Covid-19: começa vacinação na América Latina
Região tem recorde diário de novos casos na pandemia | Ex-governador mexicano é assassinado | Vídeo: a legalização da maconha na América Latina | Gráfico: como ficou o IDH latino em 2020
A terapeuta respiratória Yahaira Alicea fez parte da história duas vezes em 2020. Em março, tratou os dois primeiros pacientes hospitalizados com covid-19 em Porto Rico; em dezembro, tornou-se a primeira pessoa a ser vacinada contra a doença – sem ser parte de um teste clínico – em solo latino-americano. O momento que marcou uma luz de esperança para a região aconteceu na terça-feira (15), um dia após a ilha caribenha receber milhares de doses do imunizante produzido pela Pfizer. “É isso que queremos, que esta pandemia termine”, disse Alicea pouco antes da injeção. “Não tenham medo”. Até sexta, mais de 17 mil pessoas já haviam sido vacinadas em Porto Rico.
O pioneirismo porto-riquenho em relação aos demais países da região acabou vindo, precisamente, do fato de Porto Rico não ser um país independente, mas um estado livre associado aos EUA (explicamos melhor esta relação no Giro Latino Cast #12), onde a vacinação também começou nos últimos dias. Mas outros latino-americanos já se preparam para receber suas primeiras doses ainda em dezembro, com a expectativa de aplicá-las em seguida: na sexta passada (11), o México já havia se tornado o primeiro latino-americano a aprovar oficialmente (em caráter emergencial) um imunizante junto a sua agência regulatória, movimento depois seguido pela Costa Rica, que também segue as diretrizes aprovadas nos EUA. Entre terça e quarta-feira, Equador e Chile se converteram nos primeiros da América do Sul a autorizar a vacina. Em todos os casos, trata-se daquela elaborada pela Pfizer.
Entre os andinos, o Peru é quem vive situação mais delicada. Ocupando a triste posição de nação com maior taxa de mortalidade por milhão de habitantes, o país suspendeu temporariamente os ensaios clínicos da vacina da chinesa Sinopharm, após um dos voluntários apresentar problemas neurológicos. O governo agendou reuniões para os dias finais de dezembro para propor alternativas. A Argentina, que considerou as exigências da Pfizer “pouco aceitáveis” em um debate que envolve questões legais, está em tratativas com Moscou para obtenção da Sputnik V, a “vacina russa”, e diz que as primeiras doses devem chegar até a próxima quarta-feira (23).
A expectativa de alívio trazida pelas vacinas contrasta com uma semana que acabou trazendo recordes negativos para a região. Se em março a hoje vacinada Yahaira Alicea inaugurou os tratamentos em Porto Rico cuidando de um casal italiano que havia chegado em um cruzeiro – a mulher viria a falecer –, muitos meses mais tarde a contaminação generalizada do vírus é uma realidade sombria e que não parece ter fim, na ilha e na América Latina como um todo. Na região, são mais de 14,5 milhões de casos e 482 mil mortes oficialmente registrados desde o início da catástrofe humanitária. Na quinta-feira (17), mais de 116 mil casos fizeram do dia aquele com mais contágios em toda a pandemia, e a semana fechou com 606.550 novos casos, segundo maior número em sete dias em toda a pandemia, atrás apenas da semana encerrada em 14/8. Você pode ler nosso levantamento semanal completo clicando aqui.
Ainda são muitas as incertezas sobre as campanhas de vacinação mesmo nos locais mais avançados da América Latina. Dúvidas sobre a eficácia das vacinas, quais laboratórios terão o imunizante mais confiável, quantas doses (e quando viriam) serão acessíveis para nações periféricas que disputam o mesmo produto cobiçado por EUA e Europa. A própria estrutura para distribuir algumas vacinas pode ser um desafio. As baixíssimas temperaturas exigidas para conservar as doses produzidas pela Pfizer, por exemplo, já preocuparam muitas lideranças – mesmo onde há os freezers necessários, como ocorreu em Porto Rico, persistem outras incertezas: em uma ilha onde os apagões são frequentes, qual o plano para não perder as vacinas em uma eventual falha no fornecimento de energia?
No Brasil, seguindo a tendência de respostas pífias que marcou a ação do governo federal durante toda a pandemia, os planos de vacinação nacional se arrastam e o país já é deixado para trás pelos vizinhos. Na quinta (17), emergiram denúncias de que Jair Bolsonaro vem sendo adestrado pelo lobby de grandes empresas britânicas desde 2018, o que poderia explicar parte da persistência do Planalto em investir apenas na chamada vacina de Oxford, produzida pela AstraZeneca (uma das corporações lobistas), cuja eficácia vem sendo posta em dúvida conforme novos resultados são divulgados.
Outro país que segue às escuras em relação ao seu plano nacional de imunização é a Nicarágua. Como relatado ao longo do ano por este GIRO, o país se destacou negativamente por contar com uma administração negligente, o que, inclusive, forçou a sociedade civil a se mobilizar para trazer números mais confiáveis da pandemia. Agora, o governo do presidente Daniel Ortega diz que, apesar da crise, conta com US$ 107 milhões disponíveis para a compra de vacinas. Mas não será tão simples: a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) já alertou que orientará o governo em Manágua para que o processo seja feito de forma “adequada”. Autoridades de saúde também agem com reservas, uma vez que o país não conta com a estrutura de refrigeração exigida por alguns imunizantes, como mencionado acima.
Mesmo que tudo corra bem, especialistas sugerem cautela nos planos para 2021. É provável que grande parte da população nas nações latino-americanas não tenha acesso à vacina durante o próximo ano. Quase sem exceção e diante de um número inicialmente limitado de doses, os planos priorizam profissionais de saúde e a parcela da população com mais alto risco de desenvolver formas graves da covid-19, em especial os idosos. Até lá, máscara e distanciamento continuarão entre as recomendações inescapáveis dos médicos.
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Un sonido:
REGIÃO 🌎
Todos os líderes latino-americanos, por fim, passaram a reconhecer a vitória de Joe Biden nos EUA. Os últimos da fila foram o mexicano López Obrador – que havia decidido “esperar” os desdobramentos, no que especialistas apontam como um afago a Trump – e Jair Bolsonaro, que abriu mão do discurso infundado de “fraude eleitoral” e congratulou o sucessor de seu aliado republicano. O brasileiro foi o último líder do G20 a formalmente reconhecer o resultado das eleições. Os demais mandatários da região, por outro lado, já haviam se pronunciado há um mês, imediatamente após a vantagem de Biden chegar a um patamar irreversível, como explicado no GIRO #56.
Ser o edifício mais alto da América do Sul. Esta é a promessa feita por um improvável empreendimento brasileiro de 91 andares que teve sua construção autorizada nesta quinta (17). Onde? É aí que a história se torna menos crível: na pequenina Taquara, cidade gaúcha de 57 mil habitantes a 75 km de Porto Alegre. Se o quixotesco projeto for concluído, o prédio terá 304 metros de altura, superando o recorde sul-americano que hoje pertence à Gran Torre (também conhecida pelo nome de seu mirante, Sky Costanera) de Santiago do Chile, com exatamente 300 metros. Na GZH.
A Cepal, Comissão Econômica para América Latina e Caribe, melhorou suas projeções para o PIB da região, tanto em 2020 quanto em 2021. Agora, a entidade prevê uma queda geral de “apenas” 7,7% na economia latina (antes, eram 9,1%) e uma recuperação de 3,7% no ano que vem. Mesmo reduzindo o pessimismo, a Cepal aponta que a contração histórica é a maior desde o início dos registros, em 1900. Via Reuters.
ARGENTINA 🇦🇷
Buscando alternativas ao Fundo Monetário Internacional (FMI), com quem já mantém grande (e frequentemente renegociada) dívida, o governo argentino já mira novas fontes de empréstimo para 2021. De acordo com fontes ligadas ao governo Alberto Fernández ouvidas pela Bloomberg, o país deve buscar em torno de US$ 5 bilhões junto ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O plano, porém, ainda está nas discussões iniciais. No Infobae.
Menos de um mês após a morte do lendário Diego Armando Maradona, no último 25/11, seu inventário e os valores deixados aos herdeiros ainda são desconhecidos. Mas a revelação da existência de um contêiner nos subúrbios de Buenos Aires ajudou a dar uma dimensão do “tesouro” conservado pelo ex-futebolista – se não em termos de dinheiro, pelo menos no que diz respeito à memória e ao valor sentimental. No depósito, ainda lacrado, estariam conservadas peças raras da carreira e vida íntima do craque, incluindo chuteiras, camisetas acumuladas ao longo dos anos, um violão recebido do músico Andrés Calamaro e até mesmo uma carta assinada por Fidel Castro, amigo pessoal de Maradona. Via Reuters.
O ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), hoje com 90 anos, sofreu uma complicação cardíaca nesta sexta (18) e permanecia internado em estado delicado até o fechamento desta edição. Menem havia ingressado no Sanatorio Los Arcos, em Buenos Aires, na terça-feira, por conta de uma infecção urinária. Os médicos cogitaram dar alta neste final de semana, para que o velho político pudesse passar o Natal em casa com a família, mas o novo problema de saúde mudou os planos. No Página 12.
Un video:
BOLÍVIA 🇧🇴
Rodou o mundo um vídeo em que o ex-presidente Evo Morales (2006-2019) aparece sendo atingido por uma cadeira de plástico, em evento de seu partido, o MAS, na região do Chapare, velho reduto eleitoral de Evo. Na ocasião, que discutia a escolha de candidatos para as eleições municipais de 2021, partidários de Evo teriam discordado das possíveis nomeações, o que levou a um tumulto, aos gritos de “renovação”. O partido, porém, contesta essa versão: segundo o senador masista Leonardo Loza, o agressor seria um “infiltrado” ligado à direita que articulou o golpe em 2019. Na BBC.
A Justiça encerrou de vez o processo por fraude contra Evo Morales, que desde o último ano vinha sendo acusado formalmente de manipular as eleições presidenciais que venceu em 2019. Segundo decidiu a juíza Claudia Castro, a anulação se estende ao então vice de Evo, Álvaro García Linera, e também aos ministros do antigo governo. O processo foi aberto à época por Carlos Mesa, também ex-presidente e principal adversário dos governistas nas últimas eleições. A oposição criticou a decisão, dizendo que o MAS age de forma inconstitucional. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
Os povos originários do Chile terão mesmo direito a 17 assentos reservados (de um total de 155) na futura Assembleia Constituinte do Chile. Como contamos no GIRO #60, essa proposta havia sido apresentada para votação em plenário, sendo finalmente aprovada pelas duas casas do Congresso durante a semana. Outra ambição da ala progressista, porém, acabou derrotada: mesmo com o pedido sendo por um único assento, não haverá lugar reservado para afrodescendentes, que só poderão fazer parte da convenção constitucional concorrendo na eleição geral. Os membros da Constituinte serão escolhidos pela população em abril de 2021. Na Biobío.
O ministro de Defesa, Mario Desbordes, deixou o cargo na sexta (18), em uma tentativa de recuperar o terreno perdido na corrida presidencial de 2021: pré-candidato, Desbordes vem mal nas pesquisas prévias da coalizão conservadora Chile Vamos, que tenta emplacar um sucessor para Sebastián Piñera, que não pode concorrer à reeleição. Nomeado para a pasta em julho, Desbordes ficou apenas 4 meses e 17 dias no cargo, sendo o titular de Defesa mais breve desde a redemocratização do país, em 1990. Em seu lugar, entrou aquele que até então era o ministro de Mineração, Baldo Prokurica. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
A paridade de gênero foi incluída no código eleitoral. A reforma histórica aprovada pelo Congresso nesta quarta-feira (16) determina que todas as eleições em territórios com cinco ou mais representantes reservem metade das candidaturas para mulheres e a outra para homens. É mais um avanço na legislação eleitoral, que já estipulava uma cota mínima de 30% para cada gênero nas listas dos partidos. Além disso, uma lei do início dos anos 2000 também obrigava os três poderes a reservar às mulheres ao menos 30% das vagas dos altos cargos administrativos. Porém, coletivos feministas observam que nem mesmo a nova lei é garantia de uma real representação feminina no poder público. O próprio Congresso, por exemplo, nunca superou o percentual de 21% de mulheres em suas cadeiras. Em El Espectador.
Mais de 65 massacres em 2020. São as contas da ONU, segundo reportou sua Alta Comissária de Direitos Humanos, Michelle Bachelet. O mais recente relatório da organização fala em 255 mortos, sendo 125 defensores dos direitos humanos (a Colômbia é o país mais inseguro para ativistas na América Latina). Tão logo os números vieram à tona, um novo massacre: pouco depois da ONU reportar o cenário de violência, quatro pessoas foram mortas e duas crianças ficaram feridas em mais uma matança no município de Armenia, departamento de Quindío. Segundo a ONG Indepaz, o número de massacres é ainda maior que o contabilizado pela ONU e já passa de 80. Na UN News.
COSTA RICA 🇨🇷
A Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução apresentada pela Costa Rica e apoiada por mais 52 países que declara o 31/8 como Dia Internacional dos Afrodescendentes. A decisão vem no 100º aniversário da Declaração dos Direitos dos Povos Negros do Mundo. A iniciativa foi anunciada em 2019 pela vice-presidente costarriquenha, Epsy Campbell Barr. No posto desde 2018, ela é também a primeira mulher afrodescendente a ser eleita para o cargo na América Latina. No Delfino.
Un dato:
A ONU divulgou seu relatório anual do IDH. Clique na imagem acima para ver mais sobre as variações nos índices e ranking da região.
CUBA 🇨🇺
A vitória de Joe Biden, que assumirá em 20/1, é um tema importante sobretudo para os cubanos. Acossada por anos de sanções na Era Trump em um nível agressivo até mesmo para os padrões dos EUA, a ilha pode ver uma política menos ríspida com a chegada democrata. Segundo pessoas próximas à gestão vindoura, ainda que o fim de bloqueios clássicos dependa do Congresso, a chegada de um governo menos radical pode significar, entre outras coisas, o fim de restrições a viagens e a companhias internacionais em território cubano – algo que Trump intensificou, apesar da pandemia. Até investidores enxergam essa possível postura mais amigável com bons olhos. Ainda que pelas razões erradas, uma mudança nesse cenário poderia ajudar uma economia que deve cair 11% em 2020, resgatando um passado de crise. Na Bloomberg.
A exótica intriga diplomática causada por um suposto ataque biológico às Embaixadas de EUA e Canadá em Havana (leia mais no GIRO #60) ganhou novo capítulo. Em resposta a um informe da Academia Nacional de Ciências dos EUA, que reforçou a tese de que o surto de mal-estar entre representantes diplomáticos teria sido causado por micro-ondas direcionadas, a Academia Cubana de Ciências disse que o argumento carece de evidências científicas. Apelidada de “síndrome de Havana”, a enfermidade passageira revive tempos de Guerra Fria: enquanto a ilha acusa o governo Trump de criar pretexto para seguir deteriorando as relações, os EUA (além de autoridades canadenses) dizem que o “ataque” seria inspirado em antigos projetos soviéticos. No JB.
EL SALVADOR 🇸🇻
O governo acordou com autoridades dos EUA que El Salvador será mais um centro-americano a participar do Acordo de Cooperação de Asilo (ACA). A medida prevê que solicitantes dos países vizinhos sejam enviados para território salvadorenho enquanto esperam por uma resposta ao pedido de entrada no tão sonhado destino ao Norte. Segundo os EUA, o acordo é “um passo fundamental para oferecer proteção aos migrantes vítimas de perseguição”; mais de 70% desses migrantes são dos países centro-americanos abaixo do México (Honduras e Guatemala já fazem parte do acordo), com o próprio El Salvador liderando em 2020. A medida, porém, é mal vista por violar direitos humanos e expor os migrantes aos mesmos riscos dos quais frequentemente estão fugindo, apenas mudando de endereço, já que muitas organizações criminosas operam em todos os países da região. Na Prensa Libre.
EQUADOR 🇪🇨
Dois hospitais de campanha foram doados ao Equador, como parte de um programa de assistência humanitária do Comando Sul dos EUA. Ambas unidades têm capacidade para abrigar 40 leitos e contam com geradores elétricos e aparelhos de ar condicionado. Desde o começo da pandemia, o governo dos Estados Unidos já investiu mais de US$ 30 milhões em medidas de assistência no Equador. Em El Comercio.
A Procuradoria acusou o ciberativista sueco Ola Bini por crime de “acesso não autorizado a um sistema informático”. Em abril de 2019, Bini foi preso no aeroporto de Quito enquanto embarcava rumo ao Japão. A polícia suspeitava de que ele ajudasse o grupo WikiLeaks, que vaza informações sensíveis de grandes empresas e governos. O estrangeiro, que tinha autorização para trabalhar e residir no país, ficou preso mais de 17 horas, sem receber informações sobre as acusações contra ele. Diversas ONGs e mídias alternativas consideraram a prisão arbitrária. Inicialmente, os procuradores responsáveis pelo caso tinham indiciado Bini por “ataque à integridade de sistemas informáticos”, mas depois pediram para reformular a peça acusatória. Ola Bini responde ao processo em liberdade condicional. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
Erros de comunicação e incompetência burocrática fizeram o país perder uma doação de cerca de 30 toneladas de alimentos que vinham de El Salvador para ajudar as vítimas dos furacões Eta e Iota. Após dois dias parados na aduana, os caminhões transportando os donativos recolhidos por uma entidade religiosa acabaram dando meia-volta, impedidos de cruzar a fronteira. O motivo? Sem qualquer acordo formal para receber os donativos, as autoridades exigiam um pagamento de cerca de US$ 15 mil em impostos de importação para permitir a travessia. Na Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
O presidente Jovenel Moïse, que governa sem Parlamento desde o início do ano, passou a semana convivendo com mais acusações de que está se aferrando ao poder como um ditador. Desta vez, as críticas vieram após o anúncio da criação de uma nova Agência Nacional de Inteligência (ANI), que opositores temem se converter em uma polícia política utilizada para reprimir a dissensão no país. A resolução que instaurou a ANI também abriu margem para que agentes do governo não respondam diante da Justiça ao atuar de forma anônima em determinadas situações. Grupos contrários a Moïse dizem que a estrutura poderia dar ao governo poderes semelhantes aos da ditadura de François “Papa Doc” Duvalier e seu filho Jean-Claude “Baby Doc” Duvalier, que mandaram no país entre 1957 e 1986, deixando um legado de instabilidade política e corrupção. Na Prensa Latina.
HONDURAS 🇭🇳
Duas visitas humanitárias bem diferentes chegaram ao país nesta semana: na segunda-feira (14), a rainha-consorte da Espanha, Letizia, chegou à cidade de San Pedro Sula para oferecer ajuda aos afetados pelos furacões Eta e Iota, que açoitaram o país e o restante da América Central em novembro. A monarca também trouxe 120 toneladas de alimentos. Na quarta, justamente quando Letizia estava indo embora, desembarcou na capital Tegucigalpa uma ajuda mais duradoura: 25 médicos cubanos, pertencentes à Brigada Henry Reeve. Também dedicados a auxiliar as vítimas dos furacões e das chuvas, eles se dirigiram ao norte hondurenho, a zona mais afetada. Cuba ainda enviou equipamentos para a instalação de um hospital de campanha com 30 leitos; os brigadistas esperam atender até 300 pacientes por dia.
Un nombre:
Cápac Raymi – também conhecida como Qhapaq Inti Raymi, em quéchua, é a última festa do ano para os incas – embora não configure exatamente uma “festa de fim de ano”, já que não é orientada pelo calendário gregoriano. Após o plantio do milho, entre novembro e dezembro, os andinos originários comemoram o solstício de verão com danças, jogos e oferendas de chicha (bebida alcoólica feita de milho) para a pachamama. Originalmente, a celebração também costumava incluir o Warachikuy, o ritual de iniciação para os homens: ali, os jovens descobriam se estavam aptos para ir à guerra, administrar os assuntos da comunidade, casar ou nenhuma dessas opções.
MÉXICO 🇲🇽
Aristóteles Sandoval, ex-governador do estado de Jalisco (2013-2018), foi assassinado a tiros nas primeiras horas da madrugada de sexta-feira (18), aos 46 anos. Sandoval foi alvejado em um restaurante de Puerto Vallarta, destino turístico banhado pelo Pacífico no litoral de Jalisco. Até o fechamento desta edição, não havia confirmação dos responsáveis pelo crime, mas os suspeitos de sempre voltaram à lista: em seu governo, Sandoval ficou famoso por bater de frente com o Cartel Jalisco Nueva Generación, um dos mais brutais do país e que domina o tráfico na região. O ex-governador também era conhecido por “não ter medo” e manter uma equipe de segurança pessoal atipicamente pequena para o nível das ameaças que recebia: embora tivesse à disposição 15 escoltas, ele só estava com dois seguranças no momento do ataque. Em El País.
O governo aprovou um aumento de 15% no salário mínimo nacional, que a partir da virada do ano passa de 123,22 pesos mexicanos diários (R$ 31,54) para 141,70 (R$ 36,26). Na chamada Zona Livre da Fronteira Norte, que corresponde à região que faz divisa com os EUA e onde há vantagens fiscais e salariais para desincentivar a emigração, o mínimo passará a ser de 213,39 pesos por dia (R$ 54,61). Como costuma ocorrer nessas situações, o aumento generoso acendeu o alerta no setor empresarial, que diz que até 700 mil empresas poderiam quebrar com os novos salários se não tiverem um aumento nas receitas nos três primeiros meses do ano. Em El Tiempo.
NICARÁGUA 🇳🇮
Empréstimos milionários de organismos estrangeiros como o Fundo Monetário Internacional (FMI) têm evitado que Daniel Ortega acabe com as reservas do Banco Central. Até outubro, o governo precisou retirar mais de 3,6 bilhões de córdobas (R$ 540 milhões) das reservas, sobretudo pelo impacto da pandemia na economia e nos gastos públicos. O recém-aprovado empréstimo de US$ 186 milhões do FMI dá uma respiro financeiro para 2021, mas não será suficiente para segurar as pontas em 2022. Economistas já falam em uma possível reforma da previdência. Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
Quarentena total. Assim os panamenhos passarão as festas de final de ano, para evitar um aumento ainda maior de casos de covid-19. O ministro da Saúde, Luis Francisco Sucre, anunciou durante a semana um toque de recolher que proíbe a circulação entre a próxima sexta-feira (25), a partir das 19 horas, até a segunda seguinte (28), às 5 h. A restrição deve se estender à virada do ano. Pela terceira semana consecutiva, o país registrou acima de 10 mil novos casos em sete dias, algo que não havia acontecido em nenhum outro momento da pandemia. Na CNN.
O governo declarou o 20/12 como Dia de Luto Nacional em homenagem às vítimas da invasão do Exército dos EUA ao Panamá, que aconteceu nessa data em 1989, derrubando o então ditador Manuel Antonio Noriega (1983-1989). O déspota estava na mira de Washington por acusações de envolvimento com o tráfico de drogas. Esse capítulo da história, só mais um da lista de intervenções dos EUA em territórios latinos, segue sendo uma ferida aberta na sociedade panamenha, com denúncias de violações e valores apreendidos até os dias de hoje. O saldo de civis mortos na operação militar “Causa Justa” também diverge: enquanto números oficiais dão conta de aproximadamente 500 vítimas, ONGs falam em milhares. Em El País.
PARAGUAI 🇵🇾
Problema crônico e mais antigo, a dengue segue desafiando autoridades de saúde em tempos de pandemia. Com 813 casos confirmados nas últimas quatro semanas, o governo emitiu um alerta epidemiológico, apontando a temporada de chuvas e o “esgotamento” do sistema de saúde como motivadores da alta. O número de mortes também aumentou: se em 2019, a dengue matou nove paraguaios, em 2020 os casos fatais passam de 70. Mas, apesar do crescimento atípico, as estatísticas da dengue seguem discretas se comparadas ao coronavírus: são 2.050 casos fatais da nova doença no que se tem do ano, o que significa 287 mortes por milhão. No caso da dengue, a proporcionalidade, mesmo em 2020, é bem menor: menos de 10 a cada milhão de habitantes. No Página 12.
O sequestro do ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013), um dos capítulos mais macabros do ano paraguaio, chegou à marca de 100 dias na quinta-feira (17) – e segue sem respostas. Sem contato com os guerrilheiros responsáveis pela captura desde as primeiras semanas do sumiço do pai, Beatriz Denis já recorreu à Cruz Vermelha, que aguarda autorização do governo em Assunção para passar a mediar o conflito. Até o momento, autoridades de segurança só levaram adiante esparsas operações de busca, com algumas apreensões e sem informações suficientes sobre o paradeiro do político. A retrospectiva do caso, nas edições #47 e #60 do GIRO. No ABC Color.
Un clic:
Um eclipse solar total (o único do tipo em 2020) foi visível na Argentina e no Chile na segunda-feira (14).
PERU 🇵🇪
Ainda o país com a maior taxa de mortalidade da América Latina na pandemia, o Peru retomou os voos regulares entre Lima e cinco destinos europeus, que estavam suspensos desde 16/3. As espanholas Madri e Barcelona, a holandesa Amsterdã, a francesa Paris e a britânica Londres entraram na lista dos destinos liberados. Nos últimos meses, voos para a Europa até vinham ocorrendo, mas sob autorização especial e com frequência irregular. No Infobae.
Disfarçados de Papai Noel e elfos, membros da polícia nacional desbarataram uma operação de venda de drogas, na capital Lima. Os agentes chegaram ao local de atividade dos traficantes dentro de uma van, com coletes à prova de bala sob as roupas temáticas (estratégia que é curiosamente comum no país). Segundo o chefe do esquadrão antidrogas, o coronel Fredy Velázquez, a operação foi bem sucedida, terminando com uma grande quantidade de droga e uma arma de fogo apreendidas. Mas há um outro lado dessa história: críticos de ações violentas da polícia dizem que essas táticas seriam tentativas de suavizar o abuso aos direitos humanos, sobretudo durante os protestos que acabaram por destituir o então presidente interino Manuel Merino, em novembro, após dois manifestantes acabarem mortos pela polícia. A tese é sustentada pela Human Rights Watch. Na CNN.
PORTO RICO 🇵🇷
As eleições locais aconteceram em 3/11, mas, passados mais de 45 dias desde então, os resultados ainda não foram aceitos por quem vem atrás na contagem para definir o novo prefeito da capital, San Juan. O candidato Miguel Natal Albelo, do Movimento Vitória Cidadã (MVC), está em segundo lugar na interminável apuração por cerca de 2,2 mil votos e segue exigindo uma recontagem das cédulas que, desde o início, vinham dando estreita vantagem a Miguel Romero, do tradicional Partido Novo Progressista (PNP). As autoridades eleitorais prometeram dar uma resposta às demandas de Natal Albelo até este fim de semana. O motivo para desconfiança não é pequeno: vale lembrar que, uma semana após as eleições terminarem, centenas de urnas “esquecidas” foram descobertas por toda a ilha, fortalecendo o discurso de que o PNP – que governa Porto Rico como um todo – estaria manipulando as contagens em favor de seus candidatos. Na Prensa Latina.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O Ministério da Educação confirmou, na quinta-feira (17), que os estudantes impedidos de realizar as chamadas Provas Nacionais – avaliação que confere o título de bachiller, representando a conclusão do ensino secundário e a possibilidade de ir à universidade – em função da pandemia agora ganharão um diploma definitivo, mesmo sem prestar o exame. Até aqui, os jovens haviam recebido uma certificação provisória, na expectativa de que as provas pudessem ser realizadas ainda em 2020, algo por fim vetado pelas autoridades sanitárias. A medida beneficia 21.375 estudantes, que agora podem seguir em frente no ensino superior. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
Em cerimônia virtual, o presidente Luis Lacalle Pou entregou a presidência rotativa do Mercosul (bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) a seu homólogo argentino Alberto Fernández. A transição do poder pro tempore acontece poucos meses depois do próprio governo de Fernández suspender provisoriamente a participação do país em negociações do Mercosul, por conta da pandemia. O Uruguai, por sua vez, também fez a lição de casa antes de passar o bastão: nas últimas semanas, o chanceler Francisco Bustillo esteve em países-chave da União Europeia para tratar do acordo do grupo conesulino. Mais uma vez, ouviu de delegados europeus que as políticas ambientais de Jair Bolsonaro são um entrave à negociação – que precisa do aval de todos os respectivos membros para ir adiante. Entenda mais lendo as edições #27 e #33 do GIRO. No Cronista.
Embora ainda mantenha números proporcionalmente baixos, o Uruguai não para de piorar em relação a si mesmo. Pela 6ª semana consecutiva, o país registrou novo recorde de contágios e mortes por covid-19 em sete dias: agora, foram 3.101 casos e 19 óbitos. Lacalle Pou confirmou o fechamento de fronteiras com poucas exceções até, pelo menos, o próximo 10/1, e também anunciou a proibição de reuniões familiares de mais de 10 pessoas nas festas de fim do ano. Diante do aumento dos casos, o governo reconheceu que o Uruguai finalmente vive sua “primeira onda” da doença: até aqui, o país conseguira controlar e isolar todos os surtos localizados por meio de uma política massiva de testes e rastreamento, como contamos neste vídeo, mas agora entrou na fase de transmissão comunitária, que dificulta o mesmo tipo de monitoramento. Até sexta, o Uruguai tinha 4.142 casos ativos da doença e 44 pacientes internados em UTIs. No Ámbito.
VENEZUELA 🇻🇪
Nicolás Maduro confirmou, na sexta (18), que a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) chegará ao fim no próximo 31/12, sem apresentar uma nova Constituição. O movimento já havia sido antecipado em setembro por Diosdado Cabello (leia no GIRO #47), presidente da ANC e homem mais forte do chavismo abaixo de Maduro. Criada em 2017 com poderes maiores que a própria Assembleia Nacional, a Constituinte sempre foi criticada pela oposição como uma manobra do governo para driblar a perda da maioria no parlamento. Sem escrever uma nova Carta Magna e extinta justamente quando os aliados de Maduro recuperaram o controle a Assembleia Nacional original, a crítica à ANC como um organismo golpista agora volta com força. Via Reuters.
Pelo menos 23 venezuelanos morreram e outros 17 seguem desaparecidos após o naufrágio de barcos que tentavam chegar à ilha de Trinidad e Tobago, a 138 km do nordeste da Venezuela. Os migrantes são da pequena cidade de Güiria, na Península de Paria, que fica apenas a algumas horas de barco da ilha vizinha. Organizações de direitos humanos estimam que 40 mil pessoas já foram ilegalmente em direção ao território trinitário, e que o percurso segue ameaçando vidas. A entrada de venezuelanos no país insular também vem gerando desavenças diplomáticas, como contado no GIRO #58. No Efecto Cocuyo.
Morreu aos 91 anos o jornalista e ex-vice-presidente José Vicente Rangel (2002-2007), figura importante da história política venezuelana. Exilado no Chile durante a ditadura de Marcos Pérez Jiménez, que foi de 1952 a 1958, Rangel abraçou a militância desde a volta da democracia, concorrendo à presidência durante os anos 70. Adiante, já trocando olhares com um certo Hugo Chávez e sua tentativa de golpe em 1992, encabeçou as denúncias de corrupção que levariam à destituição do então presidente Carlos Andrés Pérez, um ano depois – o que também impulsionou o à época desconhecido Chávez. No final da década, com a ascensão do chavismo, virou chanceler, ministro da Defesa, até ser indicado como vice, cargo que ocupou até 2007, quando voltou a seu programa de TV. Entre suas obras premiadas, está o livro Expediente Negro, que denuncia abusos aos direitos humanos na Venezuela dos anos 60 e 70. No Efecto Cocuyo.
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