Afeganistão: América Latina abre portas a refugiados
Covid: semana tem menores números de casos e mortes em 2021 | Haiti devastado por novo terremoto | Uruguai chega a 70% imunizados | Vídeo: os latinos que já aplicam a controversa 3ª dose da vacina
A crise humanitária que se desenvolve no Afeganistão, reconquistado de vez pelo Talibã, extrapolou as fronteiras do Oriente Médio: desde o último final de semana, após os rebeldes tomarem a capital Cabul, o mundo assistiu a uma diáspora desesperada de milhares de civis que temem permanecer novamente sob um governo radical, que já comandou com brutalidade entre 1996 e 2001. Se muitas pessoas deixaram o país como puderam (inclusive a bordo de aviões do Exército dos EUA, que retiraram as tropas do país asiático), outras poderão encontrar refúgio por aqui, em terras latinas. Desde que o êxodo forçado se iniciou, governos de México, Chile, Equador e Costa Rica já tomaram a dianteira oferecendo acolhimento humanitário a famílias afegãs.
No caso mexicano, a decisão foi confirmada pelo chanceler Marcelo Ebrard, que informou pelo Twitter que o governo López Obrador já iniciou “o processo das primeiras solicitações de refúgio de cidadãos afegãos, especialmente de mulheres e meninas”. Mulheres, de fato, estão entre as que mais temem a volta de uma administração submetida a uma interpretação extremista da sharia (sistema jurídico com base no Alcorão): ainda que os novos líderes talibãs tenham prometido “respeitar direitos”, como parte de uma questionada propaganda de moderação, disseram que tudo será feito “dentro da lei islâmica”; com as mudanças, elas supostamente poderiam trabalhar fora de casa, mas muitas já dizem que o governo vem perseguindo mulheres ativistas de porta em porta.
Já o Chile, segundo o chanceler Andrés Allamand, dará “prioridade às pessoas mais ameaçadas” e prometeu receber pelo menos 10 famílias, por meio de ações coordenadas com ONGs que têm contato com a zona afegã que segue sob controle da OTAN (essencialmente EUA e Reino Unido). Apesar da crise social de 2019 e da que veio a reboque com a pandemia, o Chile segue sendo um destino procurado por muitos migrantes, sobretudo os da vizinhança: tanto haitianos quanto venezuelanos costumam procurar a nação andina em busca de um recomeço.
Quem também abriu as portas publicamente foram Equador e Costa Rica. O presidente equatoriano Guillermo Lasso anunciou que “toda a comunidade internacional deve permanecer alerta aos riscos de uma catástrofe humanitária no Afeganistão, independente da situação geográfica”. O conservador, que tomou posse em maio, prometeu “não medir esforços” para amparar os refugiados, em especial mulheres acompanhadas de crianças. Lasso não disse, no entanto, se pretende revogar as restrições para a chamada política de livre mobilidade humana: criada em 2008 e suspensa em 2010, a medida permitia que cidadãos de vários países, entre eles o Afeganistão, entrassem livremente no país sem a necessidade de visto; há cerca de uma década, isso foi revertido após a chancelaria entender que havia um “fluxo incomum” de migrantes de alguns países. E a barreira surtiu efeito: entre 2017 e 2021, apenas 66 afegãos ingressaram ali.
O mandatário também fez um chamado a seus vizinhos latino-americanos que ainda não se pronunciaram publicamente sobre a crise em Cabul, confirmando que o Equador é um dos signatários de uma declaração conjunta a favor de garantir os direitos humanos e à educação de afegãos em situação vulnerável, em especial mulheres e crianças. O documento tem a chancela da União Europeia e de outros 19 países, incluindo os latinos Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Honduras, Guatemala e Paraguai. A Colômbia deve servir como entreposto para até 4 mil refugiados afegãos, que passariam por ali antes de serem admitidos pelos EUA. Já entre os países que só se pronunciaram por meio da chancelaria, mas sem definir diretrizes, o Uruguai conseguiu repatriar duas cidadãs próprias que estavam no Afeganistão.
Na Costa Rica, o governo do presidente Carlos Alvarado avalia receber cerca de 48 mulheres afegãs e seus filhos. O país centro-americano prometeu unir esforços com a ONU para coordenar ações humanitárias de amparo aos que fogem do Talibã. Segundo a vice-presidenta Epsy Campbell, serão tomadas “as ações necessárias para salvaguardar o bem-estar de mulheres e meninas” – preocupação compartilhada por vários governos da região, que, apesar de enfrentarem suas próprias desgraças, têm se mobilizado frente à crise afegã.
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Un sonido:
DESTAQUES
🌎 Covid: menores números do ano – A América Latina registrou, na última semana, sua marca mais baixa de novos casos e mortes semanais desde o início de 2021. Na prática, significam os registros mais modestos em 33 semanas para os dois índices. A semana também teve recorde de doses de vacina aplicadas na região, superando pela primeira vez o patamar de 30 milhões de inoculações em sete dias. Não quer dizer que todos os países estejam vivendo um bom momento: se os sul-americanos ainda celebram coletivamente uma baixa sustentada nos números (apesar do espectro da variante delta), locais como México e Porto Rico voltaram a atravessar uma rápida piora em seus indicadores, enquanto Cuba até parou de ver a curva subir, mas estabilizou em um patamar altíssimo para seus padrões. Leia nosso levantamento semanal clicando aqui.
🇭🇹 Terremoto volta a devastar Haiti – “Perdi minha casa e aqui não temos nada. O governo não veio e não temos nada para alimentar as crianças”. O relato é de um homem na cidade de Les Cayes, região sul do Haiti e uma das mais afetadas pelo terremoto de magnitude 7,2 que já deixou (oficialmente) 2.189 mortos e 12,2 mil feridos desde o último final de semana. No local, epicentro do sismo, cidadãos que perderam suas casas têm vivido em abrigos improvisados, compartilhando a pouca comida que chega e usando lonas para se proteger das fortes chuvas – isso porque, como uma crise só parece não ser suficiente, o país também vem sendo afetado por tempestades: a depressão tropical Grace atrapalhou missões humanitárias por lá, após o país também ficar em alerta pelo ciclone Fred. A crise cumulativa no país mais pobre do Hemisfério (que, vale lembrar, viu seu presidente ser assassinado em julho, tem enfrentado picos na pandemia nas últimas semanas e ainda enfrenta uma onda de sequestros) tem levado vizinhos a se mobilizar: um deles é a também instável Venezuela, que prometeu 30 toneladas de donativos. “O que vamos fazer? Aqui não temos governo. Nos ajudamos entre nós mesmos. É o que temos como qualidade no Haiti, mesmo quando não temos nada”, diz outro sobrevivente. Em El País.
🇧🇴 Investigação confirma violações no golpe – Um novo relatório do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI) concluiu que houve gravíssimas violações de direitos humanos durante a crise que levou à queda do ex-presidente Evo Morales (2006-2019), o que inclui execuções sumárias, massacres, crimes de racismo, tortura e estupro. Ainda que o documento, que contempla um período de setembro a dezembro de 2019, também responsabilize minimamente os dias finais do governo Morales (o que levou a extrema-direita a pedir que Evo também seja processado), a carga de acusações recai, principalmente, sobre a administração golpista de Jeanine Áñez. Ela, que segue detida aguardando julgamento, inclusive pode ser processada por crimes de genocídio por conta dos massacres de Senkata e Sacaba, que deixaram pelo menos 37 mortos, em sua maioria indígenas. O relatório cita a “ação desproporcional” da polícia e das Forças Armadas no âmbito do golpe, mas também menciona enfrentamentos civis contra e a favor do governo. Segundo o presidente Luis Arce, que pediu ao Congresso a abertura dos processos contra os implicados, “todas as forças políticas devem assumir essa responsabilidade que se traduz em compromisso com a democracia”. Na teleSUR.
🇨🇺 Nova lei restringe críticas online – As redes sociais se tornaram um componente importante nos capítulos da recente crise em Cuba: além de, pela primeira vez, terem se tornado um ambiente de agitação para as passeatas de 11/7 (o que também só foi possível graças a aberturas durante os anos de Raúl Castro), as plataformas digitais se tornaram alvo do governo quando o estopim social saiu do controle. No mês passado, no auge dos protestos, houve inclusive relatos de que o acesso à internet foi restringido com o objetivo de desmobilizar a população. Durante a semana, o poder deu um passo adiante na restrição, divulgando um pacote de leis que passa a proibir o uso das redes como ferramenta de agitação social contra o Estado. O decreto assinado pela ministra das Comunicações, Mayra Arevich, visa “prevenir, detectar e responder oportunamente a possíveis atividades inimigas, criminosas e nocivas que possam ocorrer no ciberespaço”. A medida tem sido criticada dentro e fora de Cuba, com acusações de ser uma nova “censura” – em um setor até então menos vigiado – por parte do poder público. No CiberCuba.
🇺🇾 70% imunizados – O Uruguai atingiu a marca de 70% da população vacinada com as duas doses, tornando-se o primeiro latino-americano a bater no patamar mínimo inicialmente projetado pela OMS como necessário para ver a pandemia começar a ficar definitivamente controlada. O número exato para dominar o vírus, porém, ainda é desconhecido, e se acredita que as novas cepas exijam um percentual maior. De todo modo, os resultados da campanha de vacinação têm sido percebidos: o país, que no pior momento chegou a ter uma média de mais de 3,7 mil casos diários, agora completou a segunda semana consecutiva com apenas 115 novos contágios confirmados a cada 24 horas. O Uruguai também lidera os polêmicos esforços pela aplicação de uma dose de reforço, tendo iniciado a terceira inoculação nesta semana e já vendo uma fila de 800 mil pessoas inscritas para recebê-la. O objetivo é aumentar a proteção, aplicando um reforço de Pfizer para aqueles inicialmente imunizados com a Coronavac. Embora haja consenso de que uma nova dose será necessária para a maioria das vacinas existentes, sua aplicação imediata é controversa: a OMS defende uma melhor distribuição de vacinas pelo mundo antes que os países comecem a dar reforços, mas o pedido vem sendo ignorado (veja mais em Un video). Via AP.
Un video:
REGIÃO 🌎
O governo dos EUA propôs repaginar o formato pelo qual pedidos de asilo são processados, a fim de evitar uma enorme fila de espera nas perigosas e violentas regiões fronteiriças. Segundo a administração democrata, solicitações rotineiras não seriam mais encaminhadas de forma automática ao sobrecarregado sistema judicial de imigração, hoje sob o guarda-chuva do Departamento de Justiça. Em vez disso, as requisições seriam supervisionados por oficiais de asilo dos Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA, que é gerido pelo Departamento de Segurança Interna. De acordo com os defensores dessa mudança, além de agilizar processos, seria possível identificar pedidos legítimos de proteção, aceitando ou excluindo as solicitações sem tanta demora. Organizações de direitos humanos enxergam a possível alteração com boa expectativa, mas alertam que a decisão pode ser melhorada. Desde a posse de Biden, que prometeu eliminar as medidas de tolerância zero dos anos Trump, mais pessoas têm tentado chegar aos EUA. Via AP.
ARGENTINA 🇦🇷
As imagens do presidente Alberto Fernández violando a quarentena rígida que ele mesmo havia imposto ao país, ao reunir familiares e amigos para comemorar o aniversário da primeira-dama Fabiola Yáñez em julho do ano passado, seguem repercutindo negativamente no país. Nesta semana, novos vídeos da festa clandestina foram divulgados pelo próprio governo, no que analistas consideraram uma tentativa de controlar o estrago – esgotando o debate rapidamente em vez de ver a crise se desenrolar a conta-gotas. Mas Fernández não deve ter vida fácil: além de a oposição ter discutido um pedido de abertura de “impeachment” (que dificilmente vai prosperar, mas poderia desgastar ainda mais o governo), a Justiça também está em cima do caso e poderia punir o presidente por desrespeitar o decreto sanitário – tudo isso enquanto o país se aproxima das primárias das eleições legislativas, que ocorrem em 12/9, e funcionam como uma espécie de “primeiro turno” para o pleito marcado para novembro. Quase metade da Câmara e um terço do Senado serão renovados, e a oposição vem usando o escândalo para capitalizar durante a campanha – até o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que vinha criticando o atual governo mas evitando palanques, voltou à cena como cabo eleitoral de María Eugenia Vidal, ex-governadora da província de Buenos Aires e hoje pré-candidata a deputada representando a capital.
O estrepitoso fracasso do futebol de clubes argentino, que pela primeira vez em 28 anos não tem semifinalistas em nenhuma das duas principais competições sul-americanas, vem dando o que falar do outro lado da fronteira. Em paralelo, um domínio cada vez maior do futebol brasileiro, com três dos quatro semifinalistas da Copa Libertadores (com a exceção sendo o Barcelona de Guayaquil, do Equador) e outros dois na Copa Sul-Americana, parece colocar o segundo campeonato mais rico do subcontinente no divã. Um calendário que não para, um mercado incomparavelmente maior para as receitas de TV e a absoluta falta de controle para fazer dívidas no Brasil são algumas das razões que esta análise de La Nación traz à mesa para tentar entender como os times daqui vêm tirando cada vez mais distância para seus concorrentes – mesmo em relação aos próprios argentinos, historicamente os maiores campeões nos dois torneios dos quais, em 2021, já estão eliminados.
BOLÍVIA 🇧🇴
E 2019 segue vivo: naquele ano, a tentativa de Evo de concorrer ao quarto mandato presidencial consecutivo (o que só foi permitido de forma polêmica, após o próprio Morales recorrer aos tribunais e derrubar a decisão de um referendo popular que negou a possibilidade de reeleição) potencializou o ódio a seu comando, o que acabou se tornando um elemento crucial, ou ao menos um pretexto, para o irrompimento do golpe. Nesta semana, uma nova derrota para o argumento do ex-mandatário: a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) estabeleceu que “a proibição da reeleição indefinida”, fato que levou Evo a recorrer à justiça, “é compatível com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos”. Em outras palavras, Evo Morales não tinha base legal para alegar que seus direitos estavam sendo violados ao ser impedido de se reeleger, sobretudo após a derrota em referendo. A decisão, que ainda divide a política local, foi criticada e elogiada por diversos atores. Em El País.
CHILE 🇨🇱
Boas notícias: segundo o Ministério da Saúde, a semana teve a taxa mais baixa de testes positivos para covid-19 desde março de 2020, quando a pandemia começou. Efeito direto de uma rápida vacinação (até aqui, o país andino deu conta de imunizar com duas doses 69% de sua população, além de já avançar com a terceira dose), a situação de baixa contaminação também foi vista em números diários, fato celebrado pelo ministro Enrique Paris: na quarta (18), foram 405 novas infecções confirmadas, menor patamar desde abril do ano passado. Diante de uma melhora geral, o país também já não tem mais nenhuma de suas comunas sob quarentena. Em El País.
Resultados positivos na saúde e também na economia: no segundo trimestre de 2021, o PIB chileno teve uma alta de 1% em relação aos três meses anteriores e um incremento de 18,1% na comparação com o mesmo período do ano passado – a maior alça interanual desde que há registros, refletindo o contraste com um período em que a Região Metropolitana de Santiago esteve sob lockdown severo em 2020 (na ocasião, o trimestre registrou uma queda de 14,1% em relação à mesma época de 2019). Embora esperado em função da reabertura, o crescimento superou as expectativas: “isso mostra a resiliência do nosso país em todos os setores econômicos”, celebrou o ministro da Economia, Lucas Palacios. Via EFE.
Una expresión:
Allin hamusqa kay – em quéchua, é um cumprimento comum entre povos originários andinos, seja para cerimônias ou para saudações do cotidiano. Também é visto nas versões allin hamusqan kankichis e significa, literalmente, “sejam bem-vindos”.
COLÔMBIA 🇨🇴
De forma inédita, a Colômbia extraditou na quinta (19) dois supostos membros do Exército de Libertação Nacional (ELN) para os EUA, onde são acusados de crimes relacionados ao narcotráfico. Embora a extradição já tenha sido empregada antes com cidadãos colombianos e, inclusive, membros das hoje desmobilizadas FARC, elenos (como são chamados os membros do ELN) ainda não haviam sido alvo da dura medida. Além dos enviados ao Norte durante a semana, os EUA expediram ordens de captura contra outros três membros da organização – classificada como terrorista por Washington –, incluindo Wilver Villegas-Palomino, considerado o atual líder do ELN. Via Reuters.
Cerca de 1,4 mil pessoas foram obrigadas a fugir de casa no município de Medio San Juan, no departamento de Chocó, oeste do país, em meio a conflitos entre guerrilheiros do próprio ELN e da maior organização do narcotráfico colombiano atual, o Clã do Golfo. Segundo o Ministério da Defesa, elenos e o cartel disputam “um corredor de tráfico de drogas” na região, com o ELN aumentando sua presença na área nos últimos dois anos. Além dos moradores deslocados, um número semelhante foi pego em meio ao fogo cruzado e estaria impedido de sair de casa. Os conflitos armados, que voltaram a se intensificar no interior do país após uma ligeira baixa na sequência dos Acordos de Paz de 2016 (que desmobilizaram as antigas FARC), já tinham levado ao deslocamento de 44.290 pessoas na Colômbia nos primeiros seis meses de 2021 – um aumento de 256% em relação ao mesmo período do ano passado. Via AFP.
A prefeita de Bogotá, Claudia López, voltou a causar alvoroço por uma medida considerada xenófoba pelos críticos. Horas depois de López anunciar a criação de um comando policial para combater crimes cometidos por migrantes, o diretor de Migração Colômbia, Juan Francisco Espinosa, desautorizou a prefeita, por considerar que essa é uma prerrogativa exclusiva do governo nacional. Segundo dados divulgados pelo próprio Espinosa no ano passado, cerca de 96% dos roubos no país são cometidos por colombianos, enquanto apenas 4% por estrangeiros – o que contraria a tese de que a migração venezuelana seria a causa do aumento da criminalidade no país. Após a repercussão negativa, a mandatária bogotana disse que a medida “não tem nada a ver com nacionalidade”, mas sim com a identificação de pessoas que “cruzam [a fronteira] ilegalmente” e cometem crimes. Em El País.
COSTA RICA 🇨🇷
Semana humanitária na Costa Rica. Além de considerar oferecer asilo a pelo menos 48 mulheres afegãs (leia mais no abre desta edição), o país também se dedicou a enviar ajuda ao Haiti, abalado por um novo terremoto, que foi seguido pela enxurrada causada por uma depressão tropical: em colaboração com o Chile, a nação centro-americana enviou a Porto Príncipe oito toneladas de alimento não-perecível, uma tonelada de água potável e uma tonelada de equipamentos de proteção individual. Segundo o embaixador chileno em San José, seu país cedeu o avião, mas “a ajuda humanitária é da Costa Rica, que soube reagir tão rapidamente ao oferecimento”. No Delfino.
CUBA 🇨🇺
A Anistia Internacional declarou “prisioneiros de consciência em nome de centenas” seis cidadãos detidos durante as jornadas de manifestações nas primeiras semanas de julho. Entre os presos está o opositor José Daniel Ferrer, 51, além de artistas e ativistas dissidentes. Ferrer, inclusive, teve prisão domiciliar revogada durante a semana e foi condenado a uma pena de 4 anos de reclusão por crimes de agressão, entre outros. O governo em Havana segue alegando que todos os detidos causam “desordem” na política local e que seriam financiados por agentes do exterior. Para familiares do líder opositor, a decisão é “totalmente motivada por política, não pela lei”. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
A reforma constitucional já colocada em pauta pelo presidente Nayib Bukele e pelo seu Congresso dominado pelos governistas está, como se imaginava, provocando repúdio da oposição. O mandatário vem tentando tranquilizar críticos internacionais afirmando que as mudanças não se aplicariam a ele próprio, mas temas como o aumento do período de governo de cinco para seis anos e a redução do tempo de espera para que um ex-presidente volte a concorrer (o atual entendimento do Supremo local é pela necessidade de uma ‘quarentena’ de 10 anos) têm causado temores de que Bukele poderia usar a manobra como uma forma de se perpetuar no poder. Ainda gozando de amplo apoio popular, o mandatário tem domínio sobre os três poderes do país, depois que seus correligionários assumiram a ampla maioria do Parlamento em maio e, na sequência, destituíram a parte do Supremo que decide sobre questões constitucionais, abrindo caminho para nomeações pró-governo. Na Prensa.
EQUADOR 🇪🇨
Depois de Chile, República Dominicana e Uruguai, o Equador também estuda se juntar à lista de nações latino-americanas que já estão aplicando uma dose de reforço – posterior ao ciclo original, geralmente de duas inoculações – das vacinas contra a covid-19 (veja mais em Un video). Com uma campanha de imunização que avançou rapidamente nos últimos dois meses, o Equador já distribuiu 90 doses a cada 100 habitantes, com 32% da população totalmente vacinada. De acordo com o Ministério da Saúde, a experiência internacional vem mostrando que pessoas com imunodeficiência vão precisar de uma terceira dose, e elas serão priorizadas na nova fase da campanha – com a expansão do reforço para a população geral ficando dependente de estudos sobre a necessidade e o tempo adequado para uma nova injeção. Via Reuters.
Un clic:
A tenista nipo-haitiana Naomi Osaka prestou solidariedade ao país natal de seu pai e prometeu doar qualquer prêmio que vencesse no torneio que disputou durante a semana para auxiliar nos esforços humanitários após o terremoto.
GUATEMALA 🇬🇹
Sem trégua: continuam os protestos contra o presidente Alejandro Giammattei, que se intensificaram há três semanas após a polêmica destituição do procurador anticorrupção do país (leia no GIRO #92). As manifestações haviam passado por uma breve baixa de intensidade, após alguns dos grupos mobilizados terem definido a quarta-feira (18) como ultimato para que os políticos e funcionários questionados – incluindo o próprio presidente – renunciassem, mas, como não foram atendidos, os descontentes voltaram às ruas. Organizações indígenas, sociais, estudantis e campesinas vêm liderando o novo impulso contra o governo que, no entanto, ainda se sustenta. Via EFE.
HONDURAS 🇭🇳
Por fim, começou nesta quinta (19) a aplicação da segunda dose da vacina para quem havia recebido a inoculação com a russa Sputnik V: dois meses depois do prazo original de 30 dias. Entre os priorizados para completar o ciclo vacinal estiveram cerca de 2 mil jornalistas da capital Tegucigalpa e de San Pedro Sula, a segunda maior cidade hondurenha, no que opositores apontaram como uma suposta tentativa do governo de coagir a imprensa e ver as críticas perderem força nos principais veículos do país. Com muita demora para receber imunizantes, Honduras até agora só aplicou 33 doses a cada 100 habitantes (ficando em 17º lugar entre os 21 locais que o GIRO acompanha), com menos de 10% da população tendo recebido as duas inoculações. Via EFE.
MÉXICO 🇲🇽
Funcionários de uma fábrica da General Motors votaram pelo fim de um contrato de negociação coletiva que tinha por trás as ações de um sindicato da ‘velha guarda’, acusado de táticas de intimidação contra trabalhadores. Quase 6 mil pessoas participaram de uma votação de dois dias, segundo o Ministério do Trabalho do México, com ampla vitória a favor do fim do conluio. No entanto, apesar da rejeição ao sindicato, os trabalhadores seguem com os mesmo benefícios e condições de trabalho, um efeito direto do nos novos dispositivos legais e trabalhistas acordados no T-MEC (acordo de livre-comércio entre México, EUA e Canadá, que substituiu o Nafta de 1994). Segundo o ministro do Trabalho, a votação foi uma prova de “democracia sindical”. Via AP.
A marcante tomada do México em 13 de agosto de 1521, a mando dos europeus, foi exatamente isso: uma ação violenta a mando dos invasores do velho continente, já que a guerra em si contou com apenas 1% de homens brancos no contingente. Toda a maioria restante que sequestrou a cidade indígena de México-Tenochtitlán, hoje a capital Cidade do México, tinha guerreiros nativos, liderados pelo espanhol Hernán Cortés. “O que os uniu foi um inimigo comum: a cidade”, conta o historiador Miguel Pastrana, pesquisador do período colonial indígena da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Segundo o especialista, até a queda de Tenochtitlán, os povos originários (bastante desunidos) enxergavam os invasores europeus como mais um grupo entre tantos. Posteriormente, a história mostrou a verdadeira intenção corrupta, sangrenta e dominadora dos servos da Coroa. O debate sobre a participação de nativos na queda da antiga capital voltou à tona na semana passada, quando o 500º aniversário da data foi ressignificado pelo governo, que deixou de celebrar a “refundação” da cidade pelos espanhóis e agora considera o feriado uma data para rememorar a Resistência Indígena. Na BBC.
NICARÁGUA 🇳🇮
A perseguição a La Prensa, principal jornal do país e crítico do governo, vem gerando cada vez mais reações no exterior. O diário, que havia anunciado uma nova suspensão de suas edições impressas após mais um bloqueio à importação de insumos, também foi alvo de uma operação de busca e apreensão e teve seu diretor, Juan Lorenzo Holmann, preso no último sábado (14). O La Prensa – que, no dia em que suspendeu sua impressão, saiu com a manchete “A ditadura retém nosso papel, mas não pode ocultar a verdade” – é acusado de lavagem de dinheiro e fraude aduaneira, denúncias que são vistas com reservas em um momento em que o governo vem intensificando a perseguição contra qualquer um visto como opositor, de pré-candidatos à presidência a ONGs. Entidades como a Repórteres Sem Fronteiras se juntaram aos pedidos pela liberação de Holmann e o fim dos bloqueios ao jornal.
PANAMÁ 🇵🇦
Um túnel sob o Canal do Panamá. Este é o ambicioso projeto que o metrô da capital panamenha licitou nos últimos dias, orçando o desenho básico em US$ 9 milhões para o novo trecho da linha 3 do trem urbano. A expectativa é que o caminho tenha 5,3 km de extensão, a uma profundidade de no máximo 64 metros, com as obras tendo início em fevereiro de 2023. Inaugurado há sete anos com direito a financiamento – entre outros – do BNDES brasileiro, o metrô da Cidade do Panamá atualmente conta com duas linhas, que se estendem por 37,3 km. Em La Estrella de Panamá.
Una palabra:
Ojalá – herança do domínio muçulmano na Península Ibérica, essa palavra comum na língua espanhola vem do árabe in sha’ Allah, “se Deus (Alá) quiser”, e é usada com o sentido de “tomara”. Embora menos usual, o português também tem “oxalá” com o mesmo sentido, mas no Brasil a expressão acaba causando confusão em função de uma palavra idêntica com origem e significado distinto – Oxalá, afinal, também é o nome de um orixá no candomblé, proveniente de Orishanlá na língua dos iorubás.
PARAGUAI 🇵🇾
Em semana de novos recordes históricos de temperatura para esta época do ano, o país voltou a se preocupar seriamente com a seca que afeta o Rio Paraguai, outra vez a ponto de ficar com o nível das águas zerado no porto de Assunção. No ano passado, o leito já havia registrado sua maior seca em meio século (relembre no GIRO #49), chegando inclusive a estabelecer um recorde histórico com o nível do rio batendo em -0,54 m na capital – o número pode ficar negativo porque, como o fundo do rio nunca é plano, a altura é calculada levando em conta o mínimo necessário para o trecho ser adequadamente navegável. Segundo o Centro de Armadores Fluviais e Marítimos (CAFyM), que representa o setor da navegação, é o quarto ano consecutivo em que há baixa significativa nas águas do Paraguai, o que leva a uma série de transtornos e prejuízos, além de um temor de desabastecimento – em alguns casos, para conseguir circular no leito quase vazio, os barcos chegam a levar apenas 50% da carga normal. No Última Hora.
PERU 🇵🇪
Semana de crises no governo de Pedro Castillo, que sofreu sua primeira baixa ministerial: na terça (17), apenas 20 dias após o início do mandato, o presidente viu-se obrigado a aceitar a renúncia de seu chanceler, Héctor Béjar, pela repercussão de declarações que ele havia dado em fevereiro. Sem provas, mas citando a experiência histórica, Béjar havia dito que “o terrorismo no Peru foi iniciado pela Marinha”, alegando que a CIA teria treinado militares peruanos para promover insurreições e também financiado secretamente a guerrilha maoísta do Sendero Luminoso, cuja ação foi responsável por mais de 30 mil vítimas fatais, segundo a Comissão da Verdade do país. As acusações tiveram um peso ainda maior em um contexto em que a prévia da posse de Castillo foi recheada de discursos golpistas de ex-militares tentando impedir que o presidente assumisse. Durante a semana, o congressista governista Guillermo Bermejo também ganhou manchetes, após o vazamento de um suposto áudio antigo seu em que aparece chamando o hoje primeiro-ministro Guido Bellido de “imbecil”, e uma denúncia de que – anos atrás – teria recebido US$ 1 mil para viajar à Venezuela se encontrar com membros das FARC. No G1.
Vida difícil também para o ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), que já está preso por corrupção e crimes contra a humanidade cometidos na repressão ao próprio Sendero Luminoso e a civis, muitas vezes mortos para dar números falsos a uma suposta luta contra a guerrilha. O Peru solicitou ao Chile a autorização para um novo julgamento contra o ex-mandatário, hoje com 83 anos, desta vez por tráfico de armas – ele é investigado pela venda, em 1999, de 10 mil fuzis jordanianos para as FARC, uma negociação peculiar para um governante de extrema-direita que justificava seus abusos pelo combate a guerrilhas esquerdistas. O pedido ao país vizinho é parte do acordo de extradição firmado pelas duas nações em 2007, quando Fujimori tentou se esconder em solo chileno: Santiago autorizou que o antigo ditador fosse mandado de volta para ser julgado no país natal, desde que o Chile seguisse sendo consultado cada vez que o Peru decidisse abrir um novo processo pendente. Via AFP.
PORTO RICO 🇵🇷
O primeiro satélite desenhado na ilha já tem data para chegar ao espaço: nesta semana, o presidente da Universidade Interamericana de Porto Rico anunciou que o Puerto Rico CubeSat NanoRocks-2, ou PR-CuNaR2, partirá no próximo sábado (28). Desenvolvido por estudantes de engenharia porto-riquenhos, o satélite estudará a origem e o desenvolvimento de planetas e estrelas jovens, e vai entrar em órbita em uma parceria da NASA com a SpaceX. Caso as condições climáticas não permitam o lançamento na data prevista, uma nova tentativa será feita no dia seguinte. No Vocero.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Na segunda (16), o governo de Luis Abinader completou seu primeiro ano. O presidente, que teve a distinção de ser o primeiro mandatário eleito na América Latina após o começo da pandemia (leia sobre o pleito no GIRO #37), teve doze meses marcados por um combate relativamente eficiente à covid-19, com uma vacinação que avançou acima da média regional e já aplica até a terceira dose, além de uma recuperação econômica e políticas para fortalecer o setor turístico – um dos mais importantes do país caribenho, fortemente golpeado pela crise sanitária. Ao mesmo tempo, a gestão Abinader vivenciou um agravamento das tensões com o vizinho – e cada vez mais em crise – Haiti, que incluiu o início da construção de um muito criticado muro fronteiriço (leia no GIRO #81). O mandato de Abinader segue até 2024, com possibilidade de reeleição para outros quatro anos. Uma análise do ano inaugural do governo, no Celag.
VENEZUELA 🇻🇪
Continuarão em setembro as negociações entre governo e oposição, que tiveram uma rodada preliminar de novos diálogos no México, no último final de semana (leia no GIRO #94). Ainda sem grandes definições, os dois lados da disputa política venezuelana assinaram um documento conjunto afirmando que pretendem trabalhar para formar um “mecanismo consultivo” que seja “o mais inclusivo possível” na busca de um acordo. As novas conversas devem ocorrer entre os dias 3 e 6 do mês que vem, em local ainda não definido. A conclusão do encontro no México foi marcada pela liberação, no domingo (15), do ex-deputado opositor Freddy Guevara, acusado de “traição e terrorismo”. Segundo o próprio presidente Nicolás Maduro, apesar de estar sob liberdade condicional, Guevara poderia participar das novas conversas se a oposição decidir escolhê-lo como emissário. Via Reuters.
Mudança importante: figura influente no poder chavista, Jorge Arreaza deixou de ser ministro de Relações Exteriores do país, dando lugar a Félix Plasensia, antigo enviado da Venezuela na China. A alteração acontece no âmbito das negociações projetadas entre governo e oposição, vista com entusiasmo pela comunidade internacional (saiba mais na nota acima e no GIRO #94). Segundo Maduro, Arreaza agora passa à pasta de Indústria e Produção. Via Reuters.
Não é novidade que tudo relacionado a petróleo seja essencial à já combalida economia venezuelana, afetada não só pela superdependência na commodity como, também, por sanções, corrupção e sucateamento. E a nova polêmica vai pelo mesmo caminho: agora, o governo Maduro teme perder o controle da Citgo, subsidiária norte-americana da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), que está na mira de credores e pode, no limite, sair do guarda-chuva chavista. A questão também é política: para além da dívida bilionária relacionada à empresa, o controle da Citgo está no meio de um fogo-cruzado político, já que os EUA não reconhecem Maduro como presidente, mas, sim, Juan Guaidó. O controle da ameaçada subsidiária, inclusive, está na pauta de negociações entre governo e oposição. Resolver o caso, no entanto, é importante por motivos que fogem à política: dependente das remessas que vêm da petroleira nos EUA, a Venezuela precisa regularizar a situação para evitar uma nova baixa econômica. Em El País.