Colômbia faz greve geral contra reforma tributária
São Paulo negocia para ter vacina cubana | Equador despenaliza aborto em caso de estupro | Uruguai: 89% dos contágios são pela variante brasileira | Live: Giro conversa com Sylvia Colombo
Em meio ao pico da pandemia na Colômbia, com ocupação de leitos na capital passando de 90%, a população foi às ruas para protestar contra o que seria a terceira reforma tributária do governo de Iván Duque. As manifestações da greve geral, convocada pelas centrais sindicais, começaram na quarta-feira (28) e seguiram até o fim da tarde de sexta. Em Bogotá, mais de 10 mil pessoas encararam a chuva, contrariam restrições e bloquearam ruas e estações de ônibus. Em Cali, indígenas do povo Misak derrubaram uma estátua do colonizador espanhol Sebastián de Belalcázar, repetindo uma cena vista em setembro do ano passado em Popayán (veja no GIRO #48). O saldo da nova rodada de protestos já chama a atenção: pelo menos duas pessoas morreram e centenas ficaram feridas em confrontos com a polícia – que teve mais de 200 policiais atingidos nos dois primeiros dias. Ao menos 185 pessoas foram detidas em todo o país. De noite, a agitação seguiu com panelaços.
A pressão popular tenta barrar o novo projeto de reforma tributária no Congresso. Segundo o governo, a medida ajudaria a arrecadar 23 trilhões de pesos (R$ 33 bilhões) que seriam destinados a saldar o rombo nas contas públicas e aumentar os auxílios para os mais pobres. Não à toa foi batizada de “Lei de Solidariedade Sustentável”, um eufemismo para o conserto que o ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, tentou fazer nas reformas anteriores. As duas leis de 2018 e 2019 resultaram numa perda de 10 trilhões de pesos (R$ 14 bilhões), após o governo oferecer isenções fiscais à fatia mais rica da população. Porém, o que o novo projeto sugere é que uma parcela maior da classe média arque com os custos desse déficit – aumentado pela crise econômica da pandemia e pelo endividamento público. Quem ganha mais de 2,3 milhões de pesos (R$ 3,3 mil), hoje na faixa de isenção, pode ser obrigado a declarar imposto de renda a partir de 2023. Atualmente, só quem ganha mais de 4 milhões de pesos (R$ 5,8 mil) é obrigado a pagar. Além disso, o projeto prevê a expansão do tributo sobre o consumo – o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que na Colômbia chega a 19% – a utilidades (água, eletricidade e gás), serviços funerários, itens eletrônicos como computadores, e outros serviços até agora isentos. As zonas francas, os paraísos fiscais e os mais ricos não devem ser afetados pela reforma, o que só aumentou a indignação geral.
A cobrança desigual entre a classe média e os mais abastados desatou a ira da população – e uma pesquisa indica que 82% dos colombianos não vão votar em candidatos que apoiem a reforma. A rejeição generalizada rachou até a base governista: alguns parlamentares insistem em aprovar a medida sob o argumento de que, sem ela, não haverá dinheiro para os subsídios aos mais pobres, como a chamada Renda Solidária; outro grupo defende a reforma da reforma – ou seja, alterações pontuais no conteúdo do texto que acalmem a população, mas não joguem o projeto no lixo; e um terceiro grupo, encabeçado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), principal líder conservador e mentor político de Duque, adotou a estratégia de se distanciar do governo e criticar o jeito de apresentação e o timing do projeto. “Isso causa dano ao [partido] Centro Democrático”, disse Uribe na segunda-feira, prevendo a reação popular contra o governo e a sigla. Enquanto isso, a pandemia não dá trégua – outra razão para aumentar os riscos de ver pessoas nas ruas: nos últimos dias, o país voltou a bater o recorde semanal de óbitos, superando pela primeira vez a marca de 3 mil vidas perdidas em sete dias; em Antioquia, departamento cuja capital é Medellín, o governador Luis Fernando Suárez prevê um “tsunami de mortes” nas próximas semanas.
No campo político, também reina a incerteza. A oposição aproveitou o momento e, na quinta-feira (29), propôs que o Senado suspenda as atividades até que o próprio governo desista do projeto. “As pessoas estão cansadas desde outubro de 2019. A reforma hoje não vale nada, quem fala na reforma é um idiota”, desabafou o senador Armando Benedetti, do partido Colombia Humana. O presidente Iván Duque aceitou a ideia de mudar alguns pontos do projeto, mas avisou que não vai retirar a proposta de reforma.
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Un sonido
DESTAQUES
🇨🇺 CUB – Vá pra Cuba ou traga ela até você: a Prefeitura de São Paulo já negocia a compra de doses da Soberana 2, um dos dois imunizantes cubanos em fase avançada de testes, segundo informou a secretária de Relações Internacionais da cidade, a hoje tucana Marta Suplicy. Segundo a política, que já governou a capital paulista no início do século (2001-2005), “parece ser uma vacina de excelência” e, “se você não entra na fila, depois não tem mais”. Cuba ainda não aprovou suas vacinas para campanhas massivas de imunização, mas pretende fazê-lo até junho, e planeja fabricar 100 milhões de doses ainda em 2021 – a maior parte para exportação, já que a ilha tem apenas 11 milhões de habitantes. No G1.
🇪🇨 EQU – Decisão histórica em um país assolado pela violência de gênero: a Corte Constitucional despenalizou o aborto em quaisquer casos de estupro. Até então, a interrupção da gravidez só era permitida quando a mulher corria risco de morte ou se a vítima de violação apresentasse um quadro de doença mental. A decisão ainda é insuficiente, sobretudo se comparada a casos como de Cuba e Uruguai (saiba mais no vídeo), mas muito celebrada por organizações feministas e de direitos humanos, “sem as quais o avanço não seria possível”, dizem autoridades. Outra boa notícia: o presidente eleito Guillermo Lasso, que toma posse no final de maio, comentou o caso: apesar de ser católico e pessoalmente contrário à lei do aborto, prometeu respeitar a decisão da Corte e os princípios de laicidade do Estado. Estima-se que, anualmente, mais de 2,5 mil equatorianas menores de 14 anos levem adiante gestações produzidas por estupro. Na BBC.
🇭🇹 HAI – O governo estadunidense afirmou, na quinta (29), que respalda a realização das eleições atrasadas para a formação do Parlamento haitiano, marcadas para setembro, mas que não apoia o referendo de reforma constitucional sonhado pelo presidente Jovenel Moïse. Washington entende que as eleições parlamentares, marcadas originalmente para outubro de 2019, ajudariam a trazer coesão institucional para o país – com o atraso do pleito, o Legislativo deixou de funcionar no Haiti e, desde janeiro do ano passado, Moïse vem governando por decreto. Por outro lado, os EUA acreditam que a reforma da Constituição – que poderia ampliar os poderes presidenciais – só trariam “mais agitação” (entenda mais a crise haitiana no GIRO #68 e neste vídeo). O posicionamento do Departamento de Estado dos EUA foi motivado por uma carta de congressistas do Partido Democrata, documento denunciado pela embaixada haitiana naquele país como uma pressão para “substituir o presidente democraticamente eleito”. Via AFP.
🇺🇾 URU – Um novo estudo reafirmou o que muitos especialistas vinham apontando: a variante brasileira do coronavírus já é, de muito longe, a dominante no Uruguai. Pesquisadores analisaram amostras colhidas em todos os departamentos do país entre 17/4 e 21/4 e concluíram que 89% delas eram contágios relacionados à P1, identificada pela primeira vez em pessoas saídas de Manaus, ainda em janeiro. Mais agressiva, a variante brasileira provavelmente está por trás da explosão de casos e mortes vista no Uruguai em 2021: o país, que fechou o ano passado com apenas 193 óbitos atribuídos à covid-19, já teve 2.433 mortes nos primeiros quatro meses deste ano. No Periodista.
🇻🇪 VEN – Foi uma das cenas mais emblemáticas do início da investida de Juan Guaidó para tentar tirar Nicolás Maduro do poder na Venezuela: em fevereiro de 2019, caminhões levando toneladas de alimentos e medicamentos como “ajuda humanitária” dos EUA – em articulação com Brasil, Colômbia e o grupo ligado a Guaidó – deveriam ingressar na Venezuela, mas acabaram barrados na fronteira. Agora, uma auditoria interna do governo dos EUA dá razão aos chavistas que afirmavam haver motivação mais política do que humanitária por trás das doações, tentando vender uma imagem de Guaidó como salvador da Venezuela: de acordo com o relatório, “a diretriz para posicionar bens humanitários não foi orientada por conhecimentos técnicos ou totalmente alinhada com os princípios humanitários de neutralidade, independência e nem com base em avaliações de necessidades”. Em vez de priorizar a ajuda através da ONU, o governo de Donald Trump preferiu direcionar recursos para ONGs alinhadas politicamente a Washington e Guaidó, violando os princípios que deveriam guiar esse tipo de ação. Via AP.
Un video:
Nesta semana, em sua primeira live para o Intercept Brasil, o GIRO conversou com Sylvia Colombo, correspondente de América Latina da Folha de S. Paulo, que está lançando o livro O ano da cólera: Protestos, tensão e pandemia em 5 países da América Latina (Rocco).
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
Latinos estiveram mais nas redes em 2020. É o que diz um relatório da Comscore: durante o último ano, 82,5% dos habitantes do continente tiveram acesso às redes sociais, aumento de 1,6 ponto percentual em relação a 2019. Brasil, México e Argentina são os países onde as redes sociais são mais consumidas – 97,9%, 92,3% e 91,1%, respectivamente. Na média, latino-americanos visitam suas contas 15 vezes por semana, gastando cerca de 182 minutos por mês. No Labsnews.
A Conmebol, Confederação Sul-Americana de Futebol, anunciou na quinta (29) o início da distribuição das 50 mil doses de vacina contra covid-19 que recebeu em uma parceria com a chinesa Sinovac, intermediada pelo presidente uruguaio Luis Lacalle Pou para driblar as restrições à compra por organizações privadas. O objetivo da Conmebol é vacinar os participantes da próxima Copa América de seleções, marcada para ocorrer entre junho e julho na Argentina e na Colômbia, e os jogadores que disputam seus dois torneios internacionais de clubes, a Libertadores e a Copa Sul-Americana. A entidade garante que nenhuma dose foi desviada de esforços nacionais de vacinação e todas foram fabricadas exclusivamente para ela, mas a medida segue gerando polêmica em uma região onde a imunização avança lentamente: no Brasil, por exemplo, ainda não há autorização da Anvisa para que essas vacinas sejam distribuídas para o mundo da bola. No GE.
ARGENTINA 🇦🇷
A ex-ministra de Segurança do governo Mauricio Macri (2015-2019) e atual presidenta do partido oposicionista Proposta Republicana (PRO), Patricia Bullrich, mexeu em um vespeiro delicado ao defender negociações por vacinas. Segundo ela, a Pfizer, com quem a Argentina está em imbróglio desde dezembro, “só tem requisições razoáveis” e dar ao laboratório “as Ilhas Malvinas” em troca das vacinas não seria de todo ruim. A frase, dita durante um programa de televisão, pegou mal, viralizando negativamente e rendendo acusações de “vendepatria”, termo pejorativo para quem desmerece questões de soberania. O ministro de Relações Exteriores, Felipe Solá, foi um dos críticos à declaração “brutal” que chamou de “esquecimento imperdoável do sacrifício dos 649 heróis argentinos que ali permaneceram” – aludindo à sangrenta Guerra das Malvinas nos anos 80, que colocou Reino Unido e Argentina em um conflito que terminou com mais de 900 mortos dos dois lados. Bullrich depois se desculpou, dizendo ter se “expressado mal”. No Infobae.
Autoridades do país se reuniram com representantes da Astrazeneca, pressionando a farmacêutica diante de atrasos no envio de materiais e informações atualizadas sobre a produção de vacinas. Segundo a ministra da Saúde, Carla Vizzotti, que solicitou um relatório detalhado à firma, são elementos “vitais para a campanha de vacinação” do país. Em novembro, Argentina e México assinaram um acordo para produzir de 150 a 250 milhões de doses da Astrazeneca, a fim de abastecer países da região. O processo começa em laboratórios argentinos e é finalizado no México. Com as burocracias, há temor de que a produção demore a avançar. Na AA.
A Argentina congelou o preço do oxigênio medicinal por 90 dias, além de orientar as empresas produtoras de oxigênio líquido a priorizarem o sistema de saúde. Diante de uma escalada nos contágios, que fez muitos locais ultrapassarem pela primeira vez os 90% de ocupação de leitos por períodos prolongados, o país teme um colapso como o já vivido por vizinhos. Acossado pela crise econômica, pelas pressões da oposição e por uma curva que não cede, o presidente Alberto Fernández voltou a anunciar a prorrogação de restrições nesta sexta (30), pelo menos até o dia 21/5. Via Reuters.
Há um ano nesta sexta (30), desaparecia o jovem Facundo Astudillo Castro, 22, que se converteu em um símbolo dos abusos policiais durante a pandemia. Após brigar com a mãe e sair de casa disposto a caminhar até encontrar a ex-namorada, em uma cidade a 120 km de distância de onde morava, “Facu” foi abordado por policiais por violar a quarentena e nunca mais foi visto. Seu corpo, já em avançado estado de decomposição, só seria encontrado na metade de agosto. Um ano mais tarde, o caso segue na Justiça e há oito policiais implicados. A cronologia do crime, no Cosecha Roja.
BOLÍVIA 🇧🇴
A página do golpe foi virada em 2020, mas as notícias sobre a prisão da artífice e agora ex-presidenta Jeanine Áñez seguem a todo vapor. Ao passo que o Parlamento Europeu pressiona o governo de Luis Arce classificando a detenção de Áñez como “prisão política”, discurso fortemente repetido pela oposição ao MAS, o cerco interno à antiga interina se fecha: durante a semana, o presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, formalizou a denúncia contra Áñez por sedição e conspiração, crimes similares aos que o antigo governo usou para acusar o ex-presidente Evo Morales (2006-2019) durante o ano em que o MAS esteve apartado do poder. É a sexta acusação contra Áñez, que segue presa preventivamente pela atuação na crise. Toda a trajetória da Bolívia, do golpe à prisão de Áñez, foi resumida neste vídeo do GIRO. Na teleSUR.
O Ministério da Saúde promete colocar em funcionamento nos próximos dias um sequenciador genético capaz de identificar as variantes de covid-19 em amostras coletadas no país – o que daria um fim à necessidade de enviar os materiais para testagem no exterior, atrasando a identificação e adoção de medidas preventivas contra cepas mais agressivas. De acordo com o governo, o equipamento já estaria no país desde 2019, mas o projeto de instalação foi interrompido no governo interino de Jeanine Áñez (2019-2020). A expectativa é que os insumos para que o sequenciador possa funcionar cheguem “nos próximos dias ou semanas”. Na Prensa Latina.
Dale un vistazo:
🎥 Ninguém sabe que estou aqui – o longa-metragem de estreia do diretor chileno Gaspar Antillo conta a história de Memo Garrido (Jorge García), um homem antissocial que vive escondido na casa do tio, à beira do lago Llanquihue. A vida em isolamento muda com a chegada de Marta (Millaray Lobos), que vai ganhando a confiança do grandalhão tímido. A ela, Memo revela seus segredos e traumas da infância que o levaram a se refugiar dos holofotes. O filme está disponível na Netflix.
Nadie sabe que estoy aquí (Chile, 2020). 91 minutos. Dir.: Gaspar Antillo.
CHILE 🇨🇱
Boas notícias: durante a semana, autoridades de saúde relataram os números mais baixos de novos casos e mortes por covid-19 desde o início de março, quando a nova onda de contágios atingiu o país, obrigando o governo a colocar mais de 70% dos chilenos sob rígida quarentena. Segundo especialistas, a desaceleração tem relação com o confinamento e com a boa vacinação no país, a maior em proporção na América Latina: até o fechamento desta edição, chilenos com pelo menos uma dose tomada já representavam 42% da população; pessoas totalmente vacinadas chegam a 35%. A expectativa do Ministério da Saúde é vacinar 70% da população ainda neste semestre. Até lá, a aparente trégua do coronavírus já coloca o afrouxamento de restrições no radar do governo. Na TVU.
Sebastián Piñera segue convivendo com índices históricos de rejeição: 74% dos ouvidos pela enquete do Centro de Estudos Públicos (CEP) dizem desaprovar seu governo, contra apenas 9% que ainda o aprovam. A nova onda de impopularidade foi impulsionada pela resistência do governo em aceitar um terceiro saque do dinheiro mantido pelos chilenos nos fundos de pensão – medida emergencial adotada a partir do meio do ano passado para mitigar os efeitos econômicos da pandemia, mas que vem gerando preocupação em La Moneda pelo impacto de longo prazo e na própria liquidez das administradoras dos fundos, que são privadas. O governo chegou a recorrer ao Tribunal Constitucional para barrar a medida, mas acabou derrotado e se viu obrigado a promulgar a lei. No As.
Na semana em que a rejeição da Anvisa para uso da vacina Sputnik V no Brasil levantou olhares de estranhamento pela região, o Chile parece já ter definido sua posição: segundo Heriberto García, diretor do Instituto de Saúde Pública (ISP) chileno, o órgão regulatório que ele comanda entende não haver evidências de que o imunizante russo tenha problemas de segurança. Mesmo que o temor manifestado pela Anvisa se confirme, diz García, isso não necessariamente seria motivo para rejeitar o uso da vacina no Chile: “é preciso pesar os benefícios de ser vacinado e os riscos de não ser. Se o vírus se replicar [como alega a Anvisa], no máximo você terá um resfriado comum. Se você não se vacinar, pode pegar covid-19”, disse à agência Reuters. A alegação que fez o Brasil negar, ao menos temporariamente, o uso da Sputnik V, é que o adenovírus utilizado no imunizante seria capaz de se replicar no organismo da pessoa – causador do resfriado em humanos, o adenovírus é usado como um vetor viral nessas vacinas, mas deveria ser inativado, ou incapaz de se replicar (entenda mais desse processo aqui), algo que a Anvisa alega não ser o caso. Apesar do receio brasileiro, a Sputnik V já é utilizada em outros países latino-americanos, como Argentina e México.
COSTA RICA 🇨🇷
Um aumento recorde de casos de covid-19 forçou o governo a anunciar novas restrições que devem retroceder a reabertura econômica em todo o território. A Costa Rica registrou mais de 14 mil novos casos na última semana, o maior registro semanal desde o início da pandemia, além de ter 95 novos óbitos, marca mais alta desde janeiro. Com o pico, serviços não-essenciais, sobretudo na capital, permanecerão fechados e sanções mais rígidas devem entrar em cena para casos de descumprimento. As novas medidas também miram evitar um colapso do sistema de saúde: com a alta de casos, leitos de UTI já têm taxa de ocupação superior a 94%. Apesar de tudo isso, as aulas presenciais devem ser mantidas. Bom exemplo durante o início da pandemia, a Costa Rica viu números piorarem ao longo do segundo semestre de 2020. Atualmente, o país de 5 milhões de habitantes acumula mais de 250 mil casos confirmados e 3,2 mil mortes por coronavírus. Via AP.
EL SALVADOR 🇸🇻
Começa neste sábado (1º) o período de amplos e inéditos poderes do presidente Nayib Bukele. Governando sem grande apoio legislativo desde que tomou posse, em junho de 2019, Bukele finalmente terá a força que faltava quando seus correligionários assumirem seus cargos na Assembleia Nacional. O Nuevas Ideas, partido do presidente, obteve a maior parte dos assentos nas eleições de fevereiro e, graças a coalizões, nem mesmo precisará negociar com a oposição para aprovar a maioria de suas medidas: 61 dos 84 lugares do órgão unicameral passam a ser ocupados pela base governista a partir de hoje – antes, eram apenas 11 aliados, e nenhum deles pertencia ao próprio Nuevas Ideas. Além da facilidade para levar adiante projetos antigos que antes encontravam resistência, acredita-se que Bukele poderia tentar aproveitar o controle sobre a Assembleia para modificar a Constituição. Via EFE.
EQUADOR 🇪🇨
Uma nova onda de rebeliões motivadas por conflitos entre gangues deixou quatro mortos e vários feridos na Penitenciária de Guayaquil. O conflito se deu entre os grupos Los Choneros e Los Lobos, similar, ainda que em menor escala, ao massacre de fevereiro (saiba mais no vídeo), que também teve a superlotação de celas e a pandemia como pano de fundo. Após o princípio de rebelião, forças de segurança invadiram o complexo penitenciário em uma ação “articulada”, segundo o governo. À parte dos recorrentes banhos de sangue entre gangues, muitas organizações denunciam que as condições degradantes dos presos estimulam as brigas. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
Em papo virtual com o presidente Alejandro Giammattei, a vice-presidenta dos EUA, Kamala Harris, prometeu US$ 310 milhões em ajuda humanitária à América Central por conta da migração. Harris é a responsável por assuntos migratórios, fenômeno que tem aumentado desde o início do governo Joe Biden: com promessas de flexibilizar processos e diminuir as políticas agressivas da última gestão, a Casa Branca sob nova direção vê o fluxo de migrantes dobrar – o que também aumenta a necessidade de diálogo com lideranças latino-americanas, algo pouco visto durante os anos de Donald Trump. Na Prensa Libre.
O encontro anual da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acontecerá em novembro e, espera-se, de forma presencial, já tem local definido: na terça (27), a entidade escolheu a capital Cidade da Guatemala para sediar o encontro. A 51ª reunião contará com 34 membros ativos da organização em encontros entre os dias 10 e 12/11. A diplomacia guatemalteca na OEA prometeu trabalhar para “cumprir com todos os protocolos sanitários”. No UOL.
HAITI 🇭🇹
Autoridades da Igreja Católica confirmaram, na sexta (30), que todos os religiosos e familiares sequestrados há três semanas foram finalmente liberados. O caso, simbólico da epidemia de sequestros que vem tomando conta do país, ganhou maior repercussão por envolver cidadãos estrangeiros entre as 10 pessoas raptadas em 11/4, um grupo que incluía cinco padres, duas freiras e três parentes de um dos religiosos. A Igreja não informou como ocorreu a soltura dos que ainda estavam em poder dos sequestradores nem confirmou se pagou o resgate exigido por eles. Via AP.
Una expresión:
Reunión de zorros, perdición de gallinas – quando as raposas se reúnem, quem sai perdendo são as galinhas. Essa expressão costuma ser aplicada a momentos em que os poderosos buscam “soluções” para a sociedade, muitas vezes fazendo o peso de suas decisões recair sobre um lado mais fraco – e nunca sobre si mesmos.
HONDURAS 🇭🇳
Morreu em Tegucigalpa, aos 80 anos, um dos esportistas mais celebrados do país: José de la Paz Herrera, conhecido como “Chelato Uclés”, ganhou fama como treinador de futebol e entrou para a história como o arquiteto do time que classificou Honduras para a sua primeira Copa do Mundo, em 1982 – um feito raro que só seria repetido 28 anos mais tarde. Vitimado por um infarto, Chelato também conquistou cinco campeonatos hondurenhos por clubes do país. Na CNN.
“Limpeza social” é como mulheres trans hondurenhas chamam a realidade que as cerca em um país violento, conservador e intolerante. A intransigência, mais do que cultural, é institucional – o que levou a Corte Interamericana de Direitos Humanos a tomar atitude diante da impunidade. Pela primeira vez do ponto de vista legal, o tribunal culpou o Estado pelo assassinato de Vicky Hernández, morta em 2009 em um caso até hoje sem esclarecimentos. Além de imputar o crime ao poder público, a Corte IDH ordenou reparação à família de Hernández. A jovem trans à época fugiu à estatística: morta aos 26, a hondurenha sequer chegou à faixa entre 30 e 35 anos, a baixíssima expectativa de vida de transgêneros na América Latina. A reportagem, no New York Times.
MÉXICO 🇲🇽
O presidente López Obrador telefonou para o líder cubano, Miguel Díaz-Canel, para agradecer o apoio da ilha no combate à pandemia. Cuba enviou mil profissionais de saúde, entre médicos e enfermeiros, para ajudar no funcionamento de hospitais em Tláhuac, na zona leste da Cidade do México, que não dispunham de pessoal suficiente para atender os doentes durante o pior momento da crise. Com a baixa da curva, os cubanos já voltaram para casa. “México e Cuba são povos irmanados pela história e solidariedade”, disse AMLO. Em El Universal.
A exemplo do Brasil, o México também vem enfrentando dificuldades para garantir a segunda dose de vacinas. Na quinta (29), o governo admitiu que cerca de 1,3 milhão de pessoas não vão receber o esquema completo da vacinação no prazo correto, após um atraso nas entregas da chinesa Sinovac. Com cinco imunizantes diferentes em aplicação, o México aposta suas fichas também em outras alternativas: o país deve começar a envasar em seu próprio território doses da russa Sputnik V, que ganhou as manchetes nos últimos dias após a recusa da Anvisa em aprová-la no Brasil. Enquanto tenta se equilibrar com uma vacinação ainda lenta, o país – que sofre com uma das piores subnotificações da região – busca mensurar o impacto real da pandemia: um estudo que coletou amostras entre dezembro e fevereiro para detectar anticorpos concluiu que um terço (33,5%) dos mexicanos já teria sido exposto ao vírus em 2020, número equivalente a 42 milhões de pessoas, contra apenas 2,3 milhões de casos notificados oficialmente pelo governo.
NICARÁGUA 🇳🇮
Quase ninguém morre por covid-19 na Nicarágua. Ao menos, é o que um dos governos mais negacionistas da região informa oficialmente: segundo os dados do Ministério da Saúde, apenas 182 pessoas perderam a vida para a covid-19 desde o início da pandemia, e nas últimas 29 semanas consecutivas houve apenas um óbito reconhecido pelo órgão a cada sete dias. Os dados, evidentemente, são questionados: o Observatorio Ciudadano Covid-19, que organiza registros de forma independente, já lista 3.055 mortes suspeitas. E os fatos se acumulam para aumentar a pouca fé nos dados oficiais: nesta semana, escolas particulares voltaram a suspender aulas presenciais, diante de uma “aparente segunda onda”, em um país que nunca interrompeu as atividades formalmente. Médicos do país também acreditam que a variante brasileira, mais agressiva, já circula por ali, o que coloca a Nicarágua novamente em contraste com todos os outros países que já a identificaram: enquanto a P1 levou a colapsos e aumentos explosivos nos números, inclusive na vizinha Costa Rica (que registrou seu recorde de contágios nesta semana), em solo nicaraguense tudo segue como antes – pelo menos, para quem confia nas planilhas do governo. Na VosTV.
PANAMÁ 🇵🇦
O governo prorrogou por dois meses a permanência de 122 profissionais de saúde cubanos para não reduzir esforços contra a covid-19, informou o Ministério da Saúde. Os especialistas fazem parte de um grupo de 230 pessoas que chegou ao Panamá em dezembro; a prorrogação do acordo veio após diversas autoridades sanitárias locais pedirem a continuidade do reforço, sobretudo de mão de obra médica. Apesar de manter uma estabilidade em torno de 2,2 mil novos contágios semanais em abril (muito abaixo do pico de 23 mil casos a cada sete dias vivido nas primeiras semanas de janeiro), o governo teme um novo repique e quer “estar preparado para qualquer situação”. Na Prensa Latina.
PARAGUAI 🇵🇾
O país estaria disposto a um novo aceno para agradar o governo de Israel, informou o presidente Mario Abdo Benítez após se encontrar com o embaixador Yoed Magen. Segundo Marito, a nação sul-americana poderia abrir um “escritório comercial” na cidade. Em 2018, seguindo os passos de Donald Trump, o Paraguai chegou a mover sua embaixada em Israel para Jerusalém, desagradando palestinos, mas apenas quatro meses mais tarde acabou voltando para Tel Aviv – um vaivém que incomodou o governo israelense, que chegou a fechar sua própria embaixada em Assunção na época. A nova reaproximação teve preço: Israel cedeu quatro respiradores e outros equipamentos hospitalares para um Paraguai que vive colapso sanitário pela pandemia e, pela oitava semana consecutiva, registrou recorde de mortes por covid-19 em sete dias: 670, o equivalente a 94 óbitos por milhão de habitantes (taxa proporcional superior, por exemplo, à do Brasil, que registrou 83 por milhão nesta semana). No ADN.
PERU 🇵🇪
O esquerdista Pedro Castillo continua muito à frente de Keiko Fujimori na corrida do segundo turno das eleições presidenciais. Ao menos, é o que seguem apontando as pesquisas. Nesta semana, o Instituto de Estudos Peruanos (IEP) apontou uma preferência de 41,5% dos eleitores por Castillo, contra 21,5% da filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000). Já o Datum dá uma margem com metade do tamanho: 44% a 34% para Castillo. Na primeira sondagem divulgada após a confirmação do segundo turno, pelo instituto Ipsos Perú, Fujimori tinha 31% contra 42% de seu adversário. Enquanto segue à frente, Castillo chegou a suspender suas atividades de campanha, sendo levado às pressas para um hospital de Lima na quinta (29), após sofrer uma “descompensação respiratória”. Ele se recuperou e voltou à rua no dia seguinte. O segundo turno acontece apenas em 6/6. Via EFE.
Un clic:
PORTO RICO 🇵🇷
A ilha já tem 362 casos oficiais de covid-19 atribuídos a variantes do vírus, incluindo registros das três cepas mais agressivas e consideradas dignas de maior atenção pela OMS: a maioria (241) é da variante britânica, mas também há 13 casos da brasileira e um da sul-africana. Os números reais, porém, podem ser muito maiores. Como em outros locais da América Latina, a chegada de variantes distintas das que já circulavam em 2020 também contribuiu para Porto Rico viver um aumento vertiginoso dos casos no primeiro terço deste ano: já foram 114 mil contágios em 2021, apesar de uma das vacinações mais rápidas da região, contra 133 mil ao longo do ano passado inteiro. Em El Vocero.
Uma turista estadunidense foi presa no saguão de um hotel após “apresentar comportamento agressivo” e morder a mão de um policial. O episódio aconteceu na região turística de Isla Verde e intrigou funcionários, que chamaram a polícia após um suposto surto da hóspede. Ela foi levada à delegacia local e pode responder por agressão. Via EFE.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O governo anunciou a suspensão das importações de raízes, tubérculos, rizomas e material de plantio de banana vindos de Colômbia e Peru, que vêm sendo afetados por uma praga, informou o Ministério da Agricultura. A entidade disse ainda que passou a intensificar a vigilância fitossanitária em portos, aeroportos, postos de fronteira e fazendas. Os dois andinos foram afetados pelo Fusarium R4T, um fungo agressivo contra bananeiras, que murcham e morrem muito rapidamente após contaminadas. Por não haver, ainda, solução para frear o avanço da praga, vários países dependentes da comercialização da fruta têm estado em alerta. No limite, devido às características da banana e à forma como ela é cultivada, o fungo poderia levar até mesmo à extinção da fruta. Via EFE.
URUGUAI 🇺🇾
Um susto: o ex-presidente Pepe Mujica (2010-2015), de 85 anos, precisou ser internado às pressas na terça (27) por um motivo incomum: estava com uma espinha de peixe entalada no esôfago, o que fez necessária uma endoscopia de emergência. Até o fechamento deste GIRO, o político afastado da vida pública desde outubro não corria maiores riscos e estava “bem”, segundo a mídia local. Mujica deixou seu cargo no Senado após longos anos de vida pública pelos riscos da pandemia, já que, além da idade, padece de uma doença autoimune. Em El Observador.
VENEZUELA 🇻🇪
A Procuradoria-Geral do país confirmou a prisão de 10 funcionários da estatal petroleira PDVSA por suposto desvio e venda de cerca de 3 milhões de litros de combustível, em meio a uma das mais graves crises energéticas do país e que tem levado a reivindicações em diversos setores. Segundo o governo Nicolás Maduro, trata-se de “criminosos que tentam lucrar às custas da sociedade”. Entre os detidos, segundo a Procuradoria, estão pessoas que ocupam altos cargos na empresa petrolífera, que há anos dribla sanções, corrupção e sucateamento para seguir funcionando. Via Reuters.
A ONG Médicos Unidos pela Venezuela (MUV), que vem monitorando a pandemia e reunindo esforços em meio ao desabastecimento geral, relatou que o número de profissionais da área da saúde vítimas da covid-19 no país já passa de 513; só no último dia 22, foram 14 em 24 horas. Além de desfalcar o já combalido sistema de saúde de uma mão de obra também bastante escassa, as mortes relatadas extra-oficialmente chamam atenção pelo contraste com os números divulgados pelo governo: até o fechamento desta edição, eram 2,1 mil mortos (oficialmente) em todo o país. Segundo a MUV, o total poderia ser pelo menos cinco vezes maior. No Pitazo.
Sempre tido como santo, o “médico dos pobres” agora tem caminho aberto para se tornar santo mesmo: durante a semana, foi beatificado José Gregorio Hernández (1864-1919), em uma discreta igreja da capital Caracas, a fim de evitar grandes aglomerações. Figura muito conhecida e exaltada no país acima das desavenças ideológicas, Hernández ganhou fama popular por sua benevolência e pode até “abençoar” uma ferida aberta no país: o papa Francisco espera que a eventual canonização do médico, bem-vista por todos os espectros, possa ajudar em um diálogo entre os dois lados políticos que há anos se digladiam. Na RFI.