🚨 Invasão de embaixada isola Equador e desata crise interna
Ação em sede mexicana em Quito é repudiada por lideranças e entidades internacionais, escanteando o Equador de Daniel Noboa e gerando fissura na política local
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A invasão da polícia equatoriana na Embaixada do México em Quito, na madrugada do último sábado (6), rendeu uma das mais graves crises diplomáticas latino-americanas dos últimos anos: a fim de capturar o então recém-asilado político e ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas (2013-2018), contra quem pesam duas condenações por corrupção – denunciadas por Glas e seus aliados como resultado de “lawfare” – o Equador pode ter atropelado as leis internacionais ao violar o edifício da representação diplomática mexicana.
Durante a semana, os eventos com pouquíssimos precedentes na história (tão infames que encontram paralelo em um caso que levou a ditadura uruguaia a irromper a sede diplomática venezuelana em 1976) foram veementemente condenadas por lideranças latino-americanas de todos os cantos do espectro ideológico. Enquanto isso, o México de Andrés Manuel López Obrador – que trouxe de volta todo seu corpo diplomático no país andino após romper relações com o Equador – reiterava na quarta-feira (10) decisões que se materializariam no dia seguinte: a de denunciar o governo de Daniel Noboa na Corte Internacional de Justiça (CIJ) e de pedir a suspensão do país andino na ONU.
Obrador passou os últimos dias em contato com seus homólogos regionais para aumentar o coro contra a invasão, ao passo que sua chanceler, Alicia Bárcena, exortou entidades multilaterais a pressionarem Quito pelas “violações ao Direito Internacional”. Na terça e na quarta, a Organização dos Estados Americanos (OEA), que já havia timidamente criticado as “ações inapropriadas” do final de semana e pedido que os dois Estados buscassem reconciliação, realizou duas reuniões para tratar do tema. Nelas, apesar de tentar se justificar usando a situação legal de Glas como escudo para invocar “o direito à própria soberania em assuntos internos”, o Equador se viu sozinho – e foi condenado de forma unânime pela OEA.
Interessado em reunir a maior quantidade de declarações de repúdio ao caso, AMLO também cobrou uma reação mais enfática por parte de seus pares norte-americanos. Na terça (9), em uma de suas rotineiras coletivas de imprensa matinais (que, na semana passada, tiveram um papel decisivo na crise diplomática muito mais branda que antecedeu a invasão à embaixada), o mandatário reclamou de uma postura “até o momento ambígua e indefinida” por parte de Canadá e EUA, países que “são nossos sócios econômicos, comerciais e vizinhos”, lembrou. Horas mais tarde, a Casa Branca voltou a se manifestar, usando palavras mais duras e declarando que havia “feito uma revisão das imagens de câmeras de segurança” do momento em que a sede diplomática foi “incorretamente” violada.
Se mundo afora as condenações às circunstâncias da captura de Jorge Glas deixaram de ser um tabu, dentro das fronteiras equatorianas a crise seguiu escaldante.
E isso em função da situação do próprio ex-vice, que no início da semana chegou a dar entrada em um hospital por supostamente se recusar a se alimentar na prisão – segundo a versão oficial. Antes da agência penitenciária, a SNAI, confirmar que Glas apresentava “parâmetros aceitáveis de saúde”, múltiplas teorias pipocavam nas redes sociais e na imprensa. Citando fontes da polícia, algumas reportagens especularam que o real motivo da internação teria sido uma overdose de ansiolíticos, antidepressivos e sedativos. Alguns internautas até cogitaram a possibilidade de que ele estivesse morto. Mas, encerrando a boataria, Glas retornou do inframundo na quinta-feira (11) para comparecer à audiência virtual de seu pedido de habeas corpus e anunciou que, na sexta (12), teria uma reunião com a cônsul-geral da Alemanha para tratar de sua situação legal, uma vez que ele também tem nacionalidade alemã.
Os advogados de Glas ainda denunciaram que seu cliente havia sido privado do acesso à própria equipe jurídica em um primeiro momento. Ele só ingressou no presídio de segurança máxima de La Roca, em Guayaquil, após receber alta. A tensão, porém, seguiu com o ex-vice anunciando uma greve de fome e relatando que havia sido “torturado” e tratado “como na época da ditadura”.
Do outro lado do mundo, quem se enfurecia com toda a situação era o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), de quem Glas foi vice na maior parte do tempo (entenda uma outra crise que explica essa ressalva).
Iracundo tal qual López Obrador, o ex-mandatário equatoriano – que há anos vive na Bélgica como refugiado após ser condenado (mas não preso) por corrupção no próprio país, algo que ele denuncia ser um caso de “lawfare” – falou sobre o tema em uma coletiva no Parlamento Europeu e pediu aos demais países uma “forte reação”às ações de Noboa, dizendo que a questão “vai além de esquerda ou direita; vai contra princípios civilizatórios, como a inviolabilidade das sedes diplomáticas”, acrescentou. Correa ainda citou os dispositivos previstos na Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, firmada em 1961.
Em resposta às declarações de Correa, a ministra equatoriana do Trabalho, Ivonne Núñez, apresentou uma denúncia contra o ex-presidente por “traição à Pátria”.
Se o líder do correísmo pouco pôde fazer a um oceano de distância, seus seguidores do partido Revolução Cidadã (RC) não ficaram sem agir: logo na segunda (8), representantes da RC entraram com um pedido de habeas corpus a favor de Glas, citando abusos “não só aos direitos humanos do ex-vice-presidente, mas também às leis internacionais”. Ao Congresso, onde são maioria, os correístas também oficializaram pedidos para a abertura de processos de destituição contra dois ministros de Noboa: Gabriela Sommerfeld, das Relações Exteriores, e Mónica Palencia, que comanda a pasta do Interior.
Se Sommerfeld é criticada por sequer ter comparecido às reuniões da OEA, alegando “outras prioridades” e enviando diplomatas em seu lugar, Palencia, vista como a responsável por coordenar a invasão, ganhou destaque negativo por ser nascida no… México.
Isso tudo gera um problema particular para Noboa, cujo minoritário e recém-fundado partido, o Ação Democrática Nacional (ADN), está escorado na volumosa bancada do Revolução Cidadã para ter governabilidade. Foi graças a um pacto não-assinado com a RC que o presidente (eleito em 2023 em um pleito antecipado) deu conta de aprovar projetos, mesmo os mais controversos, sem barreiras no legislativo.
Agora, com o país mergulhado em uma nova e inesperada crise interna, tudo pode mudar.
Ao menos da perspectiva governista, a dor de cabeça chega logo na pior hora: é neste mesmo calamitoso mês de abril, no dia 21, que medidas propostas por Noboa serão levadas aos eleitores por meio de referendo (para reformas constitucionais) e consultas populares (para alteração de leis). Apesar de não tratar apenas de questões de segurança pública, o processo tem nesse aspecto seu ponto central, e é visto como crucial para os planos governistas de enfrentar o crime organizado – responsável por fazer de 2023 o ano mais violento da história do Equador.
Caso saia vencedor no processo do fim do mês (coisa que seu impopular antecessor Guillermo Lasso não conseguiu), Noboa ainda será obrigado a submeter tais reformas a votações no Legislativo. E, a partir da invasão do último final de semana, os ventos lá dentro passaram a soprar diferente: “Declaramo-nos em oposição na Assembleia Nacional ao seu governo, senhor Noboa”, sentenciou no início da semana a correísta e vice-presidenta da Casa, Viviana Veloz.
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🇦🇷 Amizade com Elon Musk e acordos na área da segurança levam Javier Milei e aliados aos EUA – Até o momento, o script seguido pelo presidente argentino Javier Milei – que também conta com surras no Congresso e relações diplomáticas cada vez mais deterioradas por suas falas agressivas – tem tudo o que a extrema direita adora: ataques ao setor público, militarização extrema, repressão a mobilizações sociais, promessas de cortes de subsídios e aquela típica retórica contra a esquerda para agradar abuelitos do zap. Somando mais um item na lista, a gestão do libertário viajou na quarta-feira (10) aos EUA (na terceira viagem de Milei a terras ianques em cinco meses) para mais uma vez estreitar laços com Washington – governo que, como também dizia Jair Bolsonaro (2019-2022) em seu mandato, será o principal amigo de Buenos Aires durante a atual gestão libertária, segundo Milei. Enquanto a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, ficou encarregada de participar de encontros com o Secretário de Segurança Nacional dos EUA, Alejandro Mayorkas, com quem tratou de temas de fronteira, crime organizado e inteligência, Milei teve em seu roteiro muy bolsonarista compromissos vinculados à comunidade judaica, sendo nomeado “embaixador internacional da luz” em uma sinagoga – num claro aceno político e religioso ao infame governo de Israel. Tudo acontece, também, dias após o mandatário anunciar, ao lado da general estadunidense Laura Richardson, do Comando Sul dos EUA, a construção de uma base naval conjunta de cara ao Atlântico Sul. A cereja do bolo, porém, ficaria para esta sexta-feira (12): Milei foi ao Texas para se encontrar com o bilionário ultraliberal Elon Musk, dono do X (antes Twitter). Musk, que nos últimos dias tem trocado afagos com a extrema direita brasileira por sua briga com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, também tem se aproximado do extremista argentino desde o desfecho das eleições argentinas no ano passado. O encontro entre os dois deu-se em uma fábrica da Tesla, marca de carros elétricos da qual Musk também é CEO. Na teleSUR e El País.
🇨🇴 Ex-presidente Álvaro Uribe irá a julgamento por crimes de fraude e manipulação em caso que o liga a paramilitares de ultradireita, diz procuradoria – Procuradores colombianos garantiram na terça (9) que o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), poderoso no jogo político conservador, enfrentará os tribunais em um julgamento por supostos crimes de fraude processual e manipulação de testemunhas. O anúncio causou um terremoto na política local, já que faria de Uribe o primeiro ex-presidente a ser julgado no país. O direitista – que se diz inocente e vítima de “vingança política” – já havia renunciado ao cargo de senador em 2020, quando, no contexto do mesmo processo, teve prisão domiciliar decretada. O caso é fruto de alegações feitas há mais de uma década por Iván Cepeda, parlamentar de esquerda que fazia forte oposição à causa uribista no Congresso. Originalmente, era Uribe quem alegava que Cepeda havia contratado paramilitares de ultradireita que pudessem testemunhar contra o ex-presidente (entenda a macabra relação entre o governo Uribe, células paramilitares e mortes de civis). Mas, numa reviravolta, a Suprema Corte se absteve de denunciar de Cepeda, passando, em vez disso, a investigar o próprio Uribe e ordenando sua prisão. Trama à parte, os novos desdobramentos também se relacionam com mudanças de comando dentro do Ministério Público: desde março, quem ocupa o cargo de procuradora-geral é Luz Adriana Camargo, uma figura mais próxima da esquerda e do governo de Gustavo Petro. O antecessor de Camargo era Francisco Barbosa, inimigo do presidente e autoridade cuja gestão esgotou todas as possibilidades de blindar Uribe – Barbosa foi indicado por seu “grande amigo”, o ex-presidente Iván Duque (2018-2022), um dos pupilos de Uribe. A expectativa, agora, é de que procuradores formalizem a acusação contra Uribe. Novas datas não haviam sido divulgadas até o fechamento deste GIRO. Em La Silla Vacía.
🇭🇹 Haiti: Conselho Presidencial de Transição sinaliza acordo e projeta realização de eleições em 2026 – Outra promessa de data, embora novamente sem uma perspectiva de como cumpri-la na prática. Líderes políticos haitianos assinaram, na segunda-feira (8), um acordo delimitando os trabalhos do Conselho Presidencial de Transição (CPT) por um período de 22 meses, ao final dos quais o Poder Executivo seria finalmente entregue a um presidente eleito. Em um cenário ideal, a transferência ocorreria em 7 de fevereiro de 2026, no dia tradicional em que os mandatários têm tomado posse no país desde o fim da ditadura da dinastia de “Papa Doc” e “Baby Doc” Duvalier, em 1986. Vale recapitular: o CPT, que ainda tenta entrar em funcionamento para valer, é a nova alternativa endossada inclusive pela comunidade internacional para tentar dar algum tipo de governo minimamente funcional ao Haiti, que não tem mais qualquer representante eleito ocupando nenhum cargo em nível nacional. O país, que já convivia com uma longa crise de legitimidade no poder, aprofundou sua crise na primeira quinzena de março, quando o contestado premiê Ariel Henry foi impedido de voltar ao país após uma viagem para o exterior onde negociava o envio de forças policiais estrangeiras para ajudar a debelar a crise interna – grupos armados ajudaram a semear o caos, inclusive no aeroporto de Porto Príncipe, barrando o regresso de Henry. O próprio Henry, por sua vez, havia sido alçado extraordinariamente ao poder por sua condição de primeiro-ministro em 2021, quando o presidente Jovenel Moïse foi assassinado. Isso tudo enquanto o Haiti não realiza qualquer eleição desde 2016, devido à sucessão de crises. Pouco antes de ser derrubado, Henry havia prometido realizar eleições até agosto de 2025, uma data-limite que o CPT não se comprometeu a cumprir – mas a promessa de entrega do poder até fevereiro do ano seguinte sugere, pelo menos, uma boa vontade nesse sentido. Via AFP.
🇭🇳 De forma inédita, entidades denunciam Honduras na ONU por restrição a direitos reprodutivos de indígena violada – Sempre lembrado como um dos países mais atrasados e restritivos em questões de direito reprodutivo, o Estado hondurenho foi denunciado na quarta-feira (10) ante o Comitê de Direitos Humanos da ONU por um caso que aconteceu há quase uma década. A medida foi apresentada pela organização Centro de Direitos Reprodutivos e Centro de Direitos da Mulher e leva uma ação de uma hondurenha conhecida pelo pseudônimo Fausia. Ativista indígena do povo Nahua e defensora de direitos humanos, ela foi estuprada em 2015 num ato cruel de vingança pelo trabalho que fazia em defesa de sua terra. A violação rendeu uma gravidez indesejada – o que, porém, pouco importou aos olhos da lei hondurenha, que proíbe o aborto mesmo em casos de estupro, malformação fetal grave ou risco à vida da gestante. Fausia viu a violência se perpetuar, não apenas por ser impedida de interromper a gestação legalmente e de forma segura, mas, também, pelas ameaças que seguiu sofrendo de seus agressores e pelos riscos de até acabar presa por tentar buscar os direitos sobre o próprio corpo (algo que se repete na vizinha El Salvador). Ainda que a própria ONU já tenha pedido em anos recentes que Honduras descriminalize o aborto e garanta a distribuição de contraceptivos de emergência para a população (esta última só seria legalizada em 2023), o caso levado esta semana ao comitê da entidade é visto como algo inédito. “É a primeira vez que Honduras será responsabilizada num processo de litígio internacional pela proibição absoluta e criminalização do aborto”, diz Carmen Cecilia Martínez, diretora da organização que levou o caso de Fausia às Nações Unidas. Em El Espectador.
🇲🇽 Cidade do México entra em alerta e cria plano de contingência ante crise com água contaminada – O Exército e autoridades da Cidade do México anunciaram na quinta-feira (11) um detalhado plano de emergência para atender cidadãos que foram afetadas pela contaminação da água – que, nos últimos dias, saía das torneiras em diversas regiões nos perímetros da capital “malcheirosa” e com uma consistência “oleosa”, relataram habitantes. A capital mexicana enfrenta uma grave crise hídrica desde o início do ano, mas a situação começou a piorar no fim de março à medida que os casos de contaminação aumentaram. Diversas pessoas relataram problemas supostamente relacionados à qualidade suspeita da água – como dermatite, secura de pele, urticária e coceira nos olhos. Diante do problema, a prefeitura instalou postos de atendimento, disponibilizando cuidados médicos e distribuindo garrafas de água. Na quarta-feira (10), Martí Batres, autoridade máxima da capital, informou que um poço contaminado com “uma substância da família dos óleos e lubrificantes” já havia sido localizado, fechado e limpo, garantindo que o fluxo de água seria normalizado dentro de alguns dias. Em 2009, uma suposta contaminação de água por coliformes fecais desatou uma crise no coração do país. Em El País.
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REGIÃO 🌎
Lágrimas e sorrisos na segunda rodada da fase de grupos do futebol sul-americano, encerrada na quinta-feira (11). Na Sula, torneio continental de segundo escalão, teve de tudo: o Cruzeiro, que já havia empatado na estreia, chegou a abrir 3 a 0 – com apenas 18 minutos –, jogando em casa contra o Alianza Petrolera, 19º colocado do Colombianão. Destemidos, os visitantes buscaram o empate nos acréscimos do segundo tempo, fazendo a Raposa sair sob vaias. Quem também conquistou seu segundo empate, e também em seus domínios, foi o Internacional, que entre muitos gols perdidos não saiu do zero contra os aguerridos bolivianos do humilde Real Tomayapo (cuja mais-que-retranqueira estratégia de jogo, registrada em uma foto da equipe no vestiário, viralizou e gerou piadas), um clube amador até 2019. Agora, os vitoriosos: o Corinthians, que também só empatou na 1ª rodada, goleou o Nacional-PAR em casa; o Fortaleza venceu a segunda, aplicando 5 no Nacional Potosí-BOL; o avassalador Athletico-PR chegou a seu 10º gol em dois jogos após um 6 a 0 contra os venezuelanos do Rayo Zuliano; com dois do simpático Deyverson, por fim, o Cuiabá foi a Caracas e venceu por Metropolitanos por 0 a 2.
Subindo um degrau, a Copa Libertadores também teve diferentes emoções. As ruins ficaram na conta de Grêmio e Botafogo: surpreendido por uma noite inspirada dos chilenos do Huachipato, o tricampeão continental de Porto Alegre foi derrotado em casa, por 0 a 2, e terá que correr atrás do prejuízo nas quatro rodadas que faltam; ao lado do Botafogo, são os únicos brasileiros ainda sem pontuar – depois de perder na estreia em casa, o Fogão visitou a LDU em Quito e foi derrotado por 1 a 0. É a primeira vez desde o longínquo 2002 que duas equipes do Brasil chegam juntas sem vencer ao final da segunda rodada. Quem se redimiu, pelo menos por enquanto, foram Fluminense, São Paulo, Palmeiras e Flamengo: sem conseguirem vencer seus jogos como forasteiros na estreia, os quatro times, dessa vez jogando em casa, fizeram três pontos na 2ª rodada. Finalmente, a melhor situação brasileira até o momento segue sendo a do Atlético-MG, que bateu o Rosario Central-ARG por 2 a 1 em casa, venceu a segunda partida e já soma seis pontos.
ARGENTINA 🇦🇷
Outra vez, a Justiça argentina indicou, em uma decisão relacionada às investigações do caso AMIA, que entende que o Irã e o Hezbollah estiveram por trás do bombardeio que completa 30 anos em 2024. A decisão não é exatamente uma surpresa, já que há muito tempo as investigações judiciais sobre o caso têm apontado nesse sentido, mas observadores criticaram a falta de novidades na conclusão que veio à tona nesta quinta-feira (11): foi mais uma afirmação com base em fontes de inteligência que não eram exatamente inéditas do que a apresentação de alguma nova prova do envolvimento do país e da organização libanesa. Vale recapitular: em 18 de julho de 1994, a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, foi alvo de um atentado a bomba que deixou 85 vítimas e mais de 300 feridos, em um dos episódios mais traumáticos do país após a redemocratização. Há muitos anos, relatórios de inteligência e investigações judiciais sugerem fortemente um envolvimento do Irã e do Hezbollah, que teria ocorrido como retaliação ao governo argentino da época, por não apoiar o programa nuclear em Teerã; o Irã sempre negou participação. Ao longo das décadas, o caso respingou em diferentes lideranças políticas argentinas, inclusive na ex-presidenta Cristina Kirchner, cuja acusação de acobertamento feita pelo promotor Alberto Nisman se tornou ainda mais midiática após ele aparecer morto na véspera de apresentar suas acusações, em 2015. Em função disso, o novo avanço nos tribunais em relação ao caso tem sido celebrado pela direita como um golpe no kirchnerismo. Via AP.
BOLÍVIA 🇧🇴
A Bolívia está de olho em investimentos brasileiros para o setor de mineração, afirmou o embaixador da nação andina no país, Horacio Villegas, em encontro da Associação Brasileira do setor (ABPM) durante a semana. Segundo o diplomata, La Paz quer atrair dinheiro para a exploração de minerais associados à transição energética – como o lítio – e a agricultura – como os usados em fertilizantes. Já representantes da minería no Brasil citaram a necessidade de “segurança jurídica” e pediram uma reforma na legislação mineira do país – que, alterada ainda nos dias de Evo Morales (2006-2019), nacionalizou esses recursos e dificultou a entrada de capital estrangeiro, embora venha sendo gradativamente flexibilizada nos últimos anos. Via Estado.
CHILE 🇨🇱
Às voltas com o crime transnacional promovido pela organização conhecida como Tren de Aragua, o presidente Gabriel Boric convocou, na quinta (11), seu embaixador em Caracas para consultas sobre o assunto. O movimento ocorreu após a chancelaria venezuelana colocar em suspeita a existência do grupo que – como a menção ao estado de Aragua indica – tem suas origens naquele país. A Venezuela alega que desmobilizou o Tren de Aragua em seu próprio território no segundo semestre do ano passado. Yván Gil, o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, referiu-se ao Tren como uma “ficção criada pela mídia internacional” para “enlamear o povo venezuelano e seu governo”. Ele citou a existência de vídeos de pessoas com sotaque peruano e chileno identificando-se como membros da organização, minimizando a nuance de que o grupo já se espalhou para esses países e recrutou integrantes por ali. Para Boric, as declarações do chanceler representam “um grave insulto àqueles que têm sido vítimas dessa organização”. Na BBC.
CUBA 🇨🇺
Em outro sinal das várias crises que a ilha vem enfrentando nos últimos anos, o governo admitiu, na quarta (10), que o uso de drogas ilegais vem aumentando no país – especialmente entre os mais jovens. Informações concretas sobre números ou quais narcóticos têm circulado em Cuba não foram divulgadas, mas estatísticas oficiais apontam 689 condenações em 2023 associadas ao tráfico de drogas. Com uma política de tolerância zero ao uso de entorpecentes (saiba mais sobre isso no jornal oficial do Partido Comunista Cubano, o Granma), o governo socialista sempre celebrou o controle sobre o narcotráfico, mesmo estando em um ponto estratégico que poderia ser usado por criminosos, mas as dificuldades econômicas acentuadas na última meia década também têm afetado esse controle. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
O presidente Nayib Bukele anunciou, no sábado (6), a concessão de 5 mil passaportes “gratuitos” a estrangeiros “qualificados” que queiram se instalar no país. Em uma mensagem em inglês na rede social X (ex-Twitter), o mandatário disse que o documento será estendido “a cientistas, engenheiros, médicos, artistas e filósofos altamente qualificados no estrangeiro”. Além de oferecer a cidadania salvadorenha, Bukele enfatizou que os interessados poderão trazer “bens de valor comercial” sem pagar taxas alfandegárias. A medida, rara para um país da região, representa uma flexibilização de um programa anunciado em dezembro, quando Bukele se mostrou disposto a “vender” a cidadania do país a investidores estrangeiros que quisessem aportar US$ 1 milhão em criptomoedas à economia de El Salvador (o país, vale lembrar, foi o primeiro do mundo a adotar o bitcoin como moeda legal, em uma das medidas mais alardeadas da gestão autoproclamada moderna de Bukele). Na CNN.
Dale un vistazo:
✏️Curso gratuito sobre a América Central – Fruto de uma parceria entre o Memorial da América Latina e o Coletivo Berta Latinoamericanista, o curso, já em sua terceira fase, “tem como objetivo discutir a história e os problemas contemporâneos da América Central, abordando as principais questões econômicas, políticas e sociais em uma perspectiva comprometida com uma transformação desde abajo”, dizem os organizadores. Com participação de pesquisadores convidados, as aulas – gratuitas, online, sem pré-requisitos para participação – vão oferecer certificados aos participantes e serão ministradas em oitos sábados, a partir do próximo (20). Saiba mais clicando aqui.
GUATEMALA 🇬🇹
Situação que afeta o ecossistema de cada vez mais países da região, uma onda de incêndios florestais levou o presidente Bernardo Arévalo a decretar estado de calamidade na quarta-feira (10). A medida, que facilita a atuação de socorristas e profissionais que trabalham no combate às chamas – como, por exemplo, agilizando a transferência de recursos financeiros –, foi adotada diante da detecção de mais de 40 focos de incêndio em todo o território nacional, de acordo com a Coordenadoria Nacional de Redução de Desastres (Conred). O governo garante que a situação é anormal, com 80% dos focos “sendo provocados” – e não iniciados espontaneamente. Em função dos altos riscos de contaminação, escolas de vários locais suspenderam aulas presenciais. Na Prensa Libre.
NICARÁGUA 🇳🇮
Empunhando a bandeira palestina com mais afinco até mesmo do que seus vizinhos mais críticos a Israel, a Nicarágua também investe contra aliados de Tel Aviv: o país centro-americano acusou a Alemanha de cumplicidade com o que descreveu como genocídio em Gaza, exigindo, na segunda-feira (8), que os europeus parem de fornecer armas aos israelenses. O pedido foi feito na Corte Internacional de Justiça (CIJ), e argumenta que os alemães estão em violação à Convenção Internacional contra o Genocídio – estabelecida em 1948 precisamente como uma resposta ao Holocausto. Berlim negou as acusações e disse que “nunca” violou os termos da Convenção desde que ela foi criada. Já Daniel Mueller, advogado que representa os nicaraguenses no caso, fez uma declaração dura, descrevendo como “patética” a ação alemã de “prover ajuda humanitária [aos palestinos], inclusive com lançamentos aéreos, por um lado, e fornecer os equipamentos militares que são usados para matá-los e aniquilá-los por outro”. Via AFP.
PANAMÁ 🇵🇦
Foi um escândalo global, mas, oito anos depois, há até dúvida se alguém será condenado – e, de todo modo, o processo só toca na ponta do iceberg. Após vários adiamentos, começaram na segunda-feira (8) os julgamentos do caso Panama Papers, nome dado a uma ampla investigação jornalística que revelou, em 2016, como magnatas e políticos do mundo todo utilizavam um escritório de advocacia panamenho para abrir empresas em paraísos fiscais, driblando a cobrança de impostos em suas terras natais (ou, até mesmo, lavando dinheiro obtido de maneiras pouco lícitas). Mas é bom moderar as expectativas: os únicos sentados no banco dos réus são os próprios fundadores do escritório, os advogados Jürgen Mossack e Ramón Fonseca, e outros 25 ex-funcionários da empresa, hoje extinta. Nenhum dos beneficiados pelo esquema será julgado nesse processo. Além disso, há incerteza sobre condenações, já que, em outro caso associado, o Supremo do país entendeu que uma funcionária do Mossack Fonseca não cometeu crimes, segundo a legislação panamenha na época dos fatos. Desta vez, os réus são acusados de lavagem de dinheiro e, se condenados, podem pegar até 12 anos atrás das grades. As audiências devem seguir até o dia 26. Na RFI.
PARAGUAI 🇵🇾
Os líderes dos dois guais da América do Sul se encontraram em Assunção na quarta-feira (10), discutindo uma série de acordos de cooperação bilateral. Luis Lacalle Pou, o presidente do Uruguai, estava no Paraguai para participar de uma reunião sobre a Copa do Mundo de 2030 – que terá jogos da primeira rodada disputados nos dois países e também na Argentina, embora quase todo o torneio vá depois acontecer em Espanha, Portugal e Marrocos (!). Nas conversas de Lacalle Pou com seu homólogo paraguaio Santiago Peña, a principal pauta foi a garantia de fortalecer o investimento e a abertura dos mercados de parte a parte, enfatizando a necessidade do Paraguai de ter livre acesso ao mar – um cutuco na Argentina, que há algum tempo vem criando entraves para o uso da Hidrovia Paraguai-Paraná, importante para os vários países banhados por esses rios (inclusive pelo Brasil), mas especialmente para quem não tem litoral. Em El País-UY.
Una expresión:
El Gran Colombiano – Exibido na edição colombiana do History Channel em 2013, o programa El Gran Colombiano hoje é sinônimo do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez (2002-2010). A explicação é simples: o programa estava destinado a escolher a personalidade colombiana mais destacada da história até então. A lista incluía nomes como o escritor Gabriel García Márquez, o libertador Simón Bolívar, a cantora Shakira e o artista plástico Fernando Botero. Mas nenhum deles foi páreo para Uribe no voto popular, vencendo a disputa do Gran Colombiano em turno único, com mais de 30% dos votos (mais de um milhão de votantes). “Sem palavras para agradecer”, palavreou o ex-mandatário na época, em sua conta do Twitter. A premiação causou polêmica, porém, já que – entre outras coisas – foi durante o mandato de Uribe que ocorreram 78% dos casos de “falsos positivos” (mortes de civis dadas como baixas de integrantes das guerrilhas, duramente combatidas pelo Estado nos anos uribistas).
PERU 🇵🇪
O turismo falou mais alto: o Peru, que havia anunciado um decreto para exigir visto de mexicanos que desejassem entrar no país, voltou atrás dois dias depois, confirmou o governo nesta semana. A medida peruana estava prevista para entrar em vigor na próxima terça-feira (23) e era um ato de reciprocidade, após o México começar a exigir visto de peruanos, alegadamente para conter a imigração irregular – não para o próprio México, mas em função de pessoas que utilizam o país como destino intermediário para chegar aos EUA. Dizendo ter ouvido “vozes do turismo e setores afins”, porém, o Peru desistiu: o México é o 9º colocado no ranking de países que mais enviam viajantes ao Peru, e havia temor de que a medida reduzisse ainda mais esse fluxo, que nunca voltou aos níveis pré-pandemia – chegaram a ser 130 mil mexicanos anuais antes da crise sanitária, foram 76 mil em 2023. Por outro lado, o número de peruanos que emigram definitivamente do próprio país é de uma dimensão muito maior: cerca de 800 mil pessoas saíram da nação andina sem regressar, no somatório dos últimos dois anos. Em Peru21.
PORTO RICO 🇵🇷
Tudo dentro da legalidade, garante o governador Pedro Pierluisi sobre os empreendimentos… do próprio filho. Isso porque um candidato ao senado da ilha denunciou que propriedades pertencentes a Anthony Pierluisi no destino turístico de Guánica – e disponibilizadas para hospedagem na plataforma Airbnb – estariam em violação à lei ambiental e às regras para aluguel de curta temporada. Pierluisi, o pai, disse que os imóveis foram construídos nos anos 1960 e não passaram por renovações recentes, e que a atividade de Airbnb na área é devidamente regulamentada, inclusive com a cobrança de impostos. Já o candidato e denunciante Carlos Díaz Sánchez, que faz oposição ao governador, apresentou uma série de documentos que, segundo ele, provariam as mudanças recentes que teriam colocado tudo na ilegalidade. O pano de fundo da treta é menos uma genuína preocupação com as leis, e mais um elemento no tiroteio retórico rumo às eleições internas – em 5/11, Porto Rico vai às urnas e Pierluisi quer se reeleger (embora precise, antes, vencer as primárias do próprio partido). No Metro Puerto Rico.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Um grupo de civis haitianos danificou parcialmente, na quinta (11), uma ensecadeira construída pelo governo dominicano no Rio Massacre, disputado na fronteira entre as duas nações – e pretexto, desde setembro, para um rígido fechamento da divisa por parte da República Dominicana (entenda). A ensecadeira – uma barragem temporária que busca “secar” um trecho de um curso d’água para a realização de obras de engenharia – havia sido feita para auxiliar na instalação de bombas elétricas, que buscam extrair ainda mais do recurso para a utilização por agricultores dominicanos. Os haitianos, por sua vez, tentavam impedir que menos água chegasse do seu lado, como vem ocorrendo desde que o conflito se agravou há sete meses – agora ainda mais desamparados diante da ausência de qualquer resquício de um governo funcional, desde o afastamento do já contestado premiê Ariel Henry (entenda). Autoridades da República Dominicana garantiram que a intervenção dos vizinhos não seria suficiente para impedir o sucesso do bombeamento, e prometeram que haverá até 50% mais água para as plantações dominicanas. No Listín Diario.
URUGUAI 🇺🇾
Uma mobilização popular para alterar a aposentadoria no país está causando alvoroço no governo. Isso porque a PIT-CNT, maior central sindical do país, está quase conquistando as 270 mil assinaturas necessárias para convocar – em paralelo às eleições de outubro – um plebiscito sobre uma reforma previdenciária que seria vantajosa para os trabalhadores. O número necessário para o abaixo-assinado vingar corresponde a 10% dos eleitores, uma exigência legal para que as reivindicações populares sejam levadas a plebiscito. Entre as mudanças pleiteadas, a redução da idade mínima de aposentadoria para 60 anos e o estabelecimento de uma pensão que não possa ser inferior ao salário mínimo. “É um disparate”, bradou na terça-feira (9) a atual ministra de Economia e Finanças, Azucena Arbeleche, dizendo que a mudança de regras “quebraria a sustentabilidade do sistema”, implicando em um aumento de impostos. Os sindicalistas, por sua vez, criticam a gestão liberal de Lacalle Pou de nem tentar fazer uma campanha contrária “baseada em fundamentos”, preferindo “desatar os mil demônios do terror”, como definiu o presidente do PIT-CNT, Marcelo Abdala. Em La Diaria.
VENEZUELA 🇻🇪
Foi preso na terça (9) o outrora todo-poderoso ex-ministro do Petróleo Tareck El Aissami, até pouco tempo atrás considerado um dos nomes mais influentes dentro do chavismo. El Aissami é acusado de conspirar dentro de uma trama de corrupção que teria desviado fundos milionários da estatal venezuelana do petróleo, a PDVSA, companhia que tem papel crucial na economia do país, largamente dependente da exportação da commodity. O ex-ministro, que já havia ocupado cargos no gabinete do falecido Hugo Chávez (1999-2013), renunciou em 2023 pouco após ver o próprio presidente Nicolás Maduro, de quem já foi aliado, anunciar a abertura das investigações – algo que sepultou sua carreira dentro do movimento político no poder. Além de El Aissami, um empresário e o ex-chefe da pasta da Economia, Simón Alejandro Zerpa, também foram presos. Em El País.
Entre tantas convulsões politicas o turismo ainda vive no Peru?