Bolívia: presidente eleito sofre atentado
Furacão Eta: até 150 mortos na Guatemala | Porto Rico vota "sim" a se tornar o 51º estado dos EUA | Peru: avança terceira tentativa de impeachment do presidente
O presidente eleito da Bolívia, Luis Arce, sofreu um atentado com explosivos na madrugada de sexta-feira (6). Segundo o porta-voz do Movimento ao Socialismo (MAS), Sebastián Michel, dinamite teria sido atirada na casa de campanha do partido em La Paz, versão contestada pela polícia, que diz se tratarem de fogos de artifício. A denúncia foi reverberada pelo senador colombiano Gustavo Petro e por outros dirigentes sindicais e figuras proeminentes da esquerda latino-americana. O ataque ocorreu apenas dois dias antes da posse de Arce, marcada para este domingo (8).
Até o fechamento deste GIRO, não há relato de feridos ou detalhes sobre os suspeitos. O que se sabe, no entanto, é que a violência contra o sucessor do ex-presidente Evo Morales – que está na iminência de retornar ao país na próxima semana, depois de quase um ano no exílio – é só mais uma página no interminável capítulo de um golpe violento desde sua concepção e execução, em novembro de 2019. No princípio, como explicado no Giro Latino Cast #11, o movimento que levou à renúncia forçada de Evo se amparou em um amplo e ostensivo motim policial. Em seguida, o discurso incendiário do movimento golpista chegou aos correligionários de Morales: Patricia Arce, então prefeita da cidade de Vinto, simbolizou o momento ao ser agredida e humilhada por manifestantes favoráveis à deposição dos governistas. E já em 2020, como contado no GIRO #43, bombas foram atiradas contra a Central Obrera Boliviana (COB), principal central sindical operária do país e que, apesar de ter nutrido uma relação cheia de altos e baixos com o governo do MAS, esteve ao lado do partido em revoltas ao longo do ano, exigindo a realização das eleições muito adiadas pelo governo interino de Jeanine Áñez.
Nem mesmo a vitória acachapante do economista Luis Arce, com margem superior à conquistada por Evo em 2019, parece ter sido suficiente para dar cabo do golpe. Algo que ficou claro durante semana, também marcada por uma combinação perigosa: o governo interino, que até chegou a reconhecer a vitória de Arce, enviou um pedido ao Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) pedindo uma auditoria das eleições do último dia 18 a fim de garantir “tranquilidade e credibilidade”. O pedido levou o órgão a recorrer mais uma vez à Organização dos Estados Americanos (OEA), que endossou as acusações (não comprovadas) de fraude em 2019. As ações recentes do MAS também contribuíram para aumentar a fogueira boliviana: às vésperas de perder a maioria qualificada de 2/3 do Senado (o partido passará a ter 21, não mais 25, dos 36 assentos), o MAS mudou as regras do jogo em parte das votações da Casa, que agora exige apenas maioria simples para onze temas – medida que reacendeu os grupos que se mobilizaram contra Evo em 2019. No entanto, a ideia de uma nova auditoria parece ter esfriado. Quando tudo parecia se conflagrar, o presidente do TSE, Salvador Romero, descartou uma nova revisão em primeiro momento, argumentando que o processo eleitoral estaria “encerrado”.
Mas se o resultado se desenha incontornável nos tribunais, o mesmo não vale para os movimentos golpistas, que seguem buscando reverter a nova vitória da esquerda. Em paralelo aos últimos acontecimentos, o Comitê pró-Santa Cruz, que conta com a influência do empresário de extrema direita Luis Fernando Camacho, um dos mentores intelectuais do golpe, organizou passeatas contra a realização da posse. O Comitê chegou a pedir abertamente que Arce não assuma enquanto a tal auditoria não for feita, o que dificilmente será levado em conta. E o evento ganhará um elemento para ferver o caldo já borbulhante pelas razões conhecidas: Evo Morales deve retornar ao país pela primeira vez desde que deixou a Bolívia rumo ao México, assentando-se depois na Argentina sob refúgio oficial do presidente Alberto Fernández. O temor dentro do MAS é, também, por um novo ataque contra Arce no dia da posse, sobretudo pela postura negligente do governo que entrega o cargo. “Não vimos nenhuma declaração a respeito do ministro de Governo Arturo Murillo, por isso nos sentimos entregues à própria sorte, totalmente desprotegidos. Ninguém nos dá a garantia necessária para a segurança de nossa autoridade”, disse o MAS por meio de seu porta-voz.
Também não há garantia para o que virá nos próximos dias.
😷 Covid: mantendo uma longa sequência de reduções na pandemia, a região registrou seu menor número de mortes desde a semana encerrada em 22/5, e o menor número de novos casos desde 12/6. Mas problemas de registro no Brasil e o feriado de 2/11 podem levar a uma compensação nos dados dos próximos dias. Leia nosso levantamento semanal.
Un sonido:
REGIÃO 🌎
Com a ratificação do Senado do México nesta semana, o Acordo de Escazú alcançou o “número mágico” de 11 países para entrar em vigor regionalmente 90 dias após sua publicação no diário oficial local. Assinado em 2018 na cidade costarriquenha que lhe empresta o nome, o acordo de proteção ambiental busca promover o desenvolvimento sustentável, o acesso à informação e a participação democrática na tomada de decisões relacionadas ao ambiente. Embora já assinado por 24 países da América Latina e Caribe, ele só passaria a vigorar após a ratificação de 11 nações, algo que enfim ocorreu. Antígua e Barbuda, Argentina, Bolívia, Equador, Guiana, Nicarágua, Panamá, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, e Uruguai são os outros que já ratificaram o acordo. Quem eventualmente não o fizer, mesmo sendo signatário (caso do Brasil), fica sem as obrigações nem os benefícios do tratado. No Excelsior.
Com a pandemia em baixa na maior parte da região desde o final de agosto, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) voltou a fazer um apelo para que os países não baixem a guarda diante da melhora nos números. A entidade aponta para o triste exemplo da Europa, onde a primeira onda, após parecer controlada na metade de 2020, foi seguida por uma escalada ainda pior de contágios, que segue golpeando aquele continente neste momento. Via Reuters.
ARGENTINA 🇦🇷
Os primeiros lotes das vacinas russa e estadunidense devem chegar à Argentina em dezembro, informou nesta semana o presidente Alberto Fernández. São cerca de 10 milhões de doses da Sputnik V, desenvolvida pelo governo russo, e 750 mil da farmacêutica Pfizer. Segundo Fernández, as vacinas poderiam ser aplicadas já no próximo mês, desde que sejam aprovadas pelas agências reguladoras. Após controlar bem a pandemia nos primeiros meses, a Argentina vive um agravamento desde agosto e já se aproxima, inclusive, do número proporcional de mortes no Brasil. Mais de 33 mil pessoas já morreram (733 a cada milhão de habitantes, contra 771 por aqui). Via Reuters.
O ex-jogador Diego Armando Maradona, que celebrou 60 anos na sexta passada, passou por uma cirurgia na terça (3) para retirar um hematoma no cérebro. O astro do futebol argentino identificou o coágulo, resultante de um golpe na cabeça, após passar por uma tomografia no início da semana. No dia seguinte à operação, o cirurgião responsável avisou que Maradona estava “bem de ânimo”. Porém, após episódios de confusão mental e um “quadro de abstinência” no pós-operatório, Maradona voltou à Clínica Olivos, em Buenos Aires, onde segue internado. A expectativa é que lá permaneça, no mínimo, até segunda. No Página 12.
A professora de inglês Paola Estefanía Tacacho foi morta a facadas por um ex-aluno em San Miguel de Tucumán, noroeste argentino, no último sábado (30). O autor do crime, Mauricio Parada Parejas, cometeu suicídio logo em seguida. Paola foi identificada inicialmente pelo coletivo Ni Una Menos Tucumán, que denuncia crimes de feminicídio na região. Segundo pessoas próximas à vítima, a perseguição começou em 2015. Desde então, Parada ameaçava a professora e exigia que ela o namorasse. Paola registrou 13 denúncias contra o aluno. A justiça tucumana chegou a determinar uma medida protetiva para que o agressor ficasse longe da vítima. A decisão nunca foi respeitada, apesar dos inúmeros protestos de Paola. A irmã da vítima, Ana Victoria Salomón, disse que as autoridades “nunca mexeram um dedo para protegê-la”. Em La Nación.
BOLÍVIA 🇧🇴
“Se houver fraude, Donald Trump deve ir até Luis Almagro”. Em clima de parece que o jogo virou, o recado debochado de Evo Morales se somou a uma rede social em polvorosa com as falsas alegações de Trump em meio às apurações que apontam uma vitória quase certa do candidato democrata, Joe Biden, nas eleições dos EUA. Assim como muitos analistas, jornalistas e anônimos, Morales ironizou a hipocrisia dos que, de forma precipitada, se apegaram ao discurso infundado de que a votação vencida por ele em 2019 seria fraudulenta – tese abraçada por Almagro, secretário-geral da OEA. No Página 12.
Uma oferenda à Pachamama no templo de Kalasasaya, em trajes típicos aimara, consagrou a primeira posse do presidente eleito, Luis Arce, nas ruínas de Tiahuanaco, em La Paz. Enquanto a crise política cerca a posse oficial, a cerimônia típica dos nativos, uma marca de Evo Morales durante seus 13 anos à frente do Palácio Quemado, teve trajes típicos e músicas. “Com a energia ancestral” no ato celebrado sexta-feira (6), Arce desejou anos de prosperidade em seu novo governo. No Correo del Sur.
CHILE 🇨🇱
O Alto Comando dos Carabineros, a polícia militar do Chile, passou por uma grande mudança na sexta (6), quando 12 de seus 40 generais foram aposentados por decisão de Mario Rozas, o mandachuva da corporação. A decisão vem semanas após o país prometer reformas “profundas” na polícia como resposta à brutalidade contra as manifestações sociais, que levaram a pressões pela renúncia do próprio Rozas (leia no GIRO #51). O número elevado de aposentadorias, porém, é enganoso: dos seis generais apontados pela Controladoria como responsáveis pela violência nos protestos desde 2019, apenas um está entre os retirados – quatro seguirão em suas funções e outro chegou a ser promovido ao cargo de “general inspetor”. Em La Tercera.
A caminho de montar sua Assembleia Constituinte e escrever uma nova Carta Magna, o Chile continua discutindo como devem operar seus serviços essenciais. Privatizados sob Pinochet, muitos pontos que hoje são vistos como a raiz da insatisfação social já foram gratuitos, casos da saúde e da educação. Reportagem do UOL conta como foi o processo de desmonte do antigo Servicio Nacional de Salud (SNS), o “SUS” chileno que existiu entre 1952 e 1979.
Un clic:
Luis Arce recebe o bastão de comando na cerimônia em Tiahuanaco.
COLÔMBIA 🇨🇴
O Ministério da Saúde divulgou uma resolução que tira a obrigatoriedade de exames do tipo PCR em turistas e passageiros que tenham saído do país e estejam retornando à Colômbia, medida que passou a valer na quarta-feira (4). O teste, considerado o mais preciso para identificar uma infecção na fase contagiosa, vinha sendo feito de forma mandatória desde 19/9, quando o país reativou o espaço aéreo para voos internacionais. Para embarcar, no entanto, seguem valendo os protocolos básicos, como não apresentar febre ou sintomas respiratórios associados à covid-19. O serviço de migração nacional calcula uma média de 3 mil pessoas entrando diariamente no país. Em El Tiempo.
COSTA RICA 🇨🇷
A estabilidade econômica e política do país com os melhores índices da América Central esconde uma realidade inconveniente: nas zonas rurais e periféricas, há um quadro social preocupante, em especial em função da alta desigualdade de gênero, segundo análise do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em parceria com a Universidade da Costa Rica. Enquanto regiões dentro da área metropolitana têm IDH acima de 0,900, considerado “muito alto”, cantões mais afastados têm média próxima a 0,700, aproximando-se da faixa tida como “média” pelas contas da ONU. A pandemia fez tudo piorar: os números do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INEC) até o meio de outubro apontam um aumento de 5,2 pontos percentuais da pobreza em nível nacional, já atingindo 26,2% da população total. É o número mais alto em 28 anos. Via EFE.
O presidente Carlos Alvarado admitiu que errou ao negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI), cujas exigências para um empréstimo bilionário acabariam redefinindo os limites fiscais e o orçamento para o próximo ano. Quando o governo ainda estava em tratativas com a entidade, protestos contra os termos da negociação tomaram conta do país, sob o argumento de que o governo estava aceitando condições demasiado onerosas para, ainda, acabar endividado. O valor de US$ 1,7 bilhão que seria entregue às contas costarriquenhas também segue sendo discutido. Por conta da pandemia, a economia do país deve regredir aos piores níveis no milênio, o que segue sendo o argumento de Alvarado para encontrar soluções. No Nación.
CUBA 🇨🇺
Mohammad Yavad Zarif, chanceler do Irã, iniciou visita oficial à ilha na quinta-feira (5), como parte de uma turnê latina que o fez passar pela Venezuela e deve concluir na Bolívia. Parte do grupo das nações mal vistas pelos EUA, o Irã vem estreitando laços com governos da região que, como seu país, convivem com sanções impostas por Washington – ao longo do ano, Teerã vem ajudando a Venezuela a amenizar a crise de abastecimento com cargas de petróleo. Zarif deve discutir acordos de cooperação entre os países. Na sexta, ele se encontrou com autoridades sanitárias cubanas e foi apresentado à Soberana 02, mais nova candidata a vacina contra covid-19 produzida pela ilha (que também trabalha na chamada Soberana 01). Na Prensa Latina.
EL SALVADOR 🇸🇻
Diego García-Sayán, relator especial da ONU para a Independência de Magistrados e Advogados, pediu que o governo de Nayib Bukele deixe de utilizar os tribunais como “arma política” para atacar a oposição. A reprimenda foi feita em um comunicado na quinta (5), em resposta a uma carta emitida por juízes salvadorenhos. Um dos casos mais polêmicos envolve os processos abertos contra Sigfrido Reyes, ex-presidente da Assembleia Legislativa (2011-2015), mesmo após a Suprema Corte ter inicialmente determinado que a suspeita de enriquecimento ilícito do político de oposição não era fundamentada. Para García-Sayán, o caso não é isolado, mas parte de uma política sistemática de uso das instituições judiciais para perseguir adversários, o chamado lawfare. No Infobae.
EQUADOR 🇪🇨
Andrés Arauz, candidato à presidência que conta com apoio do ex-mandatário Rafael Correa (2007-2017) na corrida para 2021, vai à posse do boliviano Luis Arce e pretende se reunir com outras lideranças à esquerda, de olho em eventuais alianças internacionais. Além do próprio Arce, a expectativa é que Arauz se reúna com Evo Morales, o presidente argentino Alberto Fernández e o vice espanhol Pablo Iglesias, que estarão presentes ao evento em La Paz. As eleições presidenciais equatorianas estão marcadas para fevereiro e Arauz é o nome forte na tentativa do chamado “correísmo” de derrotar o atual presidente Lenín Moreno – ele próprio eleito com apoio de Correa, mas que, depois, voltou-se contra o padrinho político. Enredado com a Justiça, Rafael Correa hoje vive na Bélgica e se diz perseguido em seu país. No Notimérica.
GUATEMALA 🇬🇹
O país estimou o maior número de vítimas, até o fechamento desta edição, pela passagem do furacão Eta nesta semana. Entre a destruição dos ventos e os deslizamentos causados pelas inundações, o governo afirmou na sexta (6) que os estragos mal começaram a ser contabilizados, mas que três povoamentos indígenas no norte do país teriam sido arrasados, deixando cerca de 150 pessoas mortas ou desaparecidas. Leia mais sobre os impactos do Eta, que açoitou a América Central, nas seções de Honduras e Nicarágua desta edição. Via AFP.
O presidente Alejandro Giammattei aceitou a renúncia do Ministro do Interior, Oliverio García Rodas, que deixou o cargo após contrariar a agenda do governo conservador e aceitar o funcionamento da ONG Planned Parenthood Global Guatemala. Entre outras coisas, a entidade promove assistência ao aborto seguro e educação sexual, tema que “vai contra os valores” de criação do mandatário. Imediatamente após a resolução aparecer no Diário Oficial, Giammattei convocou lideranças religiosas influentes e comunicou que a entrada da ONG não se tratava de uma decisão do governo. Médico de formação, o presidente é conhecido por ser um dos representantes da extrema direita na região. Em 2010, passou 10 meses preso após um escândalo envolvendo acusações de atividade criminosa e execuções extrajudiciais, durante seu tempo à frente da direção nacional de presídios do país. Em La Hora.
Una expresión:
Descarcajarse – típica na língua falada em Cuba, a expressão significa, em outras palavras, “rir até chorar”, “até não aguenta mais” ou “ter um ataque riso”, como se diz no Brasil. Aparece acompanhada do substantivo risa (ou risada) ou mesmo sozinha, como sinônimo de uma situação extremamente engraçada, que leva todos à completa euforia. Se um cubano estiver muito feliz, por qualquer razão, é bem fácil identificar quando um sorrisinho vira una descarcajada.
HAITI 🇭🇹
O ministro das Relações Exteriores dominicano, Roberto Álvarez, fez uma visita não oficial a Porto Príncipe na quinta (5), como forma de aproximar o governo de seu país, empossado em agosto, dos vizinhos de ilha. Além do gesto diplomático, Álvarez quis obter “em primeira mão” informações atualizadas sobre a situação haitiana no que diz respeito à pandemia e à atual crise sociopolítica que sacode os caribenhos. Além do encontro entre autoridades, o representante dominicano se encontrou com nomes de organismos internacionais. No Diario Libre.
HONDURAS 🇭🇳
O furacão Eta já havia sido rebaixado à condição de depressão tropical quando atingiu Honduras, mas isso não livrou o país de sofrer com os impactos da tempestade: inundações por todo o país deixaram hondurenhos desaparecidos ou mortos, em uma sombria contagem que já atingiu 21 fatalidades e tende a aumentar. Cenas dramáticas foram registradas devido à rápida cheia dos rios, com famílias inteiras presas nos telhados de suas casas e aguardando resgate aéreo. Leia mais sobre o Eta nas seções de Guatemala e Nicarágua desta edição. Em ElSalvador.com.
MÉXICO 🇲🇽
O estado central de Puebla, considerado um reduto conservador e religioso no país, aprovou na terça (3) uma lei que permite casamentos e união estável entre pessoas do mesmo sexo. A medida garante todos os direitos legais previstos em matrimônios entre parceiros heterossexuais, assim como entre casais que vivem há pelo menos dois anos juntos e/ou têm filhos. O pulo do gato para aprovar uma lei progressista tem explicação: atualmente, o departamento é governado por Miguel Barbosa, do partido governista Morena. Mas há, também, uma contradição: o presidente López Obrador, correligionário de Barbosa, é considerado um integrante da velha guarda da política à esquerda no país, o que, além de deixá-lo afastado da discussão, pode impedir que a pauta seja debatida em nível nacional. Atualmente, o casamento igualitário é permitido também na Cidade do México, além dos estados de Coahuila e Quintana Roo. Cerca de 6% da população mexicana se declara parte da comunidade LGBTQIA+. No Diario de Confianza.
O massacre dos LeBarón, família de mórmons mexicano-estadunidenses assassinados no estado de Sonora em 2019, completou um ano na quarta-feira (4) e ganhou um novo capítulo no mesmo dia: o governo anunciou a prisão de um homem, identificado apenas como “Alfredo L.”, na fronteiriça Ciudad Juarez, suspeito de participar na matança. Na ocasião (contamos no GIRO #5), três mulheres e seis crianças foram mortas, e as razões do crime nunca ficaram totalmente esclarecidas, embora as autoridades trabalhassem com a hipótese de crime ordenado pelos cartéis devido à atuação dos LeBarón em uma ONG em prol da pacificação da região. Na CNN.
Dois filmes pornô gravados em reservas ambientais no estado de Chiapas viraram assunto de governo e podem render punição: os vídeos escandalizaram as autoridades por “transgredir a moral e os bons costumes”, mas também seriam ilegais por violar a imagem de uma área protegida, que só poderia ser explorada comercialmente com a devida autorização prévia. A empresa que cedeu o barco no qual a equipe de filmagem, o diretor e as atrizes estavam também será investigada. No Clarín.
NICARÁGUA 🇳🇮
O furacão Eta tocou terra primeiro em solo nicaraguense, com ventos sustentados de mais de 220 km/h, colocando-o na categoria 4. Oficialmente, a Nicarágua – infame por esconder números de tragédias – só reconhecia duas vítimas fatais até o fechamento desta edição, mas o número tende a ser maior. Os desalojados pela tempestade também passariam dos milhares. O Eta foi a 28ª tempestade nomeada na temporada de furacões do Atlântico de 2020, igualando o recorde histórico para o maior número de ciclones já registrados – o nome, inclusive, é uma letra do alfabeto grego, utilizado quando as 21 denominações habituais definidas para o ano se esgotam. A Unicef disse em nota que cerca de 500 mil crianças e adolescentes centro-americanos e caribenhos estão ameaçados, anunciando a entrega de itens de emergência de higiene, recipientes de água e material de desinfecção na região. Leia mais sobre o Eta nas seções sobre Guatemala e Honduras desta newsletter. No Weather.
PANAMÁ 🇵🇦
O presidente Laurentino Cortizo sancionou a chamada Lei Geral da Cultura, que, entre outras coisas, passa a considerar “cultura digital e economias criativas” no amplo espectro da cultura nacional – o que fez as autoridades venderem o texto como “o mais avançado” do gênero nas Américas. Segundo o mandatário, a medida “salda uma dívida histórica” com o próprio país. A nova lei entra em vigor pouco depois de outra que busca impulsionar o setor em termos econômicos, sobretudo após os efeitos causados pela pandemia. Via EFE.
PARAGUAI 🇵🇾
Às vésperas de completar dois meses na próxima segunda-feira (9), o sequestro do ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013) caminha para um desfecho obscuro. Além do paradeiro desconhecido e de sequer uma prova pela vida do político, o caso ganhou um novo contorno incerto quando uma missão antissequestro realizou uma busca no vilarejo indígena de Yakye Axa, no departamento de Presidente Hayes. Apesar de denúncias de que alguma pista sobre a situação de Denis pudesse ser encontrada no local, as autoridades saíram de mãos abanando. Além de apreender celulares, a missão também prendeu duas mulheres indígenas para levar adiante as investigações. O Ejército del Pueblo Paraguayo (EPP), responsável pelo sequestro, tem grande influência sobre comunidades indígenas da região e recruta seus membros nelas. O próprio sequestro de Denis seria uma resposta ao assassinato de duas meninas indígenas em uma fracassada ação contra o EPP. Relembre o início do caso no GIRO #47. No ABC Color.
Un nombre:
Nevada – o estado dos EUA tornado infame durante a semana por sua incrível lentidão na apuração dos votos deve seu nome aos espanhóis. Mais propriamente, à Sierra Nevada, que marca a divisa a oeste com a Califórnia e cujo nome veio antes. Quando os hispanos controlavam a região, no distante 1542, coube a Juan Rodríguez Cabrillo (ou João Rodrigues Cabrilho, já que não há certeza se era português ou espanhol) identificar as montanhas dali pelo fato de que eram cobertas de neve. O “nevada” pegou.
PERU 🇵🇪
Não é fácil ser presidente no Peru e sair ileso. Martín Vizcarra, atual mandatário, que o diga: em questão de um ano, o líder enfrenta seu terceiro processo de impeachment. O mais recente, que deve ser discutido no Congresso na segunda-feira (9), se relaciona a um suposto recebimento de subornos do tempo em que o político ainda era governador da região de Moquegua, entre 2011 e 2014. Segundo a denúncia que chegou ao Ministério Público, Vizcarra teria recebido mais de um milhão de soles (cerca de R$ 1,6 milhão) das construtoras Obrainsa e Astaldi em troca de concessões para uma obra de irrigação. No início da semana, por 60 votos a 40, os deputados aprovaram a votação de uma nova moção de vacância contra o presidente, que, como na última vez, terá o direito de levar sua defesa ao plenário. Em setembro, Vizcarra sobreviveu a outro pedido de destituição (contamos no GIRO #47). Já em 2019, após dissolver o Congresso, o presidente sofreu represálias da maioria opositora da Casa e chegou a perder o cargo, com direito à posse de sua então vice, Mercedes Aráoz, em manobra fracassada da oposição que durou apenas um dia: na ocasião, os governistas retomaram o controle e alteraram nomes do gabinete. Se sobreviver à terceira sabatina, é provável que Vizcarra leve adiante seu plano inicial: tocar o país até as eleições de abril de 2021, nas quais não pretende concorrer. Em El Comercio.
Alerta epidemiológico, mas não por covid-19. Durante a semana, o governo em Lima tomou a decisão, que vale nacionalmente, após a capital confirmar a segunda morte por difteria – o país não registrava um caso nos últimos 20 anos. Segundo o vice-ministro da Saúde, Luis Suárez, as infecções justificam uma campanha paralela de vacinação em lugares próximos ao distrito limenho de La Victoria, onde uma menina de cinco anos se tornou a primeira vítima da doença. O governo local estima que 80 mil pessoas sejam imunizadas na região. O medo das autoridades é que o destaque óbvio que a pandemia recebe possa negligenciar a prevenção a outras enfermidades. No que diz respeito à covid-19, o Peru é o país com mais vítimas do mundo, proporcionalmente à população: 1.055 mortes a cada milhão de habitantes. No Patilla.
PORTO RICO 🇵🇷
Na terça-feira (3), mesmo dia em que os vizinhos ao norte iam às urnas, Porto Rico também foi votar seu novo governador, representantes legislativos, prefeitos de 78 cidades e um referendo sobre seu status. Como ocorre com os EUA, o resultado ainda era contestado pelo provável derrotado até o fechamento desta edição, por conta da demora na contagem de votos feitos pelo correio, gerando uma situação atípica na pequena ilha acostumada a conhecer seus vencedores no mesmo dia. O situacionista Pedro Pierluisi declarou vitória ainda na noite de terça, mas seu principal oponente, Charlie Delgado, negou-se a reconhecer a derrota. Com 98% dos votos apurados, a diferença entre os dois estava em 16 mil votos nas contagens mais recentes – há quatro anos, o governo foi definido por uma margem de 45 mil eleitores, daí a expectativa de uma virada, matematicamente possível mas praticamente improvável. Pierluisi já até montou sua equipe de transição. A única certeza é que o referendo perguntando se os portorriquenhos desejam se tornar o 51º estado dos EUA teve vitória do “sim” por 52%. Por não ser vinculativo, isso não significa que Porto Rico efetivamente se juntará ao país frente ao qual, hoje, é um estado livre associado. O resultado, porém, ajuda a fortalecer a demanda – que é apoiada por Pierluisi e pelo presidente virtualmente eleito dos EUA, Joe Biden, mas só começa a andar após aprovação no Congresso estadunidense. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Os oito jornalistas dominicanos mortos em 2020 pela covid-19, ao lado da crise econômica e da nova configuração de fazer jornalismo durante em tempos de isolamento, podem ter mudado a imprensa do país de uma forma que não se mensura. Segundo a reportagem do Diario Libre, que também fala em primeira pessoa, as mudanças forçadas pela crise sanitária podem ser “irreversíveis”, em especial pela nova relação que a sociedade civil estabeleceu com a principal fonte de informação sobre mortos, casos, medidas adotadas pelo governo e serviços de prevenção. Segundo a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), são 109 jornalistas mortos pelo novo vírus na região.
A presidente do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente da República Dominicana (Conani), Paula Disla, anunciou que nos últimos dois meses a instituição acolheu oito recém-nascidos abandonados. Preocupada com casos que acontecem com “muita frequência”, a dirigente defendeu que as mães que eventualmente deixem as crianças não devem ser processadas, mas sim amparadas por ajuda psicológica. “Há situações de saúde mental que levam a mãe a essa decisão, como deficiência alimentar, ou crianças que são fruto de abuso ou incesto”, disse. Na Prensa Latina.
URUGUAI 🇺🇾
O governo do presidente Lacalle Pou alegou “falta de imparcialidade” na nota da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que demonstrou preocupação após a polícia uruguaia reprimir de forma violenta uma aglomeração na capital, Montevidéu. Como foi contado em diversas edições do GIRO, agentes de segurança em toda a América Latina têm agido de forma violenta e arbitrária, muitas vezes sob o pretexto de evitar aglomerações ou repreender os que furam o isolamento. No Uruguai, não é diferente, segundo denunciou a CIDH: em nota, a entidade afirma que “segundo a sociedade civil, a polícia não teria priorizado o diálogo antes de sua intervenção.” O governo negou os abusos e rebateu dizendo que as falas da Comissão são “incompatíveis”. Na RFI.
VENEZUELA 🇻🇪
Segue o mistério do ex-fuzileiro naval estadunidense Matthew Heath, confinado em La Casa de los Sueños, prisão na sede da inteligência venezuelana em Caracas. Heath foi preso há dois meses acusado de conspiração e tentativa de sabotar refinarias de petróleo. Ao contrário do que ocorreu com um grupo de mercenários capturados em maio, no caso de Heath o presidente Nicolás Maduro não fez alvoroço sobre a detenção e nem compartilhou vídeos do prisioneiro. O ex-militar teria comprado um barco pesqueiro e deixado para trás o trabalho de segurança privada que exerceu por mais de uma década no Oriente Médio. Em março, navegou até o porto de Cartagena, na Colômbia, e circulou ilegalmente por território colombiano até ser detido com uma pistola e munições junto com dois homens e uma mulher venezuelanos. Daí, fugiu rumo à fronteira e chegou em setembro à cidade venezuelana de Maracaibo. A prisão de Heath ocorreu no dia 10 de setembro, quando ele tentava chegar a Caracas. Segundo a família do ex-fuzileiro, “ele estava no lugar errado, na hora errada”, mas ninguém consegue explicar ao certo como e por que ele foi parar nas mãos do governo Maduro. Via AP.
Com a economia em frangalhos, Nicolás Maduro recebeu empresários chineses e incentivou os orientais a investir no país. Segundo o governo, a nova e controversa “Lei Antibloqueio”, que dá amplos poderes a Maduro para alterar aspectos econômicos sem passar pelo Congresso, será instrumental para que as novas relações comerciais saiam do chão. No Efecto Cocuyo.
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