México terá duas mulheres como favoritas para as eleições de 2024
A senadora Xóchitl Gálvez, do PRD, será o principal nome da oposição para enfrentar a ex-prefeita da capital, Claudia Sheinbaum, definida na quarta (6) como candidata governista à Presidência
“Vamos abrir as portas do Palácio Nacional, portas que estão fechadas há cinco anos: aqui está a oposição”, bradou a senadora mexicana Xóchitl Gálvez no domingo (3), dia em que foi anunciada oficialmente como candidata à Presidência em 2024 pela coalizão opositora Frente Ampla pelo México (FAM). Registrado em julho, o bloco reúne três dos principais partidos de oposição: o conservador Partido Ação Nacional (PAN), legenda pela qual Gálvez chegou ao Senado, o Partido da Revolução Democrática (PRD), de centro-esquerda e atual sigla de Gálvez, e, não menos importante, o tradicionalíssimo Partido Revolucionário Institucional (PRI) – apesar de não ser mais tão poderoso como antes, sobretudo pelo avanço do partido do presidente Andrés Manuel López Obrador, o PRI ainda conserva bastante popularidade em algumas regiões do país. Cientes da força do governista Movimento Regeneração Nacional (Morena), as legendas de oposição perceberam que já não se garantem jogando sozinhas.
A nomeação de Gálvez não aconteceu por acaso. Diante de um cenário com o Morena como franco favorito a vencer as eleições no próximo ano, o bloco opositor tentou minimizar os riscos: a FAM se baseou em pesquisas internas para medir o índice de popularidade de cada um de seus potenciais presidenciáveis. A senadora do PRD e ex-PAN, por fim, venceu a disputa, desbancando sua colega Beatriz Paredes, senadora indicada pelo PRI. Num gesto de boa relação que tem sido a marca desse novo pacto político, Paredes prontamente reconheceu a derrota, dizendo que “os interesses do México devem prevalecer”.
Antes de se lançar como pré-candidata à Presidência, Xóchitl Gálvez já aparecia como uma opção viável da oposição para a disputa pelo governo da Cidade do México, outro cargo-chave que será definido em junho do ano que vem. No entanto, nada impulsionou mais a senadora do que sua contundente oposição a López Obrador. A saga caricata de Gálvez contra o mandatário teve de tudo: em dezembro do ano passado, ela viralizou nas redes sociais ao entrar no Legislativo fantasiada de dinossauro, classificando de “plano jurássico” um polêmico projeto de reforma eleitoral apoiado por AMLO; já mais popular, também atraiu holofotes ao ir pessoalmente à sede do governo nacional após conseguir na Justiça um direito de resposta às críticas do presidente. Em junho, foi barrada na porta e impedida de assistir a uma das tradicionais coletivas matutinas de Obrador – que justificou a decisão dizendo que tudo não passava de “publicidade”.
Em agosto, por fim, a Justiça Eleitoral até impediu o presidente de mencionar a adversária durante suas aparições públicas. Mas a propaganda indireta já estava feita, levando a um boom de buscas pelo nome da senadora no Google.
Em sua bio na rede X (antigo Twitter), ela se apresenta como empresária e engenheira e diz lutar contra “as mudanças climáticas e a corrupção”. Já sua identidade ideológica parece passear pelo espectro político: valoriza suas raízes indígenas, não nega suas influências marxistas na juventude e se até diz feminista e a favor do direito ao aborto. Mas também rejeita grandes rótulos, dizendo-se “de centro, centro-esquerda”, mas, sobretudo, “disruptiva e outsider”.
A missão da (até aqui) indecifrável Xóchitl Gálvez não será fácil. Sua principal adversária nas urnas será a ex-prefeita da capital Claudia Sheinbaum, anunciada na noite de quarta-feira (6) como a presidenciável do governista Morena. Assim como feito pelo grupo de oposição, a vitória de Sheinbaum, que já era apontada como favorita nas primárias por pesquisas prévias, foi determinada pelo resultado de quase 12,5 mil questionários independentes realizados em nível nacional, dando aos eleitores (não apenas partidários do Morena) a opção de escolher quem melhor representaria o partido em 2024. Preferida por 39% dos eleitores, a política venceu a disputa contra o ex-chanceler Marcelo Ebrard, outro nome forte dentre os governistas, que acabou com pouco mais de 25% dos votos. Outros nomes da coalizão, nunca considerados ameaças sérias à dupla, marcaram entre 6% e 12%.
A derrota de Ebrard, no entanto, abriu uma nova fissura no partido: além de sugerir que o processo de seleção interno fosse “repetido” em função de supostas irregularidades, o ex-chefe da diplomacia mexicana rompeu de vez com Sheinbaum – colocando um pezinho para fora do partido e sequer dando as caras no anúncio oficial da candidatura, Ebrard chegou a dizer que “não se submeteria” à liderança “intolerável” da ex-prefeita e agora presidenciável. A guinada brusca do antigo chanceler é considerada uma surpresa, mas não totalmente: dias antes do início das primárias, quando pesquisas já indicavam sua derrota, Ebrard acusou o Morena de beneficiar a campanha de sua adversária. As insinuações foram rejeitadas pelo presidente, que negou qualquer favorecimento e afastou rumores de possíveis “dedazos” (como são conhecidas as candidaturas definidas por mera indicação).
Virada essa página – e enquanto ainda se tenta decifrar a jogada política de Marcelo Ebrard, que prometeu tomar uma decisão sobre o próprio futuro na próxima segunda-feira (11) – Sheinbaum, agora, fica entre a benção e a maldição. Se por um lado pesquisas já apontam que ela teria 46% dos votos contra 31% de Gálvez caso as eleições fossem hoje, ainda não é certo dizer que a herdeira política do Morena absorverá toda a popularidade do presidente. Vale lembrar: impedido de se candidatar novamente, López Obrador – que diz que sequer gostaria de ser eleito e promete se aposentar da política – teria vitória praticamente certa caso pudesse permanecer. Uma hipótese, porém, inexistente.
Também não é possível projetar qual México chegará às urnas no ano que vem. Sem conseguir resolver a violência endêmica, diante de altos índices de desaparecimentos forçados e cercado por controvérsias políticas alimentadas pelo próprio presidente, o Morena não pode se acomodar a despeito de sua popularidade. Afinal, as próximas eleições estão cheias de ineditismos: com as duas principais candidaturas com cabeças de chapa femininas, delas pode sair a primeira mulher a presidir o México em toda a história. E, para conquistar esse posto contra um partido que se tornou demolidor em âmbito eleitoral, Xóchitl Gálvez terá na manga uma inusitada união de opositores, coisa que também foge bastante do roteiro ao qual o México está acostumado. Até mesmo Luis Donaldo Colosio Riojas, filho de um presidenciável assassinado em 1994 e um dos nomes mais reconhecíveis fora da coalizão FAM, desistiu de entrar na disputa para “não dividir a oposição”.
Um triunfo de Sheinbaum, por outro lado, confirmaria o sepultamento, talvez definitivo, da ordem que ditou a política do país por quase um século: o PRI, que chegou a governar o país ininterruptamente entre 1929 e 2000, provando-se incapaz de derrubar o movimento iniciado por López Obrador mesmo se unindo (já em segundo plano) aos velhos rivais – entre eles, o PAN, o único capaz de vencer o priismo em nível nacional até o sucesso do Morena em 2018.
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🇦🇷 Candidata a vice de Javier Milei causa alvoroço com ato que relativiza ditadura; presidente critica “negacionistas” – “Os negacionistas [da ditadura militar] são outros, aqueles que falam sobre liberdade”. O presidente Alberto Fernández não citou nomes, mas, para bom entendedor, meia palavra basta: a declaração dada pelo mandatário durante um evento público na segunda (4) veio no mesmo dia em que Victoria Villarruel, candidata a vice-presidente na chapa do libertário de extrema direita Javier Milei, cuspiu na história de reparação do país ao realizar um evento simultâneo em homenagem às “vítimas de organizações de esquerda”. A tentativa clara de deturpar o entendimento público sobre a repressão, cometida pela direita e com mais de 30 mil vítimas (entre assassinatos e desaparições forçadas) entre 1976 e 1983, tem método: de família militar, Villarruel já sugeriu em entrevistas que notórios repressores encarcerados no país (algo que, na América Latina, já custa demais a acontecer em função de prescrições penais, leis de anistia e evidências destruídas) seriam “presos políticos” e que, se eleita, buscaria até a libertação dessas figuras a despeito das torturas, matanças e sumiços que tenham cometido. Há quem diga que a narrativa é parte de uma conhecida corrente analítica chamada de “teoria dos dois demônios”, que busca, sem desconsiderar o que fez o Estado durante a ditadura, condenar eventuais atos violentos que partiram de grupos de esquerda (para muitos conservadores vistos como “células terroristas”). Mas, como é sabido, não há como comparar – seja em número, duração ou gravidade –, além de que não parece ser exatamente esse o intuito de Villarruel, que enfrenta o repúdio de um sem-número de organizações sociais, civis e de direitos humanos por atacar o consenso histórico argentino e tentar inserir a fórceps uma reinterpretação do passado. Enquanto isso, medidas que realmente ajudam a desvendar crimes antigos: ainda em busca de dezenas de crianças sequestradas durante o regime, novos projetos, agora, recorrem a softwares de inteligência artificial para tentar imaginar como seriam seus rostos hoje em dia, facilitando uma eventual identificação. No Página 12.
🇧🇴 Federação Boliviana anula temporada do futebol no país após denúncias de manipulações generalizadas – Se a longa e arrastada briga entre o presidente Luis Arce e seu antigo aliado e ex-presidente Evo Morales (2005-2019) – pelea esta que ganhou um novo desdobramento, agora com Evo acusando o governo de articulações para torná-lo inelegível antes do pleito de 2025 – fosse parte do campeonato nacional de futebol… não valeria mais. Isso porque, a partir desta terça (5), todos os resultados das principais competições domésticas do país neste ano foram anulados. A decisão radical foi anunciada pela Federação Boliviana de Futebol em função de uma série de supostas manipulações de partidas para satisfazer máfias de apostas, um esquema com subornos que teriam chegado aos bolsos de dirigentes, árbitros e jogadores. Ainda não foi explicado o que acontecerá a partir de agora para resolver os campeões de 2023 e as vagas nos torneios continentais do ano que vem, mas, até o fechamento desta edição, alguns caminhos começaram a ser propostos: na primeira divisão, clubes e federação propõem a realização de um torneio-relâmpago entre setembro e dezembro, aguardando apenas o aval da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol); no segundo escalão, chamado de Copa Simón Bolívar, a ideia é que as disputas continuem do jeito que estavam após o adiamento de algumas rodadas, mesmo sob suspeita. Jogadores do clube The Strongest, de La Paz, que vinha em primeiro lugar no campeonato suspenso, protestaram contra a decisão e ameaçam não entrar em campo no torneio extraordinário – em 2022, o Campeonato Boliviano também havia sido suspenso a poucas rodadas do final, embora por motivos diferentes, e o Strongest, que também liderava, já havia ficado sem o título na ocasião. Em El Deber.
🇨🇺 Cuba descobre rede que ‘traficava’ seus cidadãos para lutar na guerra pela Rússia – A chancelaria cubana revelou, na segunda-feira (4), que descobriu uma rede de tráfico de pessoas que levava cidadãos da ilha para “incorporá-los [...] às forças militares participando das operações de guerra na Ucrânia”. Até aqui, as informações oficiais difundidas por Havana são limitadas, mas dão conta de que a rede aliciava tanto cubanos vivendo na Rússia quanto pessoas que ainda residiam na ilha antes de serem levadas para o front. Em maio, um jornal russo já havia noticiado que cubanos estariam sendo levados para a guerra como mercenários em troca da cidadania russa, embora não esteja claro se a investigação levada a cabo por Cuba tenha relação com as revelações da época. Os anúncios desta semana também não detalharam como a descoberta pode – ou não – afetar as relações entre Havana e Moscou, que estavam no momento de maior aproximação desde o final da União Soviética, mas as autoridades cubanas garantiram que estão trabalhando para “neutralizar e desmantelar” a operação. Na BBC.
🇪🇨 2º turno no Equador: pesquisa projeta vitória de jovem empresário contra esquerda correísta – A violência segue sem dar trégua após o país entrar em setembro com carros-bomba e novas rebeliões nos presídios – com direito a mais de 50 agentes de segurança mantidos reféns pelos bandidos e só libertados no final da última semana. Mas, já resignados, os equatorianos agora só aguardam o segundo turno em 15/10, quando a correísta Luisa González vai pôr à prova o favoritismo de outrora contra o jovem empresário Daniel Noboa, grande surpresa do convulsionado primeiro turno realizado no último mês. Notícias ruins para o partido dela, o Revolução Cidadã (RC), porém: de acordo com uma pesquisa de intenção de voto divulgada na segunda (4), caso as urnas fossem abertas hoje, Noboa seria eleito presidente com quase 55% dos votos, contra cerca de 45% para González. Repetindo o padrão da primeira votação, a sondagem também aponta um índice alto de indecisão: quase 13% dos entrevistados diz não saber em quem votar; votos nulos se aproximam de 9%. Mais de 13 milhões de – assustados – equatorianos estão convocados à votação do próximo mês, encarregados de escolher um mandatário que governará o país até maio de 2025. No Sputnik.
🇬🇹 Guatemala: pleno do TSE reabilita Semilla após segunda suspensão; nas ruas, protestos contra o Ministério Público – Vocês certamente estão cansados desse toma lá dá cá guatemalteco – acreditem: nós também. Mas, semana nova, desdobramento novo: alguns dias após o setor de registros do TSE suspender o partido Semilla, do presidente eleito Bernardo Arévalo, pela segunda vez durante as eleições, o pleno do mesmo órgão eleitoral entrou em cena no sábado (2) e reverteu a decisão. E foi, adivinhem, provisoriamente: segundo os magistrados da corte eleitoral, a suspensão da anulação da personalidade jurídica do Semilla vale só até 31/10, quando o calendário eleitoral acaba oficialmente – dessa forma, segue sendo impossível prever se a suspensão voltará a vigorar a partir desta data e, caso volte, se será suficiente para atrapalhar a posse de Arévalo, marcada para 14 de janeiro. No que depender de quem comanda o TSE – e de observadores internacionais e até do próprio presidente Alejandro Giammattei, que, talvez por receio, afastou-se de qualquer polêmica e já até se encontrou com Arévalo na segunda-feira para iniciar a transição – não deve haver grandes problemas: ao suspender a suspensão do Semilla, o tribunal exortou os três poderes do Estado a “respeitar a vontade popular manifestada nas urnas”. Mas, até aqui, só o Executivo e o Judiciário parecem fazer sua parte (já que o Congresso, recentemente, resolveu entrar na onda contra o Semilla dizendo “não reconhecer” mais a validade da bancada do partido no Legislativo). Para piorar, ainda está em cena o sempre infame Ministério Público, considerado o senhor de toda a crise eleitoral em 2023 (relembre aqui e aqui). Durante a semana, em novo ato contra o MP, entidades civis e grupos indígenas protestaram contra o órgão, pedindo a renúncia das principais figuras responsáveis por, segundo eles, iniciar todo o drama eleitoral da Guatemala.
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CHILE 🇨🇱
Enquanto o governo de Gabriel Boric segue tendo dificuldades para unificar as várias correntes políticas do país em uma declaração conjunta sobre os 50 anos do golpe de 1973 – efeméride que ocorre no próximo dia 11 –, a coalizão que reúne siglas da direita “tradicional” decidiu se antecipar a La Moneda e difundir seu próprio texto de olho na data. Na terça (5), lideranças do Chile Vamos, que reúne os partidos União Democrata Independente (UDI), Renovação Nacional (RN) e Evolução Política (Evópoli) fizeram a leitura de uma carta em que criticam Boric por supostamente fomentar a divisão do país. Sem condenar diretamente o golpe de Pinochet, os partidos colocaram-se contra “toda expressão, movimento ou chamado que se valha da violência ou do terrorismo para a promoção de suas ideias”. O documento ainda define os eventos de meio século atrás como “a quebra da democracia que [...] marcou a culminação de uma profunda fratura política e social que afetou gravemente nossa convivência”. No dia seguinte à divulgação do documento, o Chile Vamos decidiu não participar do evento oficial recordando o cinquentenário do golpe, citando, entre outras razões para a ausência, a possibilidade de “apologia a figuras que não nos parecem [adequadas], como o ex-presidente Salvador Allende”. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
Seguem sem uma perspectiva clara os planos de “paz total” do presidente Gustavo Petro – e, dessa vez, em função de conflitos entre os próprios grupos armados. Segundo informações confirmadas pelo governo do departamento de Arauca na segunda (4), pelo menos nove pessoas morreram e outras várias ficaram feridas, incluindo uma índigena menor de idade, após enfrentamentos entre o Exército de Libertação Nacional (ELN) e combatentes dissidentes das antigas FARC. O embate aconteceu em territórios próximos à fronteira com a Venezuela, um ponto conhecido pela convulsão social gerada pelo conflito armado. O novo episódio violento apatifa as pretensões do governo de acordar um cessar-fogo, sobretudo por acontecer justamente durante tratativas de paz – se o processo de trégua com o ELN é mais longo e institucionalizado, com rodadas de conversa realizadas em países terceiros, novos contatos preliminares entre Bogotá e o Estado-Maior Central (EMC), principal dissidência da antiga guerrilha, aconteceram na última semana. Mas, ainda que em estágios diferentes, as negociações que buscam botar um ponto final na violência com os dois grupos ainda parecem longe de surtir o efeito desejado. Na DW.
COSTA RICA 🇨🇷
Pequenas propriedades rurais que mantêm características da vegetação original são fundamentais para preservar espécies de aves tropicais – muitas delas ameaçadas –, enfatizou um novo estudo publicado na segunda-feira (4). O levantamento acompanhou registros de 430 espécies de pássaros ao longo de 18 anos, demonstrando um “forte contraste” entre o que se vê nas terras de pequenos produtores e na agricultura intensiva: algumas espécies que, em outros lugares, têm dificuldade até mesmo de estabelecer, estão inclusive vendo sua população crescer onde há faixas de vegetação nativa, mesmo entre plantações. Biólogos ressaltam que, embora os resultados do estudo pareçam intuitivos, é muito raro conseguir fazer um levantamento tão detalhado ao longo de tanto tempo. “Com 18 anos de dados, é possível demonstrar que essas espécies estão persistindo naquela área, e não apenas passando por ali”, comentou uma ecologista sobre os achados, à agência AP.
Una expresión:
Cuarta transformación – É como o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador e seus apoiadores chamam – de forma ambiciosa – o movimento social e político encabeçado por seu partido, o Morena, desde que chegou ao poder em 2018. Também citada como “4T” para simplificar, a “quarta transformação” do México seria uma mudança quase revolucionária, mas sem uso da violência, na forma como o país se organiza: entre os eixos de mudança, estariam a superação das políticas econômicas vinculadas ao modelo neoliberal, um incremento nos investimentos sociais com foco na população mais pobre e o combate à corrupção e aos privilégios na administração do Estado. Para AMLO, se atingidos esses objetivos, ele e seus aliados seriam os responsáveis pela quarta mudança essencial na história do país, somando-se à Independência, à Reforma ocorrida na metade do século 19, e à Revolução Mexicana de 1910. Em tempos pré-eleitorais, o discurso da cuarta transformación voltou com força enquanto o Morena decidia quem seria a nova liderança do processo.
EL SALVADOR 🇸🇻
A adoção do bitcoin como moeda legal está fazendo dois anos em El Salvador neste mês de setembro, rendendo muito mais manchetes ao longo desse tempo do que mudanças práticas na vida dos salvadorenhos – que ainda adotam a novidade de forma tímida, apesar dos incentivos do presidente Nayib Bukele. O que não quer dizer que o all-in do governo, que mantém até mesmo reservas oficiais no criptoativo, deixe de prosseguir: na segunda (4), a organização “My First Bitcoin” (MFB), que busca “ensinar” sobre o uso da moeda digital, anunciou que chegou a um acordo com o Ministério da Educação salvadorenho para oferecer aulas sobre o assunto a partir de 2024. Um programa piloto começa na semana e “se tiver êxito, será implementado em todas as escolas do país no ano que vem”, anunciou John Dennehy, fundador da MFB. No Cointelegraph.
HAITI 🇭🇹
O “fim da carnificina”. Assustador para quem lê, o pedido feito pelo Subsecretário-geral das ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, parece uma súplica que infelizmente condiz com a realidade do Haiti, que segue trilhando um caminho rumo ao completo caos social, político e econômico. Pelas redes sociais no domingo (3), a autoridade lembrou que pelo menos 70 pessoas foram assassinadas na capital apenas nas últimas duas semanas – com destaque para um protesto armado de religiosos que, ao entrarem em um território dominado por gangues nos arrabaldes de Porto Príncipe, foram dizimados a tiros. Griffiths também traçou um quadro panorâmico, lembrando que mais de 10 mil pessoas tiveram que fugir de casa em função do domínio cada vez mais intolerante dos grupos armados, condição que já eleva a 2,5 mil o número de homicídios em território haitiano em 2023 e também faz decolar casos de violência de gênero. Sem saídas, o país volta a virar alvo de possíveis missões internacionais, planos que incluem o Quênia (leia mais) e até o Brasil, responsável por controversas missões no Haiti no passado recente. No site da ONU.
HONDURAS 🇭🇳
Passada uma semana do fim dos mandatos do procurador-geral de Honduras e seu adjunto, o Ministério Público do país segue “acéfalo”, enquanto governo e oposição continuam sem acordo no Congresso para eleger a nova ‘PGR’ – nenhum dos lados dispõe, sozinho, da maioria qualificada exigida para validar a escolha. Enquanto o impasse segue, novas controvérsias se acumulam: o comando da casa legislativa anunciou a intenção de criar uma comissão para investigar os chefes saintes do MP, uma medida que vários observadores qualificaram de “autoritária”, e deputados governistas já ventilam a hipótese de chamar um plebiscito para escolher o novo procurador-geral, diante da incapacidade de resolver o dilema no Parlamento. O problema: convocar uma votação popular sobre o tema ainda exigiria a maioria qualificada de 86 votos para aprovar a decisão, e não está claro se esse consenso seria atingido – mesmo que ele ocorra, todo o processo levaria pelo menos outros quatro meses, mantendo a incerteza sobre a atuação do MP a médio prazo. Enquanto o fogo cruzado da política segue, o ex-PGR hondurenho, Óscar Fernando Chinchilla, já tem cargo novo: ele ocupará até 2027 um dos postos na Corte Centro-Americana de Justiça, para a qual havia sido eleito seis anos atrás, sem ter assumido porque já estava no comando do MP do próprio país.
Dale un vistazo:
MÉXICO 🇲🇽
Agora é nacional: a Suprema Corte do México despenalizou, na quarta (6), o aborto em nível federal. A decisão vem poucos dias após o estado de Aguascalientes ter se tornado o 12º do país onde a interrupção voluntária da gravidez deixou de ser crime, em um efeito dominó que começou dois anos atrás e agora culminou na decisão que deverá ser seguida inclusive pelas unidades federativas onde a prática ainda não era autorizada. De acordo com o perfil do tribunal no ex-Twitter, a decisão é que o sistema legal que penalizava o aborto era “inconstitucional [...] já que viola os direitos humanos das mulheres e pessoas com capacidades de gestar”. Em El Universal.
NICARÁGUA 🇳🇮
Um cerco de defesa ao regime. É disso que Daniel Ortega é acusado pelo jornal Confidencial, operando no exílio, ao utilizar as promoções e aposentadorias do alto oficialato do Exército da Nicarágua para criar um comando “leal” que não afete a continuidade de sua gestão. Segundo levantamento do portal, Ortega já promoveu 34 militares ao posto de general de brigada desde que retornou ao poder em 2007, sendo que 20 deles continuam na cúpula do Comando Geral, há quase 14 anos sob o controle de Julio César Avilés, cuja longevidade no cargo rompeu a política de alternâncias que havia marcado o pacto democrático após o fim da dinastia dos Somoza. Avilés, por sinal, voltou ao noticiário na terça (5), no marco dos atos pelo 44º aniversário do “novo” Exército da Nicarágua, estabelecido após o sucesso da Revolução Sandinista que – precisamente – pôs fim ao somocismo: para o general, a imprensa opositora que denuncia as Forças Armadas do país não passa de um grupo de “mercenários da informação” e “assalariados de interesses estrangeiros”. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
Um crime que chocou o esporte do país, pela brutalidade e pela repetição: no domingo (3), o zagueiro Gilberto Hernández, 26, que chegou a defender a Seleção Panamenha de futebol, foi morto a tiros em frente à casa da mãe na cidade portuária de Colón. O mais surpreendente é que nem se trata do primeiro caso do tipo nos últimos anos: em 2017, o volante Amílcar Henríquez, que também defendia a equipe nacional do Panamá, foi morto em outro tiroteio na mesma cidade. Até o fechamento desta edição, as autoridades ainda não tinham determinado a possível motivação do crime contra Hernández, morto após dois homens que saíram de um táxi começaram a atirar contra o grupo no qual estava o futebolista. Não está descartada a hipótese de que o verdadeiro alvo talvez fosse alguém que estava com ele, já que outras sete pessoas ficaram feridas. Homicídios do tipo estão em alta em Colón em função de disputas relacionadas ao narcotráfico. Um suspeito foi preso. No GE.
PARAGUAI 🇵🇾
Não ia ficar por isso mesmo: após o Censo 2022 sair com uma população quase 1,3 milhão de pessoas menor do que o previsto pelas estimativas oficiais do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), muitos paraguaios começaram a questionar até que ponto é possível confiar nestes novos resultados mensurados pelo mesmo órgão. Pudera: enquanto o país se guiava por uma projeção de que teria em torno de 7,4 milhões de habitantes, o número “real” veio quase 20% menor, colocando em dúvida todo o processo. Na terça (5), o presidente do INE, Iván Ojeda, veio a público para defender os resultados da vez, reforçando que o erro, mesmo, estaria nas estimativas feitas na última década. Segundo Ojeda, o Censo de 2012 foi tão problemático que, na prática, o país está há 20 anos se guiando apenas por projeções, criando uma bola de neve de equívocos estatísticos – entre outros dados que explicariam a discrepância, o INE cita erros na previsão do número de nascimentos por ano, de mulheres em idade fértil e até mesmo no de crianças e adolescentes entre sete e 15 anos, um dado que seria facilmente verificável através das matrículas escolares mas que, aparentemente, o instituto preferia não checar (para essa faixa etária, a estimativa antes do recenseamento era de 2 milhões de pessoas, mas tanto o Censo quanto as matrículas indicam apenas cerca de 900 mil). No ABC Color.
Un nombre:
Mesopotâmia argentina – Na origem, o nome se refere a uma zona onde estão os atuais Irã e Iraque, e vem do grego: Mesopotamia é uma terra “entre rios”, referência à faixa de território localizada no meio dos rios Tigre e Eufrates, pedaço de terra seminal na história da humanidade e comumente considerado o “berço da civilização”. No contexto latino-americano, contudo, também existe uma Mesopotâmia: em referência direta à região do Oriente Médio, o nome é dado ao conjunto formado pelas províncias argentinas de Misiones, Corrientes e Entre Ríos, uma faixa que também fica no meio de dois rios: o Paraná e o Uruguai.
PERU 🇵🇪
Ecos de um passado sombrio: revivendo capítulos sangrentos do final do século 20, o Peru assistiu à morte de quatro militares e dois supostos combatentes do que sobrou da temida guerrilha Sendero Luminoso, após um embate ocorrido na segunda (4). O enfrentamento aconteceu no vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro, conhecido como VRAEM, um notório eixo cocaleiro que há décadas é palco de uma violenta disputa entre grupos armados, o crime organizado e forças de segurança – o Peru, vale lembrar, é o segundo maior produtor de folhas de coca do mundo, além de uma importante rota comercial para o narcotráfico. De acordo com as Forças Armadas, a ação começou durante uma patrulha convencional em uma localidade do departamento de Ayacucho, para onde militares feridos também foram levados. Ainda que a maior parte dos antigos integrantes do Sendero Luminoso esteja presa ou morta, dissidências do bando (visto pelo Estado peruano como uma organização terrorista), já em células menores, seguem protagonizando episódios de violência. Via AP.
PORTO RICO 🇵🇷
Ante a onda de calor sem precedentes, Porto Rico começa a recalibrar até mesmo suas políticas públicas: na terça (5), o Departamento de Educação concluiu um levantamento nacional para avaliar a situação das escolas da ilha, buscando contabilizar quantas salas de aula existem e qual sua estrutura atual para lidar com episódios de calor extremo. A ideia é fornecer dados para orçar a instalação de ares condicionados em todas as unidades educativas que hoje não contam com eles, em um prazo de até 24 meses. Em agosto, recordes diários de temperatura para a mesma data foram batidos seis vezes ao longo do mês, e nos primeiros quatro dias de setembro já caíram mais duas marcas do tipo em Porto Rico: na segunda (4), a capital San Juan viu os termômetros baterem em 95 °F (ou 35 °C), o mais quente já visto por lá para esse dia. A estrutura do sistema educacional voltou à pauta nas últimas semanas porque grande parte da ilha está reiniciando seu ano letivo em meio a uma canícula persistente no que já é a reta final do verão boreal. Em El Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Chuvas preocupantes: o Centro de Operações de Emergência (COE), órgão dominicano responsável por cuidar de incidentes climáticos, informou segunda-feira (4) que pelo menos 11 das 31 províncias do país haviam sido colocadas em estado de alerta diante das fortes chuvas previstas para toda a semana, sendo duas delas em “alerta amarelo”. Autoridades reforçam que cidadãos devem evitar travessias de rios e caminhar perto de encostas e barrancos, locais conhecidos por acidentes graves em épocas de instabilidade climática. No final de 2022, pelo menos quatro pessoas morreram em um contexto similar, ao passo que, em agosto deste ano, a passagem da tempestade tropical Franklin fez ao menos uma vítima, além de deixar um rastro de estragos por onde passou. Na teleSUR.
URUGUAI 🇺🇾
Boas notícias para a gestão de Luis Lacalle Pou: mesmo tendo enfrentado uma histórica estiagem, que fez as torneiras de Montevidéu ficarem com água não potável por meses, o presidente manteve seus índices de aprovação estáveis pelo terceiro trimestre consecutivo – ainda em 43% entre os uruguaios que consideram seu trabalho “muito bom” ou “bom”, segundo uma nova enquete nacional da Opción Consultores divulgada na terça (5). A avaliação regular (“nem boa nem ruim”) cresceu para 31%, enquanto os índices de desaprovação estão em queda, acumulando 24% para quem acredita que o presidente faz uma administração “ruim” ou “muito ruim”. Mesmo o tema do manejo da seca, que poderia ser espinhoso para o líder conservador, trouxe resultados favoráveis: 42% dos consultados aprovaram a maneira como o governo lidou com a crise, contra 33% que consideraram o trabalho inadequado. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
“Muito em breve”, assegurou o presidente Nicolás Maduro, “a China será a maior potência econômica do mundo”. A frase dita pelo mandatário poderia ser lida como só mais um pitaco econômico óbvio em meio à expansão chinesa – mas, na verdade, é um afago. Ainda trilhando um longo e difícil caminho de recuperação econômica após viver tempos menos piores desde a pandemia, Caracas, agora, está de olho em novas opções para sair do buraco: na terça (5), Maduro mandou à Ásia uma delegação composta pela vice-presidenta Delcy Rodríguez e pelo ministro do Petróleo, Pedro Tellechea, duas altas autoridades responsáveis por costurar parcerias entre o governo de Xi Jinping e a estatal venezuelana do petróleo, a PDVSA. O encontro sobre o assunto é considerado o de mais alto nível entre as duas nações aliadas em cinco anos. Nada é à toa: aproveitando a afinidade política com Pequim, a Venezuela de Maduro busca novas alternativas de investimento que possam alavancar a produção petroleira, de olho em melhorar o cenário econômico para 2024, quando o chavismo será mais uma vez (e possivelmente sem boicotes da oposição) desafiado nas urnas. Na Bloomberg.
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