, acusados de poluição sonora e atentado ao pudor. Enquanto as autoridades alegam que a operação policial respondia a uma denúncia de que o grupo estaria realizando uma gravação pornográfica, entidades defensoras de direitos humanos como a Anistia Internacional apontaram a arbitrariedade das acusações e foram taxativas: “33 pessoas foram acusadas de homossexualidade em 2023”. Via O Globo.
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