Colômbia: 37 mortos em nova onda de repressão policial
El Salvador: governo remove juízes do Supremo | Bolívia: governo Trump ameaçou pesquisadores que negaram fraude em 2019 | Literatura: nova série traz traduções inéditas de escritores platinos
“Nos están matando en Colombia” não é só a hashtag que milhares de colombianos têm usado nas redes sociais para denunciar o banho de sangue que vem tingindo de vermelho as ruas de Bogotá, Cali e várias outras cidades pelo país. A frase-símbolo da nova onda de protestos contra o governo também foi dita pelo estudante Lucas Villa, alvejado oito vezes por agentes de segurança enquanto protestava pacificamente próximo à Universidade de Pereira, capital do departamento de Risaralda. Villa passou boa parte da semana com um quadro neurológico “grave” e seguia lutando pela vida até o fechamento desta edição. O drama do rapaz, agora o rosto da resistência da juventude colombiana, não é único: até sexta-feira (7), segundo a ONG de direitos humanos Temblores, 37 pessoas foram mortas e mais de 300 ficaram feridas desde o início do levante contra a reforma tributária proposta pelo governo (saiba mais no GIRO #79) no último dia 28/4. Ainda de acordo com a entidade, também há denúncias de tortura e violência sexual. Em Cali, um dos epicentros da repressão, a prefeitura chegou a decretar estado de emergência na noite de quinta (6). Atento à semana de violência na Colômbia, o GIRO traz junto com esta edição um episódio especial do podcast, com participações da cientista política Marília Closs e dos jornalistas colombianos Julian Bautista e Alejandra Garzón, direto de Bogotá. Você pode ouvi-lo no Spotify clicando no quadro abaixo e em outros tocadores clicando aqui.
Com um saldo de mortos pela polícia que já chegava a 31 só nos primeiros quatro dias de Paro Nacional, o presidente Iván Duque – que, de forma protocolar, chegou a “lamentar” o ocorrido com Lucas Villa – resolveu retirar o projeto, o que não impediu a renúncia de seu ministro de Finanças. Nas ruas, porém, a população seguiu inflamada, mais uma vez inquieta diante de um novo massacre de manifestantes a despeito do recuo do governo: após o Congresso remover o texto, as mortes nas mãos de agentes de segurança seguiram acontecendo. Em cartazes, a população demonstrava que seguiria sem recuar: “se um povo tem que tomar as ruas em meio a uma pandemia, é porque o governo é mais perigoso que o vírus” – garantia outra frase que passou a ser comum.
De fato, nem mesmo os piores dias da pandemia têm afastado o povo das ruas. A última semana manteve o patamar recorde acima de 3 mil óbitos em sete dias, ao passo que hospitais seguem abarrotados. Em meio ao cenário de caos total, Duque se viu obrigado a recuar mais uma vez – não sem antes oferecer uma recompensa de 10 milhões de pesos (cerca de R$ 13,7 mil) por informações que levassem a “vândalos” – e propôs um canal de diálogo com os manifestantes. Mas, em um contexto de consensos improváveis e exaustão por se tratar de só mais um ciclo de repressão (em 2020, como contamos em vídeo, a polícia também matou dezenas que se manifestavam contra a própria brutalidade policial), a jogada do mandatário é estratégica: com uma aprovação em declínio e que bateu 33%, o herdeiro político do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) teme não só pela perda do próprio cargo, mas pelo futuro do uribismo a pouco mais de um ano das eleições presidenciais de 2022. Um temor que procede: o rechaço generalizado ao governo, agora potencializado pela violência, tem melhorado a imagem de Gustavo Petro, candidato de esquerda derrotado por Duque em 2018 e agora favorito para vencer no próximo ano. Ao longo da semana, Petro vem denunciando a violência desenfreada, sugerindo renúncias e repercutindo a comoção internacional pela gravidade das repressões em terras colombianas – o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e a União Europeia condenaram a violência.
Para além do novo episódio de brutalidade nas ruas, fato que se repete de tempos em tempos, a Colômbia parece se reencontrar cada vez mais com seus tempos de violência – e de forma generalizada: se nas cidades pessoas são atropeladas e sinalizadores são lançados contra manifestantes, a violência armada em áreas rurais, efeito direto do poroso Acordo de Paz entre governo e as FARC (que gerou dissidências e armou grupos de extermínio da ultradireita), fez explodir a violência contra líderes sociais e ambientalistas. A Colômbia é o país que mais mata essas pessoas na região, com mais de 1,1 mil assassinatos registrados desde 2016. Resta, agora, saber se o grito de basta mudará mais do que só um texto de reforma: a dúvida é se a violência afetará a escolha dos eleitores, em uma chance inédita para os colombianos quebrarem um ciclo histórico de governos à direita. Essas eleições, porém, estão a mais de um ano de distância: somente serão celebradas no final de maio de 2022. Já a carnificina com chancela do poder público segue acontecendo agora.
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DESTAQUES
🇧🇴 BOL – O Departamento de Justiça dos Estados Unidos ameaçou intimar judicialmente os pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) cuja análise estatística demonstrou não ter havido fraude nas eleições de 2019 – contrariando a versão dos golpistas que derrubaram Evo Morales, endossada pela Organização dos Estados Americanos (OEA). A revelação foi feita pelo Intercept norte-americano, com base em e-mails até aqui desconhecidos enviados aos estudiosos. De acordo com o texto, o Departamento de Justiça estaria colaborando com uma “investigação criminal” levada a cabo pelo governo interino de Jeanine Áñez, revelando novas ligações do governo Trump com o golpe boliviano. O fim dos dois governos, nos EUA e na Bolívia, parece ter interrompido a alegada investigação e as intimidações a quem questionou a narrativa golpista.
🇸🇻 ELS – Foi rápido: tão logo os aliados do presidente Nayib Bukele assumiram a maioria da Assembleia Nacional, no último sábado (1º), o governo foi além do que muitos críticos acreditavam e já se mobilizou para destituir a parte da Suprema Corte que decide sobre temas constitucionais. Até aqui “contido” pelo Legislativo e pelo Judiciário, Bukele agora conta com aliados nos três ramos do poder salvadorenho, levantando alertas internacionais (veja mais em Un video). O movimento, classificado pela oposição como um golpe de Estado, foi acompanhado de outro golpe: na terça-feira (4), o governo exibiu em rede nacional uma suposta conversa “ao vivo” com diplomatas estrangeiros na qual questionava as críticas externas – no entanto, o diálogo (que teve a notória ausência dos EUA), teria sido gravado no dia anterior, e realizado sob a condição de que seria mantido secreto, como denunciaram embaixadores presentes no encontro surpreendidos pela divulgação das imagens. Enquanto isso, até a OEA – que algo entende de golpes – já manifestou reservas sobre o avanço do “Bukelistão” e acusou o país de “seguir o caminho” de Cuba e Venezuela, os velhos párias da entidade.
🇲🇽 MEX – Um desastre no metrô da Cidade do México indignou o país durante a semana: na noite de segunda-feira (3), um viaduto do trem despencou sobre uma rua da capital mexicana, matando 26 pessoas, entre passageiros e ocupantes de automóveis que ficaram sob os escombros. A linha 12, interrompida pelo acidente, tinha longo histórico de problemas desde sua inauguração, há nove anos: já havia permanecido fechada entre 2014 e 2015 para corrigir problemas de construção e, apesar das obras, os temores dos passageiros quanto a descarrilamentos continuavam frequentes, uma situação que se agravou quando a própria integridade da estrutura passou a ser posta em dúvida, na sequência de terremotos registrados em 2017. Por fim, os alertas se provaram fundamentados. Agora, o governo promete investigar os longos anos de negligência diante da tragédia anunciada. Em El País.
🇵🇾 PAR – A nuvem cinzenta dos escândalos de furo de fila na vacinação chegou ao Paraguai. Na terça (4), um dia após o Ministério da Saúde admitir que já investigava 500 possíveis aplicações irregulares, a senadora Mirta Gusinsky renunciou ao cargo, admitindo um “erro”. Ela é só uma de ao menos cinco autoridades que já foram afastadas por conta do escândalo e disse que “mentiu” ao negar as acusações reportadas pelo Ministério – Gusinsky tem 73 anos, enquanto a faixa de aptos a vacinar ainda está nos 75. Em comunicado, a pasta prometeu “tolerância zero” com irregularidades. Além do óbvio problema de ver autoridades se beneficiarem de cargos de influência para obter vacinas, o Paraguai é um dos latino-americanos com menor taxa de vacinação: eram apenas 143 mil doses aplicadas até o fechamento desta edição, com só 0,2% da população totalmente imunizada. No ABC Color.
🇻🇪 VEN – Saídas. É o que governo e oposição às vezes parecem buscar. Durante a semana, a Assembleia Nacional (AN) venezuelana, enfim controlada por governistas depois de cinco anos, resolveu permitir a entrada de membros da oposição no Conselho Nacional Eleitoral. É a primeira vez desde 2005 que a oposição terá dois assentos no comitê de cinco pessoas, grupo responsável por supervisionar os processos eleitorais (que, desde os anos de Hugo Chávez, são questionados pela oposição). Foi só um dos acenos dos chavistas aos adversários: o governo passou recentemente a reconhecer números da crise humanitária e até a admitir a violência de agentes de segurança contra opositores. Uma missão da ONU para ações contra a fome também teve autorização para entrar no país. Os motivos da trégua pontual, no entanto, seguem divergindo opiniões. Em El País.
Un video:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
A polêmica doação de vacinas à Conmebol, Confederação Sul-Americana de Futebol, segue dando o que falar. Enquanto alguns times passaram a receber as primeiras doses ao desembarcarem no Paraguai – com a “vacinação do futebol” ainda não autorizada no Brasil, o Atlético Goianiense foi o primeiro brasileiro a entrar na lista por ter passado por Assunção durante a semana –, outros, entre eles os argentinos River Plate, Lanús e Argentinos Juniors, recusaram a injeção, aumentando as acusações contra a entidade máxima do futebol sul-americano. Tudo piora quando se analisa os números da vacinação no país-sede da organização: até o fechamento desta edição, só 143 mil doses foram aplicadas em paraguaios, enquanto o futebol, sozinho, fez 50 mil doses passarem pelo Paraguai rumo aos braços de atletas e dirigentes de dez países diferentes. Durante a semana, a América Latina registrou uma queda no número de casos e mortes por covid-19, mas ainda em um patamar que seria recorde em qualquer semana 2020 (leia aqui nosso levantamento dos últimos sete dias). No Última Hora.
ARGENTINA 🇦🇷
O governo federal não tem autoridade constitucional para mandar fechar as escolas na capital Buenos Aires. Esta é a conclusão da Suprema Corte do país, colocando um ponto final na disputa entre o presidente Alberto Fernández e o governo local – enquanto o ocupante da Casa Rosada defende uma nova interrupção das atividades presenciais, em um momento em que o país enfrenta mais de 95% de ocupação nos hospitais e o temor por seu primeiro colapso real nesta pandemia, a oposição à frente da administração porteña vem trabalhando pela abertura até onde seja possível. Embora a decisão do Supremo não tenha sido exatamente uma surpresa, a resposta furiosa de Fernández e da ex-presidenta e hoje vice, Cristina Kirchner, chamou atenção: “está muito claro que os golpes contra as instituições democráticas eleitas pelo voto popular já não são como antigamente”, disse ela nas redes. Em El País.
A morte do ídolo Diego Armando Maradona (1960-2020), em novembro, segue ganhando contornos criminais: uma junta médica de 22 peritos concluiu que o maior nome do futebol argentino “agonizou por 12 horas” e recebeu tratamento “deficiente, temerário e indiferente” dos profissionais de saúde que o cuidavam na época. O documento, que será incorporado ao processo judicial que investiga irregularidades no atendimento ao antigo craque em seus últimos momentos, conclui que o ex-atleta teria “mais chances de sobrevida” se tivesse sido internado adequadamente em uma clínica em vez de permanecer isolado na casa onde acabaria falecendo. Na CNN.
BOLÍVIA 🇧🇴
Jesús Einar Lima Lobo, boliviano acusado de ser um dos capos do narcotráfico na região amazônica, foi extraditado pela nação andina ao Brasil na quarta-feira (5). Procurado por autoridades brasileiras e colombianas, ele havia sido detido na Bolívia em 2019 e, apesar dos pedidos de extradição virem desde então, isso não havia ocorrido. O atual ministro de governo, Eduardo Del Castillo, acusou o governo interino de Jeanine Áñez (2019-2020) de “proteger os peixes gordos do narcotráfico”, razão que teria motivado a permanência de Lima Lobo no país até agora. No Infobae.
CHILE 🇨🇱
Um acordo histórico anunciado na sexta-feira (7) pode finalmente abrir caminho para a normalização das relações diplomáticas entre Chile e Bolívia, após décadas de uma briga que, a rigor, vem desde a Guerra do Pacífico (1879-1883), quando os bolivianos perderam para os vizinhos sua saída ao mar. O “roteiro” bilateral, no entanto, deve servir para restabelecer cooperação em outros setores, mas ainda sem tocar na controversa questão marítima - demanda que La Paz considera “irrenunciável”. Apesar de vizinhos e de manterem grande intercâmbio, Bolívia e Chile não têm embaixadores um do outro (apenas cônsules) desde 1978, época do último rompimento, quando um acordo entre as ditaduras de Hugo Banzer (1971-1978) e Augusto Pinochet (1973-1990) caiu por terra após o Peru se negar a participar de uma alternativa que devolvesse aos bolivianos algum acesso ao Oceano Pacífico. Em La Tercera.
Ambientalistas chilenos vêm reintroduzindo emas nativas, por lá chamadas de ñandú, na região da Patagônia, em uma busca por repovoar a região com os animais quase extintos na vida silvestre do país devido à caça ilegal. Desde 2014, ñandúes criados em cativeiro foram pouco a pouco liberados na zona e acompanhados por especialistas, fazendo com que a população inicialmente de 20 espécimes tenha aumentado para 70 desde então. De acordo com os responsáveis pelo projeto, o objetivo é chegar a uma centena de animais adultos para que a comunidade seja “capaz de sustentar-se com o tempo”. A semana também foi de otimismo para especialistas da área ambiental: o ministro de Energia e Minas, Juan Carlos Jobet, informou que o país vai sediar a cúpula internacional de energia limpa, prevista para acontecer na primeira semana de junho. Em El Popular.
COLÔMBIA 🇨🇴
Parece até Breaking Bad: um colombiano procurado pela Interpol por comandar uma rede de tráfico de cocaína, morfina, heroína e metanfetamina foi preso durante a semana em Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro. Sullivan Loaiza Durango, 36, ficou conhecido por facilitar o envio de droga de Medellín aos EUA e estava foragido da Justiça. Após ser capturado em Saracuruna, em uma região dominada por milícias, Durango será mantido no sistema prisional fluminense até que o processo de extradição seja concluído. Via EBC.
Páginas de um rio:
Palavras minuciosas, se te deitas
te comunicam as preocupações.
As árvores e o vento te argumentam
juntos, dizendo-te o irrefutável
e é possível até que apareça um grilo
que em meio à vigília da tua noite
cante para indicar os teus erros […]
A partir desta semana, o GIRO começa a publicar a série Páginas de um rio, que trará traduções inéditas de textos de escritores platinos. Quem nos conduzirá nesta jornada é o jornalista e escritor Iuri Müller, pesquisador em literatura. Hoje, começamos com poemas da uruguaia Ida Vitale (Montevidéu, 1923-), agraciada com o Prêmio Cervantes, o mais importante da língua espanhola, em 2018. Clique aqui para ler as traduções de “Acidentes noturnos”, cujos versos iniciais são reproduzidos acima, “Aclimatação” e “Este Mundo”.
COSTA RICA 🇨🇷
O governo chegou a um acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para acessar duas linhas de crédito que totalizam US$ 500 milhões, com o objetivo de estabilizar as finanças públicas golpeadas pela pandemia. O acordo se soma a outro, assinado junto ao FMI e alvo de fortes protestos em 2020 por exigir medidas de austeridade, que havia concedido US$ 1,75 bilhão ao país. Segundo o governo, os recursos serão empregados na emergência sanitária e em programas sociais que buscam reduzir a pobreza e a desigualdade. Via EFE.
O padre Sergio Valverde Espinoza virou hit no país com uma canção instando os fiéis a se proteger contra o coronavírus: ao ritmo de Sopa de Caracol, um sucesso centro-americano da década de 90, o pároco da capital San José adaptou a letra para estimular seu rebanho a usar máscaras e tomar os devidos cuidados: “te tienes que cuidar / te tienes que apartar / si no al hospital / vas a ir a parar / y si te descuidas / te hago el funeral”, vem cantando Valverde nas missas de finais de semana, acompanhado por frases motivacionais como “vamos vencer, a covid não vai nos matar”. Nas últimas semanas, após identificar a variante brasileira em seu território, a Costa Rica passou a viver seus piores dias na pandemia, com as internações saltando 199% em um mês e atingindo a maior ocupação em UTIs desde a chegada do coronavírus. O vídeo e a história de Valverde.
CUBA 🇨🇺
A ilha segue aberta a mudanças: durante a semana, Mariela Castro, filha de Raúl Castro e diretora do Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba (Cenesex) disse que mantém as esperanças de que o casamento igualitário passe a vigorar “em menos de dois anos”. A fala veio durante a abertura da XIV Conferência Cubana contra a Homofobia e a Transfobia. Sob a bandeira de “direitos para todos”, o evento pode estimular o governo a aprovar um novo Código de Família que contemple esse direito civil. Em 2018, quando Havana redigia sua nova Constituição, o tema chegou a ser incluído, mas acabou rechaçado em consultas populares, em movimento liderado por grupos religiosos. Apesar da demora, Cuba está longe de ser o único país latino-americano com resistência histórica ao casamento igualitário: atualmente, na região, ele é permitido nacionalmente apenas apenas em Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador e Uruguai, além de alguns estados mexicanos. No OnCuba.
Acabou, à força, a greve de fome do dissidente Luis Manuel Otero Alcántara: no último domingo (2), após sete dias de protesto, o artista que também é um dos líderes do movimento oposicionista San Isidro (MSI) foi levado a um hospital por forças do governo. O informe oficial afirmou que Otero não apresentava sinais de desnutrição ou desidratação, versão questionada pelo MSI. Otero, que chegou a ser detido por protestar durante o Congresso do Partido Comunista, na metade de abril, exigia a devolução de sua arte (parcialmente destruída na ocasião), indenização e o fim do acosso policial a ele e ao grupo. O San Isidro vem ganhando destaque internacional e gerando atípicos protestos na ilha, enquanto o governo acusa seus integrantes de atuarem a soldo de Washington. Via Reuters.
EQUADOR 🇪🇨
O presidente Lenín Moreno, a poucos dias de deixar o cargo, tem certeza absoluta que o venezuelano Nicolás Maduro está por trás dos protestos na vizinha Colômbia. “Os serviços de inteligência do Equador detectaram, e já comuniquei ao presidente [colombiano] Iván Duque, a grosseira intromissão do ditador Maduro na Colômbia”, declarou Moreno na quarta (5). Não é a primeira vez que o atual governo equatoriano acusa a Venezuela de estar por trás de agitações: em outubro de 2019, quando o próprio Lenín Moreno balançou em enormes protestos que o levaram a decretar estado de exceção, o presidente do Equador já havia afirmado que Maduro estaria envolvido nas manifestações, como contamos na primeira edição deste GIRO. Na Semana.
Enquanto Moreno dá suas últimas flechadas antes de deixar o cargo, o presidente eleito Guillermo Lasso aproveita as semanas prévias à troca de comando do país para tirar férias: o presidente e a família viajaram para fora do Equador e só devem retornar no próximo dia 16. O conservador, que derrotou o favorito representante do correísmo, Andrés Arauz, no segundo turno das eleições, toma posse em 24/5. Entre suas metas para os primeiros 100 dias de governo, a mais ambiciosa é imunizar 9 milhões de cidadãos, o equivalente a 52% da população do país. Até aqui, o Equador só conseguiu aplicar as duas doses da vacina em 1,4% da população. Em La Hora.
Já o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) estaria na Venezuela neste momento. Ao menos é o que diz a EVTV Miami, canal de expatriados venezuelanos na Flórida, que difundiu um vídeo em que o antigo mandatário do Equador é recebido por um suposto funcionário do governo em Caracas. Embora a veracidade do vídeo não tenha sido comprovada até o momento e nem esteja clara a eventual agenda de Correa, já surgiram acusações de que o ex-presidente estaria fugindo de um pedido de extradição: às voltas com a Justiça do país, Rafael Correa exilou-se voluntariamente na Bélgica e apostava suas fichas na vitória eleitoral de Andrés Arauz, que acabou não acontecendo. Agora, a Interpol está atrás dele. Em El Nacional.
GUATEMALA 🇬🇹
O país fará parte da primeira viagem internacional da vice-presidenta dos EUA, Kamala Harris, desde que tomou posse em janeiro. Washington confirmou que Harris deve realizar visitas entre os dias 7 e 8/6 a México e Guatemala para discutir investimentos com o objetivo de reduzir os fluxos migratórios. Desde o início do governo Joe Biden, a expectativa de termos mais amigáveis para quem busca refúgio nos EUA levou quantidades recordes de migrantes centro-americanos a se dirigirem à fronteira norte do México (expectativas que não foram de todo infundadas: durante a semana, a Casa Branca anunciou que aumentaria o número máximo de asilos concedidos anualmente, pulando dos 15 mil da Era Trump para 62,5 mil). Harris já realizou reuniões virtuais com lideranças da região para discutir o tema da migração. Na DW.
Un hilo:
HAITI 🇭🇹
Tentando sair da crise, o governo haitiano agora fala em “unidade nacional” com outros grupos políticos para superar a longa instabilidade dos últimos anos (leia sobre a tentativa de derrubar o presidente Jovenel Moïse no GIRO #68 e saiba mais sobre o momento atual do país neste vídeo). Apesar do “processo de diálogo” anunciado pelo primeiro-ministro Claude Joseph, o governo ainda segue com outras ideias contestadas pela oposição interna e por observadores estrangeiros: durante a semana, Porto Príncipe reafirmou sua intenção de realizar um referendo para mudar a Constituição (originalmente, a ideia era já ter feito isso ainda em abril, mas a instabilidade adiou os planos), a despeito de críticas afirmando que o processo de reforma não é “inclusivo, participativo nem transparente”. Na DW.
HONDURAS 🇭🇳
Símbolo de resistência, a líder campesina e indígena Berta Cáceres (1971-2016), assassinada há cinco anos por sicários, segue viva em reivindicações por justiça. Durante a semana, um acampamento foi montado por grupos feministas em frente à Suprema Corte, na capital Tegucigalpa. Ainda que o caso já tenha levado a detenções, os magistrados agora analisam a situação de David Castillo, ex-militar treinado nos EUA e dirigente da companhia hidrelétrica Desa, à qual Berta e outras lideranças rurais relacionam violações de direitos ambientais e de comunidades indígenas lencas. Castillo é apontado como mentor intelectual do crime. No Criterio.
MÉXICO 🇲🇽
Simbólica e histórica, uma cerimônia realizada na segunda (3) em Yucatán marcou o pedido de perdão do Estado mexicano ao povo maia por séculos de abusos e exploração. A data escolhida tem a ver com o 120º aniversário da data considerada “final” do conflito conhecido como Guerra de Castas, uma longa revolta dos descendentes dos povos originários contra mexicanos de ascendência europeia na região, que se iniciou em 1847 – embora escaramuças tenham seguido até 1933, convencionou-se considerar maio de 1901 como desfecho da guerra, quando a capital maia em Yucatán, Chan Santa Cruz, foi tomada pelo Exército do México. A cerimônia, marcada por diferentes protestos sem relação direta com a causa indígena (ao longo do dia, agricultores, estudantes e feministas se manifestaram com pautas distintas), contou com a presença do presidente López Obrador e de seu homólogo guatemalteco, Alejandro Giammattei, representando outro país que enfrentou os maias na época. Os dois pediram desculpas. Na BBC.
Durou pouco: minutos após ser liberado da prisão, Héctor “El Güero” Palma Salazar, conhecido integrante do narcotráfico mexicano, voltou a ser detido em função de uma nova ordem de prisão, feita após autoridades dos EUA confirmaram um pedido de extradição. O papelão foi muito criticado pelo presidente López Obrador, que disparou: “trata-se de um assunto de importância nacional; imaginem as suspeitas, as piadas, os memes”. O caso chamou a atenção por não ser a primeira lambança envolvendo prisões e chefes do narco: há oito anos, por conta de uma ordem de soltura indevida, um megatraficante saiu da prisão e voltou à atividade violenta em seguida, causando indignação em um país que à época prometia tolerância zero contra o crime organizado. No Expreso.
NICARÁGUA 🇳🇮
Ativistas e defensores dos direitos humanos declararam à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), em audiência realizada durante a semana, que o governo Daniel Ortega segue perseguindo diversas organizações. Ameaçados desde a crise social de 2018, que causou centenas de mortes, prisões arbitrárias e migrações forçadas, eles dizem que o terceiro aniversário do estopim fez surgir uma “nova onda de ataques”. Para representantes de ONGs nicaraguenses, muitos deles atuando no exílio, “o governo trata defensores como inimigos do Estado” e nem mesmo as resoluções da mesma Corte IDH têm sido garantia de segurança. Na Prensa.
Un clic:
PANAMÁ 🇵🇦
As autoridades interceptaram oito cidadãos da Índia e um do Equador que vinham sendo auxiliados por um “coiote”, como são conhecidos os que facilitam a imigração ilegal, muitas vezes sob condições violentas e extorsivas. O suposto criminoso foi detido na província de Darién, na fronteira com a Colômbia. Já os migrantes em questão, segundo o Serviço Nacional de Fronteiras, estavam localizados em um barco cujas condições não foram detalhadas. Segundo o Ministério Público, o detido será enquadrado “pelo crime de tráfico ilícito de migrantes”. Durante o primeiro trimestre de 2021, mais de 7 mil pessoas entraram irregularmente no Panamá por Darién; foram mais de 4,4 mil só em março, de acordo com dados oficiais. A maioria tenta passar pelo Panamá para seguir viagem até os EUA, não sem antes enfrentar condições desumanas. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
A Agência Espacial do Paraguai (AEP) não descarta que partes do foguete chinês Long March 5B, que pesa 22 toneladas, possam cair em território paraguaio: “existe uma mínima possibilidade”. Descontrolado, o equipamento vem sendo monitorado por diversos especialistas, que temem eventuais acidentes causados pelos destroços. Na noite de sexta (7), paraguaios registraram em imagens a passagem dos restos do foguete pelos céus do país, a uma altura estimada de 170 km. Segundo autoridades da AEP, novos projetos de desenvolvimento na área têm aumentado a quantidade de lixo espacial “lamentavelmente”. Em La Nación.
PERU 🇵🇪
Não é garantido que Marcelino “Mashico” Abad de fato tenha 121 anos de idade, o que faria dele o ser humano mais velho do mundo. No entanto, é quase certo que o senhorzinho indígena que mora em Cormilla, município de Chaglla, seja o peruano mais longevo a receber doses da vacina da covid-19. O agricultor, que diz ter nascido em 1900, não foi vacinado sem que uma verdadeira expedição de 3 horas fosse criada para que a aplicação acontecesse. A idade de Mashico foi confirmada pelo Ministério da Saúde, embora a documentação seja questionada fora do país (oficialmente, o recorde verificado de pessoa mais velha ainda viva pertence desde 2018 à japonesa Kane Tanaka, hoje com 118 anos). No Minuto.
Keiko Fujimori, a filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), segue atrás do esquerdista Pedro Castillo na corrida rumo ao segundo turno das eleições presidenciais, marcado para 6/6, mas vem recortando distâncias. Em semana marcada pelo primeiro debate entre os dois nesta etapa das eleições (com troca mútua de acusações de corrupção), o instituto Ipsos Perú revelou oscilação para cima dos dois concorrentes, com redução dos indecisos: agora, Castillo aparece com 43% das intenções de voto contra 34% de Keiko – antes, de acordo com o próprio Ipsos, as porcentagens eram 42% e 31%, respectivamente. Já o Datum, instituto que dava a menor vantagem para Castillo até aqui, afirma que ela reduziu pela metade: agora, o placar em pontos percentuais está 41x36 a favor do esquerdista, contra 43x34 na enquete anterior. Tachado de extremista, Castillo vem tentando se reposicionar como um nome mais palatável nos últimos tempos, e lançou até mesmo uma “carta” ao povo peruano, comprometendo-se com uma série de pautas e também a entregar o cargo em 2026, após acusações de que tentaria imitar Evo Morales e Hugo Chávez e se prolongar indefinidamente no poder. Na teleSUR.
PORTO RICO 🇵🇷
A Justiça ordenou a prisão do pugilista Félix Verdejo, acusado de matar sua amante grávida de 27 anos, cujo corpo foi encontrado em uma lagoa com várias marcas de violência. O atleta também é acusado de roubo de carro e sequestro, além de causar a morte do feto carregado por Keishla Rodríguez. No começo do mês, a polícia fez buscas e encontrou o corpo da mulher em um local próximo à capital San Juan. A mãe da vítima chegou a alertá-la sobre os comportamentos de Verdejo. O caso, que agora está nas mãos da justiça federal dos EUA, gerou comoção na ilha e protestos de movimentos feministas. Segundo a juíza Camille Vélez, o caso é “elegível à pena de morte”. O governador Pedro Pierluisi lamentou o ocorrido, dizendo que em Porto Rico há “uma cultura sexista e discriminatória que precisa ser corrigida”. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Disputas em torno do rio Massacre, na fronteira norte com o Haiti, vêm dando o que falar na ilha de Hispaniola: autoridades haitianas desejam desviar o curso do leito fluvial, gerando temor no outro lado da divisa de que as águas já não cheguem para abastecer os dominicanos que vivem na área. Em Santo Domingo, o governo cobra respeito a um tratado de 1929 no qual os dois países acordaram “não fazer nem consentir nenhuma obra capaz de mudar a corrente [das águas]”. Enquanto do lado haitiano já se abriu um canal de mais de um quilômetro, que ainda não foi conectado ao rio, em solo dominicano o governo promete negociar com Porto Príncipe a realização de estudos para que o uso das águas não prejudique algum dos países. No Listin Diario.
Un nombre:
Rio Massacre – a rivière du Massacre, na fronteira entre o que hoje são Haiti e República Dominicana, ganhou esse nome ainda no século 18, após bucaneiros franceses serem mortos por ali pelos espanhóis. No século 20, o nome voltou a ressoar, quando milhares de haitianos (algumas estimativas falam em mais de 35 mil) foram executados na região a mando do ditador dominicano Rafael Leónidas Trujillo, em outubro de 1937. O nome mais antigo do rio e ainda usado por vezes em espanhol, porém, é Dajabón, e teria origem no termo utilizado pelos nativos taínos para se referir ao curso d’água – o significado, contudo, é nebuloso.
URUGUAI 🇺🇾
Um rapaz de 21 anos foi condenado a prestar serviços comunitários por 30 dias após ameaçar o presidente Luis Lacalle Pou na internet. Em uma foto do mandatário no Facebook, o jovem chegou a prometer cometer atos violentos. Não é a primeira vez que isso acontece – e nem que o delito é punido: no final de abril, outro homem foi acionado pelo Ministério Público após dizer: “Quería dejar un mensaje en claro y que se haga viral: quiero matar al presidente”. No Actualidad.
VENEZUELA 🇻🇪
Um encontro improvável teve lugar no palácio presidencial de Miraflores, na terça-feira (4): Nicolás Maduro recebeu uma visita do ator estadunidense Steven Seagal – que, além de tudo, aproveitou a oportunidade para entregar ao venezuelano uma espada de samurai. Seagal também tem cidadania russa e nos últimos anos vem atuando como representante especial do Ministério de Relações Exteriores da nação eurasiática, e foi nessa condição que fez a visita oficial. Não está claro o que foi discutido no encontro, que chamou atenção internacional e recebeu amplo destaque nos canais do governo, mas não parece ter produzido qualquer resultado imediato. Os dois disseram ter conversado sobre Vladimir Putin e brincaram que gravariam um filme juntos. Via Reuters.