Colômbia volta à onda de massacres
Locaute de caminhoneiros no Chile || Novo projeto de lei discute status de Porto Rico || Vídeo: os riscos da Ponte da Amizade na pandemia || País a país, um resumo das notícias do continente
Um filme se repete: grupos armados colombianos fizeram ao menos 42 mortos nas últimas três semanas. Os homicídios seguem aumentando principalmente nos departamentos de Cauca, Valle del Cauca e Nariño – pontos da costa oeste estratégicos para o tráfico de drogas na América Central, além de áreas de mineração ilegal e contrabando. Os dez massacres de agosto remontam aos piores momentos de pico de violência no país e se somam a outros 33 que já tinham sido registrados em 2020. Cerca de 200 pessoas (entre elas, indígenas, líderes sociais e defensores dos direitos humanos) foram assassinadas por milícias neste ano. Pelo Twitter, o presidente Iván Duque (que é apadrinhado político de Álvaro Uribe, defensor da agenda do combate à luta armada com mais violência), instou o ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo, a combater o que chama de “homicídios coletivos” por meio de uma nova unidade especial. Crimes dessa natureza, segundo Duque, “nunca deixaram de existir”. Trujillo, por sua vez, oficializou a nova célula.
Quando falamos de Colômbia é comum que surja o questionamento: quem é responsável pela matança? Os “grupos armados” são compostos tanto por dissidentes das FARC, sicários ligados a latifundiários e grupos paramilitares associados à ultradireita colombiana. Em muitas dessas interseções, as diferenças são tênues: ex-guerrilheiros são dados como bandoleiros contratados e vice-versa. Essa confusão se dá muito por conta da tentativa de ideologizar o debate, atribuindo mortes a determinados setores políticos e, assim, criminalizar opositores. Enquanto isso, as famílias das vítimas e os ex-combatentes suplicam ao governo a ajuda financeira e humanitária prometida pelo processo de paz, mas só recebem de volta o anúncio do recrudescimento da violência estatal e o despejo aéreo de glifosato nas plantações de coca.
😷 Covid: após a queda inédita da semana passada, tivemos uma leve oscilação para cima (2,1% mais casos novos em relação aos sete dias anteriores), mas a América Latina ainda vem mantendo um patamar mais baixo nos números da pandemia. Foi o menor registro de novos óbitos em sete semanas. Além disso, 17 dos 21 locais que acompanhamos apresentam estabilidade ou queda nos novos casos. Leia nosso levantamento semanal.
Un sonido:
ARGENTINA 🇦🇷
Que a China nunca foi lá muito criteriosa na hora de fazer seus negócios, é bastante sabido. E o pragmatismo do governo Alberto Fernández tem aproveitado bem essa característica da potência asiática, sobretudo em um momento pouco pés-no-chão da política externa brasileira: em abril deste ano, por exemplo, enquanto as vendas de Buenos Aires a Pequim cresciam 50% em relação ao mesmo mês no último ano, os negócios entre Brasil e os vizinhos caíam em quase dois terços, segundo números do governo argentino. O volume brasileiro torna difícil que a Argentina supere o Brasil como principal parceira da China na América Latina. O contrário, porém, tem sido uma realidade cada vez mais presente: a China tem tomado o lugar do Brasil quando o assunto é ser o principal país a negociar com os hermanos. Na BBC.
O Senado aprovou o projeto de lei que pretende fazer uma ampla reforma no judiciário do país, com a possibilidade aumentar o contingente de juízes e modernizar os sistemas para, no limite, tornar a estrutura mais eficiente. Pelo menos é isso que defendem o presidente Alberto Fernández, que é professor de direito penal, e sua vice e ex-presidente Cristina Kirchner – que, pelo cargo atual, também ocupa o mais alto posto da câmara alta. A oposição, no entanto, acusa a chapa de mexer nos alicerces da Justiça para tentar livrar Cristina de alguns de seus vários processos por corrupção. Os escândalos, apesar de já terem colocado a peronista no banco dos réus, não são mais fortes que seu foro privilegiado. A medida ainda precisa da aprovação dos deputados até que chegue às mãos de Fernández. O caso ainda terá muitos capítulos. Na Folha.
BOLÍVIA 🇧🇴
As declarações do subsecretário de Obras Públicas da Argentina, Edgardo Depetri, deram o mais novo pretexto para o governo boliviano colocar em suspeição a participação do MAS, partido de Evo Morales, nas eleições presidenciais de 18/10. Desta vez, após encontrar o próprio Evo, que segue asilado em Buenos Aires, Depetri disse que seu país deveria trabalhar para fortalecer a participação dos imigrantes bolivianos no processo eleitoral, “para que a Bolívia volte a ser um país livre e democrático”. A chanceler boliviana, Karen Longaric, apressou-se a acusar o governo Alberto Fernández de estar se preparando para “manipular” os votos dos expatriados. Na interpretação da ministra de Relações Exteriores da interina Jeanine Áñez, a declaração do oficial do segundo escalão argentino é nada menos que um anúncio de que o país vizinho pretende cometer um “delito eleitoral”. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
Com o plebiscito pela reforma constitucional já despontando no horizonte, a menos de dois meses de distância, o Chile discute alternativas para os eleitores que eventualmente estejam confinados em casa porque se contagiaram com covid-19. De um lado, os constitucionalistas recordam que o Estado não pode privar os cidadãos do direito ao voto; do outro, o Ministério da Saúde garante que é impossível permitir que as pessoas com infecção ativa deixem a quarentena. Um dos pontos sugeridos, a abertura da possibilidade para o voto a distância, foi a princípio descartado nesta quinta (27) por exigir uma reforma eleitoral com prazo exíguo. Enquanto os chilenos se perguntam por que ninguém pensou nesse problema antes, a discussão sobre o que fazer continua. O plebiscito ocorre em 25/10. Em La Tercera.
Um locaute de caminhoneiros resgatou, nesta semana, cenas que remetem ao Chile do início dos anos 1970, quando a paralisação do transporte rodoviário foi um dos instrumentos utilizados para minar o governo de Salvador Allende (1970-1973), provocar escassez de alimentos e culminar com o golpe que levou Augusto Pinochet ao poder. A mobilização começou fraca, com adesão de apenas 5% da frota do país, mas continuava a causar barulho nas redes sociais no fechamento deste GIRO, com perfis à direita puxando hashtags como #CamionerosSomosTodos. Os caminhoneiros exigem um pacote com medidas punitivas mais rígidas que garantam “segurança” no sul do país, onde os conflitos com o povo mapuche recobraram força nos últimos meses. Ambivalente diante da paralisação, o governo diz que o abastecimento não está prejudicado, apesar das estradas parcialmente bloqueadas. Em El Mostrador.
COLÔMBIA 🇨🇴
Três mineiros foram resgatados após cinco dias presos em uma mina de carvão na cidade de Lenguazaque, a 100 km da capital. Manuel Sánchez, Juvenes Ávila e Javier Salas foram retirados com olhos enfaixados e cobertos por óculos escuros por conta da forte luminosidade do lado de fora. O presidente Iván Duque acompanhou o resgate pessoalmente e celebrou a missão “exitosa”. O caso em 23/8 foi o terceiro acidente na região nos últimos três anos: em 2018, outros três mineiros foram resgatados de uma mina que desabou. No anterior, porém, um acidente parecido deixou dois trabalhadores mortos. Via AP.
O país aguarda ansioso o início do Tour de France, neste sábado (29), considerado a volta ciclística mais prestigiosa do mundo. O motivo? Vem da Colômbia o atual campeão do evento, Egan Bernal, 23 anos e natural de Bogotá, que em 2019 se tornou o primeiro latino-americano a triunfar na competição que existe desde 1903. Marcado originalmente para começar em 27/6 e adiado por dois meses em função da pandemia, o Tour está previsto para seguir até 20/9, mas uma nova curva ascendente nos contágios em solo francês torna tudo incerto: a disputa vai começar, mas não se sabe se chegará ao fim. De todo modo, Bernal está lá. A primeira etapa, de 156 km, é um círculo que começa e termina em Nice, no sul do país. Em El Tiempo.
Una expresión:
Culo gordo – foi a alternativa encontrada por jornais de países vizinhos para traduzir a expressão tipicamente brasileira “bundão”, utilizada por Jair Bolsonaro na sua primeira fala depois das ameaças à imprensa no último final de semana. Enquanto o Brasil se afunda como exemplo de tudo o que está errado em termos de lideranças na região, o GIRO aproveita para perguntar: afinal, presidente, por que Queiroz e esposa depositaram R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro?
COSTA RICA 🇨🇷
O governo anunciou, na quarta (26), o início da fase de transição para uma “abertura controlada”, que vai de 31/8 a 8/9. Apesar do entusiasmo por parte de comerciantes e de outros setores que dependem da circulação de pessoas, o tom é de cautela: ainda que estabelecimentos possam operar com 50% da capacidade durante esses dias, a medida poderá ser revertida em caso de novos picos de infecção, confirmou o presidente Carlos Alvarado. De fato, o discurso de providência nunca fez tanto sentido. Se antes a Costa Rica administrava a menor taxa de letalidade do continente, agora vem vivendo seus piores dias na pandemia à medida que o primeiro caso latino-americano completa seis meses, com registros diários de até mais de mil novos casos. Via AFP.
CUBA 🇨🇺
O sucesso da ilha no combate ao vírus já dá resultados no exterior: a partir dessa semana, viajantes que voltem (ou venham) de Cuba para o Reino Unido estão desobrigados de passar pelos 14 dias de quarentena, segundo o secretário dos Transportes britânico, Grant Shapps. Ainda que, nas palavras da autoridade, a medida seja fugaz e que tudo siga mudando rápido, o fato de um país central citar os números oficiais para endossar o sucesso cubano é uma conquista para o governo em Havana. Ao contrário de países como Venezuela ou Haiti, Cuba divulga dados consistentes, mas muitas vezes é acusada de mentir como eles, sobretudo por setores conservadores. No Express.
EL SALVADOR 🇸🇻
O governo celebrou, no último sábado (22), mais um dia sem homicídios no país, uma conquista rara em uma das nações mais violentas do mundo, mas que se tornou o grande trunfo da gestão Nayib Bukele: segundo dados oficiais, desde que o presidente tomou posse em agosto de 2019, El Salvador já acumulou 30 dias (não consecutivos) sem homicídios. Até meados de agosto, eram 722 homicídios registrados em solo salvadorenho, uma redução de quase 60% em relação ao mesmo período do ano passado. Nem tudo, porém, são melhorias nos índices de criminalidade salvadorenhos: segundo a Procuradoria-Geral, o país registra uma média de cinco desaparecimentos por dia no que vai do ano, e 357 pessoas que sumiram em 2020 seguem com paradeiro desconhecido.
A Procuradoria-Geral recebeu um ofício para que vários membros da alta cúpula militar sejam investigados, sob acusação de ocultar e destruir documentos relacionados à morte de um piloto de avião salvadorenho que estava em uma missão no Mali, na África Ocidental, em 2019. Entre os acusados está o ministro da Defesa René Merino Monroy, apontado como um dos homens mais poderosos do país – chegou, até, a negar envolvimento do Exército no episódio em que o presidente Nayib Bukele levou um efetivo armado ao Congresso, para pressionar a oposição, em fevereiro. A morte do tenente-coronel Carlos Moisés Guillén Alfaro segue intrigando o país. Na Prensa Gráfica.
EQUADOR 🇪🇨
O Legislativo aprovou o chamado Código Orgânico de Saúde que, entre outras novidades, pode ampliar o direito ao aborto no país. Hoje, a lei permite a interrupção da gravidez somente em casos em que uma mulher com “incapacidade mental” foi estuprada ou, então, em casos nos quais há risco para a vida da grávida – mas críticos da legislação apontam que se trata de uma lei restritiva, que só é aplicada em poucos casos e não contempla a maioria das complicações possíveis em uma gestação. Com o novo Código, a definição do risco seria ampliada para outras “emergências obstétricas”, passando a indicar qualquer perigo “iminente” à vida da mãe ou do feto como possibilidade de interrupção. Abortos em casos de estupros (com exceção do caso específico já previsto em lei) continuam proibidos, mantendo a tônica latino-americana de restringir o acesso à prática, como explicamos neste vídeo. O projeto segue para ser chancelado pelo presidente Lenín Moreno, que evitou tomar partido sobre o tema. No passado, o mandatário chegou a dizer que o assunto era “fisiológico, científico e psicológico, não político”. No Infobae.
Un clic:
GUATEMALA 🇬🇹
Itália, Amsterdã e México. O itinerário euro-americano poderia muito bem ser o que foi adotado pelo revolucionário russo Leon Trotsky no primeiro quarto do século 20, mas é o caminho percorrido pelo ex-ministro das Comunicações, Infraestrutura e Habitação, Alejandro Sinibaldi, que se entregou à Justiça guatemalteca no início da semana, depois de quatro anos foragido. O político é acusado de participar de um esquema de pagamento de subornos em troca de concessão de obras públicas, que teria se desenrolado durante 2013 e 2014. Só Sinibaldi, segundo denúncias, teria embolsado US$ 9 milhões da construtora brasileira Odebrecht. Antes de fugir do país, o ex-ministro também concorreu à presidência nas eleições de 2015. Sinibaldi serviu como chefe de pasta durante o governo de Otto Pérez Molina e Roxana Baldetti – os dois, assim como ele, foram presos por envolvimento em casos de corrupção. Na Prensa Livre.
Causou muita controvérsia o suposto encerramento do acordo de parceria com Cuba que, desde 1998, cede médicos para a nação centro-americana aliviar seus dramas sanitários. A possibilidade de saída dos profissionais justamente durante a pandemia provocou choque no país e seria justificada por uma falta de recursos para manter o acordo. Após as polêmicas, o Ministério da Saúde garantiu que a parceria não será suspensa: em 22 anos, os cubanos já realizaram mais de 47 milhões de atendimentos na Guatemala (quase três vezes a população do país), e hoje são 438 profissionais instalados no país que voltou a prorrogar o estado de calamidade e o toque de recolher, vigentes desde 22/3 em função da crise sanitária.
HAITI 🇭🇹
Uma menina de 10 anos foi a primeira das 21 vítimas da tempestade tropical Laura em solo haitiano, que afetou várias partes do Caribe antes de avançar para os Estados Unidos, na quinta (27). Segundo autoridades, a criança morreu depois que uma árvore atingiu sua casa na comuna de Anse-à-Pitre, a 140 km da capital. Além das vítimas diretas dos sucessivos ciclones, o governo haitiano também teme que a temporada de furacões possa piorar as condições sanitárias na pandemia, sobretudo por aglomerações em abrigos. Em El Caribe.
HONDURAS 🇭🇳
“Mulher, você não está sozinha”. Sob essa bandeira, organizações feministas hondurenhas firmaram uma parceria com a Oxfam e o governo canadense lançando uma nova campanha contra a violência de gênero no país. Além de conscientizar o público, a ação quer acelerar a aprovação da Lei das Casas de Refúgio, que prevê um aumento de centros de acolhimento para mulheres vítimas de abuso sexual e agressão. O projeto está parado no legislativo há dois anos. Segundo a organização Qualidade de Vida, que tem encabeçado a luta pela causa, pelo menos 50 mil mulheres denunciaram episódios de violência na primeira metade de 2020 e cerca de 200 foram vítimas de feminicídio este ano. Via EFE.
MÉXICO 🇲🇽
O Produto Interno Bruto (PIB) registrou uma contração histórica no segundo trimestre, segundo dados da agência nacional de estatísticas. Se o FMI já havia revisado a estimativa de queda anual para -10,5% em 2020 (um dos piores desempenhos no continente), a notícia ruim já ganhou contornos concretos entre abril e junho deste ano, com uma contração anualizada de 18,7% para o trimestre. As previsões são as piores para a economia mexicana desde a crise mundial em 1929 e têm grande relação com o descontrole da pandemia no país: o México é o terceiro país com mais mortes nas Américas (atrás apenas de EUA e Brasil). Em resposta a tudo isso, o gigante latino ao Norte espera avançar na corrida pela vacina, como contado no GIRO #44. Na Prensa de Monclova.
Sem aulas presenciais, o novo ano letivo começou na segunda (24), com uma mescla de aulas online e classes oferecidas pela televisão, em um amplo projeto levado a cabo pelo governo em parceria com alguns dos principais canais do país, tentando possibilitar videoaulas para todos os níveis de ensino em horários alternados. Comentando sobre a situação de outros países que tentaram reiniciar as aulas presenciais e viram novos surtos de covid-19 ou cancelaram inteiramente o restante das atividades, o secretário da Educação, Esteban Moctezuma, exaltou os docentes pelo esforço em se adaptar à realidade da pandemia: “talvez outros países não tenham o comprometimento dos professores mexicanos”. Via AP.
O presidente López Obrador apareceu em um dos spots de campanha de Donald Trump, durante a protocolar Convenção do Partido Republicano que confirmou a candidatura do atual presidente dos EUA à reeleição nesta semana. Na lista de conquistas do governo Trump, o mandatário mexicano surgiu na tela quando o novo acordo comercial da América do Norte, o T-MEC (o sucessor do Nafta), foi mencionado. No início de julho, AMLO visitou a Casa Branca para celebrar o tratado, acenando para uma reconciliação com Trump, de quem foi um ardente crítico (leia mais no GIRO #38). Analistas interpretam que a presença do líder mexicano possa ser uma tentativa do atual presidente dos EUA, que vem mal nas pesquisas, de angariar simpatias entre imigrantes. No Excelsior.
Una palabra:
Lío – confusão ou desordem. A palavra apareceu em muitas manchetes dos cadernos esportivos de língua espanhola na última semana, após o argentino Lionel Messi anunciar que desejava sair do Barcelona, clube onde fez toda a sua carreira e se consagrou como o melhor futebolista do mundo. Em um trocadilho com Lionel, os diários hispanohablantes bradavam que o time catalão se meteu em um lío – já que vai ficar sem Leo.
NICARÁGUA 🇳🇮
Apesar da negligência durante a pandemia, o governo em Manágua anunciou que vai produzir a vacina russa Sputnik V, a primeira registrada contra a covid-19. A ideia se apoia na boa relação entre Daniel Ortega e Vladimir Putin. Especialistas e membros da oposição, no entanto, dizem que o sistema do país é “incapaz” de atender à demanda de Moscou. A decisão, ainda bastante nebulosa, vai na contramão do que o governo tem pregado: sem sequer decretar quarentena, o poder central divulga números tímidos, o que levou à criação de observatórios independentes. Segundo as contas extraoficiais, a Nicarágua tem pelo menos 2,5 mil mortes a mais do que as 137 reportadas pelo Ministério da Saúde. Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
Dias depois de o presidente Laurentino Cortizo dizer que o país mirava um acordo com Cuba para a contratação de médicos, o governo resolveu descartar a ideia. A informação foi confirmada pelo ministro da Saúde, Luis Francisco Sucre. A ideia de recorrer a Havana viria para mitigar a crise no setor de saúde, que acusa o governo de atrasar pagamentos e não fornecer insumos suficientes para os hospitais. Com lema “cuidenos para cuidarlos”, mais de 300 funcionários da linha de frente no combate à pandemia têm pedido atenção do poder público e da imprensa. Há, também, um pano de fundo diplomático na decisão de adiar o negócio com Cuba: nos últimos dias de agosto, uma delegação dos EUA foi à Cidade do Panamá para se reunir com Cortizo e, segundo fontes anônimas, teria sinalizado que um acordo com a ilha desagradaria Washington. Além de ter nos estadunidenses seu maior parceiro comercial, o Panamá deve receber dinheiro e equipamentos dos vizinhos ao norte, o que deixou o governo panamenho de mãos atadas. No Infobae.
PARAGUAI 🇵🇾
Com 7 milhões de pessoas, o Paraguai é 30 vezes menos populoso que o Brasil. Mas, se compararmos os dois países usando números de vítimas da covid-19, a conta aumenta: no dia em que o Brasil passou de 100 mil mortes, estávamos 1.200 vezes piores que os vizinhos. Até aqui com fronteiras fechadas, os poucos casos de coronavírus em terras paraguaias, que já vinham majoritariamente do Brasil, seguiam controlados. Mas os números vêm crescendo, e tudo pode piorar ainda mais rapidamente: a pressão de setores do comércio pode levar à reabertura de pontos fronteiriços fundamentais, como a Ponte da Amizade, expondo o Paraguai a um risco de surto inédito nesses seis meses. O GIRO LATINO explicou no vídeo abaixo:
Ronaldinho Gaúcho está livre após cinco meses. Depois de pagar US$ 200 mil – que deverão ser destinados ao combate à pandemia – em um acordo feito com o Ministério Público paraguaio, o ex-jogador e seu irmão Roberto Assis finalmente voltaram ao Brasil na quarta (26). A determinação do juiz Gustavo Amarilla, porém, é diferente para os dois: enquanto Ronaldinho ficou livre de acusações, com a interpretação de que ele não sabia que os documentos que portava eram falsos (o que levou à detenção da dupla), Assis foi dado como culpado – mas, pela lei paraguaia, também foi beneficiado pela suspensão da condenação. Os dois serão obrigados a manter residência fixa no Rio de Janeiro e a prestar contas à Justiça brasileira a cada quatro meses. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
Uma tragédia em Lima. Pelo menos 13 pessoas morreram asfixiadas após uma operação policial dentro de uma casa noturna, que funcionava clandestinamente e não atendia às medidas de isolamento por conta da pandemia. A batida aconteceu após as 22 horas do último sábado (22), quando já valia o toque de recolher determinado pelo governo. Mas os relatos da ação são conflitantes: sobreviventes dizem que a polícia usou bombas de gás, o que teria gerado o tumulto e, consequentemente, as mortes. O governo nega, dizendo que as condições do local (que só tinha uma saída) “não favoreceram”. Mais de 20 pessoas foram presas por violar a quarentena, dentre as quais pelo menos 15 testaram positivo para a covid-19. Nesta semana, o Peru, que já liderava a América Latina em mortes proporcionais, ultrapassou a Bélgica e também se tornou o primeiro do mundo no triste ranking, quando excluídos os micropaíses: são 864 mortes por milhão de habitantes. Em El País.
PORTO RICO 🇵🇷
Um novo projeto de lei que tenta discutir o status de Porto Rico perante os EUA foi apresentado na terça (25), em ação conjunta das deputadas democratas Alexandria Ocasio-Cortez e Nydia Velázquez, que representam Nova York mas têm ascendência porto-riquenha. A Lei de Autodeterminação de Porto Rico 2020 prevê a criação de um comitê para debater a relação entre a ilha e o país ao Norte: manter a condição atual de estado livre associado, converter-se em um estado da União em igualdade com os 50 já existentes, declarar a independência ou um quarto caminho ainda não imaginado. Apesar da boa vontade do texto, políticos porto-riquenhos favoráveis à conversão da ilha no 51º estado demonstraram contrariedade ao projeto, por entender que a decisão deveria ser tomada diretamente pela população, e não por um pequeno grupo de delegados. Na NBC.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Mortes no Haiti, mortes também no lado leste da ilha de Hispaniola. Quatro pessoas perderam a vida em solo dominicano pela passagem do Laura, que também deixou mais de um milhão sem luz. Ainda uma tempestade tropical quando passou pelo Caribe, o Laura atingiu a República Dominicana com ventos sustentados a 75 km/h, mas evoluiu para um furacão de categoria 4 a caminho dos EUA, onde chegou a 240 km/h na quinta (27), através do estado da Louisiana, que registrou 10 mortes. Via AFP.
Mais de 170 venezuelanos continuam em solo dominicano, aguardando repatriação desde o fechamento das fronteiras por conta da pandemia, há seis meses. Segundo uma representante dos emigrados que tentam voltar a Caracas, já foram feitos 13 contatos com a embaixada nas últimas semanas, mas o governo de Nicolás Maduro segue negando que eles tenham acesso a um voo de repatriação previsto para deixar a República Dominicana neste domingo (30). Como já foi contado em outras edições do GIRO, o governo chavista tem adotado um discurso conspiratório, acusando alguns venezuelanos regressantes de trazer o vírus de propósito. No Hoy.
URUGUAI 🇺🇾
“Até Bolsonaro distribui melhor que nós”. Por mais impensável que seja, a frase foi dita pelo ex-presidente Pepe Mujica (2010-2015) durante um comício no departamento de Cerro Largo. Hoje senador, Mujica tem criticado a falta de suporte do atual governo a setores mais carentes do país, colocando o Uruguai como “o pior país” nesse quesito em toda a América. A menção irônica tem relação com o auxílio emergencial lançado no Brasil, medida que o presidente brasileiro tem usado para capitalizar um apoio que não era visto desde sua posse. Entre as medidas para mitigar a crise econômica já anunciadas por Lacalle Pou estão a prorrogação de pagamentos e a intervenção estatal na restituição de salário em caso de cortes na jornada de trabalho. Segundo o FMI, o PIB uruguaio deve cair 3% em 2020, o que certamente vai exasperar a desigualdade. Após ver a esquerda deixar o poder nacionalmente depois de 15 anos, o Uruguai volta às urnas dentro de um mês, em 27/9, para eleições departamentais e municipais. Em La Diaria.
VENEZUELA 🇻🇪
A Human Rights Watch voltou a denunciar o governo Maduro por perseguir opositores: agora, estaria usando as críticas à pandemia como forma de selecionar alvos. “Na Venezuela, hoje, você não pode nem mandar uma mensagem privada criticando Maduro no WhatsApp sem medo de ser perseguido”, disse José Miguel Vivanco, diretor da HRW para as Américas. Em informe divulgado na quinta (27), a entidade listou 162 casos de intimidação e abusos físicos que beiraram a tortura, tendo como alvo jornalistas, profissionais da saúde, advogados de direitos humanos e adversários políticos que reprovaram a resposta oficial à crise sanitária. Via AP.
Juan Requesens, deputado opositor acusado de tentar assassinar Maduro no mal explicado ataque com drones em agosto de 2018, foi solto após 751 dias. Mantido no Helicoide, antigo shopping center de luxo convertido em prisão política (e que se tornou um foco de covid-19), Requesens teve a liberdade anunciada pela irmã, Rafaela, no Twitter. Ela atuou como porta-voz do deputado nos últimos dois anos e, além de denunciar a violação da imunidade parlamentar com a prisão, vinha relatando torturas e abusos sofridos pelo político. No Efecto Cocuyo.
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