🇻🇪 Essequibo: referendo quer 70% da Guiana para Venezuela
Em disputa desde o séc. 19, área ocidental da Guiana ganhou destaque após a descoberta recente de ricas reservas de petróleo; Caracas alega “direito histórico” e critica interesses internacionais
“Um assunto de unidade nacional” foi como a vice-presidenta da Venezuela, Delcy Rodríguez, definiu na terça (28), durante um ato solene, o posicionamento histórico de seu país a respeito de Essequibo. O território pertencente à vizinha Guiana será reivindicado pelos venezuelanos por meio de um referendo nacional neste domingo (3). De caráter não vinculante, o processo consultivo contemplará cinco perguntas a respeito do tema: os mais de 20 milhões de eleitores habilitados poderão responder – com “sim” ou “não” – às questões sobre as antigas arbitragens que regem o direito à área, sobre o papel da Justiça Internacional no caso e até mesmo sobre a criação de um novo estado da República Bolivariana da Venezuela dentro dos limites da zona em disputa desde o século 19.
Feitas em harmonia com a reivindicação de Caracas, que defende seu “direito histórico” sobre Essequibo, as perguntas contam com um nada surpreendente lobby chavista pelo “sim”. Sem perder tempo, o governo iniciou em novembro uma enérgica campanha para congregar eleitores ao redor de um tema que “não envolve ser de um partido ou de outro”, como disse o presidente Nicolás Maduro, completando que “não podemos deixar que ninguém nos divida nesta grande causa nacional que busca recuperar terras deixadas por nossos libertadores”. Defendendo a importância do tema, o governo até realizou uma simulação eleitoral duas semanas antes da data oficial – com direito a comparecimento recorde e resultados “exitosos”, segundo autoridades eleitorais.
Se do lado venezuelano há otimismo e apelo patriótico – ainda que apenas para eventualmente ratificar um consenso nacional a respeito de um assunto de resolução bem mais complexa – do lado guianês sobra repúdio. Classificando a votação do final de semana de “ameaça existencial” à sua soberania e acusando a medida de ser um “gatilho” usado por Caracas para “tomar o território por força militar”, a Guiana pede à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que as tentativas de “anexação” cessem imediatamente. Não é por menos: com cerca de 160 mil quilômetros quadrados, Essequibo corresponde a cerca de 70% do território guianês. “Cada centímetro quadrado é nosso”, disse, em novembro, o presidente Irfaan Ali.
Vale recapitular: a Guiana se ampara em um laudo arbitral assinado em Paris em 1899 e que, de forma controversa segundo os venezuelanos, determinou que o controle sobre o território em questão seria da Grã-Bretanha, que na época controlava a então chamada “Guiana Britânica” como uma de suas colônias. Já o lado latino-americano defende que o tema seja regido pelo Acordo de Genebra – assinada em 1966, mesmo ano em que a Guiana se tornou independente, a tratativa reconhece a demanda da Venezuela sobre Essequibo. Segundo esse documento posterior, que também é tema de uma das perguntas do referendo de domingo, caso os dois países falhem em achar uma resolução pacífica, “deverão encaminhar a decisão (...) a órgãos internacionais competentes”.
Até o início do século 19, quando os venezuelanos recém começavam a se emancipar de sua própria dominação colonial, a zona de Essequibo passou cerca de 200 anos em mãos neerlandesas, que resistiram a incursões espanholas – e dos próprios britânicos – antes de ceder as terras ao Reino Unido em 1814, cinco anos antes da independência da Grã-Colômbia (que depois se fracionou em diferentes países, inclusive a própria Venezuela… e o que viria a ser a Guiana).
Diante do impasse e de diferentes interpretações, o caso foi levado à CIJ em 2018 e se arrastou desde então. Na terça (28), a Corte disse que daria um parecer até o final da semana a respeito de um pedido da Guiana sobre “medidas provisórias” para impedir a realização do referendo – na sexta, por fim, foi emitido um chamado para que a Venezuela se abstenha de tomar ações que modifiquem a situação atual do território. No entanto, considerando que o referendo não tem caráter vinculante e não teria poder para, sozinho, alterar o status de Essequibo ou validar uma incursão militar, as medidas da CIJ não devem alterar os planos do fim de semana.
Há, ainda, um pano de fundo econômico: ainda que centenária, a disputa entre as duas nações ganhou mais destaque nos últimos anos após a descoberta, por volta de 2015, de enormes e riquíssimas reservas de petróleo na costa guianesa, que se estende majoritariamente por Essequibo. Não é uma situação inédita: nos anos 1870, um primeiro agravamento das relações bilaterais entre Caracas e Londres em torno da região aconteceu após a descoberta de minas de ouro no lugar. Voltando ao século 21, com um setor petrolífero discreto em termos legais e estruturais até então, o pequeno país viu poucas opções senão conferir concessões à gigante ExxonMobil, dos EUA, que desde então explora a área. As cifras chamam atenção: segundo a companhia, as reservas em Essequibo têm capacidade para produzir até 11 bilhões de barris, podendo chegar à conta diária de 1,2 milhão de barris em 2027. A benesse fez a economia do país decolar num ritmo sem precedentes: em 2022, por exemplo, o PIB da Guiana cresceu mais de 63%, segundo dados do Banco Mundial – foi a maior variação do planeta.
Enquanto o dinheiro jorra do lado guianês, Maduro segue tecendo duras críticas à exploração. Em setembro, o mandatário defendeu o Acordo de Genebra como “o único meio de resolução” para o caso, acusando seu homólogo vizinho de “propagar mentiras” e de fazer “falsa vitimização”. Segundo ele, Ali transforma a Guiana “em uma filial da ExxonMobil” ao “agradar aos poderosos interesses transnacionais”. Em meio à troca de farpas do chefes de Estado, críticos do chavista alegam que Caracas tem interesses nas reservas encontradas em Essequibo porque sua própria produção de petróleo, outrora pujante, sofreu um declínio vertiginoso na última década. A situação venezuelana é uma combinação de sanções internacionais ao setor, oscilações do mercado, sucateamento da estrutura e até corrupção dentro da estatal de petróleo PDVSA.
O tema também parece caro ao governo em função de seu impacto político – a Venezuela, vale lembrar, vai às urnas para eleger presidente em 2024 (a data certa segue indefinida), com pressões internacionais cada vez maiores para que candidatos de oposição não sejam barrados do pleito.
Outros países também olham o tema com atenção pelos riscos de uma escalada militar. Sempre metidos em assuntos internacionais, ainda mais quando há petróleo envolvido, os EUA devem enviar altos oficiais da Defesa à Guiana nos próximos dias, enquanto autoridades locais já falam em “manter a paz”, mas “considerando todas as opções de defesa” em caso de conflito. A embaixada do país em Georgetown também comunicou o “fortalecimento de relações militares”. O Brasil, que sob Lula tem tentado retomar um papel de integração na região, também enviou a Caracas na última quarta-feira (22) o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, hoje assessor especial, para encontros emergenciais com Maduro. O Exército Brasileiro também reforçou o contingente na região de fronteira com os dois países.
Mesmo sem o poder de redesenhar as linhas de fronteira de Essequibo, o referendo deste início de dezembro pode marcar uma nova etapa nesse arrastado impasse geopolítico e econômico. Tudo enquanto o mundo vê o assunto cada vez mais de perto.
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🇦🇷 Fim das castas? Milei mantém peronista como embaixador no Brasil, escolhe ex-ministro ‘macrista’ para Economia e ex-adversária nas eleições para Segurança – Semana de novidades no vindouro governo de Javier Milei, que segue contrariado as próprias promessas de romper com as “castas políticas” enquanto indica nomes que já são ou foram dessas mesmas “castas”. Na quarta-feira (29), pouco após voltar de um rápido tour pelos EUA – onde tratou, entre outras coisas, de encontros com representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), de quem a Argentina é devedora – o presidente eleito confirmou que vai manter no cargo o atual embaixador no Brasil, Daniel Scioli, pelo menos “por enquanto”. Peronista de longa carreira, o ex-vice-presidente dos anos de Néstor Kirchner (2003-2007) foi nomeado em 2020 pelo sainte Alberto Fernández, incumbido da difícil missão de aproximar Buenos Aires do governo de Jair Bolsonaro (2019-2022). Decisão menos inesperada, mas ainda longe das promessas de campanha, foi a confirmação de Luis Caputo para o borbulhante Ministério da Economia. Ministro das Finanças e por três meses presidente do Banco Central (BCRA), mesma entidade que Milei prometeu “bombardear” a qualquer custo, Caputo é visto como apenas mais uma peça colocada no governo por influência do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que desde já pinta como um dos principais nomes de bastidores da gestão que se inicia em 10/12. Figura forte da oposição dita moderada (que saiu de cima do muro e abraçou Milei, talvez numa esperança de conquistar espaço durante o período do ultraliberal no Executivo), Macri também participou na indicação do nome para o próprio BCRA e deve seguir por trás das articulações. Ainda no campo econômico e diplomático, a futura ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, causou furor ao anunciar pelas redes sociais que o país, sob sua gestão, não se juntará aos Brics, bloco econômico com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul. Na sexta (1º), colocando uma cereja no bolo de anúncios e recuos dos posicionamentos da campanha, Milei confirmou a ex-presidenciável Patricia Bullrich – com quem trocou farpas em todo o primeiro turno, tornando-se aliado de ocasião no segundo – como futura ministra de Segurança, cargo que ocupou também durante o governo Macri.
🇵🇦 Supremo do Panamá declara inconstitucional contrato-lei de mineração que gerou protestos – A Suprema Corte do Panamá declarou na terça (28), por unanimidade, o caráter inconstitucional do polêmico contrato-lei que gerou demolidores protestos nacionais por renovar uma concessão de pelo menos 20 anos para a exploração de cobre no país. A decisão foi conhecida após cinco dias de sessão permanente e foi bem recebida por manifestantes que estavam há dias em vigília em frente à sede do tribunal, pedindo uma determinação contrária à atividade considerada devastadora para o bioma panamenho. Desde a semana passada, magistrados analisam duas de uma lista de 10 denúncias de inconstitucionalidade enviadas à alta corte. Ainda não há um prazo para a votação das outras demandas e nem confirmação se a decisão desta semana estabelecerá jurisprudência. Seja como for, a decisão não deve encontrar entraves no que depender do governo: um dia depois da determinação, em um recado à nação, o presidente Laurentino Cortizo anunciou que um “processo ordenado e seguro” de fechamento da mina de cobre se iniciará tão logo a decisão for publicada nos registros oficiais. “Todos nós panamenhos devemos respeitar e cumprir as decisões da Suprema Corte, que são finais, definitivas e obrigatórias”, declarou. Na esteira dos últimos eventos, a canadense First Quantum Minerals, que controla a operação, anunciou a suspensão de sua produção comercial. O caso seguiu rendendo impactos no governo: ministro do Comércio e Indústrias e responsável por negociar a elaboração do contrato entre o Estado e a companhia mineira, Federico Alfaro apresentou sua renúncia ao presidente na quinta (30). Ainda tenso, o país aguarda próximos desdobramentos.
🇵🇪 Após ‘hiato’ de crises, Peru volta ao noticiário com guerra entre presidenta e Procuradoria-Geral – Virou guerra: em tom enérgico, a presidenta Dina Boluarte discursou na quarta-feira (29) e pediu algo relativamente inusitado – isso, claro, se considerada a calmaria política em que o país andou vivendo nos últimos meses: a renúncia da procuradora-geral Patricia Benavides. Segundo Boluarte, a chefa do Ministério Público “perdeu objetividade para que possa continuar no cargo” por estar, ao lado de membros de sua equipe, na mira de investigações por suposto tráfico de influência e associação com grupos criminosos – um dos principais assessores de Benavides foi detido. A rusga entre as duas também ganhou tração dias atrás após a PGR apresentar diante do Congresso denúncias contra a própria Boluarte, acusando-a de homicídio no caso envolvendo as mais de 50 mortes de manifestantes – que, no início do ano, tomaram as ruas após a posse da mandatária e foram recebidos com extrema violência por parte de agentes de segurança. Tudo ainda é nebuloso e mexe com o jogo de poderes do fortíssimo Congresso. Enquanto Boluarte acusa Benavides de apresentar acusações de homicídio para criar uma cortina de fumaça diante do escândalo envolvendo sua turma do MP, a PGR afirma que não renunciará. Já a denúncia apresentada contra a presidenta deve ser avaliada nos próximos dias e, no limite, pode até dar motivo para que a nuvem da destituição – tão comum no país – volte a escurecer o céu em Lima. Enquanto a crise envolvendo governo, MP e Congresso segue ardendo, outra notícia ajudou a engrossar o caldo das tensões políticas no país: a Corte Interamericana de Direitos Humanos precisou vir a público para aconselhar o Peru a não libertar o ex-ditador Alberto Fujimori, dias após o Tribunal Constitucional restabelecer o perdão ao moribundo autocrata, que há anos cumpre penas por crimes contra a humanidade – na sexta (1º), a Justiça confirmou que ele deve seguir na cadeia.
🇵🇾🇺🇾 Caso Marset tem entrevista bombástica na TV uruguaia e agentes da Interpol paraguaia presos por supostamente ajudar líder narco – Uma bomba que bateu recordes de audiência na televisão uruguaia no domingo (26): o programa ‘Santo y Seña’, espécie de ‘Fantástico’ local, conseguiu uma entrevista exclusiva com ninguém menos que Sebastián Marset, talvez o narco mais procurado da América do Sul na atualidade – e certamente aquele que mais vem provocando crises políticas nos últimos tempos. Com Marset foragido e buscado internacionalmente, a realização da entrevista levantou questões sobre como os jornalistas conseguiram localizar uma figura que nem mesmo a Interpol encontrou até agora. A explicação, segundo os responsáveis pela empreitada, é que o narco só aceitou falar com a garantia de que ninguém tivesse a menor ideia de onde estava indo: Patricia Martín, a entrevistadora, viajou acompanhada pelo advogado que representa Marset no Uruguai e, após aterrissar em um voo comercial na capital do Paraguai, foi levada por dois helicópteros diferentes e uma caminhonete a lugares não identificados, até chegar numa mansão isolada onde o criminoso estaria escondido. Embora não exista confirmação, a suspeita óbvia é que Marset estaria em alguma região remota do próprio território paraguaio, talvez protegido por autoridades compradas. Sem relação direta com a entrevista, mas com um timing bastante curioso, na tarde de quarta-feira (29) foi realizada uma operação de busca e apreensão na sede da Interpol do Paraguai, com três agentes locais sendo detidos por supostamente ajudar o narco – a alegação específica, neste caso, é que o braço paraguaio da polícia internacional teria removido unilateralmente o “código vermelho” de captura que tinha sido colocado em nomes importantes do entorno de Marset, incluindo a própria esposa dele, Gianina García. A entrevista completa, aqui.
🪦 Henry Kissinger finalmente morre (impune) aos 100 anos – Nobel da Paz em 1973 apesar de contribuir para inúmeras mortes, golpes e guerras ao redor do mundo, inclusive na América Latina, Henry Kissinger morreu na quinta-feira (29), aos 100 anos, de causas não reveladas. Conselheiro de Segurança (1969-1973) e secretário de Estado (1973-1977) dos EUA nos governos de Richard Nixon e Gerald Ford, Kissinger deu as cartas da política externa estadunidense em um período central para o estabelecimento de ditaduras brutais na região latina, sendo artífice, por exemplo, do golpe de 1973 no Chile. Por sua longevidade, o estrategista – que fora dos EUA é amplamente considerado um criminoso de guerra jamais julgado – converteu-se em anos recentes em uma espécie de meme, com várias piadas sobre como ni el diablo lo quiere cerca. Mas a hora enfim chegou, exatamente seis meses após completar o centenário. Um dos obituários, na BBC.
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BOLÍVIA 🇧🇴
Depois de certa enrolação, o Senado brasileiro finalmente aprovou, na terça (28), o projeto que autoriza a adesão da Bolívia como membro permanente do Mercosul. Agora, falta apenas a ratificação por parte do presidente Lula, o que dará início a um prazo de quatro anos para a plena incorporação dos bolivianos no bloco – os demais membros já haviam formalizado essa autorização que só agora passou em Brasília, em um processo iniciado ainda em 2015. Até aqui, a Bolívia tinha um status de país “associado” ao Mercosul, similar ao mantido por Chile, Colômbia, Equador, Peru, Guiana e Suriname, mas agora subirá de patamar para adquirir a mesma capacidade de influenciar decisões já mantida pelo próprio Brasil, pela Argentina, pelo Paraguai e pelo Uruguai (a Venezuela também é oficialmente um membro pleno do Mercosul, mas está suspensa desde 2017). Via Agência Brasil.
CHILE 🇨🇱
Endurecendo outra vez o discurso contra a migração sin papeles, o presidente Gabriel Boric anunciou, na quinta (30), um prazo de cinco dias para que a polícia chilena expulse do país os estrangeiros em situação irregular. A medida se segue a um processo de cadastramento biométrico voluntário de migrantes com situação legalmente opaca, que ao longo deste ano conseguiu reunir os dados de 127 mil pessoas – agora, segundo Boric, quem se negou a participar desse registro corre risco de expulsão a qualquer momento quando for localizado pelas autoridades. Em anos recentes, o Chile recebeu um fluxo de cerca de 1,7 milhão de pessoas, quase metade delas vinda da Venezuela, reacendendo o debate sobre a situação precária vivida pelos migrantes e a associação deles com a crescente violência urbana, pauta que vem mobilizando a direita do país – que cobra a expulsão de 12 mil pessoas até o final deste ano. Via AFP.
COLÔMBIA 🇨🇴
Sem biblioteca nem internet – mas com destaque mundial na educação ambiental. Com um perfil estrutural não muito diferente do que se vê na maioria das escolas de regiões rurais da Colômbia – estudos mostram que quase 80% não têm acesso à rede – a Instituição Educativa Montessori (que, no entanto, não aplica o famoso método italiano de mesmo nome), localizada na cidade de Pitalito, na região de Huila, venceu a concorrência de instituições de ensino de vários países desenvolvidos e se tornou a melhor do mundo em ações de cuidado com o meio ambiente. Com direito a uma ajuda bem-vinda de US$ 50 mil, a premiação foi só mais uma a fazer a pequena escola ganhar repercussão pelas atividades científicas que desenvolve a partir do principal produto da região: o café. Considerando feiras locais e internacionais, a escola já recebeu mais de 30 prêmios e promete seguir ampliando ações ambientais educativas, sempre envolvendo recortes de gênero e discussões sobre desigualdade. Na BBC.
COSTA RICA 🇨🇷
Meses depois, a punição veio: a Federação Costarriquenha de Futebol anunciou na segunda-feira (27) que o técnico Jeaustin Campos deve pagar uma multa de US$ 5 mil e não poderá praticar a profissão pelos próximos seis meses, como pena por proferir ofensas racistas em março contra o atacante jamaicano Javon East, que então atuava sob seu comando no clube Saprissa. Na época, Campos foi prontamente demitido pela equipe que treinava, mas nem a comoção gerada pelo caso e nem o peso da acusação o impediram de seguir trabalhando – logo adiante, ele foi contratado pelo Herediano, outro dos grandes times do futebol local. A punição a Campos teve até reconhecimento da ONU na Costa Rica, que enviou um ofício à Federação afirmando que a medida é “uma ação oportuna para fazer justiça e erradicar qualquer manifestação de racismo na sociedade costarriquenha”, pois “o esporte deve ser um espaço para a inclusão, a boa convivência e o respeito aos direitos humanos”. No Semanario Universidad.
CUBA 🇨🇺
Sanções econômicas impostas pelos EUA “pioram a situação de direitos humanos em Cuba”. Comum saindo da boca de Havana, a frase foi dita, dessa vez, por Eamon Gilmore, enviado especial da União Europeia, que se reuniu com autoridades da ilha na capital cubana no final da semana passada. Dizendo o óbvio na sexta (24), Gilmore ressaltou que o bloqueio “prejudica apenas os cidadãos”, afetando “pessoas comuns que enfrentam dificuldade de acesso a alimentos e medicamentos”. Sem deixar de fazer críticas silenciosas, o assessor europeu também lembrou que a UE prefere “impor sanções contra indivíduos e entidades que abusam dos direitos humanos“ e não “contra a população em geral”. O encontro também acontece num momento de aproximação entre países europeus ocidentais e Cuba, em uma corrida geopolítica que se contrapõe ao interesse russo no Caribe. Gilmore, por fim, também pediu que o governo cubano liberte civis presos durante protestos em 2021. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
Sem surpresas, o presidente Nayib Bukele anunciou durante a semana que se afastará – formalmente – do cargo por seis meses, para “se dedicar à campanha” em que buscará a reeleição. O pedido foi autorizado rapidamente pelo Congresso de maioria governista na quinta-feira (30), que também concedeu licença para o vice Félix Ulloa, aceitando a nomeação de Claudia Juana Rodríguez de Guevara como “designada presidencial” para o período, substituindo os dois em eventos oficiais e outras atribuições menos relevantes do cargo. Bukele, que teve a campanha de reeleição autorizada por um Supremo também encampado por governistas, apesar de uma explícita proibição constitucional a iniciativas do tipo, ainda anunciou durante a semana que seguirá em uma ampla cruzada anticorrupção, que está construindo uma prisão específica para quem for condenado por crimes de colarinho branco e – em uma ação marqueteira – que pediu ao Ministério Público a investigação de todo o seu gabinete de modo a garantir que não há roubalheiras. Na BBC.
EQUADOR 🇪🇨
Mal começou e já tem crise: apenas cinco dias após o país empossar o binômio eleito este ano, o presidente Daniel Noboa já escancara um crescente atrito com sua vice, Verónica Abad. “O presidente me quer longe”, disse Abad, pouco após um decreto assinado por Noboa confirmar a decisão do presidente de enviá-la a Israel para “colaborar com a paz” em meio à violência que ocorre em Gaza. Medida que mais parece uma desculpa para se livrar de uma vice de ocasião, que ajudou o outrora azarão Noboa a formar uma chapa paritária em gênero (uma exigência da lei eleitoral), a nova nomeação parece ser só mais um gesto de desaproximação: ignorada por Noboa em praticamente todas as cerimônias que vieram após a vitória em outubro, Abad foi considerada nociva à própria campanha por frases controversas – como, por exemplo, negar números de violência de gênero e falar de privatizações que não necessariamente estariam na agenda do novo governo. Acordos políticos prévios que levaram à formação do agora governista Ação Democrática Nacional (ADN) também estão entre os temas divergentes entre os dois. Forçada a obedecer ordens presidenciais por questões constitucionais, Abad aceitou o cargo e prometeu “dar a volta por cima”. Em El País.
Leia mais: Noboa promete governo “sem revanchismo”
GUATEMALA 🇬🇹
A ordem judicial que pediu a anulação e reelaboração do infame processo que prendeu o jornalista José Rubén Zamora por acusações de lavagem de dinheiro e outros delitos, todas bastante criticadas, não foi suficiente para encerrar o tempo dele na cadeia. “Meu pai é um preso político há 486 dias”, disse o filho de Zamora, enquanto o pai completava 16 meses atrás das grades na quarta-feira (29). Detido em um caso que gera revolta entre diversas entidades dentro e fora da Guatemala, Zamora é visto como vítima de perseguição judicial no país por reportagens críticas ao governo do presidente Alejandro Giammattei e à atividade da procuradora-geral Consuelo Porras, sancionada internacionalmente por acusação de abusos aos direitos humanos. Na Prensa Libre.
Una palabra:
Perreo – Ouvintes assíduos de reggaeton sabem do que a gente está falando, mas na quarta-feira (29) a Real Academia Espanhola incluiu oficialmente o termo no dicionário: o perreo foi definido como “uma dança executada geralmente ao ritmo do reggaeton, com eróticos movimentos de quadris”. Além disso, acrescenta o verbete, quando a dança é feita em duplas, uma das pessoas costuma se posicionar atrás da outra “com os corpos muito próximos”. Em outras palavras, o perreo seria semelhante às “sarradas” dos bailes funk no Brasil – a diferença é que, no espanhol, o termo remete ao tipo de ato sexual executado por cães, os perros, fazendo com que a tradução literal mais próxima soe como “cachorrada”.
HAITI 🇭🇹
Seis anos após ser preso enquanto participava de um programa de rádio ao vivo, o ex-líder golpista Guy Philippe está de volta ao Haiti. Detido em 2017, pouco após conquistar um mandato de senador no que são até hoje as últimas eleições realizadas no país, Philippe havia sido enviado imediatamente aos Estados Unidos, onde permaneceu desde então cumprindo pena por lavagem de ativos, sendo repatriado nesta quinta-feira (30). No Haiti, porém, a ficha corrida do político vai além dos crimes ordinários, e ele é considerado uma figura central no movimento que levou à derrubada do então presidente Jean-Bertrand Aristide em 2004 – crise que iniciou uma longa intervenção internacional no país, com protagonismo do Brasil. Observadores temem que o retorno de Philippe, outrora um líder carismático com conexões junto à polícia, poderia colocar ainda mais tensão no já conturbado cenário político de um país colapsado, que não sabe o futuro de seu comando a partir de fevereiro – quando, defende a oposição, o premiê Ariel Henry deveria entregar o poder mesmo sem a convocação das tão prometidas eleições, uma visão que não é unânime nem dentro nem fora do país. Via AP.
HONDURAS 🇭🇳
Projéteis de uso policial foram encontrados nos corpos de algumas das vítimas de um massacre ocorrido em junho em uma prisão feminina do país, reforçando as suspeitas de que teria havido conivência – ou mesmo ajuda – de autoridades na matança promovida por integrantes do grupo criminoso Barrio 18 contra aquelas ligadas à gangue rival MS-13. No brutal ataque, 46 detentas foram mortas a tiros ou queimadas vivas, e as investigações mostraram que “96% das balas encontradas pertenciam à polícia”, segundo a vice-ministra de Segurança Julissa Villanueva afirmou em uma entrevista divulgada na quinta-feira (30). “[Isso indica] que deve ter havido uma conspiração em algum momento”, acredita. Via Reuters.
MÉXICO 🇲🇽
Esporádicas boas notícias envolvendo jornalistas sequestrados no país que mais mata gente da categoria: no domingo (26), autoridades do estado de Guerrero, que há anos sofre com as disputas entre cartéis de droga, confirmaram a libertação de três jornalistas que haviam desaparecido na região dias atrás. Encontrados ilesos, os profissionais vinham sofrendo ameaças dias antes da captura, um roteiro conhecido no país – mas que, geralmente, acaba em tragédia. Um relatório da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês) mostra que 11 pessoas morreram no exercício da profissão no país em 2022; já são nove este ano. Mas, como você poderia imaginar, as boas notícias rapidamente deram lugar às notícias de sempre: na mesma semana, autoridades do mesmo estado relataram que pelo menos cinco fotojornalistas haviam sido atacados a tiros, num caso investigado como tentativa de homicídio. El País.
NICARÁGUA 🇳🇮
Enquanto uma nova pesquisa de opinião pública aponta que a maioria dos nicaraguenses está “em desacordo” com a prisão do bispo Rolando Álvarez – ao menos 72%, segundo a CID Gallup, com apenas 9% que acreditam que ele seja “culpado” –, o governo divulgou uma nova imagem do religioso na segunda-feira (27), no que seria uma suposta “cela preferencial”: uma sala relativamente ampla com cadeiras e uma mesa na qual eram vistos alguns alimentos, garrafas d’água e até o controle remoto de uma TV. A cena, porém, seria fabricada: fontes ouvidas pelo portal opositor Confidencial afirmam que o recinto fotografado não passaria de uma sala de visitas da cadeia, e não um local de permanência. Álvarez, que era bispo de Matagalpa, converteu-se em símbolo da guerra aberta do regime orteguista contra membros da Igreja Católica ao se recusar a deixar o país como fizeram outros sacerdotes processados, preferindo voltar à cadeia. Ele foi condenado a 26 anos de reclusão em fevereiro pela vaga acusação de “traição à pátria” que tem sido aplicada a diferentes opositores de Ortega.
PARAGUAI 🇵🇾
O Paraguai assinou um memorando de entendimento sinalizando seu compromisso em fomentar relações diplomáticas e comerciais com a República de Kailasa. O acordo bilateral foi assinado em meados de outubro, mas só veio a público durante a semana, e gerou indignação na população do país sul-americano por uma razão bastante compreensível: Kailasa não existe. A suposta nação, criada por um guru indiano foragido em seu próprio país por acusações de estupro e sequestro, é uma velha figurinha carimbada na política externa e já enganou muita gente (chegou a participar de reunião da ONU antes que se dessem conta), o que aumenta a surpresa com a falta de checagem por parte das autoridades paraguaias antes de se reunir e assinar documentos com os dignitários da “república hindu”. Também não é a primeira vez que Kailasa causa dores de cabeça a um país sul-americano: em 2019, o Equador precisou negar rumores de que havia concedido asilo ao guru Nithyananda, que – segundo relatórios de inteligência – teria comprado uma ilha no litoral do país para estabelecer sua “nação”. Além de embaraçar o governo paraguaio, o episódio lembrou de situações similares ocorridas em outros rincões da América do Sul: no ano passado, a prefeitura de Manizales, na Colômbia, havia anunciado um acordo com “Liberland”, um inexistente país entre Sérvia e Croácia, antes de apagar a postagem nas redes sociais. No Última Hora.
PORTO RICO 🇵🇷
Alvo de disputa antiga, os gatos que povoam o centro histórico de San Juan, capital da ilha, devem mesmo ser removidos no ano que vem. Ao menos, é o que pretende um plano anunciado na terça (28) pelo Serviço Nacional de Parques dos EUA, responsável pela área pública que atrai milhares de turistas todos os anos. Estima-se que cerca de 200 gatos vivam na zona, tendo se tornado símbolo da área, mas também vítimas de violência por quem os considera “pragas”. Agora, as autoridades prometem uma remoção humanizada em um período de seis meses, alegando que os gatos podem transmitir doenças aos visitantes. A ONG Save a Gato (“salve um gato”, em Spanglish mesmo), que há anos luta por um tratamento adequado aos felinos, argumenta que o prazo é pequeno e feito sob medida para a iniciativa fracassar, o que levaria a estratégias mais extremas para se livrar dos bichanos. Enquanto isso, alguns moradores temem que o fim da presença dos gatos poderia levar a uma proliferação de ratos na Cidade Velha, ao passo que outros alegam que os ratos já são abundantes justamente devido à existência dos felinos, em função da quantidade de alimentos que visitantes deixam para eles, mas terminam atraindo os roedores. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
No aguardo do parecer da Organização dos Estados Americanos (OEA). Esta é a nova postura da chancelaria dominicana sobre a disputa em torno do desvio – por cidadãos haitianos – do Rio Massacre, que levou ao fechamento da fronteira entre os dois países em setembro. Roberto Álvarez, o titular da pasta de Relações Exteriores, prestou contas à Câmara dos Deputados em Santo Domingo na quinta-feira (30), afirmando que a situação na divisa com o Haiti agora é “tranquila”, apesar de alguns incidentes que fizeram o país reforçar a presença militar na área. Com a disputa entrando em uma fase mais branda, mesmo sem a normalização das relações, Álvarez também citou a expectativa pela chegada da missão queniana que pretende ajudar a combater as gangues do Haiti, um processo que se arrasta e só deve ter novidades quando a Justiça do país africano deliberar sobre o tema em janeiro. No Listin Diario.
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