343 dias após golpe, Bolívia volta às urnas sem Evo nem Áñez
Argentina flexibiliza mais a quarentena | México: ex-secretário de Defesa preso por tráfico | Venezuela: Brasil realiza treino de guerra na Amazônia | Vídeo: colapso climático no continente
Passado quase um ano do golpe que forçou a renúncia de Evo Morales em 10 de novembro de 2019, a Bolívia volta às urnas neste domingo (18), para tentar eleger seu sucessor. O cenário é muito distinto da aparente (e enganosa) tranquilidade que marcou os dias prévios ao pleito do ano passado, disputado em 20 de outubro: se na época Evo Morales vinha liderando com folga todas as pesquisas e parecia ter um novo – e polêmico – mandato encaminhado, hoje a manutenção do primeiro lugar para seu correligionário, Luis Arce, significa muito menos. Após um ano inteiro de violências e intimidações contra membros do governo derrocado e militantes do Movimento ao Socialismo (MAS), a sigla de Evo, há muita dúvida sobre até que ponto um eventual triunfo de Arce seria realmente respeitado pela direita boliviana.
Nas pesquisas, o MAS ainda lidera, mas já tem uma vitória em primeiro turno vista como incerta. O último levantamento de intenções de voto apontou Arce com 42,2% das preferências, seguido pelo ex-presidente Carlos Mesa, com 33,1%, e pelo ultradireitista Luis Fernando Camacho, com 16,7%. Camacho, um dos nomes que alcançou destaque durante as mobilizações anti-Evo de 2019, tinha expectativa de despontar como uma alternativa mais forte aos nomes habituais, mas vem tendo resultados pouco promissores desde o início das pesquisas – cuja precisão ele já colocou em dúvida, convocando seus apoiadores a “votar com fé e sem medo”. A presidenta interina Jeanine Áñez, autoproclamada após a renúncia de Evo e o impedimento político de toda a linha sucessória prevista na Constituição (partidários do MAS, os nomes seguintes também foram barrados arbitrariamente na ocasião), até lançou campanha, mas desistiu em 17/9 após nunca superar um modesto quarto lugar nas pesquisas. Nem os sucessivos adiamentos das eleições (originalmente marcadas para maio) em função da pandemia serviram para tirar proveito da situação e usar a máquina a seu favor. A pandemia, aliás, segue uma preocupação: 62 municípios irão às urnas ainda em “alto risco” diante da covid-19, segundo a classificação do Ministério da Saúde local.
A desistência de Áñez, uma senadora pouco relevante antes de ser alçada subitamente à presidência, tinha uma motivação clara: tentar evitar uma nova vitória do MAS em primeiro turno. Na Bolívia, um candidato é eleito sem necessidade de uma segunda volta de duas maneiras: tendo 50% das preferências mais um voto; ou caso supere os 40% do eleitorado com pelo menos 10 pontos percentuais de vantagem sobre o concorrente mais próximo. Quando Áñez desistiu, as pesquisas indicavam uma vitória de Arce em primeiro turno, mas muitos eleitores em potencial da interina migraram para Mesa. Penúltimo presidente antes de Evo assumir, Mesa governou em um período de instabilidade política entre 2003 e 2005 e já havia sido segundo colocado em 2019. Ele vem confirmando sua força como quadro mais viável da oposição ao MAS – embora os grupos que encabeçaram o golpe do ano passado sempre o tenham visto como “moderado demais” e viessem tentando emplacar um nome mais à direita.
Evo, que concorreu de forma controversa em 2019 após ter a possibilidade de reeleição rejeitada pela população em um referendo, mas garantida pela Justiça Eleitoral, venceu com folga o pleito de um ano atrás. Mas acusações de fraude, endossadas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) à época e, posteriormente, jamais comprovadas, serviram de pretexto para forçar sua renúncia – com direito a levante de policiais, militares, e muito derramamento de sangue. Agora, impedido de concorrer pelas autoridades eleitorais da Bolívia (inteiramente substituídas após o golpe) e asilado na Argentina, o ex-presidente vem convivendo com uma miríade de acusações que incluem até estupro de menor.
Ativo nas redes e se dizendo vítima de lawfare, garantindo que as denúncias têm sido forjadas com o apoio do governo interino para inviabilizá-lo politicamente, Evo tem o futuro incerto – como a própria Bolívia às vésperas de eleições que chegam com uma vaga esperança de pacificação, mas que, na realidade, carregam em si o potencial de agravar ainda mais a crise do último ano.
😷 Covid: em semana de feriadão em toda a região, o que costuma represar os dados, a América Latina teve baixas notáveis, com o menor registro de novos casos em 18 semanas e de novos óbitos em 21. Os próximos sete dias dirão se a queda contínua chegou mesmo a um patamar ainda mais baixo ou se foi efeito do 12/10. Confira nosso levantamento semanal da pandemia no continente.
Un sonido:
Nosso episódio especial de 1 ano do GIRO, que celebramos na segunda-feira (12), lembrou as notícias mais inusitadas que cruzaram nosso caminho. Clique acima para ouvir.
REGIÃO 🌎
Momentos de crise como o atual, que vem trazendo altas históricas do dólar frente a grande parte das moedas latinas, reacendem debates sobre as vantagens e desvantagens de abrir mão da autonomia sobre o próprio dinheiro e adotar oficialmente a dolarização. Esta reportagem da BBC discute as experiências de El Salvador, Equador e Panamá, as três nações latino-americanas que utilizam a moeda estadunidense, e o que elas ganharam e perderam nesse processo.
Em paralelo aos jogos com gráficos extremamente detalhistas, um mercado de games com artes muito mais simples vem ganhando espaço, como aconteceu recentemente com o agora popularíssimo Among Us, que tomou a internet de assalto. Exigindo um orçamento mais baixo para serem produzidos, esse tipo de jogos cria também oportunidades para desenvolvedores com menos recursos, como é o caso dos latino-americanos. Na Folha.
ARGENTINA 🇦🇷
Grandes protestos de oposição tomaram conta do país no feriado de segunda-feira (12), mantendo as bandeiras habituais das últimas semanas: o pedido por um fim definitivo da quarentena, além de questionamentos sobre as manobras judiciais que buscariam proteger Cristina Kirchner dos processos que pesam contra ela, bem como protestos pela crise econômica e cambial que se aprofunda pelo país. Convertida no atual epicentro latino da covid-19 após a flexibilização inicial da longa quarentena que manteve os números baixos por meses, a Argentina agora parece sem clima social e econômico para voltar atrás: mesmo vivendo o pior momento em toda a pandemia, o governo anunciou que algumas pessoas incluídas nos grupos de risco já deverão retornar ao trabalho, confirmou que o congelamento das tarifas de água e luz será suspenso antes do final do ano, e até liberou o reinício do campeonato nacional de futebol no fim do mês, entre outras medidas.
O peronismo, uma das ideologias mais influentes (e indefiníveis) da América, está de aniversário: neste sábado (17), cumprem-se 75 anos das gigantescas mobilizações que, em 1945, exigiram a liberação do coronel, ex-ministro e ex-vice-presidente Juan Domingo Perón, detido pouco tempo antes em um golpe palaciano da ditadura que então governava o país. Popular com a classe operária pela legislação trabalhista que impulsionou ao comandar a pasta, Perón acabou libertado após a marcha que tomou Buenos Aires em 17/10, conhecido como Día de la Lealtad. É o marco simbólico do nascimento do peronismo (e do antiperonismo), que chegaria ao poder pela primeira vez com a eleição do militar à presidência um ano mais tarde. Para começar a entender esse movimento tão particular, veja algumas frases célebres de Perón. No Clarín, um especial sobre o dia.
BOLÍVIA 🇧🇴
As chuvas que caíram sobre o departamento de Santa Cruz deram uma trégua ao calor e ajudaram a conter o avanço das queimadas em pelo menos 12 zonas, informaram as autoridades locais. Assim como estados do centro-oeste brasileiro, o Paraguai e a região mais setentrional da Argentina, a Bolívia vem sofrendo com a prolongada estiagem e as temperaturas elevadas que atingem o coração da América do Sul. A expectativa é que, em Santa Cruz, temperaturas mais baixas e possibilidade de chuvas se mantenham por todo o fim de semana. No vídeo abaixo, em mais uma colaboração com o Intercept Brasil, o GIRO contou sobre a emergência climática em curso no continente:
CHILE 🇨🇱
Mais uma acusação constitucional fracassou no Congresso chileno. Desta vez, o alvo era o ex-ministro da Saúde, Jaime Mañalich, que renunciou ao cargo em junho, apontado pela oposição por improbidade administrativa e ocultação de dados da pandemia. No entanto, os próprios deputados de oposição se dividiram na votação de terça (13), livrando Mañalich por 73 votos a 71. A acusação constitucional é um instrumento que possibilita a remoção de agentes públicos no Chile e a eventual abertura de processos por ações que sejam vistas como contrárias à Constituição. No atual governo Piñera, foi a sétima vez que a oposição apresentou acusação do tipo (o próprio presidente chegou a ser alvo de uma), e a sexta a não vingar – o único efetivamente derrotado em um processo semelhante foi o ex-ministro do Interior, Andrés Chadwick, pelas violações de direitos humanos cometidas sob seu comando nos protestos do ano passado. Logo após o fracasso do caso contra Mañalich, a oposição voltou à carga e apresentou outra acusação constitucional, desta vez contra o atual titular de Interior, Víctor Pérez. O caso ainda será avaliado por comissões internas do Congresso antes de chegar a votação. Em La Tercera.
Neste domingo (18), os chilenos prometem voltar às ruas naquele que será o primeiro aniversário do estopim dos protestos de 2019, que culminaram com a convocação do iminente plebiscito pela reforma da Constituição, marcado para 25/10. Na sexta (16), como um prelúdio do que vem por aí, manifestantes pintaram de vermelho a estátua do general Manuel Baquedano (1823-1897), monumento que fica no centro da praça onde os protestos se concentraram. Felipe Alessandri, o prefeito conservador de Santiago, disse que o ato foi um “péssimo augúrio” para o final de semana. No T13.
COLÔMBIA 🇨🇴
Uma marcha com 9 mil indígenas segue a caminho de Bogotá e deve chegar à capital na próxima segunda (19). A minga (entenda o que é na seção Una palabra deste GIRO) saiu de Cali na quinta-feira, com o objetivo de se reunir com o presidente Iván Duque e apresentar demandas e inconformidades sobre a situação vivida pela população nativa, incluindo temas como disputas territoriais e a nova onda de assassinatos de ativistas. A mobilização, que veio na sequência de mais um desses crimes, teve início após Duque enviar uma comitiva de ministros e altos funcionários a Cali, para um encontro que foi rejeitado pelos líderes indígenas: eles insistem que o diálogo deve ser “de governo a governo”. O poder municipal de Bogotá, desafeto de Duque, vem travando uma batalha com o governo federal sobre a logística para receber a multidão, operação que exige cuidados extras em tempos de pandemia (um tema que, aliás, afetou particularmente os povos indígenas na América Latina, como contamos neste vídeo). Mobilizações encabeçadas por indígenas têm força no continente: em 2019, um movimento dessa natureza foi suficiente para paralisar o vizinho Equador. Em El Tiempo.
Libertado da prisão domiciliar no último sábado (10), o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) aguarda dias mais tranquilos pela frente. Embora ainda sob investigação e podendo ser convocado a depor, um pedido de nova detenção é considerado improvável por analistas. O influente líder conservador foi colocado em prisão domiciliar no início de agosto, sob acusação de subornar testemunhas e de cometer fraude processual. À época, Uribe era senador, mas desde então renunciou ao mandato, o que obrigou a Suprema Corte – inicialmente responsável pelo caso, em função do foro privilegiado – a repassar a questão aos tribunais inferiores, manobra vista por adversários políticos como uma maneira de facilitar a protelação de uma sentença. Em El Tiempo.
COSTA RICA 🇨🇷
O país segue imerso em protestos, que eclodiram após uma proposta de reforma tributária e de pedido de socorro ao FMI (leia mais nas duas últimas edições do GIRO), e não pararam mesmo após o presidente Carlos Alvarado rever as duas ideias diante da insatisfação popular. Majoritariamente pacíficas, as manifestações tiveram uma virada violenta na segunda-feira (12), quando onze policiais acabaram feridos após a marcha tentar furar uma barreira nas imediações da casa presidencial. Pelo menos 28 pessoas foram detidas. Mais um país a viver uma crise severa diante da pandemia, a Costa Rica viu 84 mil novas famílias incrementarem a lista da pobreza no país, que agora atinge 26,2% da população, o nível mais alto desde 1992. No Nación.
CUBA 🇨🇺
Duas mortes causaram comoção nas redes sociais e voltaram a jogar luz sobre o silêncio quanto a crimes violentos que persiste na imprensa oficial cubana. Na quinta (15), amigos do produtor teatral René Pita confirmaram que ele foi encontrado morto em sua casa em Havana, com sinais de violência – segundo os relatos, não confirmados, Pita teria sido vitimado por sete punhaladas. Na sexta-feira, familiares de Dariel Fonseca, um jovem de 21 anos desaparecido desde 11/10, informaram que seu corpo foi encontrado em uma praia próxima ao local onde ele havia sumido, no balneário de El Mégano, na zona leste da capital. Um possível motivo para a morte não havia sido divulgado até o fechamento desta edição, mas nos dias prévios ao achado do corpo sua família havia recorrido às redes sociais para reclamar de informações desencontradas oferecidas pelas autoridades que investigavam o caso.
EL SALVADOR 🇸🇻
Mais uma vez, os militares guardaram silêncio quando convocados pela Justiça a abrir os arquivos dos crimes do passado. Estava marcada para segunda-feira (12) uma inspeção aos registros relacionados ao infame Massacre de El Mozote, quando quase mil pessoas – incluindo crianças – foram executadas pelas Forças Armadas aliadas ao então governo de ultradireita, no final de 1981, início da guerra civil do país (1980-1992). Mas, quando chegou a hora, os oficiais não deixaram ninguém entrar, alegando que os documentos que poderiam vir a público já haviam sido liberados. O crime é considerado a maior chacina da história da América Latina e leva o nome do vilarejo onde o horror aconteceu. Apesar de sucessivas investigações apontarem a necessidade de identificar vítimas e perpetradores, algo que a abertura dos arquivos poderia ajudar, e da pressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o presidente Nayib Bukele alega que grande parte da documentação já foi destruída. Para o que ainda existe, segue se amparando em um dispositivo constitucional que o autoriza a barrar o acesso a “ordens militares secretas”. O documentário sobre El Mozote no Faro e a notícia na CNN.
Una palabra:
Minga – do quéchua mink’a, significa “solicitar ajuda prometendo algo” e se refere a um trabalho comunitário, que envolve colaboração coletiva voluntária e auxílio recíproco. Em países como a Colômbia, o sentido do termo foi expandido e se aplica também a mobilizações sociais dos povos originários, que se organizam para fazer demandas em torno de quatro pilares: unidade, terra, cultura e autonomia.
EQUADOR 🇪🇨
Uma menina francesa de 3 anos, que havia sido sequestrada pelo pai em fevereiro e desde então dada como desaparecida, foi localizada no Equador nesta semana. Segundo as autoridades, Tessy Verrier foi levada da França para Cuba, dali ao Panamá e Colômbia, entrando no Equador em 11/2, quatro dias antes do fim das “férias”, período em que a criança deveria ser entregue de volta aos cuidados da mãe, Valérie López. A mãe chegou ao país após uma testemunha informar, em abril, que teria visto a menina na cidade de Tumbaco, na região metropolitana de Quito, mobilizando uma grande campanha nas redes e a Interpol na tentativa de localizar a criança e o pai, identificado apenas como Jean L. As circunstâncias em que Tessy foi finalmente localizada não foram reveladas. O caso levantou discussões a respeito do chamado “sequestro parental” e reacendeu a memória de outros casos de crianças e adolescentes desaparecidos dentro do próprio Equador. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
O governo guatemalteco promete investigar uma denúncia trazida à tona na terça (13), segundo a qual agentes estadunidenses enviados ao país para assessorar as autoridades centro-americanas em questões relacionadas à imigração teriam se envolvido ativamente com a deportação de hondurenhos – ação que viola os termos do acordo de colaboração bilateral, que tornou a Guatemala um “terceiro país seguro”. A denúncia foi feita em relatório elaborado por políticos democratas do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA, que lembraram que a presença norte-americana na Guatemala deveria se restringir a funções de consultoria. A participação irregular dos estadunidenses teria ocorrido durante a ação que barrou o avanço de uma caravana de migrantes vinda de Honduras em janeiro. Via AP.
HAITI 🇭🇹
Uma organização independente do departamento de Grand’Anse, a cerca de 180 km da capital Porto Príncipe, denunciou 44 ocorrências de abusos sexuais contra meninas menores de idade na região somente em 2020. Em pelo menos três casos, o estupro resultou em gravidez. A nova revelação dividiu manchetes com outro episódio de violência sexual que já era conhecido há mais tempo e ganhou novo capítulo nesta semana: a FIFA, entidade máxima do futebol, ampliou suas investigações e punições sobre um caso assombroso de violações sistemáticas contra jogadoras das equipes femininas do Haiti. Em abril, atletas do país denunciaram ter sido obrigadas a manter relações sexuais com Yves Jean-Bart, presidente da federação local, que está suspenso desde então. Na quinta (15), a assistente técnica Yvette Félix, também acusada de coagir as jovens, tornou-se a quarta pessoa suspensa preventivamente pela entidade. Na Prensa Latina.
HONDURAS 🇭🇳
O Tribunal Superior de Contas (TSC) confirmou ter encontrado indícios de fraude na polêmica compra de hospitais móveis, anunciados em julho como solução capaz de quintuplicar a capacidade de atendimento do país durante a pandemia, mas que chegaram sem os equipamentos necessários e demoraram muito além do prometido para serem instalados. O escritório de Investimento Estratégico de Honduras (Invest-H) desembolsou mais de US$ 47 milhões ainda em março, no início da pandemia, para receber as “cascas” dos hospitais em julho (leia no GIRO #38) e já na época havia suspeitas de que a compra era inadequada. O primeiro hospital móvel só se tornou operacional nesta quinta (15), mesmo dia em que o tribunal divulgou seu relatório, três meses após a chegada e sete depois da compra. O caso não para aí: o TSC também encontrou inconsistências na compra de testes para covid-19 e máscaras, e questiona a contratação de uma empresa de um familiar de Marco Bográn, então diretor executivo da Invest-H. A expectativa é que o Ministério Público agora inicie ações contra Bográn e outros funcionários implicados no escândalo. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
O general da reserva Salvador Cienfuegos foi preso, na quinta (15), acusado pelas autoridades dos EUA de participar no tráfico, distribuição e comercialização de drogas naquele país. Cienfuegos foi secretário de Defesa do presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018), convertendo-se no primeiro militar de tão alto escalão a ser detido por conexões com o crime organizado e possível envolvimento com os cartéis. O general acabou preso no aeroporto de Los Angeles, na Califórnia, pouco após aterrissar com a família. Ele é alvo da chamada “Operación Padrino”, iniciada há dez anos, e poderia estar vinculado ao megatraficante Chapo Guzmán, ele próprio preso nos EUA desde 2017. No Infobae.
Segunda-feira (12) foi feriado em grande parte do continente, uma data que cada vez mais vem sendo vista como problemática: enquanto alguns países ainda celebram a chegada de Cristóvão Colombo no mesmo dia em 1492, outros converteram a data em uma aberta celebração dos povos originários vitimados pelo genocídio colonialista. Em meio às crescentes discussões sobre quão adequado é celebrar Colombo, a Cidade do México removeu o monumento do navegador genovês (que veio a soldo espanhol) no último sábado (10), tornando-o uma ausência notória no feriado. A princípio, a estátua foi retirada apenas para passar por uma restauração, mas há quem pense que a proximidade da data tem a ver com um temor de que ela viesse a ser derrubada por manifestantes – outro pedido que, emulando o que já se viu com monumentos similares em Europa e EUA, tem ganhado força. Em El País.
A chancelaria mexicana confirmou ter localizado duas possíveis vítimas de violência obstétrica no centro de detenção de Irwin, na Geórgia (EUA), foco de denúncias por supostas esterilizações forçadas contra as mulheres imigrantes ali mantidas (como trouxemos no GIRO #48). Leia mais na edição extra do GIRO que enviamos na quinta-feira (15).
Un clic:
NICARÁGUA 🇳🇮
O Congresso nicaraguense, com maioria governista, aprovou na quinta (15) a lei de “agentes estrangeiros”, criticada pela oposição como mais um instrumento para cercear as organizações civis. Pelo novo texto, mesmo entidades do país podem ser enquadradas como “agentes estrangeiros” se receberem verbas do exterior. O governo de Daniel Ortega alega que a medida busca combater a ingerência externa sobre a política local, mas a oposição entende que a lei prejudica ainda mais a capacidade de organização contrária ao governo, já que muitos órgãos opositores dependem de remessas e doações internacionais. O texto, criticado pelos EUA e pelo Parlamento Europeu, passou na Assembleia com 70 votos a favor e 17 contrários. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
Sindicatos de trabalhadores do Canal do Panamá marcharam pela capital do país, na quinta (15), em protesto contra a proposta de aumento salarial feita pelos administradores da via, considerada irrisória pelos manifestantes. Segundo os líderes sindicais, o Canal estaria oferecendo reajustes que não ultrapassam os 10 centavos de dólar anuais (o país tem a economia dolarizada) a cerca de 8 mil funcionários, que compõem quase 80% da força de trabalho do local. A indignação é ainda maior, argumentaram os manifestantes, porque Ricaurte Vásquez, o administrador do Canal, teria recebido um aumento de US$ 11 mil mensais no final do ano passado. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
O Ministério Público indiciou seis pessoas pelo sequestro do ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013), sendo três menores de idade. Segundo o procurador Federico Delfino, as autoridades têm “100% de certeza” que os suspeitos identificados seriam os guerrilheiros do Ejército del Pueblo Paraguayo (EPP) responsáveis pelo rapto do político, que segue desaparecido e incomunicável desde 9/9 (o início do caso, no GIRO #47). Agora considerados foragidos, os suspeitos são acusados de terrorismo, associação terrorista, privação de liberdade e extorsão agravada. Esta foi mais uma semana sem notícias do ex-vice e o longo silêncio e seu estado de saúde delicado levaram a especulações de que Denis poderia ter morrido acidentalmente nas mãos dos sequestradores. No Nodal.
PERU 🇵🇪
Pouco depois de se livrar de uma ameaça de impeachment, rejeitada pelo Congresso em 18/9 (contamos no GIRO #48), o presidente Martín Vizcarra está às voltas com uma nova denúncia de corrupção: agora, um candidato a delator premiado indicou que o mandatário teria recebido 1 milhão de soles (R$ 1,57 milhão) em 2013, quando era governador do departamento Moquegua, no sul do país – pouco depois, a empresa responsável pelo depósito, a Obrainsa, venceu uma concorrência para realizar obras de irrigação na região. Vizcarra se defendeu da acusação, dizendo que o projeto estava a cargo do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), mas o próprio braço da ONU assegurou que a autorização foi responsabilidade do governo local. Com o Peru vendo todos os seus ex-presidentes vivos presos ou sob investigação por corrupção, Vizcarra vinha se projetando como um paladino da moralidade, mas a sucessão de escândalos recentes vem erodindo essa imagem. Ele já anunciou que não será candidato nas eleições de 2021. Em El Comercio.
Até o presidente se juntou às reclamações peruanas pelo jogo contra a Seleção Brasileira, na terça (13) à noite, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022. Em Lima, o Brasil venceu por 4x2 após estar duas vezes atrás no placar, e o lance que possibilitou a virada visitante enfureceu os locais: um pênalti sobre Neymar, que o próprio cobrou e converteu, aos 38 minutos do 2º tempo. “Creio que um time como o Brasil não precisa da ajuda do árbitro para desequilibrar o jogo”, disse Martín Vizcarra em um ato no Palácio Presidencial no dia seguinte à partida, criticando, “como torcedor e cidadão”, a atuação do juiz chileno Julio Bascuñán. No Infobae.
Um turista japonês foi o único visitante de Machu Picchu no último domingo (11). O Ministério do Turismo concedeu a permissão especial ao instrutor de boxe Jesse Katayama, de 26 anos, após uma espera de sete meses em território peruano. Em 14/3, Katayama chegou a Aguas Calientes, no pé da montanha, com o ingresso na mão para entrar no parque dois dias depois. Porém, naquele 16/3, o governo decretou estado de emergência e a cidadela inca fechou as portas. Foi a segunda vez que a administração do sítio histórico barrou a entrada aos milhares de visitantes diários – a primeira ocorreu em 2010, por inundações que bloquearam a via de acesso. No UOL.
PORTO RICO 🇵🇷
A governadora Wanda Vázquez cancelou sua agenda presencial e entrou em quarentena voluntária após o secretário de Saúde da ilha, Lorenzo González, anunciar na quarta-feira (14) que testou positivo para covid-19. Ele havia se encontrado com Vázquez na véspera. Até o fechamento desta edição, a governadora não confirmou ter contraído a doença. Apesar do susto pessoal, a mandatária (que, derrotada nas primárias, não poderá tentar se manter no cargo nas eleições de 3/11 e está de saída) manteve a promessa de flexibilizar um pouco mais as medidas restritivas da pandemia: na sexta, um novo decreto executivo aumentou as taxas de ocupação autorizadas em locais como restaurantes, cinemas e academias, embora tenha mantido o toque de recolher noturno, entre 22 horas e 5 da manhã. Em El Nuevo Día.
Un nombre:
Yanqui – a versão em espanhol do português ianque ou do inglês yankee, frequentemente usado pela esquerda latina para se referir de forma pejorativa aos estadunidenses. Em 1970, o hino de campanha de Salvador Allende, no Chile, continha versos como “la Unidad Popular vencedora/ será tumba del yanqui opresor”. Dentro dos próprios EUA, o uso é mais restrito: habitantes do Sul empregavam a palavra para se referir aos do Norte durante a Guerra de Secessão (1861-1865) e, mais exatamente, yankee seria apenas dedicado aos moradores da região conhecida como Nova Inglaterra, no nordeste daquele país. Uma suposta origem romântica diz que viria da palavra do povo cherokee para se referir aos invasores brancos (eankee, “covarde”), mas linguistas geralmente descartam essa etimologia e apontam para os holandeses que colonizaram a região: muitos deles chamados Jan, Janeke ou mesmo Jan Kees, com o nome se convertendo em uma metonímia para os habitantes da área.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Uma injeção de dinheiro foi anunciada pelo governo dominicano na quinta-feira (15), dentro de um projeto de parceria com os EUA que lembra as velhas alianças dos tempos da Guerra Fria: o país caribenho diz que terá à disposição US$ 2 bilhões vindos do Norte para financiar projetos de turismo, energia e infraestrutura. Os investimentos fazem parte do programa “América Cresce”, lançado no final do ano passado pelo governo Trump para tentar recuperar parte da influência perdida na região após o aumento dos investimentos chineses. O setor turístico, que representa 12% do PIB do país, tem nos estadunidenses seu principal público. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
A crescente chegada de argentinos ao Uruguai, mesmo com as fronteiras fechadas, vem dando o que falar dos dois lados do Prata. Autoridades locais apontam que cerca de 100 pedidos de residência permanente vêm sendo processados por semana, e alguns meios internacionais chegaram a estimar em 30 mil o número de argentinos que teria cruzado a fronteira desde março, muitos com a ideia de permanecer em definitivo no paisito. As razões são várias: desde um refúgio não só da pandemia (a Argentina tem 569 mortes por milhão de habitantes contra apenas 15 do Uruguai), como também da quarentena (enquanto Buenos Aires impôs longas medidas restritivas, a alternativa uruguaia foi um controle melhor das fronteiras e o rastreamento dos contatos, sem uma clausura radical das cidades), até questões econômicas e ideológicas – finalmente governado por um conservador após 15 anos, o Uruguai surgiu como uma alternativa a argentinos abastados descontentes com o regresso do kirchnerismo. Os incentivos para que estrangeiros se estabeleçam definitivamente no país (leia mais no GIRO #47) também são apontados como um fator de atração dos vizinhos. Na BBC.
VENEZUELA 🇻🇪
Nicolás Maduro anunciou o início dos festejos de Natal na quinta-feira (15), 71 dias antes da data propriamente dita, como parte de um pacote de medidas que buscam reativar a economia após as restrições da pandemia. O governo também prometeu créditos a pequenas e médias empresas e diz que autorizará feiras comerciais em locais abertos, além de reabrir recintos turísticos a partir de 1º/12. A “antecipação” do Natal, que costuma gerar manchetes no exterior, não é novidade na Venezuela, mas vem ocorrendo cada vez mais cedo: em 2019, as festividades tinham começado no início de novembro por conta da crise econômica que assola o país há anos. No Milenio.
O Exército brasileiro realizou uma inédita simulação de guerra entre dois países na Amazônia, cenário imaginado para um eventual conflito com a Venezuela, revelou com exclusividade o jornal O Globo por meio da Lei de Acesso à Informação. A “guerra”, que envolveu o disparo de mísseis com alcance de 80 quilômetros e consumiu cerca de R$ 6 milhões só em combustível, horas de voo e transporte, aconteceu entre 8/9 e 22/9, mesma época do polêmico tour do secretário de estado dos EUA, Mike Pompeo, que visitou Roraima no dia 18 daquele mês e falou sobre a vontade de remover Nicolás Maduro do poder.
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