Bolívia liga alerta ante risco de crise cambial
Argentina nos BRICS em pauta | Chile aprova redução da jornada de trabalho | Jornal salvadorenho El Faro se muda de país | Cooperação internacional para conter migração em Darién
Um dos raros países latino-americanos a atravessar os últimos anos sem maiores tormentas econômicas, a Bolívia teme que os dias de calmaria – e a rara capacidade de fugir da inflação – estejam contados. Desde fevereiro, quando vieram as primeiras notícias de que as reservas de dólares do país haviam atingido níveis historicamente baixos, o país vive uma corrida às casas de câmbio e aos bancos.
O movimento forçou o governo a dar respostas imediatas: primeiro, estabelecer limitações à troca de moeda; depois, concentrar toda a operação cambial diretamente no Banco Central, o que, segundo relatos, teria gerado um atraso de semanas até receber o dinheiro norte-americano; finalmente, ao longo de abril, o BC parou de divulgar rotineiramente o estado das reservas internacionais da nação andina. Em fevereiro, quando o pânico de fato começou, as reservas brutas estavam em US$ 3,5 bilhões, muito abaixo do pico de US$ 15,5 bilhões em 2014. No saldo líquido, muito menos: cerca de US$ 370 milhões estavam à disposição, acendendo alertas.
Até aqui, porém, o governo de Luis Arce tem se defendido das suspeitas de que uma crise cambial esteja a ponto de estourar, alegando que tudo não passa de uma profecia autorrealizável que gerou um círculo vicioso: se as reservas de dólar estão despencando, só pode vir uma crise; se a crise vem, é preciso sacar os dólares antes que eles não estejam mais lá; se todos têm a mesma ideia, as reservas ficam ainda menores – e, aí sim, não há como escapar da crise.
O ministro de Economia, Marcelo Montenegro, afirmou que a “especulação” estaria por trás do número anormal de pedidos por dólares registrados nos últimos dois meses, enquanto o BC garantiu que está pronto para “atender a toda a demanda que possa existir por parte da população”. Observadores estrangeiros, opositores nacionais e agências de risco, porém, pensam diferente – e, como de hábito, atrelam o problema a uma suposta irresponsabilidade contábil feita para tentar manter programas sociais em um contexto de sucessivos déficits fiscais, um problema bastante conhecido por governos à esquerda.
É o caso de Juan Antonio Morales, ex-presidente do BC (1995-2006) que ocupou o cargo na década imediatamente anterior à chegada de Evo Morales (2006-2019), com quem não tem parentesco, ao poder: “a Bolívia acumula déficits fiscais altos desde 2015 [...] é necessário um ajuste fiscal profundo que poderia ser bastante doloroso”, afirmou à BBC.
Até ali, o país era visto como um caso de sucesso mesmo por quem encarava o governo socialista com desconfiança, um êxito atribuído a ninguém menos que o hoje presidente Luis Arce – responsável pela pasta de Economia durante quase todo o longo período em que Evo permaneceu na Presidência. Mas, antes mesmo do fim da gestão de Arce diante das finanças bolivianas, a situação começou a se inverter e as reservas em dólar foram sendo dilapidadas: muito dependente da exportação de gás natural, a Bolívia deixou de investir na busca e exploração de novas jazidas, enquanto os campos atuais vêm sendo exauridos, com a produção em declínio – o resultado é que o país, rico em hidrocarbonetos, atualmente já tem uma balança comercial negativa nesse setor.
A corrida por dólares também se explica pelo modelo de câmbio adotado pelo país, que usa uma taxa fixa há mais de década: desde 2011, o dólar é comercializado a 6,86 bolivianos para a compra e 6,96 para a venda. Embora a economia tenha se estabilizado nos tempos de Evo Morales, o passado de hiperinflação e incertezas faz com que grande parte das transações cotidianas – desde o mercado de imóveis à compra de roupas – continue ocorrendo majoritariamente na moeda estrangeira.
Em maior ou menor medida, essa é uma questão que atinge as transações correntes de vários países latino-americanos, como a Venezuela e a Argentina. É fato que estes, ao contrário dos bolivianos, viveram anos bem menos estáveis neste século; mas o temor, agora, é que seja a própria Bolívia a se encaminhar para uma tormenta econômica, o que transformaria as taxas fixas – que, apesar de controversas, não trouxeram problemas até aqui – em uma dor de cabeça.
Entre as potenciais consequências graves estão a súbita transição para um câmbio flutuante que levaria a um descontrole nos preços em moeda local – ou, no mínimo, uma manutenção da taxa fixa, mas com uma desvalorização acentuada do boliviano, que igualmente poderia redundar em inflação. É também por isso que tantos cidadãos parecem estar querendo dólares para “guardar no colchão”, lembrando os meses prévios à crise cambial argentina de 2001 – cena rara no passado, hoje já há registro de pessoas dispostas a comprar dólar no mercado paralelo (e ilegal), pagando valores acima do câmbio oficial, um negócio que em tempos normais seria desvantajoso, mas se tornou atrativo diante do temor de uma futura desvalorização da moeda nacional.
Hoje, o Banco Central da Bolívia está tentando suplementar a falta de dólares com a conversão de Direitos Especiais de Giro (DEG), uma reserva do Fundo Monetário Internacional (FMI) que pode ser trocada por moeda corrente quando há problemas de liquidez. Mas mesmo esta alternativa emergencial pode não durar muito tempo – embora o governo não confirme, especula-se que a Bolívia já teria usado mais de 90% dos DEG a que tem direito. Agora, a questão de muitos milhões de dólares é se o respiro momentâneo será suficiente para a Bolívia se adequar à nova realidade econômica que o país atravessa sem passar por uma crise traumática – ou se, ao contrário, trata-se apenas de um adiamento de uma época de austeridade que as gestões de esquerda vêm lutando para evitar.
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🇦🇷 Argentina nos BRICS na pauta de viagem de Lula à China – Não é tão simples, mas a expansão do bloco das maiores economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os BRICS) estava entre os temas aguardados na conversa entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e seu homólogo chinês, Xi Jinping, que ocorreu na sexta (14). Em visita a Pequim, Lula aposta na volta do Brasil à diplomacia – após os anos de isolamento sob Jair Bolsonaro (2019-2022) – para estimular a inclusão dos argentinos, parceiros comerciais e políticos, no bloco. Os ventos sopram a favor: no ano passado, os governos integrantes já haviam declarado conjuntamente a intenção de discutir “sobre o processo de expansão”. Outro trunfo na argumentação brasileira é a recente posse da ex-presidenta Dilma Rousseff (2011-2016) como comandante do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) – o tal Banco dos BRICS. Apesar de ter ressalvas a uma ampliação do grupo, o Brasil tem preferência por privilegiar os vizinhos se essa hora de fato chegar, como conta a matéria da BBC.
🇨🇱 Chile aprova redução da jornada de trabalho – Enfim, passou: após anos de debates e negociações, o Congresso aprovou na terça-feira (11) uma nova lei que vai reduzir gradualmente a carga horária da jornada de trabalho. Com implementação esperada para os próximos cinco anos, a medida vai baixar o limite de 45 para 40 horas semanais, sem prejuízo aos salários, colocando o país transandino ao lado de nações com as menores quantidades de horas trabalhadas na região, como Equador e Venezuela – outros, como Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai, seguem na casa das 48 horas, oito acima do patamar recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), embora a média real de horas trabalhadas seja frequentemente menor que o limite legal (no próprio Chile, por exemplo, a OIT estima que a jornada real média esteja em 36,8 horas atualmente). O avanço da lei foi celebrado pelo presidente Gabriel Boric e pela atual ministra da Secretaria-Geral de Governo, Camila Vallejo, que em 2017, ainda exercendo o cargo de deputada pelo Partido Comunista, foi justamente quem apresentou o projeto de reforma legislativa. Emocionada, Vallejo disse que é gratificante ver “a política à altura da cidadania e de suas necessidades”. Na BBC.
🇸🇻 Jornal opositor se muda de El Salvador – El Faro, um dos mais importantes jornais de El Salvador e conhecido por suas denúncias sobre desvios do governo do presidente Nayib Bukele, anunciou na quinta-feira (13) que vai mudar sua personalidade jurídica para a Costa Rica. Embora a redação siga operando em solo salvadorenho, o periódico decidiu transferir sua estrutura administrativa para outro país de modo a dificultar os cerceamentos do qual tem sido vítima constante. “O desmantelamento da democracia, a falta de freios e contrapesos” e “os ataques contra a liberdade de imprensa” estão entre as justificativas na nota divulgada pelo jornal. “O presidente até usou a televisão e a rádio do Estado para nos acusar falsamente de lavagem de dinheiro”, seguiu enumerando o texto. Na Folha.
🇵🇦 Panamá, Colômbia e EUA anunciam cooperação para conter migração em Darién em 60 dias – Em anúncio conjunto na terça-feira (11), o Panamá, a Colômbia e os Estados Unidos prometeram um plano de 60 dias (ainda não iniciado) para interromper o fluxo migratório por Darién – o perigoso estreito coberto por mata cerrada que é passagem obrigatória para migrantes que começam sua jornada rumo aos EUA partindo da América do Sul. As autoridades dos três países não deram detalhes sobre como exatamente o ambicioso plano funcionaria, mas uma fonte ouvida em condição de anonimato pela agência AP afirmou que haverá assistência norte-americana para operações de inteligência que permitam desmantelar as redes de tráfico humano que operam na região. A mesma fonte afirmou que será impossível zerar a circulação na área, mas as medidas ajudariam a reduzir drasticamente a migração que, nos últimos meses, tem explodido. Uma parte do projeto já tornada pública fala também – de forma vaga – em promover a criação de oportunidades econômicas para comunidades fronteiriças de Panamá e Colômbia, de modo a reduzir o interesse em esquemas de transporte de migrantes. Em 2023, a já concorrida passagem por Darién vem batendo recordes rapidamente: segundo o governo panamenho, só nos três primeiros meses foram 87 mil pessoas atravessando a área, contra 14 mil no mesmo período ao ano anterior. Grupos da ONU acreditam que, sem qualquer medida, o número chegará pelo menos a 400 mil até o fim do ano, ante 250 mil em 2022. Via AP.
🇵🇪 Execução de jornalista em 1988 enfim rende condenação a ex-presidenciável – Passaram-se 35 anos, mas um dos casos mais emblemáticos de perseguição à imprensa no Peru finalmente conheceu sentença: nas primeiras horas de quinta-feira (13), a Justiça condenou o general aposentado (e também ex-deputado e por duas vezes presidenciável) Daniel Urresti a 12 anos de prisão, por seu envolvimento na brutal morte de um jornalista em 1988. Na ocasião, o repórter Hugo Bustíos, que cobria os abusos do Estado durante o conflito contra o Sendero Luminoso, foi metralhado e teve seu corpo destroçado por cargas de dinamite – um episódio que o governo inicialmente atribuiu à própria guerrilha, antes de investigações demonstrarem ter sido promovida por integrantes do Exército à paisana. A intenção seria evitar que Bustíos revelasse as violações de direitos humanos cometidas contra a população da província de Huanta, majoritariamente indígena. Em 2011, Urresti foi identificado como um dos membros do comando que realizou o crime, o que não o impediu de seguir carreira política, chegando inclusive ao posto de ministro do Interior (2014-2015). Urresti, para quem o Ministério Público chegou a pedir 25 anos de pena, diz que vai recorrer da sentença e afirmou que é vítima de perseguição judicial por se opor ao atual governo de Dina Boluarte. Via AP.
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COLÔMBIA 🇨🇴
Luz Fabiola Rubiano, a mulher cujo rosto se tornou viral em setembro após ser gravada proferindo insultos racistas contra a vice-presidenta Francia Márquez, se declarou culpada na segunda (10) pelos crimes de discriminação e assédio, podendo pegar de um a três anos de prisão. Os ataques foram registrados durante protestos contra o governo de Gustavo Petro no ano passado e flagraram Rubiano chamando Márquez – a primeira mulher negra e de origens afro-caribenhas a ocupar o cargo de vice na América do Sul – de “símio”, e questionando, em seguida, “que educação pode ter um negro? [...] Que nos matam, roubam e atacam?”. As falas foram repudiadas nacionalmente e havia muita expectativa para que o caso começasse a avançar judicialmente – o que tem acontecido este ano. A responsável pelos ataques deve conhecer sua sentença no próximo dia 30. No Portafolio.
COSTA RICA 🇨🇷
O presidente Rodrigo Chaves manifestou indignação e exigiu que se investigue a suspeita de uma cadeia de negligências por parte do Patronato Nacional da Infância (PANI), órgão que deveria velar pelos direitos das crianças no país. Trata-se de uma sucessão de omissões: tudo começou quando uma menina de 13 anos deu à luz em um hospital de Cartago, na região metropolitana da capital San José; preocupado com a situação, o hospital diz ter acionado o PANI, que teria autorizado a alta da menina sem – alegadamente – tomar medidas adicionais, mesmo que uma gestação tão jovem seja necessariamente considerada fruto de um estupro pela legislação local. Agora, o bebê foi sequestrado – e segue desaparecido. O principal suspeito do rapto é um homem de 33 anos de sobrenome Casasola, padrasto da menina, que também é investigado pelo estupro. Mas, além do crime em si, agora o país quer saber quem foram os responsáveis pela falência dos vários elos na cadeia que deveria proteger as duas crianças. “Se houve denúncias, ligações, avisos e o PANI nada fez, alguém tem que responder e prestar contas”, afirmou o presidente Chaves na quarta (12). “E, se não houve denúncias, peço ao povo da Costa Rica que nos olhemos no espelho: isso é ser cúmplice, ficar calado é ser cúmplice”. No Nación.
CUBA 🇨🇺
Enviados cubanos se reuniram com autoridades dos EUA em Washington, na quarta (12), para discutir questões relacionadas à migração, a um mês do encerramento definitivo de restrições fronteiriças adotadas pelos norte-americanos no início da pandemia de covid-19. Com os EUA temendo um aumento nas travessias ilegais – com cubanos como uma das nacionalidades majoritárias – a partir de 11/5, quando a medida pandêmica deixa de valer, o governo Joe Biden vem buscando se reaproximar de Havana para discutir alguma ação conjunta. Em novembro, os dois lados já haviam realizado outra reunião do tipo em Cuba. Pouco se sabe sobre os detalhes da reunião desta semana, com uma declaração do Departamento de Estado dos EUA afirmando vagamente que as conversas “destacaram áreas de cooperação bem-sucedida e identificaram questões que têm sido obstáculos”. Carlos Fernández de Cossio, que liderou a missão cubana em nome do Ministério de Relações Exteriores, voltou a apontar para o embargo econômico dos EUA como razão principal para a emigração massiva de seus compatriotas – são “medidas extremas e desumanas”, definiu. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
O Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) tornou pública na quinta da semana passada (4) a prisão do militar salvadorenho aposentado Roberto Antonio Garay Saravia, acusado de omitir sua participação em chacinas no país durante a década de 1980 – notadamente, o ex-coronel é apontado como um dos envolvidos no massacre de El Mozote, em 1981, quando esquadrões da morte a mando das Forças Armadas dizimaram uma aldeia do país, matando, em sua maioria, crianças e civis desarmados. O crime é considerado um dos maiores banhos de sangue da história da América Latina e ocorreu no contexto da Guerra Civil (1979-1992), momento em que o governo de El Salvador contava com grande apoio militar e financeiro da Casa Branca. Garay Saravia, que reside legalmente nos EUA desde 2014, também é acusado de participar de outras três execuções extrajudiciais. A possibilidade de deportação, ainda que não haja uma ordem de captura por parte do governo salvadorenho, não foi descartada. No Brazilian Report.
EQUADOR 🇪🇨
Violência sem fim: dando sequência à espiral de crise na segurança pública, o país testemunhou mais um massacre: dessa vez, a balacera aconteceu na terça (11) na região portuária de Esmeraldas, próxima à fronteira com a Colômbia, deixando pelo menos nove pessoas mortas. As vítimas são, em sua maioria, pescadores que trabalhavam na região. As cenas assustaram: segundo relatos, pelo menos 30 homens armados chegaram a bordo de uma lancha e dispararam dezenas de vezes contra esses trabalhadores artesanais, alguns deles idosos, num crime que foi prontamente relacionado ao avanço das disputas do narcotráfico em todo o país. Enquanto o caso segue em investigação, o ministro do Interior, Juan Zapata, disse que a chacina pode estar ligada a um ato de represália: as vítimas teriam optado pelos ‘serviços’ de segurança de uma gangue – em geral, uma extorsão em troca de “proteção” – e acabaram sendo mortos por um grupo rival, em uma demonstração de força. Diante de uma violência descontrolada, o país segue sob decreto de estado de exceção e passou a permitir a posse de armas de fogo entre cidadãos. O massacre de Esmeraldas levou à renúncia do secretário de Segurança do Equador, Diego Ordóñez, que em agosto havia assumido o cargo recém-criado, com a missão (que segue sendo frustrada) de conter a explosão da criminalidade no país. Em El País.
GUATEMALA 🇬🇹
Não que não existam problemas nas eleições guatemaltecas aguardadas para 25/6, mas os EUA, bom, costumam comentar o que acontece abaixo de suas fronteiras independentemente disso. E foi o que aconteceu, mais uma vez, na terça (11), dia em que o secretário para Assuntos do Hemisfério Ocidental da Casa Branca, Brian Nichols, tuitou a respeito do processo eleitoral do país centro-americano. “Apoiamos o direito dos guatemaltecos a eleições livres, justas e pacíficas”, disse, reforçando que a democracia “depende de todos os cidadãos escolherem seus líderes entre todos os candidatos qualificados, sem barreiras arbitrárias, exclusão ou intimidação”. As falas do responsável pela diplomacia estadunidense na América Latina tratam das controversas exclusões de candidatos à presidência por decisão do TSE, medidas vistas como arbitrárias por diversas entidades e grupos políticos. Entre os binômios impedidos de concorrer, destaque para a chapa composta pelo ex-procurador de Direitos Humanos, Jordán Rodas, e a liderança indígena Thelma Cabrera. Desafeto do governo de Alejandro Giammattei (gestão que está na mira de Washington e de outros países há vários meses em função de uma onda de perseguição contra juízes e procuradores), Rodas é conhecido pelas denúncias aos abusos cometidos pelo Executivo, fato que pode se relacionar diretamente à decisão que o tirou da corrida eleitoral. Na Prensa Libre.
Dale un vistazo:
📚 Os Filhos dos Dias (2011) – Há oito anos, completados nesta última quinta-feira (13), o escritor uruguaio Eduardo Galeano nos deixou. Embora não faltem obras famosas, como O Livro dos Abraços e As veias abertas da América Latina, nossa dica de hoje é um título bem mais recente, mas com a mesma essência galenística. Os Filhos dos Dias, um dos seus últimos livros lançados em vida, é construído na forma de um calendário, onde cada dia do ano resgata uma curta história geralmente associada à data da vez. A primeira epígrafe começa assim: “E os dias se puseram a andar. / E eles, os dias, nos fizeram. / E assim fomos nascidos nós, os filhos dos dias, os averiguadores, os buscadores da vida. / (Gênesis, de acordo com os maias)”. Confira aqui uma prévia de textos lidos pelo próprio Galeano.
HAITI 🇭🇹
Foi lindo, mas a grandiosa jornada do inesperado Violette Athletic Club chegou ao fim: após ser goleado por 5 a 0 pelos mexicanos do León, o clube de Porto Príncipe até venceu por 2 a 1 a partida de volta das quartas-de-final da “Concachampions” na terça (11), mas acabou eliminado pelo placar agregado do torneio que reúne representantes do futebol das Américas do Norte, Central e Caribe. Como ocorreu ao longo de toda a histórica campanha, a partida de despedida dos “Le Vieux Tigre” foi disputada na vizinha República Dominicana, para escapar à convulsão social que afeta sobretudo a capital do outro lado da ilha de Hispaniola. Ficam, porém, as memórias de um feito histórico: a modesta esquadra caribenha correu por jornais do mundo todo após vencer o rico Austin FC, da MLS, a liga estadunidense, na fase anterior do torneio. Na partida de volta nos EUA, porém, os haitianos acabariam com o time titular depenado por conta de restrições migratórias, sendo obrigados a defender a vitória da ida sem quatro titulares e com apenas 12 jogadores disponíveis. Mesmo colocando vários atletas amadores em campo (convocados de última hora para compor elenco), na ocasião o Violette se segurou, perdeu por (apenas) 2 a 0 e se classificou. Em El Comercio.
HONDURAS 🇭🇳
A Corte Suprema de Justiça (CSJ) do país anunciou, na quarta (12), a abertura de uma investigação em pelo menos quatro penitenciárias onde membros de gangues rivais trocaram tiros durante o último final de semana. O episódio deixou um detento morto e outros sete feridos, num embate envolvendo as conhecidas gangues Mara Salvatrucha e Barrio-18 (dominantes em El Salvador, esses grupos criminosos se ramificam por toda a América Central e parte dos EUA). Os alvos da recém-lançada operação são os responsáveis pelos centros de detenção, que devem ser ouvidos nos próximos dias. A medida vem na esteira de um discurso oficialista cada vez menos tolerante com o crime organizado: no domingo (9), a presidenta Xiomara Castro repudiou os atos de violência e prometeu “mão dura” e “ordem” nas prisões “até transformá-las em Centros de Reabilitação Penal, não em escolas de crimes e torturas [como as] herdadas pelo meu governo”. Desde o ano passado, um polêmico estado de exceção parcial lançado por Castro reduziu garantias constitucionais e aumentou a atuação da segurança pública contra a violência urbana. Via Prensa Latina.
MÉXICO 🇲🇽
Uma das maiores tragédias recentes envolvendo o dramático contexto de migração latino-americana, o incêndio que deixou 40 migrantes mortos no começo do mês (relembre o caso) em Ciudad Juárez teve novos desdobramentos: na quarta (12), o presidente Andrés Manuel López Obrador até chegou a dizer que o chefe do Instituto Nacional de Migração (INM), Francisco Garduño, enfrentará investigações criminais, sem especificar as acusações que pesam contra a autoridade. Chamou a atenção, no entanto, o fato de Garduño ter sido… mantido no cargo, o que gerou críticas a Obrador. A decisão de não demitir imediatamente o chefe de migração – AMLO defende que o caso precisa de “mais informações” – também mostra um desacerto entre o Executivo e a Procuradoria-Geral do país, que na mesma semana chegou a anunciar procedimentos penais contra o diretor do INM, enquanto mais três acusados foram detidos. Ao passo que a trama se desenrola, o episódio ganhou contornos particularmente sensíveis por avançar judicialmente à medida que familiares das vítimas realizaram funerais em países vizinhos nos últimos dias – novas informações também confirmaram a nacionalidade dos mortos e feridos na tragédia: um colombiano, um equatoriano, 12 salvadorenhos, 28 guatemaltecos, 13 hondurenhos e 13 venezuelanos. Engrossando as críticas às políticas migratórias, a Cruz Vermelha disse na quinta (13) que o caso brutal com sinais de negligência mostra que é “um bom momento” para os centros de detenção serem repensados: “privar os migrantes de sua liberdade por serem migrantes deve ser o último recurso”. Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
Segue a guerra aberta do regime de Daniel Ortega contra a Igreja Católica, que o governante acusa de ajudar a fomentar um “golpe” contra ele desde o início dos protestos contra sua gestão em 2018. Desta vez, duas freiras costa-riquenhas que administravam uma casa de repouso na Nicarágua foram expulsas do país, repetindo uma situação já vista no passado, sem acusações específicas além das velhas alegações feitas contra religiosos que tentam atuar no país. Elas foram recebidas na Costa Rica na quarta-feira (12). E não foi a única notícia da semana no mais novo capítulo do prolongado conflito do orteguismo com a Igreja: no mesmo dia, uma congregação de freiras trapistas, que tinham abandonado a Nicarágua no mês de fevereiro após repetidas pressões, afirmaram que o governo confiscou seu mosteiro nos últimos dias. Na CNN.
PARAGUAI 🇵🇾
Gigantes do mercado financeiro estão ligadas ao desmatamento na região paraguaia do Gran Chaco, afirma um novo relatório. De acordo com o levantamento, bancos e fundos como BlackRock, HSBC, Santander e BNP Paribas mantêm interesses diretos em empresas produtoras de carne acusadas pela devastação ambiental da área, que perdeu cerca de um quarto da sua cobertura de floresta entre 2000 e 2020. As financeiras não mudaram sua política mesmo após entidades independentes emitirem alertas sobre o impacto na atividade pecuarista no Gran Chaco nos últimos anos. “A realidade é que muito pouco mudou dois anos depois [dos primeiros relatórios]”, lamentou Charlie Hammans, da ONG Global Witness, que fez a nova denúncia. No Mongabay.
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PORTO RICO 🇵🇷
O governo da ilha decretou estado de emergência para combater a erosão costeira, um problema crônico que vem fazendo partes significativas do litoral serem perdidas para o mar e vem ameaçando quem mora perto da água. Segundo o governador Pedro Pierluisi, o plano “ambicioso” envolve US$ 105 milhões para uma série de medidas que tentam mitigar ou reverter o processo: construção de novas residências afastadas das áreas de risco, colocação de mais areia nas praias ameaçadas pela erosão, estabelecimento de barreiras artificiais e o plantio de vegetação de mangue, entre outras medidas. Pelo menos 40% das praias do país sofriam com a erosão em 2018, um processo intensificado pelo furacão María do ano anterior, que destruiu áreas litorâneas e ajudou a remover as proteções naturais contra o problema. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Pelo menos 35 mil. Este é o número de turistas que a República Dominicana alega ter deixado de receber desde que, em novembro, os Estados Unidos emitiram um alerta aos seus próprios cidadãos “de pele escura” recomendando cuidados ao viajar para a nação caribenha. A medida foi chamada de “injustificável” pelo presidente dominicano Luis Abinader nesta quinta (13), pedindo que ela seja revertida e “a sensatez se imponha”. O alerta foi feito originalmente pela embaixada estadunidense em Santo Domingo e está relacionado ao aumento nas operações contra a imigração irregular de haitianos, uma população majoritariamente negra, que poderiam também causar constrangimento a pessoas de ascendência africana vinda dos EUA. Via EFE.
URUGUAI 🇺🇾
O presidente Luis Lacalle Pou deve encontrar seu homólogo argentino Alberto Fernández “antes do fim do mês”, confirmaram fontes das duas chancelarias na terça (11), ainda sem estabelecer a data. Apesar de trivial para os vizinhos separados pelo Rio da Prata, o encontro desperta mais interesse do que o normal em função de uma série de pautas centrais às vésperas das eleições presidenciais no lado argentino: a insistência de Lacalle Pou em negociar acordos comerciais por fora do Mercosul, contrariando os interesses de Buenos Aires, e a simpatia dos peronistas por Cuba, Nicarágua e Venezuela, são temas que devem figurar nessa nova tentativa de estreitar um vínculo bilateral estremecido desde que os dois países passaram a ter governos de viés ideológico distinto (primeiro com Mauricio Macri na Argentina enquanto a Frente Ampla seguia no poder em Montevidéu, depois com a ascensão de Lacalle Pou quando os peronistas regressaram à Casa Rosada). Enquanto a reunião não acontece, Fernández se encontrou na terça-feira com o ex-presidente uruguaio José Mujica (2010-2015), e não faltou indireta ao atual mandatário do paisito: em um vídeo publicado nas redes sociais, o argentino fala da necessidade de que o Mercosul trabalhe unido e “termine com as assimetrias”. Em La Nación.
VENEZUELA 🇻🇪
Só cresce a lista de funcionários e altos oficiais detidos pela polícia após uma profunda operação interna anticorrupção encomendada pelo governo de Nicolás Maduro: segundo novo balanço do Ministério Público divulgado na quinta (13), subiu de 55 para 58 o número de detidos até aqui, ao passo que o total de buscas e apreensões já passa de 160. A mega-investigação, considerada a maior do tipo sob Maduro, vem passando um pente-fino em diversos organismos estatais, com destaque para a poderosa Petróleos de Venezuela (PDVSA), o coração da economia nacional. Os acusados devem responder por crimes de desvio de verba pública, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e associação criminosa, entre outros delitos. Além de pessoas que ocupam ou ocuparam cargos nas companhias investigadas, funcionários do poder público, incluindo membros do Executivo, também estão na mira das autoridades. A oposição ao chavismo não tem feito resistência ao avanço da operação, mas acusa o governo de expurgar integrantes numa tentativa de melhorar a própria imagem. Na RTP.
Governo tentando resolver problemas de um lado, denúncias chegando de outro: segundo informações da ONG Una Ventana por la Libertad (“Uma janela pela liberdade”), quase metade dos presos mantidos em unidades de detenção ligadas à polícia apresentam sinais de desnutrição. O quadro é agravado pela situação em que celas vivem lotadas além da capacidade e pela falha no sistema de saneamento. “Durante o ano de 2022, a desnutrição continuou sendo o principal problema encontrado, com 49,54% dos 432 casos (de doenças) identificados entre os presos. Em segundo lugar, encontramos a tuberculose com 71 casos (16,44%)”, informou a organização. A péssima condição das cadeias, um problema crônico, também é denunciada pelo Observatório Venezuelano de Prisões (OVP). Via AFP.
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