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Ômicron: casos decolam e continente vive impasse
O GIRO está de volta para 2022
A variante ômicron do coronavírus já se espalha rapidamente pela América Latina, seguindo um padrão observado também em outras partes do mundo: números altíssimos de casos em níveis jamais vistos ao longo da pandemia, mas sem o mesmo impacto observado anteriormente em hospitalizações e mortes – ao menos, em um primeiro momento. A despeito do apagão de dados do Brasil, responsável pelos maiores números absolutos (e em alguns momentos até proporcionais) de contágios e óbitos em outras fases da crise sanitária, os recordes diários vêm sendo uma constante em países como a Argentina, que chegou a ter 110 mil novos casos só nesta sexta-feira (7), contrastando com os menos de 10 mil contágios semanais vistos entre outubro e novembro. No caso brasileiro, além de relatos anedóticos sobre uma explosão de casos de covid-19 e escassez de testes, os exemplos dos vizinhos também ajudam a dimensionar o novo surto: caravanas de turistas paraguaios estão testando positivo para a doença após voltarem do Brasil – como é o caso de um ônibus que ia rumo a Assunção com 20 dos 60 passageiros contaminados nesta quinta-feira (6). Diariamente, milhares de paraguaios seguem cruzando a fronteira para veranear nas praias brasileiras.
Apesar do avanço rápido dos contágios, o perfil desta nova fase da pandemia ainda não aponta para o mesmo colapso sanitário do início de 2021. O avanço da vacinação e uma aparente menor força da ômicron vêm ajudando a conter os casos mais graves. A morte registrada no Brasil na quinta-feira (6), de um homem de 68 anos, é considerada apenas a primeira oficialmente atribuída à ômicron em toda a América Latina. Por isso, muitos governos ainda encaram a escalada recorde sem cogitar novas medidas rígidas no futuro próximo, frequentemente citando a questão econômica. O Equador, por exemplo, manteve as flexibilizações apesar dos mais de 12 mil casos registrados nesta semana (patamar visto pela última vez em maio de 2021), sendo que até o vice-presidente Alfredo Borrero testou positivo. Um dos líderes em vacinação na América Latina, o Uruguai é outro que se debate sobre a necessidade de voltar a restrições ou, ao contrário, seguir a marcha das flexibilizações rumo a uma nova relação com a pandemia. No momento, este último caminho é o preferido, com o país tendo reduzido as exigências de testagem e isolamento para turistas vacinados, embora batendo recorde de casos. Ainda não se sabe se essa estratégia de enfrentamento ao mais novo pico será mantida nas próximas semanas, mesmo diante de uma menor letalidade.
No caso uruguaio, já há até médico integrante da Comissão Nacional de Vacinação argumentando que é preciso “revisar os critérios” de testagem no país, porque estariam “provocando isolamentos e quarentenas excessivas” que “não se justificam no cenário atual”. Há pressão para adotar critérios semelhantes aos dos Estados Unidos, que recentemente reduziu a quarentena de assintomáticos de dez para cinco dias, mesmo que sigam testando positivo. A despeito de alertas de que um tsunami de contágios poderia voltar a pressionar o sistema de saúde e dificultar o acesso para tratamentos não relacionados à covid-19, muitos no paisito se baseiam nos bons números da vacinação para argumentar que os contágios por coronavírus não voltarão a ter a gravidade de antes: no último trimestre de 2021, antes da ômicron, os dados oficiais apontaram menos mortes por covid-19 do que por gripe – e quase metade dos óbitos relacionados ao coronavírus foram em não-vacinados, mesmo com essa parcela da população representando apenas 8% do total de adultos no Uruguai.
A cautela prevalece em locais que já veem as mortes passarem por uma escalada: é o caso de Porto Rico, politicamente ligado aos Estados Unidos (o atual epicentro mundial da pandemia e conhecido por concentrar diversos movimentos antivacina) e com grande conexão turística com o gigante ao Norte. A ilha se viu obrigada a adiar em duas semanas o reinício das aulas nas escolas públicas, recomendando que as particulares fizessem o mesmo. Nos últimos dias, Porto Rico registrou seu número mais elevado de mortes diárias desde setembro. Ali perto, a República Dominicana já anunciou que a realização da Série do Caribe – principal competição latino-americana de beisebol, marcada para acontecer no país entre 28/1 e 3/2 – está condicionada ao comportamento da pandemia nas próximas semanas. Também em solo dominicano os casos estão em escalada, com quase 6 mil novos casos na sexta (7), em um país que até então jamais havia tido mais que 2 mil contágios em 24 horas ao longo da pandemia.
Embora nem todos os países disponham dos equipamentos para identificar a variante por conta própria, o que atrasa confirmações, acredita-se que a ômicron já seja a variante dominante em grande parte da região – caso, por exemplo, da Colômbia, onde mais de 60% dos casos já eram causados pela cepa até o último domingo (2). Independentemente da variante, no entanto, os cuidados recomendados pelos especialistas permanecem os mesmos, bem como o incentivo à vacinação. Na Bolívia, o governo precisou suspender a exigência do comprovante de vacina para frequentar serviços públicos até o próximo dia 26, argumentando que a obrigatoriedade aumentou a demanda por imunização a tal ponto que acabou sobrecarregando os centros onde as injeções são aplicadas: a ideia é espaçar a campanha de vacinação nos próximos dias, evitando superlotação. No país andino, que pela primeira vez chegou a confirmar mais de 10 mil contágios em 24 horas, também foi registrada a marca inédita de meio milhão de inoculações em um intervalo de apenas três dias nesta primeira semana de janeiro. Outro exemplo que comprova a manutenção das medidas já conhecidas frente à doença vem do Chile: o governo anunciou que a aplicação da quarta dose da vacina começa já na próxima segunda (10). O presidente Sebastián Piñera, a dois meses de entregar o cargo para o eleito Gabriel Boric, destacou a necessidade de se seguir vacinando diante do aumento de casos ligados à nova mutação.
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DESTAQUES
🇭🇹 Premiê sobrevive a atentado – Nem mesmo as celebrações pela independência do Haiti, no 1º dia do ano, ganham uma trégua das notícias ruins: no domingo (2), o primeiro-ministro Ariel Henry, atualmente o homem mais forte do país, foi alvo de um ataque a balas, o que o governo já defende como uma tentativa de assassinato. Henry não se feriu, mas o incidente deixou uma vítima fatal e ainda não foi esclarecido. Os disparos contra as autoridades aconteceram na porta de uma igreja em Gonaïves, após uma missa de comemoração pelos 218 anos da emancipação haitiana. O novo susto desdobra a trama que se arrasta desde o ano passado, quando o então presidente Jovenel Moïse foi assassinado dentro de casa sob circunstâncias ainda pouco explicadas e que já tiveram até o próprio Henry no círculo de possíveis suspeitos. E não foi o único capítulo adicionado à história esta semana: nos EUA, autoridades prenderam sob acusação de conspiração um dos 22 ex-militares colombianos suspeitos de fazer parte da rede de mercenários que teria arquitetado o magnicídio. Mario Antonio Palacios estava no Panamá e é mais uma peça do quebra-cabeças que vários países tentam solucionar. Em El País.
🇬🇹 Crimes da guerra civil vão a julgamento – Quase 40 anos depois, cinco ex-paramilitares guatemaltecos começaram a ser julgados na quarta-feira (5) pela acusação de estuprar 36 mulheres do grupo indígena Achi, no início dos anos 1980, durante a guerra civil de décadas no país centro-americano (1960-1996). Os promotores afirmaram ao tribunal que tinham pelo menos 200 provas, incluindo depoimentos e pareceres de especialistas, sobre os estupros ocorridos em Baja Verapaz, um departamento ao norte da Cidade da Guatemala. Grupos de direitos humanos penduraram cobertores e colocaram flores do lado de fora do tribunal em solidariedade às vítimas, de origem maia. Via EFE.
🇻🇪 Guaidó mantém presidência-fantasma – Como já era esperado, Juan Guaidó foi reconhecido pela oposição governamental, apoiada pelos EUA, como presidente interino da Venezuela por um novo período – a escolha sempre se dá no início de janeiro, época em que a Assembleia Nacional escolhe seu líder, cargo que originalmente deu a Guaidó a prerrogativa constitucional de poder se considerar “presidente encarregado” do país (ele próprio, porém, está sem mandato oficial como deputado desde o início do ano passado, o que tornou a questão ainda mais legalmente turva do que antes). “Apoiamos o desejo do povo venezuelano de uma restauração pacífica da democracia por meio de eleições livres e justas”, acrescentou o porta-voz dos Estados Unidos, segundo a agência de notícias EFE. Os membros do Parlamento majoritariamente oposicionista eleito em 2015 aprovaram a “continuidade” de Guaidó no suposto cargo presidencial por até doze meses a partir de 4 de janeiro de 2022. Com um detalhe que esvazia o posto: há um ano, nem eles, nem o próprio Guaidó, têm mandato vigente, já que a oposição preferiu boicotar as eleições legislativas realizadas no final de 2020, que renovaram a legislatura. No DW.
🇨🇱 Constituinte sob nova direção – Seguindo o previsto no calendário, a Convenção Constitucional completou seis meses de instalação nesta terça (4) e elegeu uma nova mesa diretora. Agora, a escolhida como presidenta do órgão designado a escrever uma nova Carta Magna para o país é a epidemiologista María Elisa Quinteros. A nova líder do grupo de 155 legisladores vem para o lugar da professora e representante mapuche, Elisa Loncón. A vitória de Quinteros agradou Gabriel Boric, presidente eleito do Chile, que toma posse apenas em março. Nas redes sociais, ele definiu o resultado da votação como “notícias boas e promissoras que surgem de situações difíceis” – já que a própria votação, assim como a atuação da Constituinte até aqui, foi marcada por polêmicas. Em resposta a Boric, a nova liderança disse que “está à disposição”. A Convenção Constitucional está exatamente na metade do prazo de funcionamento previsto em lei e ainda tem uma série de trâmites pela frente, com seu encerramento esperado para, no máximo, o dia 5/7. Na Radio Universidad de Chile.
🇨🇴 Eutanásia histórica – Na noite de sexta-feira (7), Víctor Escobar, 60, tornou-se o primeiro colombiano a passar por uma eutanásia legal sem sofrer de doença terminal. Ele vivia com dificuldade para falar e respirar, sofreu dois derrames e tinha paralisia do lado esquerdo do corpo, doenças pulmonares, fibrose, diabetes e hipertensão, entre outras patologias. Mesmo assim, Víctor precisou enfrentar uma disputa judicial que durou dois anos e só teve decisão favorável em dezembro. “Esta é uma batalha que abre portas para outros pacientes que virão depois e que, neste momento, querem uma morte digna”, disse, em seu vídeo de despedida. A Colômbia autoriza a eutanásia de pacientes terminais desde 1997, mas apenas no ano passado o direito foi estendido a casos como o de Escobar, quando há problemas que afetam a qualidade de vida mas não representam um risco iminente de morte. Em outubro de 2021, Martha Sepúlveda estava agendada para se tornar a primeira pessoa sem doença terminal a passar pelo procedimento (contamos no GIRO #102), mas sua eutanásia acabou cancelada de última hora e, apesar de amparada pela Justiça, ela segue aguardando uma nova data. Em El Espectador.
Un clic:
MAIS NOTÍCIAS
ARGENTINA 🇦🇷
O aumento de fiéis evangélicos em cadeias argentinas já é um fenômeno perceptível. Tendência em toda a região, onde a doutrina tem encontrado respaldo sobretudo em regiões periféricas, não é diferente em presídios, que já têm pavilhões inteiros controlados por pastores – com direito a cultos próprios dentro das celas. Em muitos casos, a vertente evangélica atrai mais os detentos por suas palavras de redenção, onde muitos deles encontram o consolo para a culpa carregada pela pena. A fotorreportagem, no Clarín.
Nada de acordo entre Buenos Aires e o FMI, a quem o país platino deve um montante de US$ 45 bilhões, emprestado no momento mais brusco da crise financeira dos anos Mauricio Macri, em 2018. Segundo o ministro da Economia, Martín Guzmán, as duas partes não puderam apertar as mãos quanto ao refinanciamento da dívida por conta de um velho problema argentino: seu retumbante déficit fiscal – não há um consenso em relação à forma com que o governo deve chegar a um quadro de redução. A dívida tem vencimentos previstos para 2022, 2023 e 2024, e novas prorrogações podem complicar ainda mais o já debilitado quadro econômico do país. Via AP.
BOLÍVIA 🇧🇴
Alvo de golpes e interesses internacionais, o chamado “ouro branco” boliviano, como também é conhecido o lítio, gera expectativas econômicas para o governo. O vice-ministro das Altas Tecnologias Energéticas, Álvaro Arnez, disse que com a extração direta do minério será possível “agilizar a utilização” do recurso, através da industrialização. A Bolívia tem reservas de 21 milhões de toneladas de lítio, umas das maiores do mundo, majoritariamente abrigadas nas salinas do Salar de Uyuni. Há um mercado mundial em expansão para o lítio, utilizado nas baterias de carros elétricos, que vêm conquistando espaço como alternativa aos combustíveis fósseis. No Gestión.
CHILE 🇨🇱
Após convite do presidente Sebastián Piñera para acompanhá-lo em sua última viagem internacional com destino a Colômbia, Boric se recusou a viajar junto ao antecessor, alegando que pretende seguir montando seu gabinete rumo à posse: “nossas prioridades estão na formação de equipes aqui no Chile”, informou o jovem eleito aos jornalistas. No 24 Horas.
Sete policiais militares ficaram feridos na capital Santiago após um protesto inusitado, na segunda-feira (3): apicultores soltaram cerca de 10 mil abelhas em frente ao palácio de La Moneda, sede do governo, para chamar atenção à causa, interrompendo o trânsito na Alameda, a principal avenida central da cidade. Eles denunciavam a falta de ação do governo para minimizar os impactos da crise hídrica, que vem reduzindo a população do inseto polinizador na região. Na tentativa de remover as abelhas, os carabineros acabaram picados. Na CNN.
COLÔMBIA 🇨🇴
Retrato do denso e complexo conflito armado nos rincões do país, um suposto enfrentamento entre membros do Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha ativa no país, e ex-membros das hoje pacificadas FARC deixou pelo menos 27 mortos na região rural de Arauca, informaram autoridades. Entre as vítimas estariam mulheres, menores de idade e cidadãos venezuelanos. O governo Iván Duque, que nunca deu conta de resolver ou mesmo aliviar a violência nessas regiões, enviou efetivos militares para o local. Na sequência das investigações, a Procuradoria afirmou que a hipótese de um combate deve ser praticamente descartada: as vítimas teriam recebido disparos a curta distância, sugerindo execuções. Na Prensa Latina.
A ONG Human Rights Watch questionou os números positivos divulgados pela Procuradoria colombiana, que vinha se autocongratulando por “avançar” na resolução de casos de assassinatos de defensores de direitos humanos e líderes sociais no país. De acordo com o órgão do governo, 68% dos homicídios desse tipo registrados desde 2016 teriam sido resolvidos. A HRW, porém, encontrou inconsistências nos números, especialmente nos relativos ao ano de 2021: enquanto o Ministério Público considerou apenas um assassinato desse tipo no ano passado, a ONU recebeu 191 denúncias de crimes semelhantes, confirmando pelo menos 73 deles. Ao considerar um universo menor de mortos, o governo estaria inflando artificialmente a taxa de resolução de casos que, na realidade, permanecem muitas vezes sem resposta. Na DW.
Dale un vistazo:
📚 Week-end na Guatemala – nesta obra de um dos Nobel de Literatura latino-americanos, Miguel Ángel Asturias, diferentes contos compõem um panorama do cotidiano guatemalteco nos dias da derrubada do governo de Jacobo Árbenz, em 1954, com apoio militar estadunidense. Entre invasores, oligarcas decadentes, turistas norte-americanos, militantes do próprio país, militares traidores e mercenários vindos de toda a América Latina, as diferentes histórias se somam para formar uma só, a de um país violentado pelos interesses estrangeiros enquanto sua população nativa começava a sofrer um dos extermínios mais massivos que o continente viu no século 20.
📚 ‘Week-end en Guatemala’ foi lançado em 1956 e tem edição brasileira pela Expressão Popular.
COSTA RICA 🇨🇷
Estável para os padrões socioeconômicos centro-americanos, a Costa Rica mira uma nova investida humanitária: se tornar um “santuário” para migrantes forçados ao exílio por conta de desastres climáticos – triste tendência acentuada diante da crescente crise na região nos últimos anos. Para tanto, parlamentares do país debatem uma mudança na lei de migração que incluiria esse pretexto legal para a acolhida de milhares de pessoas afetadas por toda sorte de eventos catastróficos. Segundo um deputado governista que apoia a medida, embora o mundo reconheça a existência da migração climática, ainda faltam ferramentas para responder a ela. Em El Universal.
CUBA 🇨🇺
A Guarda Costeira dos EUA informou ter devolvido à ilha 119 pessoas que tentavam chegar ao vizinho do norte pelo mar, solução que tem sido adotada por cada vez mais cubanos nos últimos tempos, segundo as próprias autoridades norte-americanas. Como vem sendo trazido pelo GIRO, cidadãos do país caribenho enfrentam uma situação socioeconômica cada vez pior, muito por conta do aumento das sanções impostas a Havana – pressão sem resultados que encontra exemplo esta semana: os EUA impuseram uma multa à empresa de hospedagem Airbnb por contrariar as sanções de Washington e operar em Cuba, em novo golpe à já debilitada (porém importante) atividade turística por lá. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
A Corte Suprema do país ordenou a reabertura de uma investigação sobre o massacre de seis padres jesuítas em 1989, caso que gerou indignação internacional e ainda não foi devidamente esclarecido. As buscas pelos mentores do crime, que tem o ex-presidente Alfredo Cristiani (1989-1994) entre os acusados de ordenar o ataque de um pelotão de elite, encontraram entraves legais por conta de leis de anistia. Mesmo assim, a Comissão da Verdade sobre a guerra civil salvadorenha (1979-1992), que conta com apoio da ONU, já havia dito em 1993 que o Exército foi responsável pela matança. Na RFI.
O governo salvadorenho autorizou a entrada de dois jornalistas cubanos que alegam terem sido expulsos da ilha e afirmam não terem encontrado refúgio na Nicarágua. Independentes, os dois repórteres do portal ADN Cuba também eram ligados ao Movimento San Isidro, uma das principais frentes dos protestos de 2021 – o grupo foi acusado de ser financiado pelos EUA pelo poder em Havana, motivo que deve ter levado autoridades nicaraguenses a rejeitar a entrada dos viajantes. A ida de Héctor Valdez e Esteban Rodríguez a San Salvador foi intermediada por José Miguel Vivanco, diretor da Human Rights Watch para as Américas. Via Reuters.
EQUADOR 🇪🇨
O consumo dos lares equatorianos é o grande motor da recuperação econômica após o baque de 2020. De acordo com dados do Banco Central divulgados na virada do ano, foi aí que esteve o maior crescimento interanual do PIB no terceiro trimestre de 2021, com um incremento de 6,7%. Com os números positivos, mas ainda precisando consolidar os resultados do quarto trimestre, o Equador projeta que o PIB tenha crescido em mais de 4% no ano recém-encerrado. Na Bloomberg.
HONDURAS 🇭🇳
Pela primeira vez, as principais torcidas de futebol do país assumiram um “pacto pela paz” com o governo, prometendo o fim da violência nos estádios. O acordo foi feito com representantes da presidenta eleita Xiomara Castro, que toma posse no próximo dia 27. Seu vice, Salvador Nasralla, compareceu ao evento, que reuniu representantes das barras dos quatro maiores clubes hondurenhos – Olimpia, Motagua, Real España e Marathón. Segundo autoridades, boa parte da violência vai além do esporte, e teria relação com a ligação de membros das torcidas com gangues do narcotráfico centro-americano, como a Mara Salvatrucha (MS-13) e a Calle 18. Na Prensa.
Una expresión:
Narcomanta – ou narcomensaje, é o nome que se dá às faixas deixadas por cartéis em locais públicos no México, com diferentes propósitos. Podem trazer “justificativas” para os crimes dos grupos, ameaças a autoridades, ou até mesmo encomendar assassinatos e oferecer recompensas pelo infortúnio causado a alguém envolvido com organizações rivais. Buscando não difundir as mensagens, muitos jornais mexicanos preferem não reproduzir imagens ou fragmentos dos textos das narcomantas, que no entanto circulam livremente nas redes sociais e em veículos estrangeiros.
MÉXICO 🇲🇽
Cuauhtémoc Blanco, ex-craque da Seleção Mexicana de futebol e hoje governador do estado de Morelos, envolveu-se em um escândalo de grandes proporções durante a semana: uma foto tirada em 2018, com o político ao lado de líderes do narcotráfico, veio à tona. Blanco negou envolvimento com os três retratados – um dos quais desde então foi morto, outro caiu preso, e o terceiro estaria envolvido no assassinato de um ativista –, argumentando que “tirou muitas fotos como jogador de futebol” sem conhecer as pessoas que o idolatravam. No dia seguinte à negativa, porém, uma narcomanta (veja em Una expresión) apareceu em uma cidade de Morelos repleta de ameaças e menções a detalhes de supostos acordos entre Cuauhtémoc e os narcos, além de frases remetendo ao alegado relacionamento que o hoje governador teria mantido com o grupo: “lembre-se de quem te mandava dinheiro”. No Infobae.
O picote tequila, um peixe típico do rio Teuchitlán, voltou a colonizar o leito fluvial após mais de duas décadas extinto em seu hábitat natural: pesquisadores da Universidade Michoacana, com apoio da população local, passaram anos reproduzindo a espécie em cativeiro com o objetivo de reintroduzi-la no rio, o que finalmente ocorreu em 2017. Mas foi só no final de 2021 que os cientistas conseguiram observar o sucesso da empreitada: exemplares do gallito (o peixe de apenas 8 cm também tem esse apelido por seu rabo amarelado, como um “galinho”) não só conseguiram se readaptar à vida silvestre como foram identificados também em áreas do rio que haviam originalmente abandonado devido à ação humana e à presença de espécies invasoras. Na National Geographic.
NICARÁGUA 🇳🇮
E aconteceu: no último dia de 2021, a embaixada da China foi reaberta em Manágua, após 31 anos do rompimento das relações ainda no começo do governo de Violeta Chamorro (1990-1997). Representando o governo Ortega, o chanceler Denis Moncada exaltou “a afinidade ideológica” entre os países e recordou que a Nicarágua sandinista já havia se aproximado de Pequim em 1985, mas o processo foi “interrompido por governos neoliberais”. A reabertura da representação chinesa aconteceu apenas três semanas depois de o governo Ortega romper definitivamente com Taiwan e, ato contínuo, “confiscar” a embaixada taiwanesa. A América Central era um dos grandes bastiões de Taiwan no mundo, um dos raros locais onde ainda havia apoio majoritário à causa da Ilha Formosa frente a Pequim, mas isso vem retrocedendo nos últimos anos: El Salvador abraçou a China em 2018 (e, ao contrário das previsões, viu a relação se estreitar com o conservador Bukele), a Nicarágua seguiu este caminho em 2021, e há expectativa de que o governo entrante de Xiomara Castro, que assume em Honduras no próximo dia 27, faça o mesmo. Na DW.
PANAMÁ 🇵🇦
Dois homens foram condenados pelo massacre do Lago Gatún, em julho de 2020, quando sete jovens foram encontrados mortos após não retornarem de uma caminhada turística (contamos o caso no GIRO #40). A chacina, rara no país, nunca teve a motivação esclarecida pelas autoridades. Reynaldo Cuadra McBean e Jean Carlos Hernández foram condenados, respectivamente, a 50 e 36 anos de prisão, pelos crimes de homicídio, feminicídio (quatro das vítimas eram mulheres), roubo e privação de liberdade. Os dois foram declarados culpados em 15/12, mas a sentença só foi divulgada no dia 29. Em El Siglo.
PARAGUAI 🇵🇾
Um dos exemplos mais extremos da crise climática na região, convivendo com secas inéditas e temperaturas recorde, o Paraguai começou 2022 a caráter: logo no dia 1º, o país teve o maior pico de calor já registrado em seu território – a marca de 45,6 °C foi observada na localidade de Sombrero Hovy, departamento de Presidente Hayes, na região do Chaco. Na Megacadena.
Aos 93 anos, morreu na segunda-feira (3) o jesuíta hispano-paraguaio Francisco Oliva, importante voz contra a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989) e que, no exílio, também viveu a Revolução Sandinista na Nicarágua. Conhecido pelos paraguaios como pa’i Oliva (veja em Una palabra) e exaltado pelo Papa Francisco, o religioso de naturalidade espanhola chegou ao país em 1964 para trabalhar como professor na Universidade Católica. Cinco anos mais tarde, já tendo adotado a nacionalidade do novo país, foi expulso pelo regime stronista, iniciando um périplo como exilado que só se encerraria nos anos 1990, quando regressou a Assunção com o país redemocratizado. “Há dois Paraguais: o dos poderosos economicamente falando com seus empregados políticos e doutores, 1,5 milhão de pessoas, e depois o resto, campesinos e classe média baixa, a cada vez mais baixa que está caindo na pobreza, e os indígenas. Há 100 mil indígenas totalmente abandonados”, disse em 2018. Em El País.
Una palabra:
Pa’i – palavra guarani para se referir carinhosamente aos sacerdotes religiosos, muito utilizada no Paraguai.
PERU 🇵🇪
Pouco mais de seis meses após tomar posse, o presidente Pedro Castillo é alvo, novamente, de uma investigação preliminar por suposto tráfico de influência e conluio. Castillo teria intervido “indevidamente e indiretamente” em contratos governamentais. O presidente já é investigado por supostamente ter interferido em promoções militares e recentemente também teve seu mandato ameaçado após um pedido de afastamento, rejeitado pelo Congresso em dezembro. Em El País.
No país onde indígenas representam pouco mais de 20% da população, Alexander Fasanando Riveiro, advogado da Universidade Nacional de Ucayali, tornou-se o primeiro procurador de origem indígena do povo Shipibo-Konibo e fará parte do subsistema especializado em Direitos Humanos, Interculturalidade e Crimes de Terrorismo, segundo divulgado pelo Ministério Público do país. De acordo com o MP peruano, aproximar-se das comunidades indígenas é fundamental, pois “em sua condição de defensores ambientais, são vítimas de graves atentados contra sua vida e integridade física”. Em El Comercio
Um terremoto de magnitude 5,6 foi registrado na quinta-feira (6) em Lima, capital do país, e também foi sentido nas províncias de Cañete e Chincha, ao sul da capital peruana, e na cidade de Chimbote, a quase 400 km ao norte de Lima. Sem vítimas fatais confirmadas até o fechamento desta edição, o sismo deixou ao menos nove feridos e provocou danos materiais sobretudo em San Juan de Lurigancho, na província de Lima. Em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
Novo ano, velho problema: a ilha entrou em 2022 mantendo padrões considerados atipicamente secos ou de seca moderada, o que leva a racionamentos de água e energia. De fato, Porto Rico vem mantendo esse padrão desde maio de 2020, e no ano passado cerca de 20% do território esteve constantemente em condições consideradas de seca atípica, quando há um déficit de água e o cultivo de alimentos e pastagens se torna mais lento. Quase toda a ilha também registrou algum momento de seca moderada, um degrau acima na gravidade da situação, quando as fontes estão abaixo do nível normal e é preciso reduzir o consumo de água. Atualmente, quase 82% de Porto Rico se enquadra em uma das duas categorias. Em El Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Mirando uma reformulação completa na polícia nacional, o presidente Luis Abinader pediu uma assessoria incomum: a dos Carabineros do Chile, órgão militarizado conhecido por responder de forma violenta a protestos e violar direitos humanos no país transandino. O curioso é que a reciclagem do corpo policial dominicano vem no momento em que o próprio Estado admite exageros por parte dos agentes, citando disparos fatais contra civis nos últimos meses. Para tanto, vai buscar instrução com uma corporação com histórico de fazer o mesmo. Na Cooperativa.
URUGUAI 🇺🇾
Não é o movimento feito por El Salvador, que em 2021 se tornou o primeiro país do mundo a começar a utilizar o bitcoin como moeda legal, mas o Uruguai inaugurou durante a semana seu primeiro “caixa eletrônico” de criptomoedas: no balneário de Punta del Este, destino habitual de endinheirados, a máquina permitirá trocar bitcoin e assemelhados por dinheiro corrente, e vice-versa. Os investidores que bancam a inovação pretendem expandir a rede de caixas para Montevidéu e Maldonado, para “aumentar a adoção de criptomoedas pela da população”. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
Terror dos priminhos na mesa de jantar, o jovem Miguel Rojas, 13, tem boas razões para entrar feliz em 2022. Nos acréscimos do último ano, recebeu da NASA um certificado comprovando um achado pouco comum: um asteroide ainda não catalogado. Mesmo usando apenas um software básico e com alguns meses de treinamento, o menino conseguiu identificar o corpo celeste, agora batizado de 2021GG40. O processo demorou alguns meses já que uma checagem rigorosa é feita após usuários amadores apontarem possíveis novidades na galáxia. Desde pequeno interessado em olhar para o céu, o garoto de Barquisimeto, capital do estado de Lara, diz que ainda será engenheiro espacial. Na BBC.
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