EUA deportam 2 mil para “inseguro” Haiti
GIRO chega às 100 edições! | Cúpula da Celac evidencia fraturas regionais | Crise hídrica leva Rio Paraguai a nova seca histórica | Peru: a cremação secreta de Abimael Guzmán
Em uma medida que causou repúdio dentro e fora do país, o governo Joe Biden lançou uma nova investida contra migrantes que tentam entrar nos Estados Unidos, iniciando mais uma leva de deportações massivas. O maior ponto de conflito se tornou a região em torno do acampamento improvisado nos arrabaldes entre Ciudad Acuña, no estado mexicano de Coahuila, e Del Rio, no Texas. No ápice, chegaram a ser mais de 15 mil pessoas de diferentes nacionalidades (mas majoritariamente do Haiti) aguardando na zona e, quando as autoridades estadunidenses se descuidavam, algumas tentavam atravessar a fronteira para solicitar refúgio nos EUA, escapando da fome, do desemprego e da violência em seus países de origem. Em uma das cenas que correram o mundo (veja Un clic), agentes da Patrulha de Fronteira estadunidense perseguem, a cavalo, migrantes que estavam no local.
O foco maior da indignação dos últimos dias recaiu sobre o tratamento conferido aos haitianos. Mais especificamente, em torno de um plano do governo Biden de mandar de volta à paupérrima nação caribenha pelo menos 14 mil cidadãos do país – grande parte dos quais tentava entrar irregularmente através de Del Rio –, em uma medida que contraria as próprias definições feitas por Washington poucos meses atrás. Em maio, os EUA haviam designado cidadãos do Haiti para o status de proteção temporária, quando o país de origem é considerado inseguro demais para o regresso em função de agitação política, conflitos ou desastres naturais – tudo o que o Haiti vive nos últimos tempos, ainda no rescaldo do assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho, da disputa de poder que se seguiu, e de um terremoto sucedido por uma tempestade tropical que mataram pelo menos 2 mil pessoas, feriram 12 mil e destruíram mais de 120 mil residências em agosto. E, para piorar, uma situação na pandemia sequer monitorada por autoridades e com pouquíssimas vacinas distribuídas.
Embora a definição do Haiti como “inseguro” em tese impedisse deportações como as vistas nos últimos dias, o governo democrata vem utilizando uma regra da pandemia para realizar expulsões sumárias em nome da “segurança sanitária” local. Na quinta-feira passada (16), um juiz federal dos EUA chegou, inclusive, a determinar que o país não poderia se valer disso para deportar os haitianos, o que acelerou o processo: enquanto recorrem da decisão, o governo ainda tinha duas semanas para seguir com as expulsões de forma indiscriminada, levando às cenas dos últimos dias. Nesta sexta (24), o secretário de Segurança Interna em Washington, Alejandro Mayorkas, afirmou que todos os haitianos do acampamento na vizinhança de Del Rio haviam sido removidos: cerca de 2 mil foram realmente expulsos de volta para o Haiti em 17 voos, enquanto outros 8 mil decidiram “voluntariamente” voltar para o México. Até 5 mil migrantes ainda estão na incerteza, com seus casos em análise pelas autoridades.
Nesse meio tempo, Biden ainda tentou limpar a barra de seu governo, até arriscando uma tentativa de mea culpa: como até aqui apenas sua vice, Kamala Harris, havia se pronunciado sobre as cenas de violência na fronteira, o presidente quebrou o silência no final desta semana chamando de “ultrajantes” as cenas brutais contra migrantes, prometendo investigações. Perguntado durante coletiva se ele assumia responsabilidade pelas ações, respondeu que “sim, sou o responsável porque sou o presidente” e que “haverá consequência para os responsáveis [pela truculência]”, sem dar mais detalhes.
As consequências, no entanto, incidem no lado mais fraco da corrente. Diante da brutalidade das expulsões, que definiu como “desumanas”, o enviado do governo Biden ao Haiti, nomeado após o assassinato de Moïse, renunciou ao cargo. Daniel Foote denunciou o governo estadunidense por uma política “profundamente falha” em relação ao país caribenho, afirmando que suas recomendações foram “ignoradas e rejeitadas, quando não editadas para projetar uma narrativa diferente da minha”. O enviado, cuja versão foi criticada pelo Departamento de Estado em Washington, foi duro: “não serei associado à decisão desumana e contraproducente dos Estados Unidos de deportar milhares de refugiados haitianos e imigrantes ilegais [sic] para o Haiti, um país onde as autoridades estadunidenses estão confinadas a complexos de segurança por causa do perigo representado por gangues armadas para a vida diária”.
Além do trauma da deportação sumária, o envio de milhares de haitianos para uma Porto Príncipe lidando com diferentes crises simultâneas impõe uma questão humanitária a mais: apesar de terem a cidadania do país natal, grande parte dos deportados já não guarda mais qualquer laço com o Haiti, nem tem casa ou família para onde voltar. Muitos deixaram o país há mais de uma década, após o devastador terremoto de 2010, vindo buscar refúgio em países sul-americanos, em particular no Chile. Nos últimos tempos, especialmente após o agravamento das condições econômicas durante a pandemia, mesmo o destino inicial deixou de garantir condições de subsistência: foi assim que milhares deles subiram pelo mapa, atravessaram a perigosa selva entre Colômbia e Panamá para, ainda, passar por toda a sorte de eventos na América Central. “Às vezes a gente ia tomar água e via um morto rio acima, então já não tomava”, conta uma migrante.
Por fim, atingindo o México, encontraram a barreira final na fronteira dos EUA, um país que até parecia mais convidativo sob o governo Biden, mas, na prática, só intensificou as mesmas políticas da Era Trump. Dois mil já foram levados à força de volta ao país de onde saíram anos atrás, gerando cenas de revolta e desespero no desembarque no Aeroporto Internacional Toussaint Louverture. Outros milhares seguem à deriva pelo mapa da América Latina, sem chão, teto ou bandeira para chamar de seus.
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🗞️ GIRO LATINO chega às 100 edições – Não é bom sinal quando o Jornalismo vira notícia mas, neste caso, é por uma boa causa. Esta newsletter, às vésperas de completar seu 2º aniversário, comemora também a centésima edição neste final de semana. A você, que nos lê, as nossas muchísimas gracias. E se você não apenas acompanha, mas apoia nosso trabalho, mil gracias también! É com seu apoio por meio de nossa campanha de financiamento coletivo que seguiremos fazendo cada vez mais.
🌎 Fratura na cúpula da Celac – A reunião da Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe (Celac), na última semana, foi marcada por bate-bocas. O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, chegou dizendo que sua presença no encontro não significava ser “complacente” com a situação política vista em alguns dos países do grupo, citando nominalmente Cuba, Venezuela e Nicarágua. Em resposta, seu homólogo cubano Miguel Díaz-Canel respondeu que as opiniões do líder austral eram descoladas da realidade. O coro contra esses países, em especial a Venezuela, também foi encorpado pelo paraguaio Mario Abdo Benítez. De forma similar, Abdo disse que estar ali não era um endosso à liderança de Nicolás Maduro, cuja presidência o Paraguai não reconhece. Maduro rebateu: “escolha a data, então, para um debate sobre democracia!” A reunião da Celac também marcou a divisão em torno da proposta mexicana de refundar a Organização dos Estados Americanos (OEA), vista pelo presidente López Obrador como uma ferramenta intervencionista dos EUA. Para ele, “controvérsias em torno da democracia e dos direitos humanos deveriam ser discutidas em fóruns verdadeiramente neutros criados pelos países das Américas, com a última palavra ficando a cargo das agências especializadas da ONU”. Lacalle Pou, por outro lado, esteve entre os que defenderam a manutenção da OEA, um órgão que exclui, por exemplo, Cuba. Já a Celac não conta com EUA e Canadá e, dentre os latinos, também não tem a participação do Brasil. Na BBC.
🇵🇾 Crise hídrica – O Rio Paraguai está, pelo segundo ano consecutivo, vivendo uma seca histórica (leia sobre a seca de 2020 no GIRO #49). E volta a bater recordes preocupantes: na quinta-feira (23), o nível das águas do porto de Assunção amanheceu em -0,55 metro, o menor já registrado em 118 anos de acompanhamento pelas autoridades locais (no dia seguinte, o número foi outra vez superado, e as águas amanheceram em -0,59 m). A frequência com que o recorde tem sido batido é outro ponto de alerta: até o ano passado, a menor marca do Paraguai registrada em Assunção datava de 1969, com -0,40 m – em 2020, esse número foi sucessivamente superado, antes de atingir a marca que permaneceu como a mínima até esta semana, -0,54 m em 25 de outubro. Agora, um recorde que havia levado 51 anos para ser batido foi novamente quebrado em apenas 11 meses. Além da falta d’água para consumo, o nível abaixo de zero afeta a navegação, com os barcos precisando carregar menos carga para conseguirem circular pelo leito quase seco. Em nosso Twitter.
🇵🇪 Cremação secreta – O cadáver de Abimael Guzmán, fundador e líder do Sendero Luminoso falecido no último dia 11 aos 86 anos, foi cremado na madrugada desta sexta (24) em um hospital militar. Os restos mortais de Guzmán, que cumpria prisão perpétua pelas milhares de mortes causadas pela guerrilha, haviam se tornado objeto de disputa e dúvida, com o temor de converter seu sepulcro em local de culto para admiradores ou em um palco de represálias. Uma lei aprovada após sua morte mudou o entendimento anterior e, agora, cadáveres de líderes de organizações consideradas terroristas pelo Estado deverão ser sempre cremados. As cinzas serão espalhadas em uma cerimônia secreta, sem divulgação do local ou data. Via AP.
🇧🇴 Tragédia da Chape tem prisão – A Polícia Federal (PF) do Brasil prendeu na quinta (23) a controladora de voo boliviana Celia Castedo Monasterio, responsável pela análise e aprovação do plano do voo 2933 da companhia aérea LaMia, de 29 de novembro de 2016, que deveria ter levado a delegação da Chapecoense de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, para Medellín, na Colômbia. O avião caiu a 30 quilômetros da pista de aterrissagem, causando a morte de 71 das 77 pessoas a bordo. Monasterio estava foragida desde 2016 em Corumbá, na fronteira do Mato Grosso do Sul com a Bolívia, e já teve a extradição determinada pelo ministro Gilmar Mendes. Em El País.
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REGIÃO 🌎
O colapso financeiro de uma das maiores empresas de construção do mundo, a chinesa Evergrande, já afeta a América Latina. Não é à toa: fruto do boom importador chinês do início do milênio, que ajudou nuestro continente a decolar economicamente com a venda de matéria prima, a gigante asiática agora está entre as empresas com maior dívida no mundo (superando a casa de R$ 1 trilhão), o que vem esfriando a compra de produtos latinos. No início da semana, após protestos de chineses temendo calotes, demissões e novos capítulos sobre uma possível intervenção do Estado chinês para resgatar a companhia, os mercados de ações do México, Chile e Brasil despencaram. A iminente crise imobiliária mundial já coloca toda a região em alerta. Em El País.
Centros na Argentina e no Brasil vão desenvolver e fabricar vacinas contra a covid-19 com tecnologia de RNA mensageiro, produção que será destinada à vizinhança de toda a América Latina e Caribe. A informação é da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que segue em busca de reduzir a alta dependência da região de insumos importados. Segundo Jarbas Barbosa, subdiretor da Opas, a iniciativa gera “transferência de conhecimento e tecnologia na região”. No Brasil, foi selecionado o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), subordinado à Fiocruz. Já no vizinho platino, a produção fica ao encargo da Sinergium Biotech, empresa biofarmacêutica privada que fará parceria com a mAbxience, do mesmo grupo. Via AFP.
ARGENTINA 🇦🇷
O casal presidencial espera seu primeiro bebê: a primeira-dama Fabiola Yañez, 40, está na décima semana de gestação, segundo confirmou um informe do governo divulgado na quinta-feira (23). De acordo com o texto, Yañez está em bom estado de saúde e “sob estrito controle médico”. O presidente Alberto Fernández, 62, será pai pela segunda vez: do casamento anterior, teve Tani Fernández Luchetti, hoje com 27 anos, que em agosto mudou oficialmente de nome (há anos utilizava Dyhzy como nome artístico) e adotou um documento de identidade com gênero não-binário. Em La Nación.
Se na vida pessoal do presidente tudo anda movimentado, é possível dizer o mesmo entre os Poderes – mas de forma não tão agradável. Dias após o governo argentino viver sua maior ruptura, com uma divisão sem precedentes entre Fernández e sua vice, Cristina Kirchner (saiba mais no abre da edição anterior), a polêmica agora é no Judiciário, já que a Suprema Corte está sob nova direção. O juiz Horacio Rosatti será o novo presidente do tribunal a partir da próxima semana, no lugar de Carlos Rosenkrantz. O processo de seleção, porém, expôs as divisões entre os cinco membros do tribunal: Rosatti obteve três votos: o de seu antecessor, o de outro juiz e o seu. Os outros dois magistrados manifestaram o seu desacordo, ausentando-se da votação. Há, por trás, um componente político: o novo juiz à frente da corte foi indicado pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), o que pode causar mais rusgas com um Executivo dividido, mas peronista. A formação da Suprema Corte é um assunto de extrema sensibilidade na Argentina, já que sempre acaba responsável por julgar casos de corrupção. Em El País.
Já na pandemia, as notícias são um pouco mais animadoras: o governo anunciou na terça (21) a flexibilização ou eliminação de restrições e proibições ligadas à crise sanitária, com destaque para a reabertura das fronteiras aos turistas estrangeiros, o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços abertos e a volta do público a eventos de massa a partir de outubro. Visitantes vacinados de Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile poderão entrar pelas fronteiras terrestres, mas com limitações diárias na quantidade de pessoas. Mais detalhes, na RFI.
BOLÍVIA 🇧🇴
A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) solicitou ao Estado boliviano que conceda “garantias” ao cumprimento do trabalho jornalístico. O pedido veio após vários jornalistas e organizações denunciarem atos violentos contra profissionais de imprensa. Primeiro, o caso de Santiago Limachi e seu filho Sergio Limachi, de uma agência internacional, que acabaram detidos e agredidos pela polícia durante a cobertura de um conflito entre líderes cocaleiros. Além deles, quem também teria sido alvo de repressão é Carlos Quisbert, do jornal Página Siete, que denunciou que foi atropelado por um policial em uma motocicleta durante cobertura similar. A CIDH comunicou sua “preocupação com as denúncias recebidas sobre o uso da força pública e prisões contra trabalhadores da imprensa”. Os eventos também foram denunciados pela Associação Nacional de Jornalistas da Bolívia (ANPB). O governo prometeu investigar. Via EFE.
Dos palabras:
Chuspas para chacchado – é o que arqueólogos encontraram ao lado de oito sepulturas pré-colombianas, descobertas em uma espécie de câmara subterrânea na cidade de Chilca, no sul de Lima, durante a instalação de um gasoduto. Ao lado dos cadáveres de 800 anos, aparecem as tais chuspas, bolsas tipicamente andinas feitas para guardar as substâncias alcalinas – seja bicarbonato de sódio, cal ou as cinzas de plantas nativas como a lejía – para facilitar o chacchado (que é, basicamente, o ato de mascar as folhas de coca para resistir à pressão do ar rarefeito do região). O termo para essa prática bastante comum nas culturas andinas também aparece nos sinônimos acullico, akulliku, acuyico e derivados.
CHILE 🇨🇱
O presidente Sebastián Piñera iniciou na sexta-feira (24) visitas oficiais a Colômbia, Uruguai e Paraguai, como parte de uma longa agenda internacional que ainda inclui passagens por diversos países europeus. Os compromissos ficaram represados por conta dos adiamentos forçados pela pandemia. O tour de Piñera deve ser, também, seu ato final fora do país à frente da presidência, já que o Chile passará por eleições gerais em novembro e ele não pode se reeleger. Enquanto o presidente tenta reparar sua enfraquecida imagem, o ministro do Interior e Segurança Pública, Rodrigo Delgado, assume o controle. Via EFE.
O primeiro debate dos presidenciáveis no Chile, dois meses antes das eleições marcadas para 21/11, já foi quente – mais até pelos canhões voltados contra o atual governo do que entre os próprios candidatos. “O senhor Piñera está avisado: será processado pelas graves violações de direitos humanos”, anunciou Gabriel Boric, 35, candidato da esquerda e líder momentâneo das pesquisas, sobre o que pretende fazer caso vista a faixa presidencial em La Moneda no ano que vem. Boric refere-se à responsabilização do atual mandatário pela repressão às manifestações sociais de 2019, que ainda hoje reverberam no país: levaram à formação da Convenção Constitucional, que segue trabalhando em uma nova Carta Magna. Via AFP.
O ex-guerrilheiro chileno Raúl Escobar Poblete, cumprindo pena de 60 anos no México desde 2017 por um sequestro cometido naquele mesmo ano, foi extraditado ao país natal, onde responderá pelo assassinato do senador ultraconservador Jaime Guzmán, em abril de 1991. O Comandante Emilio, como era conhecido, fazia parte da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR), grupo armado que lutou contra a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e chegou a atentar sem sucesso contra o general em 1986. Guzmán tinha sido um dos ideólogos do regime. A FPMR seguiu ativa no imediato pós-ditadura e, mais tarde, seus ex-membros continuaram praticando sequestros em troca de resgates, como o que levou à prisão do próprio Raúl Escobar em 2017 ou o do publicitário brasileiro Washington Olivetto, em 2001. Após ser processado no país natal, Emilio deverá ser devolvido ao México para cumprir o restante da pena. Via AP.
COLÔMBIA 🇨🇴
Na ONU, o presidente Iván Duque anunciou que seu governo vai regularizar 1 milhão de venezuelanos no primeiro semestre de 2022. Somam-se a eles 1,3 milhão de pessoas que receberam o Status de Proteção Temporária em 2021. O anúncio veio durante o evento “torne-os visíveis”, organizado pela Colômbia em paralelo à Assembleia Geral e com participação dos EUA, Canadá e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Durante o evento, os EUA anunciaram um novo apoio de US$ 336 milhões para mitigar os efeitos da crise migratória na região. Segundo dados oficiais, mais de 5 milhões de venezuelanos deixaram o país para fugir da crise; a Colômbia é, com folga, quem mais recebeu cidadãos do vizinho. Na Radio Nacional.
COSTA RICA 🇨🇷
Um surto de malária vem colocando a fronteira entre Costa Rica e Nicarágua em alerta, com ao menos 15 casos confirmados na comunidade de La Trocha, que fica na divisa. Segundo a Caixa Costarriquenha de Seguro Social (CCSS), responsável pela saúde pública no país, os doentes já receberam tratamento. A Costa Rica há anos tenta erradicar a malária de seu território, e chegou a passar 2014 e 2015 sem um único caso, mas nos últimos tempos voltou a registrar contágios. A doença, causada pelo protozoário Plasmodium com um mosquito como vetor, não é transmissível de humano para humano. Na Prensa Latina.
CUBA 🇨🇺
Uma semana depois do presidente do Vietnã Nguyen Xuan Phuc passar por Cuba, a ilha enviou ao parceiro asiático o primeiro lote de vacinas Abdala, um dos imunizantes produzidos em solo cubano. O governo vietnamita aprovou o uso emergencial da vacina cubana no último dia 17, e agora vai receber um montante inicial de um acordo que prevêa entrega de 5 milhões de doses. Recentemente, os dois países aliados também assinaram um acordo conjunto de colaboração técnica e científica, de forma a coordenar ações durante a pandemia. Na teleSUR.
EL SALVADOR 🇸🇻
“El Dictador más cool del mundo mundial”. É assim que o cada vez mais autoritário presidente Nayib Bukele se apresenta em sua bio do Twitter. A piadinha infame é um gaslighting que responde às maiores manifestações contra seu governo que ocorreram na última semana e à repercussão dos eventos na imprensa local e internacional. E tem sido assim: a cada vez que aumenta seu atropelo às instituições (que agora também domina, por ter controle dos três Poderes), o mandatário debocha, como se isso o livrasse da sanha antidemocrática. Mais detalhes, em nossa thread.
Un hilo:
EQUADOR 🇪🇨
Semanas depois de propor à China um acordo de livre comércio e a reestruturação de sua dívida com Pequim, a gestão do presidente Guillermo Lasso dá um novo passo em sua agenda econômica: agora, o governo – que anda prestigiado e conta com boa avaliação por ter conseguido acelerar a vacinação em seus primeiros 100 dias – já planeja traçar acordos comerciais livres de impostos alfandegários com as 20 maiores economias do mundo, tudo dentro de quatro anos, segundo informou o Ministério da Produção e Comércio Exterior em Quito. Ainda sem grandes detalhes, a proposta encontra bastante apoio entre setores-chave, mesmo na oposição. Via Reuters.
GUATEMALA 🇬🇹
Mais investidas vindas de Washington: durante a semana, o governo Joe Biden decidiu proibir a entrada da procuradora-geral da Guatemala, Consuelo Porras, agora incluída na lista de políticos considerados corruptos em países centro-americanos (saiba mais sobre a procuradora no GIRO #92). Segundo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, Porras “obstruiu as investigações de atos de corrupção ao interferir em buscas criminais” e “ordenou promotores a ignorar os casos com base em considerações políticas”. Para além da clássica intromissão em países latinos, as posições dos EUA sobre a política têm explicação: de acordo com a Casa Branca, a corrupção é a raiz dos problemas que causam a migração forçada de milhares de latino-americanos até território estadunidense (saiba mais no abre desta edição). No Periódico.
Será lançado no Brasil o longa de terror A Chorona (2019), premiado filme do diretor guatemalteco Jayro Bustamante. A história, com raízes pré-colombianas, cria uma alegoria da real saga de repressão a indígenas centro-americanos da etnia maia-ixil, principalmente durante a sangrenta guerra civil do país (1960-1996), e fala de uma mulher indígena seduzida por um conquistador espanhol. Após se frustrar com a relação, a mulher se torna um fantasma que vaga por aí chorando sua dor e atormentando os vivos, tudo com um fundo de crítica ao genocídio dos povos originários. Na Folha.
HONDURAS 🇭🇳
O brasileiro Jair Bolsonaro não foi o único presidente latino-americano a utilizar a Assembleia Geral da ONU para um pronunciamento mais voltado ao público interno do que à comunidade internacional: o hondurenho Juan Orlando Hernández usou o púlpito para se defender das acusações de narcotráfico que há meses vêm se acumulando contra ele, afirmando ser vítima de “falsos testemunhos” que estariam sendo dados à Justiça dos EUA por “sicários confessos” em troca de penas mais brandas. Embora revestido de uma roupagem multilateral (JOH disse que a “cooperação internacional” não será “sustentável” caso se mantenha a “corrupção sistemática no processo judicial”), o discurso do presidente buscou sobretudo apaziguar os ânimos internos, às vésperas das eleições presidenciais de novembro, nas quais não pode concorrer e em que vê a oposição com chances de vitória. Via AP.
MÉXICO 🇲🇽
Com tantos narcos à solta, por que o governo mexicano se esforça para prender pesquisadores e professores universitários? Essa é a pergunta que 31 acadêmicos fizeram na quarta-feira (22), após serem acusados de infringir uma lei que proíbe membros de um conselho consultivo de receber dinheiro de um fundo governamental para a ciência. Os cientistas envolvidos receberam US$ 2,5 milhões antes de a lei ser aprovada em 2019 e, portanto, negam que os fundos fossem ilegais ou mal utilizados. Enrique Graue, reitor da Universidade Nacional Autônoma do México, destacou que as acusações eram "absurdas". O procurador-geral do México, Alejandro Gertz Manero, ofereceu acusações por lavagem de dinheiro, crime organizado e peculato contra os universitários, e ainda tentou mandá-los para El Altiplano, a prisão de segurança máxima mais temida do país. No mesmo dia, a Justiça rejeitou o pedido de emitir mandados de prisão contra os acadêmicos, mas o caso deu força às críticas direcionadas ao presidente Andrés Manuel López Obrador por tentar “politizar” as operações nas universidades públicas do México. Via AP.
O México apresentou uma ação contra 11 fabricantes de armas nos EUA, para tentar responsabilizá-las pelos homicídios no país latino, há anos entre os mais violentos do mundo. Um dos casos citados no processo é o da jornalista Miroslava Breach, assassinada em 2017 ao sair de casa no estado de Chihuahua. Os policiais que investigavam o caso perceberam que a arma usada no crime tinha gravada a imagem de Emiliano Zapata, líder da Revolução Mexicana: era uma pistola calibre .38 fabricada pela empresa Colt em uma edição limitada de comemoração ao aniversário do herói mexicano – uma das 500 unidades vendidas foi usada contra a jornalista. Na ação, o Estado mexicano argumenta que essa seria uma das provas do marketing direcionado para os cartéis mexicanos e, portanto, as fabricantes também deveriam ser responsabilizadas pelos crimes cometidos. Na CNN.
NICARÁGUA 🇳🇮
Nicarágua e Colômbia foram à Corte Internacional de Justiça (CIJ) no início da semana com seus respectivos argumentos sobre uma longa disputa territorial, entendida pelo governo em Manágua como violação de sua soberania no oeste do Caribe. O caso foi iniciado pelo governo nicaraguense em 2013 e agora será sabatinado por 15 magistrados em Haia, na Holanda. Segundo especialistas, a nova deliberação pode ajudar a esclarecer os direitos de ambas as nações em uma área do Caribe que abriga uma reserva de biosfera da UNESCO e é habitada por dezenas de espécies ameaçadas de extinção. Em 2012, a Nicarágua ganhou o direito à pesca no território, mas isso não deu fim ao conflito: ainda hoje, segundo denuncia o lado centro-americano da história, a área segue patrulhada pela Marinha do país andino, e também serviria como um corredor aquático para o narcotráfico. Em resposta, Bogotá alega que segue respeitando as normativas estabelecidas em 2012. O imbróglio, na AP.
Dale un vistazo:
📽️ Jaula de Ouro – lançado em 2013, o drama migratório do espanhol Diego Quemada-Díez conta uma história bastante real: a de um trio de guatemaltecos adolescentes que larga a situação de pobreza em que vivem para tentar chegar aos EUA. O grupo começa a jornada com Juan e Sara, que fogem sem avisar suas famílias para evitar contratempos. No caminho, encontram Chauk, um indígena tzotzil que viaja descalço, sem documentos e sem falar uma linha de espanhol. Mais do que o sonho da chegada, a obra retrata os horrores da travessia que, por piores que sejam, muitas vezes parecem menos angustiantes do que a dura realidade enfrentada por milhares de pessoas em seus países de origem. O filme está disponível na plataforma Amazon Prime.
📽️ La Jaula de Oro (México, 2013). 108 min. Dir.: Diego Quemada-Díez.
PANAMÁ 🇵🇦
O Panamá vai se juntar à lista de países latino-americanos que aplicam uma terceira dose de vacina contra a covid-19, começando pela população imunocomprometida, considerada mais vulnerável – casos de submetidos a tratamento de câncer, transplantados e aqueles com HIV não tratado. O país centro-americano já deu conta de completar o esquema vacinal original em quase 56% da população. A dose de reforço começou a ser aplicada na região primeiro na República Dominicana, um movimento depois seguido por países como Chile, Uruguai e até mesmo o Brasil. Via Reuters.
PARAGUAI 🇵🇾
O Ministério de Relações Exteriores anunciou na terça (21) a chegada de um novo lote de vacinas através do mecanismo Covax, da Organização Mundial da Saúde (OMS). A iniciativa tem pendente o embarque da maior parte da remessa comprada pelo governo paraguaio, com mais de 480 mil doses (de um total de 3 milhões) do imunizante da Pfizer e da Sinopharm. O ministro da Saúde, Julio Borba, viajou para Genebra na semana passada, onde se encontrou com a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet. Na conversa, Borba citou “as dificuldades resultantes das notórias assimetrias entre países em termos de acesso oportuno, justo, equitativo e universal às vacinas”. Apesar de ter avançado nos últimos meses, o Paraguai ainda é penúltimo colocado na América do Sul em termos de vacinas, com apenas 26% da população totalmente imunizada, índice superior apenas ao da Venezuela. Via EFE.
PERU 🇵🇪
Em sua estreia na Assembleia Geral da ONU, o presidente Pedro Castillo já protagonizou um meme: o líder socialista deixou a sessão solene no momento em que seu par brasileiro, Jair Bolsonaro, deu início à rodada de discursos em Nova York. Castillo não chegou a confirmar se sua saída foi, de fato, um protesto à presença de Bolsonaro; no entanto, não é difícil de imaginar que um líder popular e abertamente à esquerda repudie as declarações da liderança mais radical na direita latino-americana. O caso e outros detalhes do debute de Castillo, no Infobae.
PORTO RICO 🇵🇷
Após 12 anos sem reajustes, a ilha finalmente terá um novo salário mínimo: hoje em US$ 7,25 por hora, o valor passará para US$ 8,50 a partir de janeiro, após o governador converter em lei o projeto de aumento anunciado no mês passado. De acordo com o governo, para um trabalhador em tempo integral, a diferença pode representar um incremento de até US$ 2 mil por ano. Depois de tanta demora, as próximas subidas não devem tardar tanto: a lei também já garante um novo reajuste, para US$ 9,50, em julho de 2023, e a possibilidade de outro dólar de aumento um ano mais tarde, pendente de aprovação por uma comissão. No Vocero.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Um homem que ameaçou reiteradamente o presidente dominicano Luis Abinader, às vésperas da Assembleia Geral da ONU, acabou preso pelas autoridades estadunidenses no domingo (19). Enrique Figueroa, 47, fez várias postagens pela internet prometendo sequestrar, ferir e assassinar o mandatário e, embora já advertido pela polícia previamente, não parou com as ameaças. De acordo com a procuradoria em Nova York, Figueroa é crente das teorias da conspiração do grupo QAnon, recentemente havia participado de uma marcha em Washington em apoio aos golpistas que tentaram invadir o Capitólio em janeiro, e chegou a tentar viajar para a República Dominicana no último dia 11, mas não conseguiu por estar com o passaporte vencido. A delirante aventura prossegue: interrogado, Figueroa disse que suas mensagens não tinham intenção de ameaça, e seriam um alerta de que outros poderiam machucar Luis Abinader se a corrupção continuasse no país. O detido também garantiu que ele próprio é que havia sido eleito presidente dominicano, mas não quis assumir para continuar focado no combate à corrupção. Via AP.
Un nombre:
Frente Patriótico Manuel Rodríguez – ou FPMR, foi uma guerrilha que atuou entre 1983 e 1999 no Chile, com ações aparatosas que incluíram a tentativa de assassinato do então ditador Augusto Pinochet, em 1986, e a bem-sucedida execução do senador ultraconservador Jaime Guzmán, cinco anos depois (leia mais na seção do Chile nesta edição). Surgida como aparato militar do Partido Comunista Chileno, a organização armada prestava homenagem a Manuel Javier Rodríguez y Erdoíza (1785-1818), herói da Independência chilena e considerado popularmente o “primeiro guerrilheiro” do país.
URUGUAI 🇺🇾
O presidente Luis Lacalle Pou retornou ao país na sexta (24), após um tour internacional para participar da reunião da Celac, no México, e da Assembleia Geral da ONU. A gira foi celebrada pelo chanceler, Francisco Bustillo, para quem a voz do país foi “escutada e segue sendo respeitada”. Um dos pontos mais relevantes foi a situação das relações com Cuba, Venezuela e Nicarágua, países dos quais Montevidéu foi mais próxima durante os 15 anos de governo de centro-esquerda com a Frente Ampla, até a posse do conservador Lacalle Pou, no ano passado (leia mais sobre a troca de farpas na seção de Região). “As relações diplomáticas seguem sendo as mesmas, diria eu que de baixa intensidade, não há uma grande relação, mas se mantém”, garantiu Bustillo. “Mas obviamente temos diferenças notórias e sensíveis nos aspectos vinculados à democracia e aos direitos humanos”, pontuou. Na Diaria.
Tragédia atípica no paisito: um homem de 32 anos ateou fogo a si mesmo diante da Torre Executiva, sede do governo uruguaio em Montevidéu, na manhã de quarta-feira (22). Com 80% do corpo queimado, ele não resistiu aos ferimentos e faleceu dois dias mais tarde. Segundo as testemunhas, o homem sentou-se sob a bandeira do país, tomou um mate, jogou um líquido inflamável sobre o próprio corpo e deu início à autoimolação. As autoridades seguiam investigando a motivação do ato até o fechamento desta edição. No Ámbito.
Mais peripécias do imortal Loco Abreu: sem conseguir pendurar suas gastas chuteiras pós-aposentadoria, o homem dos mil-times (aos 44 anos, detém recorde no Guinness por ter defendido profissionalmente 31 clubes profissionais de futebol diferentes) agora veste as cores do modesto Olimpia de Minas, time amador de seu país natal. E sua estreia na última semana já marcou época: em seu primeiro jogo, fez, de pênalti, aos 48 da etapa final, o gol de empate por 1 a 1 diante do Barrio Olímpico. “Lindo voltar as raízes”, disse o eterno atacante. No GE.
VENEZUELA 🇻🇪
O pedido de sempre: o presidente Nicolás Maduro, exigiu à Assembleia Geral das Nações Unidas “a suspensão das sanções criminosas” contra o seu país. “Ratificamos nossa exigência de que sejam suspensas todas as sanções criminosas contra a economia venezuelana e contra a sociedade venezuelana por parte dos Estados Unidos e dos governos da União Europeia”, reivindicou o chavista, em um discurso gravado e exibido em um telão, já que não foi presencialmente à Nova York temendo ser preso sob acusações internacionais de narcoterrorismo e diante de uma recompensa milionária por sua captura. O discurso é o mesmo desde sempre, mas vem em uma hora particular: em 2021, governo e oposição na Venezuela iniciaram o que pode ser uma rodada de contato sem precedentes desde o agravamento da crise política local, há cerca de sete anos. A rodada de negociações, sediada pelo México e sob os olhares da Noruega, foi citada por Maduro, que pediu “todo o apoio das Nações Unidas” para que o processo de diálogo iniciado em 13/8 avance. Em El País.