Trump renegou Guaidó: “carinha de menino”
Covid: região beira 2 milhões de casos e 100 mil mortes || Colômbia quer reinstituir prisão perpétua || Presidente de Honduras está com coronavírus || País a país, um resumo das notícias do continente
John Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional do governo Donald Trump, pretende abalar as estruturas da cúpula republicana com o lançamento de seu novo livro The Room Where It Happened (“A Sala Onde Aconteceu”), em cujas 577 páginas traz à tona uma série de denúncias dos corredores de Washington que podem prejudicar o bilionário em sua tentativa de reeleição em 2020. Além de dizer que Trump teria negociado uma nova vitória eleitoral com o governo da China, Bolton expõe a postura agressiva do presidente no tema Venezuela, pelo qual também era responsável.
Segundo conta a obra, Trump teria dito que seria “cool” (legal) invadir a Venezuela, país que ele entendia fazer “parte do território” estadunidense. No curso de 2019, impulsionados pelo rechaço mundial à posse de Nicolás Maduro em janeiro e pelo surgimento de Juan Guaidó como uma alternativa oposicionista ao chavismo, Bolton e Trump tinham um discurso alinhado: “todas as opções [para resolver a crise venezuelana] estão sobre a mesa”, diziam. Mas, desde o início, Trump não colocou fé em Guaidó. Especificamente por uma questão fisionômica. O ex-assessor revela que, menos de dois dias após os EUA reconhecerem o deputado como autoproclamado presidente interino, Trump chegou a dizer que Guaidó e sua carinha de “menino” não fariam frente à “dureza” de Maduro e, por isso, cogitou até retirar seu apoio.
Adiante, a demissão de Bolton, em setembro, levou o assunto Venezuela a uma nova etapa. Se por um lado Guaidó perdeu seu principal aliado e caiu bruscamente no ostracismo (o GIRO contou essa história), a própria retórica belicosa contra o chavismo, que era encabeçada por Bolton, acabou perdendo força. Com a pandemia, que faz mais vítimas nos EUA do que em qualquer outro país no mundo, a Casa Branca dificilmente vai querer saber de Venezuela agora, sobretudo com eleições presidenciais no horizonte. O lançamento do novo e espinhoso livro está marcado para a próxima terça-feira (23). A menos que a Justiça do país não deixe, acatando aos pedidos de Trump, que teme o vazamento de temas “confidenciais” – que já deixaram de ser.
😷 Esta é a 17ª edição do GIRO desde o primeiro caso oficial de covid-19 na América Latina e, pela 17ª semana consecutiva, a região teve aumentos ainda piores do que nos sete dias anteriores. Até o fim da sexta-feira (19), eram 1,963 milhão de casos e 91,6 mil mortes. O caso número 2 milhões deve entrar ainda hoje nos registros. A morte número 100 mil deve ser confirmada até a próxima quarta-feira. Confira detalhes do nosso levantamento.
Un sonido:
ARGENTINA 🇦🇷
‘Dívida’ e ‘calote’ são tão recorrentes que poderiam estar na bandeira albiceleste. Em novo episódio do irresolúvel pagamento do débito argentino, os principais credores já sinalizaram que não vão aceitar novas propostas de negociação da parte de Buenos Aires. A recusa foi anunciada a despeito das esperanças do ministro da Economia, Martín Guzmán, que acredita em um final feliz para a mais nova moratória vivida pelo país. Ao lado dos argentinos também está o FMI, como dito pela diretora-gerente Kristalina Georgieva. Vale lembrar, porém, que o próprio fundo é um credor nessa história. O que os outros credores querem é um valor maior a ser pago por dólar devido. Assim como em 2016, quando a justiça dos EUA decidiu que a Argentina deveria pagar os US$ 10 bilhões que devia aos chamados fundos abutres (uma pequena parcela que queria mais do que o combinado), o caso atual pode parar nos tribunais dos EUA. Na Folha.
O caso Vicentin, a expropriação de uma das principais agroexportadoras do país (deficitária e endividada), segue dando o que falar. Na sexta (19), a Justiça concedeu uma medida cautelar aos donos da companhia, restituindo-lhes o controle das operações por 60 dias. Durante o período, que é prorrogável, o interventor nomeado pelo governo tem sua função limitada à condição de “observador”. No Clarín.
Uma odisseia na pandemia: em março, quando o mundo começou a fechar, o argentino Juan Manuel Ballestero, de 47 anos, passava as férias no arquipélago da Madeira (Portugal). Prevendo uma longa quarentena, com o transporte aéreo interrompido e decidido a voltar ao convívio dos pais, ousou velejar pelo Atlântico de volta à terra natal: Ballestero enfrentou tempestades e viu a morte de perto, mas, após três meses de incertezas, chegou a Mar del Plata na quarta (17). Já nos braços da família, acabou um mês atrasado para seu objetivo inicial: o 90º aniversário do pai, em 15/5. Após a aventura, Ballestero quer viver dias mais tranquilos – promete plantar uma horta e comprar três galinhas. Via AP.
BOLÍVIA 🇧🇴
Jeanine Áñez já cogita adiar novamente as eleições presidenciais. O pleito, marcado originalmente para maio e adiado pela pandemia para 6/9, poderia outra vez ganhar nova data se a situação da covid-19 seguir piorando no país: em junho, os casos já cresceram 125% e as mortes 128% em relação ao fim de maio. Áñez fala em postergar o pleito por mais “um mês ou dois”. Como o GIRO contou em vídeo, a presidenta interina vem aproveitando os adiamentos para intensificar sua campanha para seguir no cargo, mesmo após ter prometido, ao assumir, que não seria candidata. Na CNN.
Uma morte transmitida ao vivo pela TV causou críticas e virou mais um símbolo do colapso boliviano das últimas semanas. A Bolívia, que já vê inclusive mortos nas ruas das cidades com covid-19, acabou obrigada a assistir à tentativa frustrada de reanimação de um paciente internado em uma UTI durante um programa sobre a rotina dos médicos. A Defensoria do Povo condenou o episódio, tachando-o de “falta de ética” e “sensacionalismo” ao violar a intimidade e dignidade do paciente. Via EFE.
CHILE 🇨🇱
Antes elogiado no combate à pandemia, o Chile aproxima-se dos piores números proporcionais da América Latina após uma reabertura frustrada em abril. Santiago segue em lockdown desde 15/5 e outras cidades também adotaram medidas mais estritas nesta sexta (19). O ministro da Saúde, Jaime Mañalich, que há dois meses se gabava de ter comprado respiradores demais para tão poucos pacientes, pediu demissão no último sábado (13) diante do desastre. Excluídos os micropaíses, o Chile já é o 2º colocado no ranking mundial de casos de covid-19 por milhão de habitantes, e há suspeitas de que Mañalich (substituído pelo também médico Enrique Paris) tenha escondido os dados para falsear a situação. Em artigo sobre os erros, a Bloomberg resume o agravamento da crise conforme o vírus chegou às poblaciones de menos recursos: “o Chile seguiu o exemplo de países ricos para perceber – mais uma vez – que uma grande porcentagem de sua população é pobre”.
Por ter tantos chilenos pobres, o presidente Sebastián Piñera celebrou a amarração de um acordo com a oposição para a criação de um “Fundo Covid”, que pretende financiar projetos de alívio econômico com US$ 12 bilhões nos próximos dois anos. Entre as medidas imediatas está o aumento da renda emergencial, de 65 mil pesos para 100 mil mensais (R$ 430 para R$ 660) por membro da família, até um limite de quatro pessoas. Em La Tercera.
Un hilo:
COLÔMBIA 🇨🇴
O Senado aprovou uma reforma constitucional que reinstitui a pena de prisão perpétua no país após 110 anos. O texto prevê a possibilidade para condenados por homicídio e estupro de menores. A medida ainda precisa ser revisada pelo Supremo. A discussão é antiga: um dos casos que reacenderam o debate foi o de Luis Alfredo Garavito, pedófilo e assassino serial responsável pela morte de pelo menos 172 crianças, que em 2001 foi condenado a 1.853 anos de prisão, mas que só podia cumprir 40 devido aos limites legais. Na Semana.
“Dia sem IVA”: a iniciativa do governo para reativar a economia, ao promover isenção dos 19% de taxas sobre produtos e serviços, tornou-se um exemplo do planejamento desastrado de Iván Duque frente à pandemia. Esta sexta (19) foi o primeiro dos dias sem IVA e, atraídos pelos preços baixos, milhares de colombianos se aglomeraram em lojas ao melhor estilo Black Friday. Enquanto isso, o país ia para o segundo dia consecutivo registrando recorde diário de mortes por covid-19. Em El Tiempo.
Não é novidade que a situação da pandemia no Brasil preocupa os vizinhos, como o GIRO contou. Segundo o ministro da Saúde Fernando Ruiz, o país é uma bomba-relógio – e outros que se recusarem a adotar medidas contra o vírus vão pegar o mesmo caminho. Há cerca de um mês, Bogotá resolveu militarizar fronteiras com o Brasil, com medo do vírus entrar pela região norte do país vizinho. Uma entrevista com Ruiz, no Globo.
O Exército libertou, na quinta (18), dois reféns de uma dissidência das FARC que, contrariando o acordo de paz assinado em 2016, não abandonou a luta armada. O suíço Daniel Guggenheim e o brasileiro José Albuquerque haviam sido capturados em 16/3 no departamento de Cauca e o grupo exigia US$ 1 milhão para soltá-los. No G1.
Memória high-tech: a população de El Hatillo, no departamento de Cesar, terá que ser realocada devido aos impactos da exploração de carvão na região, responsável por 64% da produção do país. Tentando preservar os recuerdos de um lugar que acabará, uma fundação iniciou um projeto com captura de sons ambientes e filmagens em 360 graus para preservar El Hatillo em realidade virtual. Em El Espectador.
COSTA RICA 🇨🇷
O país anunciou a criação de um posto de segurança no ponto fronteiriço de Tablillas de los Chiles, divisa com a nicaraguense San Carlos, por conta da pandemia. A franja fronteiriça tem 309 km de extensão e é vigiada principalmente por conta da fuga de cidadãos da Nicarágua para a Costa Rica. Na Prensa.
Primeiro país latino-americano a retomar o futebol, em 19/5, graças aos números baixos da pandemia, a Costa Rica agora também é o primeiro a voltar a paralisá-lo. Na sexta (19), um recorde diário de novos casos (119) fez o governo rever diversas flexibilizações, incluindo as do esporte. A Costa Rica ainda é o país com a menor letalidade (0,6%) e o menor número de mortes na região (12), mas só chega lá graças à extrema cautela. A nova suspensão do futebol veio às vésperas da final do campeonato, entre Alajuelense e Saprissa, que ocorreria domingo (21). No Nación.
CUBA 🇨🇺
Com a pandemia sob controle, Cuba começou a reabrir o país na quinta (18), com exceção da capital, Havana, e da cidade de Matanzas. O setor de serviços está de volta, enquanto outras atividades serão retomadas de forma escalonada: o turismo começa apenas para cubanos e, depois, passará a receber voos charter de estrangeiros. As aulas só retornam em setembro. Com medidas sanitárias eficientes e favorecida pela condição insular, Cuba registrou apenas 260 casos e duas mortes em junho, aumentos de 13% e 2,4% em relação aos números do fim de maio (na América Latina, o aumento geral no período foi, respectivamente, de 92% e 78%). Via Reuters.
O Banco Mundial escolheu a cubana-estadunidense Carmen Reinhart como sua nova economista-chefe. Nascida em Havana em 1955, quatro anos antes da Revolução, a especialista em crises econômicas e ex-subdiretora do FMI se mudou com a família para os EUA quando tinha só 10 anos. Por ironia histórica e geográfica, as decisões mais importantes do centro nervoso das finanças mundiais passarão pelo crivo de uma nascida na ilha. Na BBC.
Un nombre:
Tacuarembó – como o nome sugere, esse departamento (e cidade) do Uruguai faz referência à taquara, abundante na região. Tacuaremboty, em guarani, é um lugar de taquarais. Já o nome da própria planta viria da junção dos vocábulos itá (pedra, ou madeira dura como uma) e cuará (oco).
EL SALVADOR 🇸🇻
Um dos países mais restritivos no isolamento, El Salvador iniciou a reabertura das atividades econômicas na terça (16), com regras conhecidas: máscaras, termômetros para medir a temperatura dos frequentadores, e só determinados serviços podendo operar. O ministro da Saúde, Francisco Alabi, já manifestou preocupação com a forma como os salvadorenhos voltaram descuidadamente às ruas, dizendo que o país está apenas na Fase 1 da reabertura, mas já vive como se estivesse na Fase 5, a última. Alabi avisou que uma nova aceleração dos contágios virá na carona da irresponsabilidade: “os resultados serão vistos em duas semanas”. Em La Página.
EQUADOR 🇪🇨
A professora Carolina Espinoza, da província de Guayas, será premiada com uma bolsa integral de mestrado na Universidade Casa Grande após sua história ganhar destaque. Ela ficou conhecida por pedalar por toda cidade de Playas Villamil para chegar aos alunos que não conseguiram acesso à internet para assistir às aulas durante a pandemia. O fato chegou até o vice-presidente Otto Sonnenholzner, que visitou Espinoza para homenageá-la. Em El Universo.
O Inti Raymi, principal celebração do povo kichwa, vai mudar em função da pandemia. A festa, que celebra o deus-sol Inti, acontece tradicionalmente entre 21 e 22/6 no Equador (no Peru, onde a festa se originou com os incas, é em 24/6), na proximidade do solstício. Pela primeira vez, em Otavalo e Cotacachi, não haverá ocupação de praças para comemorar a Festa do Sol, a fim de evitar aglomerações. O banho ritual na cascata de Peguche também foi suspenso. Em algumas localidades, como El Cercado, crianças flautistas percorrerão as ruas, de porta em porta, trazendo música para que as famílias realizem as danças tradicionais em suas próprias casas. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
O presidente Alejandro Giammattei trocou a cúpula do Ministério da Saúde, até então comandado por Hugo Monroy. A demissão veio após o país vivenciar uma explosão de casos e mortes nas últimas semanas: a Guatemala registra o maior aumento proporcional de óbitos por covid-19 na região em junho, tendo pulado de 108 óbitos para 483 em 19 dias (aumento de 347%). Amelia Flores, a nova ministra, também é médica, como o antecessor e o próprio presidente. Na Prensa Libre.
Pinturas maias encontradas na parede de uma casa em Chajul, no oeste do país, durante uma reforma feita em 2003, foram finalmente datadas por especialistas. A arte nativa, segundo os pesquisadores, é do período colonial, que vai de 1524 a 1821, e tem elementos pré-colombianos combinados a “componentes europeus importados em um ambiente doméstico e não religioso”. A dificuldade em precisar a data com mais exatidão se deve às dezenas de restaurações da arte ao longo dos séculos. Os estudiosos estimam que as pinturas possam estar ligadas a um renascimento da organização religiosa local, em um momento de enfraquecimento do controle colonial espanhol. No Publimetro.
HAITI 🇭🇹
O governo alega já ter superado o pico da covid-19. Segundo o diretor de epidemiologia do Laboratório Nacional, a “tendência de queda” também é acompanhada de um número menor de casos graves. Apesar do que é divulgado de forma oficial, o país mais pobre e desigual do hemisfério é acusado de ter casos subnotificados, fato denunciado por médicos e pela Organização Pan-Americana de Saúde. Via EFE.
A fim de resolver a crise política e institucional no país, o Escritório Integrado da ONU sugere que se “reviva” a política nacional com uma reforma na Constituição. O novo debate é sobre o tempo de duração do atual presidente Jovenel Moïse à frente do cargo. Declarado vencedor nas urnas de forma oficial só no começo de 2017, o que lhe dá direito a um mandato de quatro anos, Moïse é acusado pela oposição de extrapolar seu período como chefe de Estado e violar o texto da carta magna. O argumento é que, na verdade, o presidente está no poder desde 2015, quando foi eleito pela primeira vez, sob forte acusação de fraude. Com a anulação desse pleito, Moïse seria novamente eleito em um processo no ano seguinte. No fim, entre a eleição de outubro de 2015 e a ratificação de sua vitória, foram 16 meses extras no poder. Em El País.
HONDURAS 🇭🇳
O presidente Juan Orlando Hernández foi hospitalizado na terça (16) com covid-19. É o primeiro caso publicamente confirmado de um presidente latino-americano com a doença. JOH e a esposa, Ana García, submeteram-se a um teste molecular após o mandatário apresentar os primeiros sintomas, no último final de semana. Em comunicado, a Presidência informou que o quadro é de uma pneumonia leve e o casal está cumprindo o isolamento obrigatório. Hernández valeu-se da situação para reforçar os alertas sobre a necessidade de tomar os cuidados que, “pela natureza de seu trabalho”, nem sempre lhe foram possíveis. Em El Heraldo.
Una palabra:
Güey – mexicanismo usado no cotidiano, geralmente entre pessoas de bastante intimidade, que pode significar “rapaz”, “sujeito” ou “cara”. Em alguns contextos também pode soar pejorativo, como “tonto” ou “idiota”. A palavra deriva de buey (boi) e teve a fonética alterada por conta coloquialismo que tende a facilitar a pronúncia. O termo é bastante usado pelas personagens do filme “Amores Perros” (2000), do diretor Alejandro González Iñárritu, considerado a melhor película mexicana pelo IMDb.
MÉXICO 🇲🇽
O presidente López Obrador desafiou as restrições dos EUA e disse que venderia gasolina à Venezuela, que convive com a escassez do combustível, se fosse requisitado. Segundo AMLO, seu país agiria em caso de “necessidade humanitária” e é livre para tomar as próprias decisões. “Ninguém tem o direito de oprimir os outros”, cutucou. Coincidência ou não, apenas três dias depois, na quinta (18), os EUA anunciaram sanções a três empresários e oito companhias mexicanas sob acusações de formarem uma rede para negociar com Caracas, evadindo as penalizações impostas por Washington. Via AP.
O narcotráfico fez mais duas vítimas. Um grupo de homens armados assassinou o juiz federal Uriel Villegas e sua esposa, Verónica Barajas, em frenta à casa do casal, em Colima. A polícia acredita que a motivação do crime tenham sido as sentenças de Villegas contra membros do narco. Uma das decisões mais conhecidas foi a ordem de transferência de Rubén Oseguera, “El Menchito”, filho do líder do temido cartel Jalisco Nueva Generación, Nemesio Oseguera. Até o final de 2019, quase cem membros da justiça federal contavam com algum tipo de proteção do Estado. Pessoas próximas ao juiz dizem que sua vida foi negligenciada pelo poder público. Em El País.
O país segue no topo das estatísticas de violência. Dessa vez, em relação às comunidades LGBTQ+. Durante a semana, autoridades comunicaram a investigação da morte da médica trans Elizabeth Montano, que havia sumido há cerca de 10 dias. O corpo de Montano foi encontrado na cidade de Tres Marias, a 50 km da capital. Segundo a organização Letra S, pelo menos 117 pessoas da comunidade LGBTQ+ foram assassinadas em 2019, número um terço maior se comparado a 2017. No Infobae.
NICARÁGUA 🇳🇮
Aos 83 anos, morreu o ex-líder guerrilheiro Edén Pastora, figura proeminente na Revolução Sandinista. Segundo o filho do comandante, ele estava internado desde o começo de junho e padeceu devido a uma parada respiratória. Não há confirmação se a morte está relacionada à covid-19, mas as suspeitas existem. Nas últimas semanas, mais de vinte funcionários do governo do presidente Daniel Ortega morreram pouco depois de adoecer subitamente. De forma oficial, porém, o discurso permanece totalmente negacionista, e o governo segue sem tomar medidas de isolamento social e estimulando a mobilização cidadã. Via AP.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução condenando Ortega por “sérias violações”, um triunfo da oposição nicaraguense. Segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), pelo menos 328 pessoas foram mortas na repressão que se seguiu aos protestos iniciados em 2018, e opositores do governo dizem que cerca de 60 manifestantes seguem presos por razões políticas. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
O Partido Revolucionário Democrático (PRD), do presidente Laurentino Cortizo, foi multado por violar a quarentena. A punição, no valor de US$ 50 mil, veio após cerca de 20 deputados se reunirem em um restaurante da capital, na quinta (18), para discutir a eleição do próximo órgão diretor do Parlamento. “Se vão trancar o povo em casa passando fome, quebrando empresas e destruindo empregos, pelo menos deem o exemplo”, declarou um líder de oposição. Via AFP.
PARAGUAI 🇵🇾
O país vai extinguir as eleições específicas para o Parlamento do Mercosul (o Parlasur), por considerar um gasto desnecessário. A ideia é que não haja mais votação direta para escolher os representantes paraguaios no organismo, já que as declarações emanadas dele não são vinculativas. Atualmente, os 18 parlasurianos paraguaios recebem as mesmas regalias de deputados e senadores do país, a um custo anual de US$ 4 milhões. O plano é que, a partir do próximo ciclo eleitoral, esse cargo exclusivo deixe de existir e os próprios congressistas nacionais acumulem as funções, como acontece nos vizinhos, revertendo a medida pioneira do Paraguai que pretendia fortalecer o Parlasur como órgão deliberativo aos moldes do Parlamento Europeu. No ABC Color.
Iniciou-se, na segunda (15), a terceira de quatro fases da “Quarentena Inteligente”, que vem reabrindo gradualmente os serviços. Restaurantes (mediante reserva), academias (com agendamento), esportes amadores (com no máximo duas pessoas), algumas atividades de educação superior (defesas e laboratórios com até dez pessoas) e cultos religiosos (com no máximo 20 presentes) estão entre os autorizados. Com bons números no combate à covid-19 e um estrito controle fronteiriço, o Paraguai é um dos raros locais do continente onde a reabertura ainda não tem ocasionado uma explosão de novos casos. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
O PIB do país registrou uma queda histórica de 40,49% em abril em relação ao ano anterior, consequência direta da paralisação que ocorre por conta da pandemia. É o segundo mês de declínio. Em março, antes da quarentena surtir efeito, o Peru havia completado 127 meses de crescimento contínuo. Na DW.
O país se encaminha para assumir a liderança no infeliz ranking de mortes por milhão de habitantes na América Latina no início da próxima semana, cálculo que mede o impacto da covid-19 de forma proporcional entre os países. Desde que virou símbolo do colapso sanitário na região, em fins de março, o Equador nunca havia deixado de ocupar o primeiro lugar, mas agora está a ponto de ser superado por peruanos, brasileiros e chilenos. Com um patamar médio de 200 óbitos por dia (no seu caso, cerca de 6 mortes por milhão), o Peru sofre com a falta de oxigênio para os pacientes e algumas famílias recorrem ao mercado paralelo, pagando sobretaxas de até 1.000%. No Washington Post.
Un clic:
PORTO RICO 🇵🇷
Com a ilha reabrindo aos poucos após considerar que o pior da pandemia já passou, a higiene deve ficar prejudicada nos próximos dias: na sexta (19), o governo anunciou o racionamento de água em função da seca que afeta de forma mais grave 26% do território e, mais moderadamente, outros 57% da ilha. “Não sabemos por quanto tempo isso vai durar”, admitiu o diretor da empresa responsável pelo fornecimento. Há promessa de caminhões-pipa para abastecer a população na fase mais grave da estiagem. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Os dominicanos, um dos primeiros países latinos a ter uma disparada de casos de covid-19 (foram os sextos da região a superar os mil doentes, ainda em março, mesmo tendo apenas a 13ª maior população), também pensavam que o pior já havia passado. Mas, após iniciar sua reabertura, um filme visto em outros lugares se repetiu por lá: uma aceleração de contágios ainda mais grave do que antes. Em junho, o país já teve cinco dias registrando mais de 500 novos casos diários, algo que, antes, só havia acontecido uma vez. O número de internações aumentou 10% nos últimos dias e o governo foi obrigado a frear a flexibilização. Em El Día.
URUGUAI 🇺🇾
Um áudio vazado levantou suspeitas de que o governo estaria grampeando seus funcionários: durante a semana, circulou nas redes sociais uma conversa privada da vice-presidenta Beatriz Argimón em que ela diz que “é preciso ter muito cuidado com nossos telefones. Tudo se sabe, tudo fica gravado” e que “no fim do dia, quando escutam as chamadas e ouviram a tua, vieram falar comigo”. O presidente Luis Lacalle Pou se apressou em negar a existência de qualquer grampo, enquanto a vice disse que sua frase foi tirada de contexto e que ela se referia a potenciais hackers ou pessoas aleatórias que poderiam ouvi-la no viva-voz. No Subrayado.
Após 48 anos, a Justiça decidiu levar adiante um processo contra um soldado que, em 1972, atirou pelas costas e matou o tupamaro Nelson Berreta. A defesa de Leonardo Vidal tenta se valer da noção da “obediência devida”, segundo a qual ele seria inimputável por estar obrigado a cumprir ordens superiores; a Justiça interpreta que “ordens delitivas” poderiam ser descumpridas. O atual governo manifestou desconforto com a decisão que afeta “uma pessoa de 70 anos, que tem sérios problemas de saúde”. Embora o Uruguai tenha uma lei de anistia ampla perdoando atos de agentes do governo e militantes armados da oposição entre 1962 e 1985, em 2006 o país considerou que crimes de lesa-humanidade cometidos por funcionários do Estado não poderiam se enquadrar no autoperdão da ditadura. Na Caras y Caretas.
Moradores do bairro de La Blanqueada, na capital, se juntaram a organizações de proteção aos animais para denunciar um episódio de abuso policial contra um homem chamado Pablo, que se encontra em situação de rua. Além da abordagem truculenta, o policial atirou e matou o cachorro que o acompanhava, gerando indignação. O Ministério do Interior prometeu investigar o caso. No Montevideo Portal.
VENEZUELA 🇻🇪
O governo Maduro vai denunciar o Brasil de Bolsonaro à ONU por uma resposta “negligente” à pandemia que “põe em risco todo o continente”. A decisão foi comunicada pelo representante venezuelano na entidade internacional, Samuel Moncada. Moncada, que já foi ministro de Relações Exteriores e o braço chavista na OEA até 2019, publicou uma carta endereçada ao Secretário-Geral, António Guterres. Com já dito pelo GIRO em outras oportunidades, porém, a Venezuela passa longe de ser um exemplo a se seguir na crise, com apagões informativos. O que a denúncia revela é o consenso oficial que existe quando o Brasil de Bolsonaro e a covid-19 estão na mesma frase. Em El Nacional.
Haverá eleições parlamentares. É o que diz o presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), Diosdado Cabello, sem confirmar datas. O pleito não havia sido garantido para 2020 por conta da pandemia, mas o governo diz que “deve estar pronto” para realizar a votação originalmente marcada para dezembro. Segundo Cabello, tido como segundo homem mais forte do chavismo, “nada impede; as pessoas usam máscaras”. No campo político, o que for decidido nas legislativas é simbolicamente importante, mas pode ser só mais um capítulo em que nada muda: a votação é para a Assembleia Nacional, com maioria oposicionista desde a última eleição, mas que foi esvaziada em 2017 após a criação da ANC (totalmente chavista) de Cabello, que atropela as decisões do antigo parlamento, sequer reconhecido pelo Executivo desde então. Via Reuters.
O empresário colombiano Alex Saab, preso preventivamente em Cabo Verde e acusado de ser testa de ferro de Nicolás Maduro, foi ouvido pela Justiça do país africano, em meio a um pedido de extradição. Saab é acusado pelos EUA de lavar dinheiro em bancos estadunidenses e vinha sendo procurado pela Interpol. A falta de um acordo de extradição entre Washington e Praia pode levar as autoridades a consultar normativas internacionais, para avaliar possíveis exceções em investigações de crime organizado. O empresário é também conhecido por ter se comprometido a fazer investimentos sociais ligado às primeiras tratativas do acordo de paz com as FARC, na época em que os ex-presidentes Hugo Chávez e Juan Manuel Santos debatiam o tema em 2011. Esses investimentos seriam o suposto início do esquema de corrupção. Na RFI.
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