Haiti: Quênia oferece ‘ajuda humanitária’ com polícia implicada em chacinas
Colômbia: escândalo leva filho de presidente à prisão e coloca campanha sob suspeita | Guatemala: esquerda em vantagem no 2º turno | Copa feminina: só resta a Colômbia entre as latino-americanas
O longo impasse em torno de uma intervenção estrangeira para ajudar o Haiti a lidar com sua crise humanitária pode estar perto do fim, capitaneado por uma nação inesperada: no último final de semana, o Quênia manifestou oficialmente sua disposição a “considerar positivamente” assumir o comando de uma força-tarefa internacional no atribulado país caribenho. Em um momento inicial, o governo queniano indicou a possibilidade de enviar um efetivo de mil policiais (e não o Exército, como costuma acontecer nesses casos) para auxiliar no combate às gangues armadas que vêm dominando amplas áreas do Haiti, especialmente na capital Porto Príncipe. Os agentes de segurança africanos teriam a missão de treinar a própria Polícia Nacional Haitiana, “restabelecer a normalidade” e proteger instalações estratégicas, hoje à mercê de grupos criminosos.
A abertura de Nairóbi a abraçar a ingrata missão foi imediatamente saudada pela ONU, que há meses tentava sem sucesso encontrar algum governo interessado no assunto, e por países como os Estados Unidos, que (a exemplo da Europa) vinham tirando o corpo fora quando instados a empregar seus recursos financeiros e militares para encabeçar um projeto desse tipo. Além do Quênia, nações próximas ao Haiti, como Bahamas e Jamaica, anunciaram que também colaborariam com efetivos nas forças de segurança – decisão apoiada pela Comunidade do Caribe. Mas, após alguns dias do entusiasmo inicial, a capacidade dos policiais quenianos de realmente trazer algum vestígio de “normalidade” começou a ser questionada por organizações de direitos humanos e observatórios internacionais – isso porque, além de não falar francês ou créole, as duas línguas oficiais faladas pelos haitianos, a força de segurança do país africano praticamente não tem experiência atuando fora de suas fronteiras; para piorar, também convivem com pesadas denúncias de praticar violência sistemática contra seus próprios cidadãos.
Em 2020, por exemplo, oficiais da polícia queniana se tornaram infames por empregar força letal contra a população civil, de modo a garantir que as regras de isolamento e quarentena fossem cumpridas no início da pandemia de covid-19. Muito mais recentemente, em julho deste ano, os agentes do país africano voltaram a causar escândalo pela brutal repressão a uma série de protestos contra o aumento de impostos e do custo de vida: grupos independentes estimam a morte de pelo menos 35 pessoas nas manifestações do mês passado – com exceção de uma vítima, que sufocou com gás lacrimogêneo, todas as outras teriam sido baleadas pelas autoridades. Outra razão de preocupação vem da postura da própria ONU, que enfatizou que o trabalho dos policiais não se enquadraria como uma missão de paz tradicional: na prática, os quenianos estariam no controle das ações que conduzirem no Haiti, sem a necessidade de prestar contas às Nações Unidas.
O Ministério de Relações Exteriores e Diáspora do Quênia, ao fazer o anúncio no sábado passado (29/7), não divulgou quais seriam as contrapartidas acordadas com as potências estrangeiras em troca dessa súbita (e bem-recebida) disposição em ajudar. Preferindo um discurso rodeado de simbologia, o chanceler Alfred Mutua garantiu: “o Quênia está ao lado dos descendentes de africanos de todo o mundo, incluindo aqueles no Caribe, e se alinha com a política da União Africana para a diáspora, e com o nosso próprio compromisso com o Pan-Africanismo”. Na sexta-feira (4), os EUA reiteraram sua disposição de apoiar uma missão liderada pelo Quênia, mas condicionaram a dimensão de seu envolvimento a uma “análise” que o país africano ainda fará da situação que vai encontrar no Caribe.
Intervenções da ONU no Haiti são uma memória recente e infeliz para o país: a última, a Minustah (2004-2017), liderada em quase toda a sua duração pelo Brasil, deixou para trás um sem-fim de acusações de violações de direitos humanos e até doenças em um país que – como se vê hoje – passou longe de ser estabilizado. Para os próprios brasileiros, o legado do protagonismo concedido às suas Forças Armadas foi uma geração de militares com sede de participação na política interna ao voltar para casa, inclusive com forte viés golpista aliado ao projeto de governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).
Apesar das recordações sombrias, o apelo por uma nova missão internacional partiu de Porto Príncipe: em outubro do ano passado, o premiê haitiano Ariel Henry reconheceu a incapacidade de seu governo de lidar sozinho com a crise, pedindo ajuda externa. Passados nove meses, a disfuncionalidade do Estado haitiano seguiu em frente, bem como os números galopantes de violência, fome e o domínio de gangues sobre os mais diversos aspectos da vida cotidiana: nesta semana, o caso que ganhou as manchetes foi o sequestro de uma enfermeira estadunidense em missão humanitária e sua filha, cujo paradeiro seguia desconhecido até o fechamento desta edição; só neste ano, grupos criminosos já promoveram mais de 500 crimes desse tipo no país, com objetivo de cobrar resgate dos familiares. Desde o apelo de Henry, a ONU viveu uma saga em busca de alguém disposto a se envolver no assunto, uma dor de cabeça que o Quênia agora parece querer resolver – mas a que custo, para ele próprio e para o Haiti, ainda é uma incógnita.
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⚽ Colômbia (e só ela) é a América Latina nos mata-matas da Copa feminina – Foram duas vitórias em três jogos, incluindo uma dramática contra a Alemanha no último minuto, e a Colômbia garantiu de forma histórica o primeiro lugar de seu grupo na Copa do Mundo de futebol feminino, que está sendo jogada na Austrália e Nova Zelândia. Grupo, aliás, que terminou de maneira surpreendente: na quinta (3), na última rodada, as colombianas perderam para o estreante Marrocos, um resultado que até poderia complicar sua vida, mas acabou não tendo consequência para a equipe cafetera – isso porque, no jogo paralelo, as alemãs não conseguiram derrotar a Coreia do Sul, e quem passou num chocante segundo lugar foram as próprias marroquinas. Agora, a Colômbia é a solitária representante latino-americana no torneio, já que todas as outras foram eliminadas ainda nos grupos. Entre aquelas pouco cotadas, nenhuma conseguiu ir além das expectativas, passando longe de brigar por vaga: Haiti e Panamá, ambas estreantes, perderam os três jogos que disputaram, assim como a Costa Rica, enquanto a Argentina só evitou uma campanha semelhante porque conseguiu empatar uma das partidas. Decepção, mesmo, ficou por conta do Brasil, historicamente a mais forte das equipes da América Latina: após estrear goleando o Panamá e perder para a França na segunda rodada, as brasileiras foram incapazes de superar a bem armada defesa da Jamaica, ficando em um frustrante 0 a 0 que provocou a eliminação da equipe canarinha na quarta-feira (2) – foi a primeira vez desde 1995 que o Brasil não superou a fase de grupos, e a pior classificação do país na história do Mundial feminino, ficando em 18º lugar geral. Última esperança latina, a Colômbia disputa a fase de oitavas-de-final na terça-feira (8), às 5 da manhã de Brasília, contra a própria Jamaica. Caso avance, enfrentará a classificada do duelo entre Inglaterra (maior favorita ao título nas casas de apostas) e Nigéria. No GE.
🇨🇴 Colômbia: filho de Petro diz que campanha do pai contou com dinheiro irregular – No último final de semana, o presidente colombiano Gustavo Petro teve o descanso interrompido após o Ministério Público acatar duas ordens de prisão contra Nicolás Petro Burgos, filho mais velho do mandatário, e Daysuris Vásquez, ex-esposa de Burgos. Os dois ficaram a semana toda. Petro Burgos é acusado de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, ao passo que Vásquez também se viu implicada por suposta violação de dados pessoais da avdogada Laura Ojeda, atual companheira do ex-marido. Na noite de sexta-feira (4), um juiz de garantias entendeu que não havia justificativa válida do MP para a detenção do ex-casal, mesmo em prisão domiciliar, e decidiu por colocar ambos em liberdade. A trama não é nova: em março, a própria Daysuris denunciou em uma entrevista à revista Semana que Nicolás Petro havia recebido quantias milionárias de empresários e um ex-narcotraficante durante a campanha – porém, disse que Petro pai jamais soube de tal dinheiro. Após as prisões, o presidente inclusive decidiu adotar uma posição neutra a respeito do caso, distanciando-se do filho e prometendo garantir o devido processo legal. Em tom paternal, mas duro, Gustavo Petro ainda escreveu: “que esses acontecimentos forjem seu caráter e que você reflita sobre seus próprios erros”. O problema mudou de tamanho, porém, na quinta (3), quando procuradores à frente do caso acertaram um pré-acordo de colaboração com Nicolás Petro, que admitiu que parte do dinheiro irregular teria sido sim usado na campanha presidencial do pai no ano passado (outra parte da grana teria parado nas contas pessoais do próprio deputado, que defende as cores do partido do presidente em Barranquilla, onde estaria vivendo uma vida de luxo incompatível com seus ganhos). A revelação voltou a abalar o círculo presidencial, levando Petro a se pronunciar outra vez – ele negou as acusações, lamentando o que chamou de “supostas irregularidades” na campanha e disse que “ninguém está acima da lei”, por fim designando um representante legal para atuar em seu nome. O presidente, aliás, entregou esta semana sua lista tríplice para o comando da Procuradoria-Geral da República – órgão responsável pelo processo de seu filho e quiçá dele próprio, se as investigações avançarem. O imbróglio segue. No El País.
🇨🇷 Costa Rica: presidente vira alvo de investigação por tráfico de influência – Se vier mais uma, já dá para pedir música no Fantástico: apenas algumas semanas após se ver implicado em uma intensa polêmica envolvendo uma estranha viagem à Letônia (que lhe rendeu acusações de abuso de poder, já que o inusitado país é, por coincidência ou não, o mesmo da família da primeira-dama) o presidente Rodrigo Chaves voltou a figurar entre os investigados pelo Ministério Público. Na terça (1º), procuradores deram luz verde a uma investigação contra o mandatário e vários membros do governo, desta vez por tráfico de influência, baseando-se na denúncia feita por um empresário contra Chaves. Segundo o comunicado do MP, Leonel Baruch, presidente de uma entidade bancária local e um dos principais acionistas do veículo CR Hoy – apenas um dos meios que vivem em guerra com o presidente, fato que gerou uma outra polêmica nacional –, denuncia que o governo teria feito “intervenções” a favor de Yafit Ohana, esposa de Baruch e de quem o empresário tenta se divorciar há tempos. A mulher, bem como ministros do gabinete de Chaves, figura entre os investigados. Segundo Baruch, com as bênçãos do presidente, integrantes do Executivo teriam “exercido pressão indevida” junto a órgãos de infância e juventude para dar vantagem a Ohana na briga judicial pela guarda dos filhos do casal. Ele diz, ainda, que esses favores teriam servido como “pagamento” pelos serviços prestados por Ohana — atuando como uma espécie de “colaboradora” do governo, ela viralizou ao postar um vídeo nas redes sociais dando detalhes de um suposto esquema de evasão fiscal em que seu marido e desafeto estaria envolvido; pressionada, ela se recusou a explicar como conseguiu ser recebida na sede da Presidência em seis oportunidades diferentes no último ano. Baruch, por sua vez, nega tudo, alegando que todo o conluio não passa de uma retaliação do governo em função das inimizades de Chaves com o tal jornal ao qual o empresário é ligado. Até o fechamento desta edição, tanto o MP quanto o presidente não haviam se pronunciado sobre o caso, que segue em fases preliminares. Em Nación e El País.
🇬🇹 Segundo turno na Guatemala: primeira pesquisa mostra esquerda com larga vantagem – Avalanche Arévalo? Para alguém pouco conhecido, com um partido criado há menos de uma década e que viveu dias de tensão sob ameaça de suspensão por decisões questionáveis do Ministério Público (entenda), até que o presidenciável Bernardo Arévalo, da jovem agremiação de centro-esquerda Semilla, entra em agosto muito bem, obrigado. O antes azarão candidato já tem todos os motivos para sonhar com uma vitória no pleito marcado para 20/8: segundo pesquisa da CID Gallup divulgada durante a semana, a primeira a medir a intenção de votos desde a (arrastada) oficialização dos resultados do primeiro turno, Arévalo aparece como preferido entre 63% dos eleitores. Representante da velha política local e do tradicional partido Unidade Nacional da Esperança (UNE), a empresária Sandra Torres é o nome de opção de 37% dos entrevistados. Mas, num país historicamente avesso a movimentos à esquerda (a exemplo do próprio pai de Arévalo, precursor de um ciclo progressista que seria mais tarde derrubado por um golpe financiado pela CIA em 1954), o que explica o fenômeno Semilla? É isso que o artigo do Contracorriente tenta entender – sem deixar de lado os desafios que um eventual governo Arévalo teria no Congresso. Enquanto o agora favorito Arévalo passeia pelo país na tentativa de conquistar mais corações, quem ainda está no poder garante que, ao contrário das últimas semanas, o caminho será claro: com saída marcada para janeiro de 2024, o infame presidente Alejandro Giammattei garantiu em reunião com a Organização dos Estados Americanos (OEA) que está comprometido em realizar eleições “pacíficas”. Via EFE.
🇲🇽 Alertas são ignorados, e boias na divisa México-EUA fazem primeira vítima – Não foi por falta de aviso. Alguns dias após uma intensa briga judicial ao redor da instalação de um cordão de boias no Rio Grande – divisa do México com o estado do Texas – a fim de evitar a passagem de migrantes irregulares, aconteceu a primeira tragédia: o governo mexicano anunciou na quarta-feira (3) que encontrou o corpo de uma pessoa que morreu após ficar presa aos artefatos flutuantes. Liderado pelos republicanos, o Texas comprou briga com o governo de Joe Biden, que no final de julho abriu um processo contra a unidade federativa, alegando que as infames boias apresentavam um risco à navegação e causavam “preocupação humanitária”. Dito e feito. Em nota, o governo de Andrés Manuel López Obrador, que já havia se manifestado contra a barreira aquática, novamente se mostrou preocupado com “o impacto sobre os direitos humanos e a segurança pessoal dos migrantes” que cruzam as linhas entre os dois países. No G1.
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ARGENTINA 🇦🇷
Já são 133 “netos” recuperados pelas Avós da Praça de Maio, organização defensora de direitos humanos que, desde o final da ditadura militar (1976-1983), revira o país em busca de reconstituir a verdade a respeito de crianças que foram sequestradas e desaparecidas durante o período de repressão. A novidade, sempre celebrada pelas abuelas, foi confirmada em uma coletiva de imprensa na sexta passada (28/7); o homem em questão foi o primeiro a ser encontrado em 2023. Nesse caso, porém, a conclusão não foi fruto de uma busca intensa: o próprio neto, que suspeitava de sua filiação, foi quem procurou a instituição, por fim descobrindo que seus pais verdadeiros eram antigos integrantes de uma guerrilha que lutava contra o regime. Estima-se que mais de 300 argentinos nascidos durante o governo militar seguem desaparecidos. E essas não foram as únicas (boas) notícias recentes ligadas ao obscuro passado argentino: durante a semana, a Itália assinou uma ordem de extradição do padre Franco Reverberi, acusado de ter praticado tortura durante a ditadura argentina. Ele também é procurado pela Interpol. Via Agência Brasil.
BOLÍVIA 🇧🇴
Nada feito: autodeclarado (e assim visto pela oposição) “preso político”, o governador do tradicionalmente direitista departamento de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, não terá medidas cautelares concedidas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), informou a entidade em um comunicado conhecido na quinta-feira (3). Em nota ao Estado boliviano, a CIDH “considerou oportuno” não avançar com tais medidas, arquivando a solicitação de averiguação feita por parlamentares do partido conservador Creemos em dezembro, quando Camacho foi detido por sua participação no golpe de 2019. Assim como a ex-presidenta Jeanine Áñez (2019-2020) – também presa, em eterno suplício e se dizendo vítima de violações de direitos humanos – o artífice da crise que destituiu Evo Morales tem uma situação que “não atende aos requisitos” dos regulamentos da CIDH. A organização afirma, no entanto, que continuará “monitorando a situação”. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
Recorde de temperatura: atravessando uma onda de calor extremo em pleno inverno, o Chile viu termômetros na cordilheira dos Andes chegando a 38,9 °C na terça-feira (1º). Considerando apenas áreas habitadas, a comuna de Vicuña foi a recordista da vez, com um calor de 37,1 °C – a segunda maior temperatura para uma cidade chilena no inverno até hoje, atrás apenas de um registro isolado de 37,3 °C em Copiapó, em 1951. Outras partes do Cone Sul vivenciaram calores parecidos: em Buenos Aires, capital da Argentina, viu-se o início de agosto mais quente em 117 anos de medições, enquanto na parte oeste do Rio Grande do Sul os termômetros também superaram a marca de 30 graus. Segundo cientistas, além da crise climática que vem provocando calor cada vez mais excessivo ao redor do mundo, o fenômeno El Niño ajudou a empurrar a temperatura um pouco mais para cima. Na CNN.
COLÔMBIA 🇨🇴
Hipopótamos serão deportados ou esterilizados na Colômbia. Essa é a decisão do Ministério de Meio Ambiente, comunicada na terça-feira (1º), para dar fim aos animais de origem africana que têm alterado os ecossistemas locais. Nas últimas décadas, a espécie invasora – levada ao país pelos caprichos do narcotraficante Pablo Escobar, morto em 1993 – se espalhou pelas margens do Rio Magdalena, um dos mais importantes da nação sul-americana. Esses gigantes mamíferos não só ameaçam animais nativos, como também afetam a população ribeirinha e “mudam a dinâmica de toda a cadeia alimentar do Rio Magdalena”, explicou a ministra Susana Muhamad. O plano agora é enviar cerca de 85 hipopótamos a países como México, Índia e Filipinas. Além disso, haverá esterilização de outros 40 animais ao ano, por um custo aproximado de 1,6 bilhão de pesos (R$ 1,8 milhão). Ainda assim, especialistas alertam que, mesmo esterilizados, os animais podem continuar causando graves alterações na fauna e flora colombianas. A eutanásia forçada – ou seja, simplesmente matar os hipopótamos – foi descartada por uma decisão judicial de 2012. Em El Tiempo.
COSTA RICA 🇨🇷
Tristeza e espanto no futebol tico: Jesús Alberto López Ortiz, jogador de 29 anos do Deportivo Río Cañas, time da segunda divisão local, foi morto por um crocodilo após entrar para se refrescar em um rio – que batiza o clube e a cidade homônima – pouco depois de fazer exercícios. Imagens que circularam pelas redes sociais mostram o animal carregando o atleta já sem vida com a boca pelas águas do rio, enquanto policiais atiravam contra o réptil para recuperar o corpo do jogador. Embora a cena só tenha viralizado na quarta-feira, ganhando repercussão mundial, o caso ocorreu no sábado (29/7). A morte de López Ortiz gerou comoção na pequena cidade, deixando um alerta: segundo o treinador do clube local, as pessoas evitam se banhar no Cañas justamente por ser um conhecido habitat de animais selvagens. No Yahoo.
CUBA 🇨🇺
Mais mudanças: durante a semana, o Banco Central de Cuba emitiu novas regras que proíbem empresas estatais e privadas de usarem caixas eletrônicos, também limitando o acesso das companhias a transações em dinheiro vivo – imposto de forma gradual, o ‘teto’ será de 5000 pesos cubanos (pouco mais de US$ 200). Apenas mais um drama que aparece em função da claudicante situação econômica da ilha, a medida, que entrou em vigor na quinta (3), responde à necessidade de tentar controlar os números da inflação (que bateu 39% no ano passado) e também busca conter o alto número de transações financeiras sem registro. O governo, enquanto isso, caminha como pode – mas muda o discurso de anos passados, agora considerando as sanções econômicas sem deixar de dar um panorama real: ministro da Economia, Alejandro Gil disse que o PIB até cresceu no primeiro semestre, “porém ainda abaixo dos níveis pré-pandemia”, levando a novos episódios de escassez de produtos básicos. O resumo, na Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
Outra vez, o governo salvadorenho impôs um cerco a uma região inteira do país, sob o pretexto de “caçar” criminosos ligados a gangues. Desta vez, foi o departamento central de Cabañas, que desde terça-feira (1º) é alvo de uma megaoperação que mobilizou cerca de 7 mil soldados das Forças Armadas e outros mil policiais – para se ter uma ideia da dimensão da investida, é como se houvesse um agente armado para cada 19 moradores da região, predominantemente rural. Segundo o presidente Nayib Bukele, é justamente por ser erma que a área agora é visada pelas pandillas: os grupos criminosos estariam se isolando em lugares remotos após ações semelhantes em zonas mais urbanizadas. “O cerco continuará até que as forças de segurança consigam capturar todos os membros de gangues”, prometeu o mandatário. Via O Globo.
EQUADOR 🇪🇨
Não é novidade dizer que o Equador passa pela pior crise de segurança de sua história, atingindo uma taxa recorde de homicídios por 100 mil habitantes no ano passado e reportando mais de 400 mortes em presídios em tempos recentes, fruto de diversas rebeliões violentas pelo país. Fato novo, porém, são os rumores de que algumas das maiores gangues do país, tidas como as principais impulsionadoras do atual ciclo de violência, estariam negociando acordos de trégua – e tudo com suposta anuência do governo de Guillermo Lasso. Em vídeos divulgados nas redes sociais, chefes do crime não só comentam as negociações, mas, também, afirmam que o Executivo teria assinado o pacto. Lasso nega tudo, dizendo por meio de seus ministros que nenhum funcionário do governo está autorizado a negociar com os criminosos. Com a segurança pública já vista como tema prioritário, os equatorianos vão às urnas para escolher um novo presidente no próximo dia 20. No Peoples Dispatch.
Un nombre:
Mataviejitas – Literalmente “matadora de velhinhas”, é a alcunha macabra pela qual ficou conhecida Juana Barraza, uma serial killer mexicana condenada pelo assassinato de 16 mulheres idosas entre 1998 e 2005. Cumprindo uma pena de 759 anos de prisão – além das mortes, ela também foi condenada por 12 roubos –, Barraza teve sua história voltando aos holofotes na última semana, após a Netflix lançar o documentário A Dama do Silêncio: La Mataviejitas, que recupera a história do caso e as investigações. Paralelamente ao caso de Barraza, também voltou ao noticiário a esquecida prisão de Araceli Vázquez, criminosa que teria se tornado uma espécie de vítima colateral de manipulação da Justiça enquanto as autoridades corriam para resolver o assunto: há 19 anos na cadeia, Vázquez, que chegou a ser inicialmente confundida com a Mataviejitas, não nega que tenha cometido roubos, mas afirma que jamais matou ninguém – mesmo tendo homicídios na conta da pena que segue cumprindo.
HONDURAS 🇭🇳
Em um país assolado pela violência sexual e por números altíssimos de gravidez precoce na adolescência, cresce a polêmica pelo veto a uma lei de educação sexual que trataria justamente disso. No sábado (29/7), a canetada contrária veio da presidenta Xiomara Castro, enfurecendo organizações civis ligadas aos direitos humanos e movimentos feministas, que já acusam a mandatária de “não cumprir com suas promessas de campanha”: sob bandeiras progressistas, Castro prometeu colocar pautas de direitos reprodutivos no centro das discussões do governo. Com a devolução do tema aprovado pelo Congresso em março, fica a pergunta: o que explica o veto? Segundo a presidenta, a lei não cumpriria com a finalidade elementar de ser integral no ensino de educação sexual e, portanto, não seria eficaz na prevenção da gravidez na infância e na adolescência. “É necessário definir claramente o papel de cada integrante” do plano de prevenção, “integrando os diferentes setores contemplados pela normativa”, diz o governo – uma justificativa que, porém, não convence as partes interessadas. Rejeitada, a lei volta ao plenário, onde deve ser modificada. Em El Heraldo.
NICARÁGUA 🇳🇮
O controle é do Estado, mas a cobrança segue o modelo de instituição particular. Segundo uma nova reportagem do veículo investigativo Confidencial, esse é o dramático cenário educacional no país: mesmo após o confisco de quatro universidades privadas, que tiveram a administração passada ao controle do governo (no que se especula ser uma tentativa de tirar autonomia e exercer controle político sobre os estudantes), alunos seguem pagando mensalidade, rendendo às respectivas instituições mais de US$ 9 milhões por ano. O montante não é a maior fatia recebida pelas universidades, já que, de acordo com a Constituição, há um repasse obrigatório de 6% do orçamento para a área da educação. Mesmo assim, tudo é nebuloso: segundo o Conselho Nacional de Universidades, o tal dinheiro seria cobrado para “garantir o pagamento dos docentes e gastos administrativos”. A falta de prestação de contas e de mais detalhes sobre o destino da verba, no entanto, preocupa os críticos da atual situação.
PANAMÁ 🇵🇦
Notícia conhecida nesta seção, a intensa migração que passa pelo corredor de Darién, que liga a América do Sul à Central por um corredor de selva, segue batendo tristes recordes. E tudo cresce num ritmo feroz: segundo autoridades panamenhas, os números totais de travessia registrados em 2022, que já eram recorde, foram superados em apenas sete meses de 2023. No total, mais de 250 mil pessoas fizeram o perigoso percurso até o final de julho, um nível “sem precedentes”, informaram autoridades na segunda (31/7). Segundo a ONU, “dentre as principais nacionalidades compondo este fluxo estão Venezuela, com 55%, Haiti, com 14% e Equador também com 14%”. No site da ONU.
PARAGUAI 🇵🇾
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) condenou na sexta-feira (4) o Estado paraguaio por práticas de tortura cometidas em 2000 contra o inspetor de polícia Jorge Luis López Sosa, no contexto de uma tentativa de golpe de Estado contra o então presidente Luis Ángel González Macchi (1999-2003). Segundo a sentença, que tornou Assunção “internacionalmente responsável” por violações de “direito à integridade e à garantia judicial”, López foi submetido a dois procedimentos violentos por sua suposta participação na trama política, tudo após ser detido em um processo que “não respeitou os padrões convencionais de legalidade”. Os magistrados também consideraram que os maus-tratos aos quais o agente foi submetido resultaram em diversas sequelas “físicas e mentais”, tendo sido praticados para forçar uma confissão. Por fim, exigiram que o Paraguai implemente programas de treinamento para prevenir e investigar atos de tortura. Via EFE.
PERU 🇵🇪
Uma nova candidata ao título de animal mais pesado que já viveu na Terra foi descoberta no Peru, revelou um artigo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (2). O animal, uma baleia que recebeu o nome científico Perucetus colossus (“baleia colossal peruana”, em latim), tem uma massa esquelética que “excede aquela de qualquer mamífero ou vertebrado aquático conhecidos”, escreveu o grupo de pesquisadores, que inclui europeus e peruanos. Segundo a estimativa dos cientistas, o Perucetus pode ter chegado a pesar 340 toneladas, muito além da maior baleia azul conhecida – atual detentora do título de “animal mais pesado”, com 190 toneladas. A baleia colossal peruana viveu entre 38 e 40 milhões de anos atrás e foi desenterrada em um deserto próximo à região costeira do sul do país, área conhecida por fósseis desse tipo, embora nunca tenha se visto um tão grande. “[O peso extremo] sugere que a evolução pode gerar organismos com características que vão além da imaginação”, resumiu o paleontólogo italiano Giovanni Bianucci, que liderou as escavações. Na BBC.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Pitaco em treta diplomática do outro lado do oceano: o governo do Marrocos informou, no último sábado (29/7), que a República Dominicana se juntou ao – pequeno, mas crescente – grupo de países que reconhecem a “soberania” da nação norte-africana sobre o território disputado do Saara Ocidental. Uma postura semelhante já havia sido adotada pelos Estados Unidos em 2020, e mais recentemente por Israel, mas ainda é rara na América Latina. Os dominicanos, porém, fazem parte da Organização dos Estados do Caribe Oriental (OECO), entidade multilateral que já abriu um consulado no Saara Ocidental no ano passado como indicação de apoio aos marroquinos. Desde o fim do domínio espanhol em 1975, a zona na costa noroeste da África é considerada o último dos antigos Estados coloniais do continente cujo status internacional permanece indefinido: apesar de influentes apoios à causa marroquina, parte do mundo prefere reconhecer a independência da chamada República Árabe Saaraui Democrática, que controla na prática boa parte do território em oposição aos desígnios de Rabat, enquanto outros países se mantêm neutros na disputa. Via Reuters.
URUGUAI 🇺🇾
O Senado uruguaio aprovou na terça-feira (1º) uma lei de universalização do acesso aos cuidados paliativos, de olho em reduzir a desigualdade frente a um fato preocupante: segundo cálculos de quem está à frente dessas discussões, mais de 40% dos cidadãos ainda não têm a garantia desse serviço. Com parecer favorável de todos os senadores presentes, o projeto, promovido durante a pandemia pela Sociedade Uruguaia de Medicina e Cuidados Paliativos (SUMCP), é o primeiro passo para uma conscientização maior ao redor do tema, dizem representantes da entidade. O Ministério da Saúde estima que, uma vez regulamentada, a norma poderá passar a beneficiar “100% da população” em até “um ano e meio”. Via EFE.
VENEZUELA 🇻🇪
Bricsv? Vbrics? Seja qual for a combinação de letras, é exatamente esse “V” que o presidente Nicolás Maduro quer inserir no acrônimo do bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na segunda (31/7), o líder venezuelano comunicou que seu país enviou um pedido de integração aos países do grupo, deixando claras que as intenções de Caracas vão no sentido de “ampliar” a atual composição do clubinho de potências emergentes. Dizendo esperar “uma resposta positiva”, o chefe de Estado do país caribenho exaltou a “força dinamizadora” de um bloco que atua para “o surgimento de um mundo multipolar”. A vontade venezuelana já havia sido transparecida por Maduro em maio, pouco após um encontro com seu homólogo brasileiro Lula. Além da Venezuela, quem tem pleiteado uma vaguinha nos Brics é a Argentina, cujas aspirações têm sido recorrentemente endossadas pelo Brasil. Na CNN.
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