🪚 Desmatamento: Colômbia e Brasil lideram redução na América Latina
Novo relatório aponta virada à esquerda em Bogotá e Brasília como fundamental para melhora dos indicadores, mas efeito não é universal: Bolívia e Nicarágua são destaques negativos
Um novo levantamento global publicado na quinta-feira (4) destacou os esforços de Colômbia e Brasil para reduzir o desmatamento de suas florestas. Segundo um monitoramento feito anualmente pelo World Resources Institute (WRI), os dois países cobertos pela floresta amazônica e vizinhos de fronteira viram o ritmo da derrubada de árvores cair de forma impressionante entre 2022 e 2023: 49% na Colômbia e 36% no Brasil.
Destaques não só na América Latina, mas também na comparação com outros países do mundo, as duas nações têm essa melhora atribuída à implementação de novas políticas e a uma fiscalização mais dura, fatores estabelecidos como prioridade pelos dois governos atuais. Em outras palavras, o início das gestões de Gustavo Petro e Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência de cada lado teria representado um papel essencial para a melhora dos indicadores. No caso específico da Colômbia, os números revertem uma tendência que vinha desde 2016: um dos efeitos colaterais dos Acordos de Paz com as (hoje desmobilizadas) FARC, outrora o maior grupo armado do país por quase meio século, foi oincremento na derrubada de florestas, que serviam deesconderijo para os guerrilheiros e depois começaram a ser disputadas por outros grupos com atividades econômicas distintas – como criadores de gado, garimpeiros ilegais e madeireiros.
“Os novos números para 2023 indicam um possível retorno aos níveis de perda florestal prévios ao acordo de paz”, diz o relatório da WRI. A entidade também aponta que as atuais negociações de pacificação com os grupos armados ainda ativos no país por vezes incluem restrições ao desmatamento impostas pelas próprias guerrilhas. É o caso do Estado-Maior Central (EMC), uma dissidência das FARC que ainda não entregou as armas: a célula guerrilheira vem garantindo uma redução no corte de árvores nas áreas em que controla, dizem, como um “gesto pela paz”.
As porcentagens utilizadas pela WRI levam em conta a perda de “floresta primária”, definida como zonas de mata nativa que cresceram sem intervenção humana e não vinham sendo perturbadas na história recente. Um mapa completo e interativo pode ser acessado neste link.
Apesar de uma perspectiva mais positiva, uma redução no ritmo do desmatamento ainda significa que a derrubada segue ocorrendo – e pode continuar em níveis alarmantes, apenas com mais esperança em relação às projeções futuras. No Brasil, por exemplo, o ano de 2023 ainda viu a perda de 1,14 milhão de hectares de floresta primária, segundo o levantamento – só que em 2022, quando a Presidência ainda era ocupada por Jair Bolsonaro, um negacionista climático de carteirinha, esse desmatamento tinha representado 1,77 milhão de hectares.
Os esforços de brasileiros e colombianos também estão sendo acompanhados de forma apenas tímida pelo resto do mundo: globalmente, a redução do ritmo foi muito mais modesta em 2023, na casa dos 9%. O planeta perdeu o equivalente a 10 campos de futebol de floresta a cada minuto no ano passado.
E a própria América Latina tem destaques negativos. Embora a virada à esquerda tenha sido importante para conter o desmatamento nos casos de Petro e Lula, essa correlação entre ideologia e desaceleração nos danos ambientais não se aplica regionalmente. Países com governos nesse lado do espectro político, como Bolívia e Nicarágua, estão entre aqueles que mais acentuaram a derrubada de suas florestas primárias no ano passado.
No caso boliviano, onde as queimadas são a maior preocupação, o ritmo aumentou em 27%. O recente desmatamento boliviano está profundamente ligado à expansão da pecuária – setor que, nos últimos anos, tem disparado suas exportações para a China. Já na Nicarágua, o índice acaba sendo falseado devido a uma queda anômala em 2022, que fez o ritmo praticamente triplicar em 2023 (mas voltar a ser equivalente ao que era em 2021, por exemplo).
Outro dado, porém, ajuda a compreender a dimensão da tragédia centro-americana: em um único ano, os nicaraguenses perderam 4,2% de toda a mata nativa que ainda restava em seu território, a maior perda proporcional ao próprio tamanho no mundo. Na Nicarágua, a perda florestal é impulsionada pelo avanço descontrolado da agropecuária e pela mineração, com empresas estrangeiras acumulando benesses e concessões oferecidas por Manágua – áreas indígenas, tratadas com indiferença pelo regime orteguista, estão entre as mais ameaçadas.
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DESTAQUES
🇲🇽 México vive rompimento diplomático com Equador após presidente fazer insinuações sobre assassinatos eleitorais; embaixada é invadida – O presidente Andrés Manuel López Obrador, para variar, falou demais – e deu início a uma cadeia de eventos que levou a uma gigantesca crise diplomática com o Equador. Em uma das suas tradicionais mañaneras, conferência de imprensa matinal que dá praticamente todos os dias, AMLO afirmou que o assassinato do presidenciável equatoriano Fernando Villavicencio acabou prejudicando a esquerda e criando um cenário que resultou no governo do atual mandatário, Daniel Noboa. “Então, um candidato que fala mal da candidata que estava liderando [a correísta Luisa González] é assassinado. A aí a candidata que estava por cima cai, e o que estava em segundo [Noboa], sobe”, disse o presidente mexicano, em tom de insinuação sobre as possíveis intencionalidades por trás do crime. AMLO fez a fala atravessada tentando comparar o contexto equatoriano ao do México, que também vai às urnas este ano para eleições em todos os níveis (municipal, estadual e federal), buscando tranquilizar quanto aos riscos que os candidatos sofrem no país, embora mais um assassinato em campanha tenha ocorrido nesta semana, o 14º do ciclo eleitoral. Ato contínuo, o Equador declarou, na quinta (4), a embaixadora do México persona non grata, expulsando-a do país. Segundo Quito, o puxão de orelhas não significava um rompimento de relações diplomáticas, mas a situação seguiu escalando em gravidade: na sexta (5), com timing suspeito, o México finalmente concedeu asilo político ao ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas (2013-2017), contra quem pesam duas condenações por corrupção – ele estava refugiado na embaixada mexicana desde dezembro. A reação foi outra vez imediata: nas primeiras horas da madrugada de sábado (6) no horário de Brasília, policiais equatorianos invadiram a embaixada do México em Quito, após o governo local definir o asilo concedido a Glas como "ilegal". Responsável pelos trabalhos diplomáticos na capital andina após a expulsão da embaixadora, o encarregado de negócios Roberto Canseco denunciou ter sido agredido fisicamente e criticou a operação das forças equatorianas: "são delinquentes. Isso é inaceitável". Segundo Canseco, Glas foi removido à força do edifício e levado sob custódia policial. Imediatamente após o episódio, AMLO se manifestou nas redes sociais dizendo que orientou sua chanceler a iniciar os trâmites para (agora sim) suspender as relações diplomáticas com o Equador. A crise continua se desenrolando na madrugada que se segue ao fechamento desta edição do GIRO.
🇦🇷 Milei é alvo de novos protestos após demitir 15 mil funcionários públicos e militarizar repartições – Cumprindo promessas de enxugar a máquina pública a qualquer custo, fruto de seu discurso de total criminalização do Estado, o presidente Javier Milei mais uma vez se tornou alvo de massivos protestos após confirmar (sem aviso prévio) na quarta-feira (3) a demissão de pelo menos 15 mil funcionários públicos – somados a outros 9 mil postos de trabalho eliminados este ano, o número de dispensas já chega a 24 mil. As últimas decisões desataram uma onda de manifestações dentro do setor público, impulsionadas pelas fortes centrais sindicais, que já prometem grandes mobilizações nas comemorações do Dia do Trabalhador, em 1º/5. Os cortes afetaram diversos setores, de órgãos de tecnologia e desenvolvimento social a entidades defensoras dos direitos humanos. Para além das demissões, a imprensa local relatou que diversos escritórios e ministérios passaram a semana sob um grande contingente de policiais militares, outra marca do criticado governo Milei. No Página 12 e El País.
🇸🇻 Entidades de direitos humanos denunciam ao menos 241 mortos sob custódia do Estado em cruzada de Bukele contra gangues – Números novos para um problema conhecido: segundo denúncias da ONG Socorro Jurídico Humanitário (SJH) conhecidas na quarta-feira (3), pelo menos 241 pessoas teriam morrido em prisões salvadorenhas desde o início da infame “guerra às gangues” promovida pelo governo de Nayib Bukele. Representantes da entidade alegam que receberam denúncias de mais de 500 casos de mortes sob custódia – mas que apenas metade foram confirmados, incluindo óbitos de dois menores de idade. “Destes casos fatais, 44% foram fruto de morte violenta ou tortura grave e 29% por falta de cuidados médicos”, diz a organização em um relatório. De acordo com a SJH, a onda de encarceramento em massa promovida pelas forças de segurança do país também teria levado à prisão arbitrária de mais de 26 mil pessoas sem vinculação com o crime. No El Mundo.
🇵🇪 ‘Rolexgate’: como relógios de luxo geraram ampla investigação contra a presidenta do Peru – Na madrugada do último sábado (30), a presidenta Dina Boluarte se tornou alvo de busca e apreensão por omitir a posse de relógios de luxo avaliados em até US$ 14 mil. Fruto de uma investigação por enriquecimento ilícito aberta pelo Ministério Público no final de março – quando reportagens mostraram a mandatária com diferentes itens caros ao redor do pulso, sobretudo após tomar posse em dezembro de 2022 – a operação contou com dezenas de agentes e revirou a casa de Boluarte e o Palácio Presidencial, ambos em Lima. Enfurecida, a presidenta criticou uma missão que chamou de “inconstitucional e discriminatória”, dizendo em um pronunciamento à nação que agentes agiram de forma “abusiva e desproporcional”. Pouco adiantou: horas depois, no mesmo sábado, procuradores negaram em nota qualquer tipo de violação, convocando a presidenta a “apresentar os relógios e a dar esclarecimentos” na sexta (5). A trama também espirrou na política interna: no contexto do Rolexgate, o partido Perú Libre, do qual a própria Boluarte já fez parte ao lado de seu ex-companheiro de chapa Pedro Castillo (destituído do cargo e preso em 2022 após tentar dissolver o Congresso), entrou com um novo pedido de destituição contra a presidenta. Terceira tentativa parlamentar de derrubar Boluarte desde sua posse, a mais nova moção de vacância por “incapacidade moral” (artifício legal vago e polêmico que já derrubou presidentes no passado) precisaria de algo que as duas primeiras medidas não conseguiram: votos suficientes no Congresso para aprovação, algo que novamente não foi obtido. Tudo ficaria ainda mais tenso na segunda-feira (1º), quando seis ministros renunciaram em meio aos escândalos. Mas, apesar de todas essas pressões, não é certo que o Legislativo vote para derrubar a presidenta, mantendo uma espécie de pacto de silêncio que permita ao governo impopular ao menos chegar às eleições presidenciais de 2026 – parlamentares inclusive aprovaram o novo gabinete ministerial, abaixando a poeira. Negando todas as irregularidades e garantido que não renunciará, Boluarte, caso seja indiciada, também só poderia ser julgada após o fim do seu mandato daqui a dois anos.
🇻🇪 Maduro “anexa” Essequibo oficialmente, mas ninguém reconhece – A “Lei Orgânica para a Defesa de Essequibo”, instrumento que cria o estado da “Guiana Essequiba” como parte da Venezuela, foi assinada pelo presidente Nicolás Maduro na quarta-feira (3). Em termos oficiais, agora a legislação venezuelana reconhece a zona disputada com a República Cooperativa da Guiana como parte do próprio território nacional – uma resposta a um polêmico referendo realizado pelo governo chavista no final do ano passado, em que os participantes concordaram em incorporar Essequibo à Venezuela. A treta é muito antiga, mas voltou à tona em anos recentes com Maduro insistindo no assunto. Com a nova lei, mapas da Venezuela produzidos no país não podem mais deixar de incluir a “Guiana Essequiba”, considerada o 24º estado da nação bolivariana. Também são esperadas provisões de Caracas para que qualquer morador da área possa obter a cidadania venezuelana, caso deseje. Apesar da lei, uma coisa é certa: na prática, nada muda. A Guiana voltou a enfatizar que não entregará seu território à Venezuela, e não parece haver disposição de Maduro – pelo menos por enquanto – de embarcar em uma aventura militarista para realmente tentar anexar a zona pleiteada desde o século 19. Irfaan Ali, o presidente guianense, vale destacar, ganhou fama nas últimas semanas por seu discurso decolonial defendendo a soberania do país sobre seu território e seus recursos. No G1.
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REGIÃO 🌎
Semana meio azeda para os brasileiros (mas não todos) nas principais competições sul-americanas de futebol masculino: atual campeão da Copa Libertadores, o visitante Fluminense ficou apenas no empate contra os peruanos do Alianza Lima – famosos por raramente vencer – no grupo A, enquanto o São Paulo, que foi à Argentina enfrentar o Talleres pelo grupo B, perdeu por 2 a 1. Tristeza também para os outros derrotados da rodada: poupando titulares para a final do estadual no sábado (6), onde busca repetir um heptacampeonato consecutivo que só conquistou nos anos 1960, o Grêmio sucumbiu diante do The Strongest, na altitude de La Paz, por 2 a 0. A derrota mais feia ficou para o Botafogo, que chegou a estar perdendo por 0 a 3 em casa para os faceiros colombianos do Junior Barranquilla; os cariocas diminuíram ainda no primeiro tempo, dando uma vaga ilusão de reação, mas não evitaram o revés: nada fizeram no segundo tempo e perderam mesmo por 3 a 1 – dando a sensação de que, se esse mesmíssimo cenário se desenrolasse ao contrário, a virada aconteceria, como se viu algumas vezes no último Campeonato Brasileiro. Também forasteiros, os badalados Flamengo e Palmeiras voltaram de Colômbia e Argentina, onde enfrentaram Millonarios e San Lorenzo, respectivamente, com um 1 a 1 na bagagem cada. Fechando a participação brasileira na principal competição, o Atlético Mineiro viajou a Caracas e obteve o único resultado realmente favorável para o país na primeira rodada: um acachapante 4 a 1 que ninguém botou defeito. Já na Sul-Americana, o segundo escalão do continente, Red Bull Bragantino, Athletico e Fortaleza venceram seus jogos, enquanto Cuiabá, Corinthians, Cruzeiro e Internacional ficaram no empate. No GE.
Fora da esfera dos resultados esportivos, dois episódios lamentáveis: o menos comum aconteceu no interior da Argentina, que na noite de quinta (4) viu o jogo entre o mandante Rosario Central e os uruguaios do Peñarol acabar em violência: lateral do time visitante, Maxi Olivera foi atingido por uma pedra, supostamente arremessada por torcedores do Central, e acabou gravemente ferido no rosto. O jogador teria chegado a desmaiar no vestiário, segundo relataram integrantes da comissão técnica uruguaia. A partida acabaria com vitória simples dos donos da casa, ao passo que torcedores de vários clubes usaram as redes para cobrar punições severas à torcida rosarina – ou mesmo ao clube. Incidentes entre as torcidas dos dois times já tinham sido registrados nas arquibancadas horas antes do começo da partida. Já na capital portenha, algo igualmente repudiável, mas infelizmente corriqueiro, também ganhou destaque: um dia antes, torcedores visitantes do Palmeiras foram alvos de gestos racistas por parte de uma torcedora do San Lorenzo. As cenas escabrosamente comuns (em diferentes países que participam de competições sul-americanas) também geraram repúdio, levando o clube argentino a se desculpar publicamente. A Conmebol, autoridade máxima do futebol do subcontinente, não havia determinado punições a nenhum dos dois clubes até o fechamento desta edição.
BOLÍVIA 🇧🇴
De volta para casa: na quinta-feira (4), um grupo com 69 cidadãos bolivianos que viajava rumo à Espanha portando passaportes e outros documentos falsos foi submetido às primeiras etapas de processos de deportação. Os latino-americanos, que pretendiam se estabelecer em diferentes cidades espanholas para buscar melhores oportunidades de trabalho, navegavam em um cruzeiro que partiu do Brasil em direção a diversos destinos no Mediterrâneo, onde pretendiam desembarcar. O barco chegou a ficar retido em Barcelona por dois dias devido à presença irregular dos bolivianos, causando um transtorno que mobilizou a polícia local, autoridades migratórias, advogados e representantes consulares do país andino. Entre as 69 pessoas identificadas, 16 são menores de idade, segundo informações da imprensa local. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
De olho nas mudanças climáticas, o maior supercomputador do Chile trabalha sem parar para estudar dados de temperatura e biodiversidade ao longo do comprido território nacional, com foco especial em zonas austrais como Punta Arenas e a parcela da Antártica mais próxima do país. Conhecido como Guacolda-Leftraru, o supercomputador instalado no Laboratório Nacional de Computação de Alto Rendimento (que usa a sigla em inglês NLHPC), na capital Santiago, produziu – só no último estudo – dados equivalentes a 2 milhões de folhas de papel, que se estenderiam por 1,2 mil quilômetros se fossem enfileiradas. A reportagem da Biobío conta mais sobre a tecnologia e o que ela busca analisar.
COLÔMBIA 🇨🇴
Por meio de dois decretos, a prefeitura de Medellín impôs na segunda-feira (1º) uma restrição de seis meses a qualquer tipo de “demanda ou solicitação de serviços sexuais” em áreas turísticas da cidade, numa tentativa de combater casos de exploração sexual de menores. A decisão do prefeito Federico Gutiérrez vem após um escândalo envolvendo um turista estadunidense, detido após levar duas meninas, de 12 e 13 anos, para um motel no bairro de El Poblado, uma conhecida zona boêmia no coração da cidade. A gestão de Gutiérrez também estabeleceu uma série de limites de horário de funcionamento para bares da região. Ainda que o problema seja grave e antigo, as medidas desagradaram as trabalhadoras do ramo. Segundo o Sindicato das Trabalhadoras Sexuais de Antioquia (Sintrasexa), há um risco do problema ser apenas “deslocado para partes mais marginalizadas da cidade”, no limite até aumentando os riscos desse tipo de violência acontecer. “Rejeitamos os crimes de exploração sexual e comercial de todas as crianças e adolescentes (...) mas nós, como organização social, não temos culpa deste crime. Esta ação é punitiva, criminalizante e persegue as pessoas que exercem esse serviço”, disseram à Blu Radio.
COSTA RICA 🇨🇷
Recorde histórico: pelo menos segundo os dados do Banco Central da Costa Rica (BCCR), nunca antes turistas estrangeiros gastaram tanto em suas viagens por terras ticas como em 2023: foram mais de US$ 4,7 bilhões apenas no último ano. Assim, as receitas cambiais provenientes do turismo ultrapassaram os números registrados antes da pandemia, em 2019, quando os ingressos ficaram um pouco abaixo dos US$ 4 bilhões. A série histórica se inicia em 1999. Diretor de Desenvolvimento e Planejamento Turístico do Instituto de Turismo, Rodolfo Lizano explica a recuperação com dois fatores: primeiro, a permanência prolongada dos viajantes pelo país, “o que acarreta maiores gastos durante toda a estadia”; além disso, destacou que a entrada de turistas por via aérea representou 90% das chegadas, “o que influenciou no resultado positivo em termos de divisas”. Considerando impactos diretos e indiretos, o turismo representa mais de 8% do PIB da Costa Rica, segundo dados oficiais. No Nación.
CUBA 🇨🇺
Nada feito: dias após uma reportagem acusar o governo russo de estar por trás da chamada “Síndrome de Havana” (nome de um suposto ataque sônico misterioso, e jamais comprovado, que teria afetado a saúde de funcionários da embaixada estadunidense na capital cubana anos atrás), o Kremlin negou qualquer participação de órgãos de inteligência do gigante eurasiático. Em um pronunciamento na segunda (1º), o governo disse por meio de um porta-voz que o assunto por anos foi tratado de forma “exagerada” pela imprensa e que, desde os primórdios da teoria conspiratória, “foi vinculado a acusações contra o lado russo”. Segundo Moscou, porém, “ninguém nunca publicou ou expressou evidências convincentes sobre essas acusações sem fundamentos”. Com um inevitável pano de fundo geopolítico, as questões envolvendo o governo de Vladimir Putin e seus aliados em Cuba ganharam maior destaque nos últimos anos, em meio a um clima de intensa aproximação entre os dois países – tudo enquanto Rússia e Ucrânia seguem em guerra.
EQUADOR 🇪🇨
Ano novo, problema antigo: depois de viver em 2023 o ano mais violento de sua história pelo avanço do crime organizado, o Equador vê o problema se repetir em 2024. Apenas durante as festividades da Semana Santa, autoridades registraram 137 mortes violentas – o número, no entanto, não chega aos 167 homicídios computados no mesmo período em 2023. Ainda que o governo de Daniel Noboa garanta que a violência ande em baixa – com uma redução de 26% nos homicídios durante as 18 semanas sob o novo presidente – a sensação geral de insegurança se mantém, a despeito de um número maior de policiais nas ruas. Massacres também seguem aterrorizando os equatorianos, principalmente nas regiões costeiras, o epicentro da crise: apenas na noite do último sábado (30), um único episódio brutal na convulsionada Guayaquil deixou nove mortos e 10 feridos. A crise na segurança pública será o centro de um referendo nacional no final do mês. No Primicias.
GUATEMALA 🇬🇹
Um acidente durante uma encenação da crucificação de Jesus Cristo, na última Sexta Santa (29/3), acabou rendendo um vídeo viral na Guatemala: o ator sofreu uma descarga elétrica quando a cruz em que estava encostou em um cabo de energia em Colomba, município de 50 mil habitantes 200 km a oeste da Cidade da Guatemala. Apesar da cena aterrorizante, que provocou reações desesperadas nos presentes, tudo não passou de um susto: levado a um hospital pelos bombeiros, o homem de 24 anos sofreu queimaduras, mas não corria risco de morte, segundo a imprensa local. No UOL.
HAITI 🇭🇹
Enquanto o Conselho de Transição Presidencial (CTP) – criado para traçar algum rumo eleitoral para o país institucionalmente acéfalo – caminha em ritmo de Pangeia, o noticiário haitiano segue com os dramas de sempre. A semana começou com um ataque armado ao Palácio Nacional, com vários funcionários feitos reféns e pelo menos cinco policiais feridos após um embate com grupos armados. Episódios assim compõem um quadro de violência urbana com efeitos mais amplos: segundo um relatório da ONU publicado na terça (2), mais de 53 mil pessoas fugiram da capital Porto Príncipe em três semanas, a grande maioria escapando da convulsão vista nas ruas – mais de 60% dos que fazem parte desse grupo se deslocaram para regiões rurais ao sul. O êxodo não é fácil: à reportagem do Haitian Times, ex-moradores da capital relatam dificuldades de viver uma nova rotina longe do coração do Haiti: “sinto-me um estranho no meu próprio país”, revela Paul Petit Franc, um cidadão de 22 anos que há sete meses fugiu para a cidade de Cap-Haïtien com a família.
Un nombre:
Osama Vinladen – “O nome do meu irmão é Sadam Huseín e meu pai queria dar ao terceiro filho o nome de George Bush, mas era uma menina [por isso, virou Georgia Bush]”. A explicação é tão cômica quanto vazia de motivos: escolhido apenas por ser popular na época, o nome do jogador peruano Osama Vinladen (com V pelo som do B no castelhano) Jiménez López, nascido um ano após o atentado às torres gêmeas, voltou a viralizar durante a semana entre internautas latino-americanos. Para Osama, como o jogador do Club Deportivo Unión Comercio (1ª divisão) se identifica na camisa, tudo era estranho no começo, mas foi deixando de ser com o tempo: “Pensei em mudar, mas agora estou tranquilo”, disse a jornalistas em 2020. Apesar de aparentemente já lidar bem com a questão, o jovem não levou a tradição familiar adiante, contrariando o pai e batizando o filho com um nada chamativo “Santiago”. Sem uma rígida lei de nomes (como na Argentina) que impeça batismos inusitados, o Peru “também tem um Hitler”, lembrou Osama Vinladen em entrevista, provavelmente sem saber que, na verdade, não existe um, mas nada menos que 2.349 peruanos com o nome que lembra o do líder nazista, inclusive um atual deputado do país, o congressista Hitler Saavedra.
HONDURAS 🇭🇳
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) condenou na segunda (1º) o Estado hondurenho pela “destituição arbitrária” de quatro dos cinco juízes da Sala Constitucional da Suprema Corte em Tegucigalpa, em 2012. Citando um problema pelo qual a vizinha Guatemala ficou bastante conhecida nos últimos anos, o tribunal multilateral amparou a condenação citando “a responsabilidade internacional” de Honduras “pela violação das garantias judiciais, dos princípios da legalidade e da independência judicial, bem como de direitos políticos, da proteção judicial, da estabilidade no emprego e da integridade pessoal” dos envolvidos. Muito além de uma mera trama no Judiciário, as manobras que levariam a tais demissões foram obra do então presidente Porfirio Lobo (2010-2014), e contaram com o apoio do então chefe do Congresso, Juan Orlando Hernández, justamente quem sucederia Lobo nos dois mandatos presidenciais seguintes – “JOH”, como é conhecido, está preso nos EUA, onde foi declarado culpado por crimes de narcotráfico. Após a dissolução repentina, juízes aliados de Lobo e Hernández acabariam ocupando as cadeiras da Suprema Corte, algo visto como crucial para a aprovação da reeleição, até então proibida pela Constituição – JOH seria beneficiado pela mesma medida, reeleito sob denúncias de fraude em 2017. Em La Prensa Gráfica.
NICARÁGUA 🇳🇮
A própria Nicarágua já abandonou a Organização dos Estados Americanos (OEA) há cinco meses, mas a entidade não desistiu completamente do país centro-americano: foi criado na quarta-feira (3) um “grupo voluntário” para seguir monitorando a situação sob o governo de Daniel Ortega. O novo braço da OEA é “aberto à participação de todos os Estados-membros”, mas, embora indique que o organismo segue interessado no que acontece na Nicarágua, também representa um recuo: ele substitui um Grupo de Trabalho instituído em 2018, quando começou a escalada repressiva do orteguismo, e que tinha caráter mais oficial dentro da entidade. Via AFP.
PANAMÁ 🇵🇦
Ao lado da vizinha Colômbia, o Panamá falha “na proteção e assistência efetiva a centenas de milhares de migrantes e solicitantes de asilo que transitam pelo Estreito de Darién”. É o que declarou a organização Human Rights Watch (HRW) em um novo relatório de 110 páginas publicado na quarta-feira (3), trazendo novos números e alertas sobre a desesperadora situação migratória no trecho selvático (que é mais panamenho do que colombiano) entre as Américas do Sul e Central. “Mais de meio milhão de pessoas, incluindo 113.000 crianças, cruzaram o Estreito de Darién em 2023. As autoridades panamenhas estimam que o número [...] deverá ser ainda maior em 2024. Mais de 1.500 pessoas relataram violência sexual desde 2021”, diz a entidade, pedindo que autoridades dos dois países “impeçam a atuação de grupos criminosos e delinquentes, conduzam investigações criminais e garantam o acesso a alimentos, água e serviços básicos de saúde”. Ao lado dos EUA, objetivo final da maioria dos cidadãos que atravessa Darién, os governos de Panamá e Colômbia tentaram unir forças para reverter a situação, mas houve poucos avanços – e até um bate boca entre autoridades. No site da HRW.
PARAGUAI 🇵🇾
Aos 87 anos, faleceu, no último sábado (30/3), o jornalista Martín Almada, responsável por trazer à tona documentos secretos da repressão política cometida durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). No final de 1992, com apoio do Ministério Público e de alguns políticos, Almada participou pessoalmente de uma devassa nos arquivos da polícia paraguaia, revelando o que ficou conhecido como “Arquivo do Terror”: provas de mortes e desaparecimentos de opositores políticos durante o regime stronista. Os dados publicados por Almada também ajudaram a reconstituir o quebra-cabeça da Operação Condor, amplo projeto de repressão transnacional levado a cabo pelas ditaduras sul-americanas (amparadas por órgãos de inteligência dos EUA) durante os anos 1970 e 1980. Ele próprio um ex-prisioneiro político, Almada ganhou em 2002 o Right Livelihood Award, prêmio concedido pelo Parlamento sueco para ativistas de diversas áreas, que ganhou a alcunha de “Nobel Alternativo”. No F24.
PORTO RICO 🇵🇷
Em plena campanha eleitoral, o governador Pedro Pierluisi anunciou, na terça (2), que o próximo orçamento da ilha será o maior da história: estão previstos US$ 14 bilhões em investimentos para ajudar a população idosa do território, combater a criminalidade e ampliar programas de energia solar – um tema sensível diante dos sucessivos apagões vividos por Porto Rico desde que a distribuição elétrica foi privatizada, em 2021. Pierluisi, que busca a reeleição, antes precisa enfrentar primárias no próprio partido em 2/6, para só então concorrer nas eleições reais, que ocorrem em paralelo às dos EUA (país ao qual a ilha é um território livre associado), em 5/11. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Um crime misterioso que mostra o nível de violência… dos EUA. Luis Alfredo Pacheco Rojas, filho de Alfredo Pacheco, presidente da Câmara dos Deputados da República Dominicana, foi morto a tiros na segunda (1º) depois de sair de uma loja de conveniência no Texas com outras três pessoas. Suspeita-se que a morte do filho do conhecido político tenha sido fruto de uma ação premeditada, uma vez que o veículo em que Luis Rojas estava foi alvo de uma emboscada, sendo interceptado por três homens armados. Autoridades, no entanto, especulam que o filho do parlamentar não tenha sido o principal alvo do ataque, ainda que só ele tenha morrido – apenas um outro ocupante do carro, que portava uma arma, ficou ferido; os outros dois saíram ilesos. A polícia investiga o caso. No Listín Diario.
URUGUAI 🇺🇾
O presidente uruguaio Luis Lacalle Pou segue sendo o mais bem pago da região – em números absolutos –, segundo um novo levantamento do portal Bloomberg Línea, que anualmente atualiza a contagem. De acordo com o veículo, a remuneração oficial recebida pelo mandatário uruguaio supera a casa dos US$ 22 mil brutos por mês (cerca de R$ 112 mil), embora praticamente metade do valor seja retido em impostos e contribuições previdenciárias. Em outra métrica, que considera o quanto a remuneração presidencial vale em salários mínimos do próprio país, o líder uruguaio passa ao segundo lugar: o dinheiro bruto recebido mensalmente equivale a 40 vezes o menor salário autorizado pela lei local, atrás do guatemalteco Bernardo Arévalo, que ganha 46 vezes o salário mínimo de sua nação (mas US$ 19 mil em números absolutos). No extremo oposto da lista, o menor salário presidencial bruto é registrado na Bolívia, onde o contracheque de Luis Arce indica um valor equivalente a pouco mais de US$ 3 mil (R$ 15 mil) por mês. Na Folha.
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