🇧🇴 Censo deve mudar mapa eleitoral da Bolívia para 2025 – e pode favorecer a direita
Foco de protestos que paralisaram regiões do país em 2022, recenseamento é fundamental para definir composição do Legislativo. Há expectativa que zona mais conservadora do país se torne majoritária
Neste sábado (23), nenhum boliviano deve sair de casa. O comércio fecha, o transporte público para e quem anda mesmo pelas ruas do país são os responsáveis por traçar o mais novo perfil da população do Estado Plurinacional: é dia de Censo na nação andina, após um atraso de dois anos causado pela pandemia e sucessão de crises políticas – um adiamento, segundo alega a direita política do país, que também estaria relacionado ao medo do governo Luis Arce de perder representação quando os resultados estiverem consolidados. Afinal, o recenseamento só acontece agora após movimentos conservadores e oposicionistas paralisarem regiões inteiras do país no final de 2022, reclamando do que consideravam um injustificável atraso no processo, que à época nem data tinha.
É dia de Censo, e não ano, porque a Bolívia está no rol de países sul-americanos que optam por decretar uma espécie de feriado nacional e realizar o grosso de sua contagem em um único dia – na Argentina, também é assim. Em teoria, os cidadãos bolivianos devem dormir na noite da véspera no local onde desejam ser recenseados, e permanecer ali durante todo o “Dia D” enquanto aguardam os funcionários do governo com suas 59 perguntas. Embora não haja punição para quem não responda o questionário ou efetivamente saia de casa, os bolivianos são encorajados a permanecer onde estão durante todo o sábado, para não prejudicar os trabalhos nem gerar confusão. Até as fronteiras são fechadas.
Muito mais do que uma simples contagem de habitantes, na Bolívia o Censo virou uma questão sensível para a política interna, especialmente para movimentos de direita que há anos tentam destronar o Movimento ao Socialismo (MAS) – partido de Evo Morales (2006-2019) e Luis Arce, no governo há quase duas décadas ininterruptas. A hegemonia masista só foi interrompida provisoriamente pela administração golpista de Jeanine Áñez (2019-2020), hoje atrás das grades. A contagem da população é determinante para a destinação de recursos públicos nacionais e para a distribuição de assentos no Congresso. Algo especialmente importante nessa curva da história em que várias estimativas apontam, há alguns anos, que a região de Santa Cruz finalmente superou La Paz e agora é a mais populosa do país.
E, se La Paz e o Altiplano são historicamente favoráveis ao MAS, Santa Cruz – a zona mais rica da Bolívia – é um reduto conservador que busca aumentar sua influência contra os progressistas nas eleições marcadas para 2025. Foi de lá, por exemplo, que saiu Luis Fernando Camacho, um dos grandes artífices do golpe contra Evo em 2019, que depois se lançou sem sucesso à Presidência e acabou se elegendo governador do próprio departamento de Santa Cruz – um cargo que não ocupa mais, porém, porque foi preso no final de 2022 precisamente por seu envolvimento no golpe de Estado.
Os protestos de 2022, com Camacho ainda livre, tiveram em Santa Cruz o seu epicentro. Na ocasião, tinha ficado claro que o governo de Luis Arce não conseguiria cumprir a previsão constitucional de realizar um Censo a cada 10 anos (o último foi em 2012), mas a preocupação maior era que nem havia perspectiva de quando ele ocorreria. Ao longo de 36 dias de bloqueios de estradas e demonstrações violentas, manifestantes exigiram a realização imediata do levantamento – o medo dos conservadores era que o pleito de 2025 chegasse sem números atualizados, mantendo uma organização interna que (acreditam) favorece o MAS de forma desproporcional, justamente por ainda contar La Paz como a área mais populosa da Bolívia (por questão de 51 mil pessoas, na contagem de 12 anos atrás).
No fim, Arce e os manifestantes concordaram com um meio-termo: o Censo não saiu em 2023, como eles queriam, mas seria realizado com tempo de sobra para que os números sejam consolidados até as eleições. Hoje, La Paz elege 29 deputados, enquanto Santa Cruz tem direito a 28, uma composição que pode mudar – talvez até de forma drástica – após a contagem. A briga é na Câmara, pois no Senado, que por definição tem representantes iguais para cada departamento, tudo continua como está. A rigor, ninguém tem certeza de quanto pode ser alterado no recenseamento deste sábado: estimativas dão uma ideia, mas a experiência recente de países vizinhos (até mesmo o Brasil) indica que os institutos nacionais de estatística não têm sido capazes de captar com precisão os impactos socioeconômicos da pandemia no crescimento populacional, errando mais do que o habitual em suas contagens desde o Censo anterior.
Para Luis Arce, que por enquanto está mais preocupado com as brigas internas do próprio MAS, onde um racha com Evo Morales se estende há quase um ano (uma disputa que pode dividir o partido a ponto de levar dissidências pró-Evo a enfrentar o próprio Arce nas urnas), uma nova composição eleitoral pode gerar uma dor de cabeça nova no pleito do ano que vem: o renascimento de uma direita minimamente competitiva – algo que não existe hoje em dia, com baluartes como Áñez e Camacho presos e formalmente excluídos do jogo político.
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🇦🇷 100 dias de Milei: relembre fracassos, atropelos e crises do novo governo até aqui – Decretos-kamikazes, derrotas legislativas, vetos a protestos democráticos, recuo em diversas de suas promessas mais radicais por pressão da oposição (ou por imposição da realidade), desavenças com sua vice-presidenta e desvalorização cambial – tudo mantendo inflação e pobreza em alta, apesar dos votos de que todas as últimas medidas tentam corrigir distorções na economia. A lista é grande, mas resume os primeiros 100 dias do governo de Javier Milei, que já é alvo de organizações defensoras dos direitos humanos por uma série de atropelos cometidos ao longo do caminho. Segundo um relatório da Anistia Internacional, apresentado durante uma coletiva de imprensa na segunda (18), há três pontos de preocupação durante a gestão do libertário até o momento: a violência digital, a perda do poder de compra, particularmente nociva aos aposentados, e os casos de repressão aos movimentos sociais. Diretora da entidade na Argentina, Paola García Rey disse que, apesar do curto período de governo não permitir “análises profundas”, já existem “preocupações concretas”: “a primeira é esta prática de confronto, de violência e de ódio como regra na gestão e na articulação com a oposição (...), com quem pensa diferente”. Como destacado em duas edições do GIRO – uma sobre a leva de ‘desidratações’ que o infame pacote de medidas ultraliberais de Milei sofreu pouco a pouco na Justiça e outra, mais recente, sobre a rejeição do Senado ao megadecreto que o mandatário tentou passar à força – tudo compõe uma grande crise amalgamada na figura do criticado presidente. À parte das questões puramente políticas, o desencanto da população é medido em números: se pouco mais de 56% dos argentinos estão de acordo com os vetos aos decretos de Milei, já são quase 72% os que acreditam que a vida piorou economicamente desde a posse do libertário de extrema direita em dezembro. Por fim, Milei parece não ter nem seu círculo próximo sob controle: sua relação com sua vice, a saudosista da ditadura Victoria Villarruel (vista como mais radical do que o próprio presidente), só piora. A intriga é fruto de promessas públicas, que Milei jamais cumpriu, de conceder a Villarruel um papel de influência no governo, com direito ao controle das pastas da Segurança e Defesa. Talvez como retaliação, foi Villarruel, na posição de presidenta do Senado (cargo que ocupa de forma automática por ser a segunda na linha do Executivo), quem decidiu contrariar Milei e dar luz verde para que o megadecreto fosse submetido a discussões no plenário, onde seria derrubado. A vice, no entanto, nega que a relação esteja estremecida.
🇨🇺 Após quase três anos, Cuba volta a ter protestos contra o governo – Os protestos de 11 e 12 de julho de 2021 foram considerados os maiores vividos por Cuba desde a Revolução, e renderam uma resposta equivalente do governo: prisões de ativistas, denúncias de envolvimento estadunidense insuflando os protestos, Washington fazendo de conta que só acompanhou a situação de longe, e uma onda de fake news de todos os lados sobre o que de fato aconteceu. Certo é que a reação ríspida fez com que a situação voltasse a avançar a uma fervura mais baixa, mesmo com a crise interna se agravando. Mas, no domingo (17), a administração socialista voltou a encarar uma mobilização de massa nas ruas, as maiores desde aquelas de 2021: com epicentro em Santiago de Cuba, segunda maior cidade do país, mas reflexos em outras regiões, cubanos saíram às ruas reclamando dos sucessivos cortes de energia e da escassez de alimentos. Pelo ex-Twitter, o presidente Miguel Díaz-Canel disse que o governo ouve e pretende atender às reclamações da população, mas reforçou a linha oficial: o descontentamento estaria sendo aproveitado “por inimigos da Revolução, com fins desestabilizadores”. “Nas últimas horas vimos como terroristas radicados nos EUA [...] incentivam ações contra a ordem no interior do país”, escreveu Díaz-Canel. Esmagada pelo histórico embargo estadunidense, Cuba tem vivido uma situação de dificuldades ainda maiores do que as habituais, em função de um maior isolamento imposto pelo governo Donald Trump (2017-2021) – e não revertido por Joe Biden – e do somatório de crises causadas pela pandemia e suas consequências. Recentemente, a dificuldade econômica fez Havana recorrer, pela primeira vez, ao Programa Mundial de Alimentos da ONU, pedindo ajuda para abastecer a população. Em El País.
🇭🇹 Henry preso amanhã? Boato de detenção de ex-premiê haitiano se espalha sem confirmação oficial; massacre mata 15 em Porto Príncipe – Para não perder o costume, a semana começou com uma denúncia bombástica: a de que Ariel Henry, que recentemente anunciou sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro do Haiti, havia sido preso. A informação não se confirmou, pelo menos de forma oficial, mas manteve discussões sobre qual de fato seria a situação de Henry, que até o final desta semana seguia isolado em Porto Rico (tecnicamente, ao menos em caso de uma punição legal, solo estadunidense). Ele nunca conseguiu sair dali desde os últimos eventos que encerraram sua liderança (entenda tudo). O veículo Haïti Liberté, que trouxe a denúncia originalmente, seguia sustentando a tese de que Henry era alvo de uma captura de facto. O jornal contou em um artigo publicado na quarta-feira (20), baseando-se em informações “de uma fonte bem posicionada com íntimo acesso e conhecimento do governo dos EUA”, que o político, se não exatamente preso, chegou a ser extensamente interrogado pelo FBI e que supostamente só seria ‘devolvido’ a seu país após a formação de um novo governo (aprovado por Washington) em Porto Príncipe. Até o momento – e ainda que o Departamento de Estado dos EUA já tenha se posicionado a favor de um “processo para escolher um novo presidente”, indicando Henry como carta fora do baralho – nenhuma das informações citadas pelo veículo havia sido confirmada. Enquanto teorias circulavam, a formação do Conselho Presidencial de Transição (CPT), este o caminho oficialmente traçado pós-Henry, com respaldo internacional, avançou: a semana viu partidos apresentarem seus representantes para compor o grupo, ainda que não haja previsão para tudo ser definido. Já nas ruas, novos episódios de violência, com pelo menos 15 mortos em regiões próximas à capital após um ataque de grupos armados. Pelo menos dois líderes de gangues que atuam em Porto Príncipe também acabaram mortos por forças de segurança, segundo a imprensa local.
🇲🇽 México: esquerda caminha rumo a vitória esmagadora nas eleições de junho, mostra pesquisa – Só mesmo um desastre tira de Claudia Sheinbaum, ex-prefeita da capital e correligionária do presidente Andrés Manuel López Obrador, uma (cada vez mais) provável vitória nas eleições presidenciais do início de junho. Favorita em todas as pesquisas divulgadas até aqui, inclusive quando sequer havia sido escolhida como candidata oficial do partido governista Morena, Sheinbaum deu conta de ampliar sua vantagem: segundo uma nova pesquisa do jornal Reforma divulgada na terça (19), a antiga mandatária da Cidade do México tem 58% das intenções de voto, contra apenas 34% da senadora Xóchitl Gálvez, representante de uma coalizão opositora (que conta com os partidos PRI, outrora hegemônico no país, além de PAN e PRD). Com o páreo presidencial virtualmente resolvido – já que a disputa se limita, essencialmente, a uma corrida entre Sheinbaum e Gálvez (entenda) – o Morena de Obrador mira os desafios que tem na votação legislativa, de olho em controlar 2/3 do Congresso para poder aprovar reformas constitucionais vistas como fundamentais para os morenistas. Além de um novo presidente para um mandato de seis anos, mexicanos também escolherão 500 deputados e 128 senadores em 2/6. No Debate.
🇵🇾 Falkland? Postagem de clube paraguaio ‘empurra’ Malvinas aos britânicos, viraliza e gera treta com platinos – Xingar o finado Diego Maradona talvez seja uma das únicas coisas que, aos ouvidos do argentino médio, possa soar mais ofensivo do que dizer que as Ilhas Malvinas são de domínio britânico (ainda que os próprios habitantes da ilha votem a favor disso). Seja como for, foi exatamente isso que o Cerro Porteño, um dos principais clubes do futebol paraguaio, fez, mesmo que sem querer, em uma postagem no X (antigo Twitter): o que parecia ser só uma arte inofensiva para comunicar aos hinchas do clube sobre os adversários do Ciclón na Copa Libertadores, pouco após o sorteio da fase de grupos da competição, virou um verdadeiro incidente diplomático – no mapa exibido, era possível ver as disputadas ilhotas aos pés do Atlântico Sul identificadas como “Falkland Islands”. Mais do que ‘o nome em inglês’ do arquipélago, a nomenclatura, sozinha, já dá indícios de qual lado defende o interlocutor, sendo geralmente usada pelos que defendem a causa britânica na disputa histórica. Um ultraje para os argentinos, que enxergam na reivindicação do território insular uma causa patriótica (a ponto do tema aparecer em estrofes do hit que embalou a Seleção na conquista da Copa do Mundo no Catar), a gafe (ou provocação?) rendeu uma semana inteira de memes, ofensas e discussões na rede social. O post não havia sido deletado ou mesmo justificado pelo clube – que passou a ser chamado de Cerro Pequeño pelos irritados argentinos – até o fechamento desta edição. O episódio rendeu até repercussões extraoficiais na diplomacia: Ramin Navai, o embaixador britânico em Assunção, divertiu-se com a situação publicando um vídeo em que toma café em uma caneca do Cerro.
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REGIÃO 🌎
O tão esperado – e bastante modorrento – sorteio da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) definiu, na noite de segunda-feira (18), os adversários dos clubes brasileiros nas principais competições de futebol masculino da América do Sul. Na Sul-Americana, recheada com alguns times habitualmente vistos na competição de cima, Cruzeiro, Internacional, Fortaleza, Athletico Paranaense, Corinthians, Cuiabá e Red Bull Bragantino são os representantes do país, sem confrontos domésticos na primeira fase. Na Libertadores, mamatas e ‘grupos de morte’: repetindo a Sula, o principal torneio continental também não terá (por enquanto) jogos entre clubes do Brasil, como tem acontecido de forma recorrente nos últimos anos, mas já tem jogão no calendário: se o Flamengo parece ter vida fácil encabeçando um grupo com Bolívar-BOL, Millionarios-COL e Palestino-CHI, o Grêmio terá páreos duros, enfrentando o tetracampeão Estudiantes-ARG e (pela primeira vez em sua história) um enjoado The Strongest-BOL na altitude, além do Huachipato-CHI – um time menos cotado que, curiosamente, a equipe gaúcha já enfrentou e perdeu em casa. Destaque, também, para o Palmeiras, acompanhado dos adversários mais complicados dos últimos anos: no grupo F, o alviverde encara, além do Liverpool-URU, os fortes Independiente Del Valle-EQU e San Lorenzo-ARG. O Fluminense, atual campeão, pegará Cerro Porteño-PAR, Alianza Lima-PER e Colo-Colo-CHI. São Paulo, vencedor da última Copa do Brasil, além de Botafogo e Atlético Mineiro, são os outros brasileiros na disputa deste ano. N’A Gazeta Esportiva.
BOLÍVIA 🇧🇴
“Perda dramática” foi como a União Europeia (UE) descreveu na terça (19) as chocantes reduções de áreas de florestas bolivianas, o que levou a entidade a prometer um apoio na casa dos US$ 33 milhões para ajudar o país andino a mitigar os efeitos do desmatamento – a Bolívia ficou em terceiro lugar entre os países com maior perda de florestas tropicais primárias, com pouco mais de 272 mil hectares desmatados em 2022, segundo estimativas. O governo de Luis Arce agradeceu a sinalização financeira por parte da UE, garantindo que o fundo será devidamente destinado a setores de conservação. As informações se tornaram públicas pouco após um encontro entre Virginijus Sinkevicius, chefe de Ambiente, Oceanos e Pesca da organização europeia, e a chanceler boliviana Celinda Sosa junto ao ministro do Meio Ambiente, Humberto Lisperguer. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
Na semana passada, o diretor da Polícia de Investigação (PDI), Sergio Muñoz, já havia apresentado sua renúncia oficial ao presidente Gabriel Boric, no mesmo dia em que carabineros cumpriram ordens de busca dentro de sua residência e de seu escritório, ambos localizados em Santiago, em razão de um vazamento de informações que virou escândalo; a Presidência aceitou a decisão pouco depois. Nos últimos dias, porém, a trama esquentou: após uma audiência na terça (19), procuradores formalizaram acusações contra Muñoz por delitos de violação de segredos em investigações de lavagem de dinheiro, levando o ex-diretor, cuja demissão foi formalizada no mesmo dia, a ser preso preventivamente. Os tribunais também determinaram uma investigação de 120 dias a respeito do chamado “caso áudios”, que revela um suposto esquema de subornos e acusa Muñoz de entregar informações sensíveis sobre cinco casos confidenciais ao influente advogado Luis Hermosilla. Ligado a antigas autoridades da própria PDI, a setores políticos durante o segundo governo de Sebastián Piñera (2018-2022) e até mesmo a funcionários do atual governo, Hermosilla é visto como peça-chave em um enredo de corrupção que pode respingar em dezenas de figuras importantes no Chile. Em El País.
COLÔMBIA 🇨🇴
“Se as instituições que temos hoje na Colômbia não são capazes de realizar as reformas sociais que o povo decretou por meio do voto (...), então a Colômbia deve ir a uma Assembleia Nacional Constituinte”. A declaração bombástica do presidente Gustavo Petro, dada na última sexta-feira (15) durante um evento em Cali, estremeceu o coração da política colombiana e causou um furor entre grupos de oposição. Sem conseguir aprovar no Congresso suas principais reformas sociais e econômicas, consideradas essenciais para seu plano de governo, Petro deu seu recado mais forte a grupos políticos que seguem servindo de barreira aos projetos enviados ao Legislativo. Dias depois, sob intensas críticas por parte de adversários, o mandatário garantiu que o processo constituinte que busca convocar não pretende “mudar a [atual] constituição de 1991” e nem é parte de um plano para se “perpetuar no poder”, mas para corrigir “erros do sistema”. Seja como for, a sugestão do governo virou voo de galinha: no início da semana, por unanimidade, o Senado do país rejeitou a ideia. Para mexer na Constituição, além do aval do Congresso, o governo precisaria contar com o apoio de pelo menos 1/3 dos quase 39 milhões de eleitores. Na RFI.
COSTA RICA 🇨🇷
Quase 400 itens pré-colombianos recuperadas por cidadãos dos EUA foram devolvidos de forma voluntária à Costa Rica, informaram na terça (19) autoridades ticas. A repatriação dos objetos, que até então estavam sob cuidados do consulado do país em Washington, contou com esforços de autoridades dos dois lados, além de apoio de museus locais. A embaixadora estadunidense em San José, Cynthia Tellez, valorizou a operação que devolveu as peças ao país de origem, reforçando que tudo envolveu altos custos em função da fragilidade dos artefatos. Já a diretora do Museu Nacional da Costa Rica, Ifigenia Quintanilla, prometeu que tudo será exibido ao público em breve, dizendo que “para a Costa Rica isso significa muito, porque é parte da recuperação da memória e da história”. Na teleSUR.
EL SALVADOR 🇸🇻
Aproveitando a alta dos preços do bitcoin para bater em quem criticou seu projeto de investir na criptomoeda, Nayib Bukele está dobrando a aposta: no último dia 15, o presidente salvadorenho anunciou que vai comprar ainda mais do ativo, na ordem de “1 bitcoin por dia” por prazo indeterminado – até que seja “caro demais” seguir fazendo isso, explicou. Em 2021, Bukele converteu El Salvador na primeira nação do mundo a aceitar o bitcoin como moeda legal para transações cotidianas, inclusive em nível governamental, uma medida polêmica devido à volatilidade e temores em relação à segurança jurídica do mercado de criptoativos. Com a oscilação de preços para baixo, o controverso líder centro-americano conviveu com críticas de que estaria enterrando a economia nacional, mas tem aproveitado a reversão do cenário para dar o troco – o bitcoin, cujo valor unitário era de cerca de US$ 45 mil quando Bukele começou sua investida em setembro de 2021, chegou a despencar para US$ 16 mil no ano seguinte, mas agora voltou a subir e tem sido negociado em cotação recorde, acima dos US$ 60 mil. Na Exame.
EQUADOR 🇪🇨
Palo Quemado é o nome do mais novo foco de mobilizações indígenas contra um projeto de mineração, tema recorrente na luta por preservação ambiental no Equador. Nas últimas semanas, moradores desse lugarejo com cerca de mil habitantes na província de Cotopaxi se envolveram em protestos e conflitos com forças policiais, em oposição à instalação da mina na área. Desde 2023, uma empresa canadense é detentora de uma concessão para explorar a zona, com expectativa de investir US$ 100 milhões na planta, mas tudo passa – por lei – pela realização de uma consulta aos povos originários que vivem ali, que podem derrubar o projeto nas urnas com base em preocupações sociais, econômicas e ambientais. É para impedir o avanço irregular desse processo que o Movimento Indígena e Campesino de Cotopaxi (MICC) tem se organizado, em uma situação que escalou nos últimos dias: na terça (19), pelo menos 20 moradores ficaram feridos após a polícia reprimir violentamente as mobilizações, alegando que a ação respondia ao “sequestro” de três agentes por algumas horas, bem como ao incêndio de dois veículos da mineradora. No Primicias.
GUATEMALA 🇬🇹
Vai ter Guatemala nas Olimpíadas de Paris 2024, ao menos por enquanto. O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou durante a semana o fim da sanção imposta ao órgão que rege o esporte guatemalteco, permitindo que os atletas do país voltem a competir sob a bandeira nacional – até aqui, eles até podiam marcar presença em disputas poliesportivas, mas precisavam concorrer como atletas “independentes”, sem poder representar oficialmente seu país nem utilizar a bandeira da Guatemala em uniformes ou no pódio. Tudo começou em 2022, quando o Comitê Olímpico Guatemalteco (COG) foi sancionado pelo COI após não cumprir uma série de requisitos estatutários. Como resultado da punição, a Guatemala foi impedida de sediar os Jogos Centro-Americanos de 2022, que começariam poucos dias depois, e precisou disputar os Pan-Americanos de Santiago 2023 sem bandeira. Agora, em Paris, o país fará o retorno formal após uma “melhora das relações”, segundo o COI. Mas dificilmente veremos o estandarte guatemalteco no pódio: em todos os tempos, o país conta apenas uma medalha olímpica, de Érick Barrondo, prata na marcha atlética de 20 km nos Jogos de Londres, em 2012. No Surto Olímpico.
Dale un vistazo:
📚A Borra do Café – Todo dia, exatamente às 15h10, Claudio espera que um evento inesperado aconteça e mude sua experiência de vida para sempre. A expectativa tem motivo: metáfora para a vida do escritor Mario Benedetti, autor da obra e um dos mais renomados nomes da literatura latino-americana, o menino narra, primordialmente em primeira pessoa, acontecimentos banais que vez ou outra sacodem sua rotina (recorrentemente) parada e de tão poucos mistérios. Meio ficção, meio biografia, o livro percorre a Montevidéu de Benedetti, misturando tardes nos campos de futebol de bairro a memórias de infância, romances não planejados a dilemas familiares, experiências tão comuns a um uruguaio questionador crescido na capital no início do século passado. Amantes da obra do autor podem perceber uma certa conexão de sabores entre A Borra do Café e outros renomados títulos, como o igualmente delicioso romance A Trégua e os contos de Montevideanos.
HONDURAS 🇭🇳
Tarde da noite na quarta-feira (20) e a portas fechadas, o Congresso de Honduras ratificou um tratado de fronteira com a Nicarágua que estabelece os limites do Golfo de Fonseca, um enclave marítimo no Pacífico disputado há anos nas cortes internacionais por envolver o território de pelo menos três países da América Central (os dois primeiros citados e El Salvador). O documento já havia sido assinado em 2021, antes da posse de Xiomara Castro, mas finalmente avançou sob olhares legislativos, sendo aprovado por 122 dos 128 deputados. O presidente da Casa, Luis Redondo, no entanto, chegou a solicitar que a imprensa se ausentasse para que a votação ocorresse apenas com presença parlamentar, argumentando que se tratava de um tema de “interesse nacional”. Apesar do entendimento entre hondurenhos e nicaraguenses, os termos atuais do acordo não envolvem os salvadorenhos, ainda críticos do tema – sendo esta questão fundamental o próximo passo a ser resolvido, segundo o chanceler do governo Castro, Enrique Reina. Em El Heraldo.
NICARÁGUA 🇳🇮
Esgotadas as possibilidades de sanção ao casal presidencial em Manágua, Daniel Ortega e sua vice e esposa Rosario Murillo, o Departamento do Tesouro dos EUA foi atrás da procuradora-geral do país, Wendy Carolina Morales Urbina. Na quinta-feira (21), a pasta em Washington anunciou punições econômicas à autoridade por “cumplicidade com a opressão” realizada pelo governo Ortega. Segundo o subsecretário do Tesouro para o Terrorismo e a Inteligência Financeira, Brian Nelson, a chefe do Ministério Público nicaraguense “em sintonia com o regime Ortega-Murillo, abusou de seu cargo para facilitar uma campanha coordenada com o objetivo de reprimir a dissidência, confiscando propriedades de opositores políticos sem base legal”. Daquelas medidas que não surtem qualquer efeito além de aumentar a hostilidade entre os dois países, as sanções dos EUA impostas à Nicarágua, incluindo ao setor do ouro, já estão na casa dos milhares. No Nación.
PANAMÁ 🇵🇦
Mesmo que oficialmente esteja fora da disputa presidencial de maio, agora com a devida confirmação de autoridades eleitorais, Ricardo Martinelli segue no foco de uma crise diplomática. Na segunda-feira (18), o governo panamenho acusou a Nicarágua, cuja embaixada na Cidade do Panamá serve de refúgio para o ex-presidente (2009-2014) desde o mês passado, de “interferir em seus assuntos internos” ao permitir que o político siga atacando adversários e promovendo seus aliados de dentro da sede diplomática na capital. A chancelaria do país do istmo também exigiu que autoridades nicaraguenses “monitorem o comportamento” do ex-mandatário, a quem foi concedido status de asilo pouco após cortes confirmarem a validade de uma condenação por corrupção contra ele. Enquanto pragueja contra o judiciário e defende a própria inocência, o empresário e político sabe que pode ser preso tão logo deixe a embaixada, já que não conseguiu o direito a um salvo-conduto para viajar até Manágua sob proteção. Em La Estrella de Panamá.
PERU 🇵🇪
Parece que toda semana há uma investigação diferente: dessa vez, a Procuradoria em Lima ordenou na segunda-feira (18) a abertura de um novo processo, em caráter preliminar, contra a presidenta Dina Boluarte, por suposto enriquecimento ilícito. A mandatária, que já foi alvo de outras investigações (incluindo uma por suposto crime de genocídio no marco da repressão a protestos), agora é acusada de não ter declarado em documentos oficiais a propriedade de pelo menos 14 relógios de luxo, incluindo um da marca Rolex, avaliado em US$ 14 mil. Em resposta à abertura do processo, Boluarte negou qualquer irregularidade, garantindo de forma esquiva que tudo que possui é fruto de seu trabalho. O governo se recusou a responder se Boluarte incluiu ou não os itens em sua declaração de bens, alegando se tratar de um assunto pessoal. Na teleSUR.
PORTO RICO 🇵🇷
Um território estadunidense, Porto Rico vive cercado de conflitos políticos internos justamente por acusar Washington de lhe tratar com indiferença, sobretudo nos anos de Donald Trump (2017-2021) e após as destruições causadas por furacões. Sabendo dessa questão, e de olho em angariar o voto latino para as eleições presidenciais de novembro (ainda que os porto-riquenhos residentes na ilha não votem para presidente, pois ela não é um estado integrante da União), a vice-presidenta dos EUA, Kamala Harris chegou em visita a Porto Rico na sexta-feira (22), onde se esperava que ela encontrasse o governador Pedro Pierluisi, que também busca reeleição. Para os democratas, movimentos como esse podem ser cruciais: segundo uma nova pesquisa com dados do final de fevereiro, o apoio do eleitorado hispânico ao presidente Joe Biden, que enfrentará Trump nas urnas, caiu 12 pontos percentuais desde 2020, indo de 65% para 53%. Colunistas porto-riquenhos, no entanto, criticaram a possível viagem, dizendo que o evento faz parte de “uma farsa e um teatro político”. Na CBS.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Suspensão de deportações ao Haiti. É esse o apelo que ativistas e entidades defensoras dos direitos humanos fazem ao governo de Luis Abinader, exigindo que o poder em Santo Domingo reconsidere as atuais políticas migratórias (consideradas extremas), ao menos de forma provisória, em função das tensões sociais no país vizinho. “Se o governo pudesse adiar ou diminuir a pressão para as deportações, seria uma conquista… uma contribuição importante para a população haitiana”, disse William Charpentier, coordenador da Coalizão Nacional para Migrações e Refugiados, com sede na capital dominicana. A autoridade traz denúncias ainda mais preocupantes: a de que agentes dominicanos estariam supostamente invadindo casas para prender haitianos de forma violenta. O coordenador Charpentier também cita possíveis casos de extorsão e danos materiais. Apesar dos apelos, que também são feitos pela ONU, o governo Abinader não pretende dar um passo atrás: à imprensa, o chanceler dominicano, Roberto Álvarez, disse que as deportações são parte de uma política de segurança nacional e que devem continuar. Como o GIRO explicou no final de 2022, a República Dominicana já foi denunciada pelo Unicef por expulsar crianças haitianas desacompanhadas. Via AP.
URUGUAI 🇺🇾
Sem certezas: uma nova pesquisa de olho nas primárias da Frente Ampla (FA) alvoroçou a política uruguaia, indicando um crescimento da segunda colocada, a intendenta de Montevidéu, Carolina Cosse. O levantamento estimulado do instituto Equipos, divulgado na segunda-feira (18), colocou a pré-candidata com 44% das intenções de voto para as internas da FA, contra 45% do ainda favorito Yamandú Orsi, intendente de Canelones. Preferido do ex-presidente José “Pepe” Mujica (2010-2015), Orsi tem sido visto como um candidato mais competitivo por atrair mais eleitores no interior do país, historicamente um ponto fraco da FA, que domina a capital. Porém, Orsi pode ter perdido espaço após uma recente denúncia de violência sexual por um caso ocorrido há uma década. Na pesquisa espontânea, a vantagem é um pouco maior para Orsi, mas ainda assim houve um crescimento impressionante de Cosse: hoje, ele tem uma vantagem de 35x30 nesse levantamento, mas o placar já foi 40x23 na pesquisa anterior, em novembro. O Uruguai tem primárias em 30/6 e vai às eleições propriamente ditas em 27/10. A FA tenta voltar ao governo após cinco anos e vem liderando as pesquisas até o momento. Em El Observador.
VENEZUELA 🇻🇪
Atuando como cabo eleitoral do bolsonarismo no Brasil nos últimos anos, a Igreja Universal do bispo Edir Macedo vai por um caminho diametralmente oposto na Venezuela: o do apoio à reeleição do presidente Nicolás Maduro, que tentará conquistar um terceiro mandato em 28/7. Com direito a participação em encontros com milhares de religiosos, afagos ao líder chavista e até mesmo pregação para eliminar as sanções econômicas que afetam a economia venezuelana, a Universal ganha terreno no país caribenho, de olho em trocar seu amparo ao governo por algo valioso: concessões de TV e isenção de impostos, como conta a reportagem do Intercept Brasil.
Com a principal candidata de oposição a Nicolás Maduro banida das eleições presidenciais, na sexta-feira (22) surgiu um nome alternativo: María Corina Machado indicou como substituta outra Corina, no caso, a professora universitária Corina Yoris, cumprindo os prazos eleitorais que exigem a definição dos presidenciáveis até dia 25. Machado, que segue tentando reverter na Justiça sua inabilitação (que opositores questionam como um uso indevido do aparato judicial com fins políticos), enfatizou que não consta, até o momento, qualquer restrição contra Yoris em termos legais. Via AP.
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