🇵🇪 Isolada, presidenta do Peru aprofunda agenda de ultradireita
GIRO #263 | Com os piores índices de aprovação da América Latina, mandatária que já foi investigada por genocídio mente ao culpar venezuelanos por criminalidade e pede até volta da pena de morte
De cada 10 peruanos, pelo menos nove desaprovam a gestão da presidenta Dina Boluarte – e o décimo fica em dúvida, segundo pesquisas. É sob esse cenário estarrecedor, que dá à mandatária uma das mais baixas aprovações da era moderna, que o governo do Peru abraça cada vez mais uma agenda de extrema direita, em uma tentativa desesperada e que já enfrenta críticas contundentes dentro do país.
Os discursos de Boluarte dariam inveja a líderes reacionários como Jair Bolsonaro, Javier Milei e José Antonio Kast: além de usar o microfone para culpar os venezuelanos em solo peruano pela alta recente da criminalidade – uma correlação inexistente, segundo estudos – a impopular presidenta chegou ao ápice ao defender, em dezembro, a reinstalação da pena morte, abolida no Peru desde 1979.
A essas novas declarações se soma um histórico pessoal já bastante obscuro: em 2022, após assumir a Presidência depois da destituição e prisão de Pedro Castillo, de quem foi companheira de chapa nas eleições vencidas um ano antes, Boluarte foi responsável por reprimir duramente manifestantes que pediam sua renúncia. Entre as dezenas de mortos pelo Estado estão movimentos formados, em sua maioria, por indígenas e campesinos de regiões periféricas do país. Por esse banho de sangue, a presidenta chegou a ser formalmente investigada por genocídio.
Mas, apesar dos graves erros e avaliações negativas, é bem provável que a liderança mais odiada da América Latina ainda consiga sobreviver no cargo para passar a faixa presidencial em 2026, após as eleições marcadas para aquele ano: governando sob os sabores de um Congresso conservador e que de fato dita as regras do jogo, Boluarte só cairá se assim decidir o Legislativo (que detém o título de maior algoz de presidentes derrubados neste século, mas vem blindando a atual mandatária por conveniência).
Até algo acontecer, porém, fica a questão: quantas doses mais de radicalismo cabem na agenda presidencial em Lima?