Bolívia: ex-ministro golpista é preso nos EUA
Colômbia completa um mês de protestos | Chile cria passaporte interno para vacinados | Peru: ataque atribuído ao Sendero Luminoso mata 16 | Vídeo: Uruguai quer vacina rápida para vislumbrar pós-covid
A semana foi de novos desdobramentos do golpe de 2019: o ex-ministro de Governo de Jeanine Áñez (2019-2020), Arturo Murillo, foi preso em Miami acusado de suborno e lavagem de dinheiro, informação confirmada pelo Departamento de Justiça dos EUA pouco após a detenção, ocorrida na quarta-feira (26).
Além dele, foram detidos seu ex-chefe de gabinete, Sergio Méndez, e um grupo de três empresários estadunidenses, todos acusados de articular um esquema de propina na importação de gás lacrimogêneo enquanto Murillo estava no posto que, entre outras responsabilidades, coordena a polícia. Segundo as investigações, o influente artífice – que ocupou um dos cargos de poder mais altos após a destituição de Evo Morales – teria embolsado cerca de US$ 600 mil para favorecer as empresas contratadas pelo governo interino na Bolívia. A fabricante brasileira Condor, produtora de granadas e projéteis de gás lacrimogêneo, também estaria envolvida na trama.
Foragido desde o final de 2020, pouco após o golpe ser revertido nas urnas com a vitória acachapante de Luis Arce (o GIRO LATINO tem uma extensa cobertura em vídeo sobre a saga boliviana), Murillo chegou a passar pelo Brasil antes de fugir para o Panamá. Na quarta (26), pouco após a prisão do antigo ministro vir a público, o governo boliviano confirmou que solicitará a extradição dos acusados, exigindo que “sejam julgados em território nacional”.
Os articuladores do mais recente golpe boliviano e toda a linha sucessória que assumiu o poder em 2019 não têm tido trégua: a própria Áñez, antiga segunda vice do Senado que tomou a cadeira presidencial, foi presa em março por sua participação no golpe (leia mais no GIRO #72). Além dela, outras autoridades ligadas à derrubada de Evo Morales também receberam ordem de prisão, caso do então general Williams Kaliman e do ex-chefe de polícia, Yuri Calderón. Autoridades do atual governo também pedem que líderes dos movimentos conservadores que tiveram papel ativo no golpe, como o Comitê Pró-Santa Cruz (em 2019 liderado por Luis Fernando Camacho, depois candidato à presidência e, desde o último dia 3, governador do departamento de Santa Cruz) também sejam incluídos nas investigações.
Se o golpe por si só já havia caído em desgraça no país pelas detenções de seus articuladores e sobretudo pela resposta das urnas nas eleições de outubro passado, a associação de um membro do antigo alto-escalão descredibiliza ainda mais os que “tomaram o governo por assalto”, como classificou o atual presidente Luis Arce, após vir a público comentar o caso Murillo com “indignação”.
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DESTAQUES
🇨🇱 CHI – Entrou em vigor, na quarta-feira (26), o “Passe de Mobilidade”, que garante às pessoas vacinadas com duas doses a possibilidade de se deslocar livremente, mesmo em áreas onde houver quarentena mais rígida no país. País mais avançado na vacinação na América Latina, o Chile já registra 41% da população tendo recebido o esquema de imunização completo. Não é a primeira vez que o governo chileno tenta implementar um “passaporte” para facilitar a circulação em meio às restrições: no ano passado, o país lançou e depois abortou o “Carnê Covid” (contamos neste vídeo), que se baseava na noção – hoje comprovadamente equivocada – de que uma pessoa que se curou da doença estaria imune a um novo contágio. No site do governo.
🇨🇴 COL – O Paro Nacional completou um mês nesta sexta-feira (28), com um saldo de mais de 40 mortes, centenas de pessoas desaparecidas e feridas, e milhares de prisões arbitrárias. Tudo indica que a sequência de greves e manifestações está seguindo os passos do estallido social chileno: o grito das ruas só vai parar quando forem garantidas mudanças profundas nas estruturas sociais do país mais desigual da América Latina. Até o momento, os protestos derrubaram duas reformas (uma tributária e outra do sistema de saúde), destituíram um ministro da Fazenda e uma chanceler, e forçaram o governo de Iván Duque a sentar na mesa de negociação para ouvir as demandas da população colombiana. Entre as pautas levantadas pelo comitê organizador da greve, há a criação de uma renda básica durante a pandemia, a reforma policial, a reforma educacional, a suspensão de privatizações e o fim da aplicação de glifosato em cultivos ilícitos. Na segunda-feira, o governo e os manifestantes fizeram um pré-acordo para dar garantias mínimas ao direito de protestar. No dia seguinte, um incêndio no Palácio de Justiça da cidade de Tuluá, no Valle del Cauca, fez os ânimos esquentarem de novo: o governo atribuiu a ação aos manifestantes, embora organizações de direitos humanos tenham apontado como responsável um grupo de civis armados e paramilitares que teriam agido para jogar a culpa em quem protesta. O início das negociações está marcado para domingo (30) e, enquanto isso, a população segue nas ruas: na sexta, uma nova jornada de violência deixou quatro pessoas mortas na região de Cali e Iván Duque anunciou o envio “máximo” de militares à área, triplicando a presença das Forças Armadas no Valle del Cauca.
🇪🇨 EQU – O presidente Guillermo Lasso assumiu o cargo oficialmente em cerimônia realizada em Quito na segunda (24), tornando-se o 47º chefe de Estado da história do país. Na presença de Jair Bolsonaro (que apareceu sem máscara e causou má impressão durante o evento), do haitiano Jovenel Möise, de autoridades ligadas dos EUA e até mesmo do opositor venezuelano Leopoldo López (o que já mostra a postura anti-Maduro adotada pelo novo governo), Lasso se disse um “homem sem medo de desafios”. E eles não vão faltar: o banqueiro neoliberal assume um país dividido, com altas de desemprego, violência e um PIB que caiu 7,5% em 2020. Há, também, uma pandemia que está longe de terminar: até o momento, só 3% dos equatorianos foram totalmente vacinados, número que o novo mandatário promete elevar com “9 milhões de doses aplicadas” em seus primeiros 100 dias de governo. Lasso também tem fantasmas a driblar: além de ser conhecido por escândalos financeiros e por enriquecer em momentos de crise nacional (em 2020, por exemplo, teve ganhos milionários enquanto acionista do Banco de Guayaquil), quer resolver os problemas do país “sem medidas de austeridade”, componente de uma agenda neoliberal que gera desconfiança no país, ainda na ressaca da cólera social de 2019, iniciada em resposta a demandas do FMI. Em El Comercio.
🇵🇪 PER – A poucos dias do segundo turno presidencial de 6/6, a disputa pelo cargo máximo voltou aos debates por conta da violência: no último domingo (23), 16 pessoas – incluindo crianças – foram mortas em um massacre na região do Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro, conhecida pelo acrônimo Vraem. Vários atores políticos não demoraram a atribuir o crime a guerrilhas historicamente ligadas à esquerda, no que se especula ser uma nova tentativa de associar o movimento (e, por tabela, o candidato Pedro Castillo, rival de Keiko Fujimori e favorito nas pesquisas mais recentes) à tragédia. O partido Perú Libre, de Castillo, rechaçou as “tentativas da direita” de fazer o uso político do massacre e condenou o caso. Ao mesmo tempo, ainda que a Polícia Nacional tenha sugerido cautela e mais investigações até apontar suspeitos, as Forças Armadas e grande parte da imprensa logo atribuíram o caso ao Sendero Luminoso, conhecida guerrilha responsável por ataques terroristas nos anos 90 e principal bandeira conservadora para descredibilizar movimentos à esquerda (saiba mais neste vídeo). E vale tudo na tentativa de apropriar tragédias e símbolos em benefício da campanha: como contamos em Una palabra, até a camiseta da seleção peruana tem sido presente em discursos às vésperas do pleito final. Na BBC.
🇺🇾 URU – A variante brasileira P.1 já é encontrada em 99% das amostras de coronavírus no país. É o que o Instituto Pasteur informou durante a semana, mencionando testes colhidos durante as duas primeiras semanas de maio. Presente em boa parte dos departamentos uruguaios desde março, a mutação tem aparecido de forma “progressiva” e pode acarretar em casos de reinfecção. De acordo com os pesquisadores, há também uma “diminuição na eficácia da vacinação por conta das novas variantes”, o que exige “número maior de vacinados” para atingir a proteção coletiva, podendo superar os 70% previstos originalmente pela OMS. Até o fechamento desta edição, cerca de 28,3% de uruguaios já haviam sido totalmente vacinados, um dos elementos que ajudou o país a evitar o prolongamento do que quase se tornou um colapso sanitário em 2021. Durante a semana, esperança: estudo preliminar realizado dentro do próprio Uruguai apontou uma redução de 97% nas mortes em pessoas vacinadas com a Coronavac, quando comparadas com as não vacinadas. Em La Diaria.
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REGIÃO 🌎
Casos do chamado “fungo preto”, nome popular da mucormicose, têm alarmado especialistas no Cone Sul, especialmente após um surto da doença na Índia, com mortes e casos de mutilação associados à infecção: no dia 26, um paciente uruguaio curado de covid-19 começou a apresentar sintomas de doença fúngica, o que, segundo especialistas, é explicado pelo “desgaste imunológico causado pela covid”, que “pode deixar um terreno fértil para outras infecções”. O Paraguai é outro país da região a registrar casos do fungo: na quarta (27), a Sociedade de Microbiologia do país confirmou dois pacientes com esse quadro pulmonar, ambos também previamente contaminados pelo coronavírus. Autoridades descartaram criar “alarde”, mas reforçaram a necessidade de “ampliar a consciência” e “alertar a população”.
A região voltou a bater recorde de novos casos de covid-19 registrados em uma semana, novamente superando a marca de 1 milhão de contágios confirmados em sete dias. Com as mortes ainda em desaceleração (foi o menor número de óbitos em nove semanas), a região aguarda apreensiva para ver se o aumento de casos repetirá as curvas anteriores, sendo acompanhado por uma expressiva subida nas mortes pouco tempo depois, ou se o tênue avanço da vacinação pode barrar uma piora como as vistas anteriormente. Leia nosso levantamento semanal aqui.
O River Plate, clube de futebol de Buenos Aires, voltou às manchetes, mas por um motivo triste: após um surto de covid-19 durante o mês – que levou o time a disputar uma partida com um jogador de linha improvisado no gol por conta de mais de 25 desfalques – o motorista do clube, Gustavo Insúa, morreu em decorrência da doença, expondo o ápice da negligência das autoridades da bola. O caso mostra não só o descaso, mas liga um alerta: apesar desses surtos, que ocorrem enquanto a Argentina vive seus momentos mais críticos na pandemia, o país platino será sede da Copa América de seleções marcada para começar dentro de duas semanas. E pode até ser sede única: com a exclusão da Colômbia, que co-sediaria o evento até ver um banho de sangue nas ruas por conta das repressões aos protestos nacionais, só a Argentina está habilitada a receber as partidas. Durante a semana, houve boatos de que o torneio poderia ser até remarcado para os EUA diante de novos picos da pandemia reportados na Argentina, e também se discute a possibilidade de passar algumas partidas para o Chile, mas nenhum anúncio oficial foi feito. No TN.
ARGENTINA 🇦🇷
O colapso sanitário de maio tem rosto, nome e idade: Lara Arreguiz, 22, de Santa Fe, morreu por covid-19 e sem um leito disponível, gerando uma nova onda de comoção. Uma foto da jovem deitada no chão de um hospital viralizou, mostrando o tamanho do problema em um país que vê metade de seus hospitais superando 90% de ocupação, em uma piora inédita na pandemia no país – mesmo em picos de mortes anteriores, a ocupação não havia permanecido tão alta. A situação levou o presidente Alberto Fernández (que vem enfrentando níveis cada vez mais baixos de popularidade) a decretar nove dias de lockdown que se encerram neste domingo (30), mas especialistas já temem que a terceira onda de contaminação possa atingir seus piores números ao longo de junho. Ao mesmo tempo, a vacinação segue lenta: até aqui, só 5,8% dos argentinos tomaram as duas doses. No AS.
A rivalidade histórica entre argentinos e brasileiros foi reverberada até pelo papa Francisco, que não esconde suas raízes. Abordado por um padre paraibano ao final de uma audiência no Vaticano, Francisco brincou sobre a situação do país vizinho de sua terra natal: “vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração”, riu. Apesar do comentário ter gerado algumas críticas nas redes sociais, o padre João Paulo, que ouviu a brincadeira, falou que são coisas de “pessoas amargas”. No G1.
Páginas de um rio:
Mais uma vez a história começou, para mim, no dia-noite de Santa Rosa. Estávamos com Lamas em uma cervejaria chamada Munich, em Lavanda. O calor aumentava no lugar, cheio de ansiosos, de fumaça e vozes. Havia um repicar contínuo e vespertino de jarras e talheres. Foi então que nasceram e foram se alongando, mesmo que truncadas, Magda e a sua vida.
Essas são as primeiras linhas de Cuando entonces (1987), novela do uruguaio Juan Carlos Onetti (1909-1994) que segue inédita no Brasil. Na quarta entrega da série Páginas de um rio, Iuri Müller nos convida a passear com exclusividade pelas páginas iniciais dessa obra menos conhecida do celebrado autor de La vida breve (1950). Clique aqui para ler a continuação do texto.
BOLÍVIA 🇧🇴
O Dia das Mães boliviano, desde 1927 celebrado no dia 27/5, tem um bocado de história: a data também relembra o importante papel das mulheres na Guerra de Independência (1809-1825), por lá conhecidas como Heroínas de La Coronilla, como são chamadas as combatentes lideradas por Manuela Gandarillas na famosa e violenta Batalha de Cochabamba, um dos eventos cruciais para o triunfo decolonial. Além de relembrar as bravas bolivianas, que convivem com desafios diários em um continente violento e desigual para mulheres, o dia também reforçou a importância da campanha de vacinação sob o lema “Cuide de sua mãe”. Na RFI.
CHILE 🇨🇱
Um sargento dos carabineros, a polícia militar, foi morto em uma emboscada em Collipulli, na região da Araucanía, no sul do país. Embora estivesse em um blindado, Francisco Benavides viajava parcialmente fora do veículo, cumprindo a função de “periscópio”, dando instruções ao condutor. O sul chileno vive um histórico conflito marcado por episódios violentos, com abusos policiais que se tornaram infames e respostas de grupos armados como a registrada nesta semana. Em La Tribuna.
COLÔMBIA 🇨🇴
Neste sábado, enquanto você lê nossa newsletter, um jovem ciclista pode fazer história pela segunda vez: se garantir a vantagem de tempo na penúltima etapa do Giro d’Italia, Egan Bernal será o segundo colombiano a ganhar a competição na classificação geral, empatando o feito de Nairo Quintana em 2014. Bernal, que veste a maglia rosa (camiseta dada ao líder da prova italiana), já tinha encantado o mundo do ciclismo em 2019, quando venceu o Tour de France, uma conquista inédita para a Colômbia. Agora o atleta finalmente obteve suas duas primeiras vitórias em etapas (algo que não ocorreu na edição francesa) e trava uma batalha intensa com o britânico Simon Yates, que tenta diminuir a diferença de 2 minutos e 49 segundos para arrebatar o grande prêmio do colombiano. Até hoje, além de Quintana, o único outro latino-americano a vencer o Giro italiano foi Richard Carapaz, do Equador, em 2019. Em El Espectador.
COSTA RICA 🇨🇷
Agora é oficial: fato muito almejado (mas não alcançado) por Jair Bolsonaro para o Brasil, a conversão da Costa Rica na 38ª nação integrante da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi formalizada na terça (25), gerando boas expectativas em autoridades dos dois lados. Segundo o Secretário-Geral da entidade, Ángel Gurría, a decisão vem “em um momento em que o multilateralismo é mais importante do que nunca”. Com a membresia oficializada, o país da América Central se torna o quarto latino-americano a fazer parte do grupo econômico, ao lado de Chile, Colômbia e México. Na DW.
CUBA 🇨🇺
“Foi criada antecipando a vitória… mas a missão foi um fracasso”. Essas são as palavras da CIA para descrever uma moeda comemorativa (mas nunca utilizada) em homenagem ao episódio conhecido como Baía dos Porcos, quando milícias armadas apoiadas pelos EUA tentaram depor Fidel Castro em 1961, ainda na ressaca da Revolução Cubana. O artefato, que tem seu valor histórico, gerou piadas nas redes sociais após a divulgação pelo perfil oficial da agência estadunidense nesta semana, sobretudo pela máxima prepotente dos contrarrevolucionários que nunca lograram o objetivo de Washington: “Não havia outro fim além da vitória”. Não é o que diz a história. No Cubadebate.
Deserções são comuns quando delegações do esporte cubano vão atuar no exterior e, em 2021, não foi diferente: nos EUA para disputar o Torneio Pré-Olímpico de beisebol, a equipe cubana da modalidade imediatamente se viu desfalcada de César Prieto, 22 anos, que abandonou a seleção para tentar uma nova vida no país. “Sua decisão, contrária ao compromisso com o povo e a equipe, gerou repúdio entre seus companheiros”, garantiu a Federação Cubana de Beisebol. Cubanos tentando emigrar clandestinamente aos EUA também protagonizaram uma tragédia durante a semana: um bote virou no mar, matando ao menos duas pessoas e deixando dez desaparecidas até o fechamento desta edição. A Guarda Costeira estadunidense resgatou outros oito com vida.
Un clic:
EL SALVADOR 🇸🇻
A destituição dos magistrados da Corte Suprema de Justiça (saiba mais neste vídeo), classificada como “autogolpe” pela oposição e por membros da comunidade internacional, já gera sanções na prática: contrários à manobra da Assembleia Legislativa agora dominada por aliados do presidente Nayib Bukele, os EUA resolveram retirar o apoio financeiro a órgãos de segurança salvadorenhos, que recebiam auxílio por meio da Agência de Cooperação dos EUA, a Usaid. Segundo o órgão, “a separação de poderes é essencial a qualquer democracia”, princípio do qual San Salvador se afastou após o dia 1º/5, quando Corte foi refeita ao sabor do cada vez mais autoritário presidente. No Infodefensa.
GUATEMALA 🇬🇹
A polícia prendeu 11 ex-militares e policiais aposentados acusados de participação em casos de sequestro, tortura e desaparecimento forçado de ao menos 183 pessoas nos anos 1980, durante a guerra civil do país (1960-1996). O caso, apelidado de “Diário Militar”, conta com perfis que vieram à tona após a desclassificação de documentos de inteligência, no final da década de 90. Entre os detidos estão militares ligados a antigas redes clandestinas de inteligência ordenadas pelo governo, por meio das quais várias violações de direitos humanos aconteceram. Na DW.
O ex-presidente Jimmy Morales (2016-2020) e hoje deputado à frente do Parlamento Centro-Americano, acusado de violar a Constituição durante seu mandato, seguirá com imunidade para responder aos processos. Foi o que decidiu a Corte Suprema de Justiça guatemalteca durante a semana. Segundo o Ministério Público, Morales teria agido de forma inconstitucional quando, em 2019, declarou persona non grata Iván Velásquez, chefe da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG). Antes favorável à organização, o então presidente entrou em atrito com a Comissão quando viu seu nome ser investigado. Via AP.
HAITI 🇭🇹
Apesar de ser um dos governos que menos divulga dados sobre a pandemia, a administração em Porto Príncipe decretou toque de recolher e quarentena de oito dias para diminuir a onda de contágios: mesmo com o número real sendo impossível de mensurar em função da escassez de testes e do apagão de informações, até mesmo para os padrões do Haiti os últimos dias vêm sendo duros – o país admitiu 26 novas mortes atribuídas à covid-19 na última semana, o que na prática significa que quase 40% de todos os óbitos oficialmente associados à doença em 2021 aconteceram nos últimos sete dias. Além das restrições, também será exigido uso obrigatório de máscaras em locais públicos. Único latino-americano sem uma única dose de vacina aplicada (autoridades só aceitaram sequer receber vacinas do fundo Covax no final de maio), o Haiti reporta números oficiais baixíssimos de casos e mortes, registros que não convencem entidades de saúde e os próprios médicos do país mais pobre do continente. Via AP.
A situação também se arrasta na política: sem qualquer endosso de organizações internacionais e da oposição, o cada vez mais isolado e centralizador presidente Jovenel Moïse (que também governa sem Congresso) avança com seu projeto solitário para criar um referendo constitucional. Apesar de ameaças de boicote e até acusações de golpe, o presidente pretende levar a ideia adiante e com uma nova data marcada, após fracassar no plano de promover a votação ainda em abril: agora, quer submeter a nova Constituição às urnas em 27/6. Mas, entre realizar, aprovar e oficializar um novo texto há toda uma crise geral, que começa pelo próprio Moïse: acusado de prolongar seu tempo no poder, o presidente enfrenta novas críticas por, entre outras coisas, prever mais poderes ao Executivo se a nova Carta Magna for aprovada nos padrões propostos pelo governo. No Hola.
HONDURAS 🇭🇳
Já de olho nas eleições presidenciais de 28/11, o Conselho Nacional Eleitoral determinou novas regras para o pleito: além de ordenar a modernização do sistema de votação por meio de um software que não permita duplicação de resultados, há obrigação por lei de transmitir os números de forma preliminar. A preocupação por uma eleição transparente procede: em 2017, ano da última eleição presidencial que deu vitória a Juan Orlando Hernández, o processo foi marcado por intensas acusações de fraude por parte da oposição. Uma repentina paralisação na contagem de votos e alegações de problemas técnicos também geraram desconfiança por parte de observadores internacionais. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
A violência eleitoral só cresce: o assassinato de Alma Barragán, candidata à prefeitura de Moroleón, no violento estado de Guanajuato, fez subir a 34 o número de candidatos mortos durante a campanha para as eleições de 6/6, que renovam governos locais e os 500 assentos do Congresso. O presidente Andrés Manuel López Obrador disse que, “sem dúvida”, o mais novo homicídio se trata de um ato cometido pelo crime organizado, dominante na região. Via AP.
O sítio arqueológico de Teotihuacán, ao norte da Cidade do México, está ameaçado por obras: uma área de sete hectares próxima às famosas ruínas já foi afetada pelo maquinário pesado e “ameaça arrasar com vestígios arqueológicos”, segundo o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), da ONU. De acordo com o governo mexicano, a obra “não foi autorizada” para acontecer, mas já vinha ocorrendo há meses, com o objetivo de construir um “centro recreativo”. As atividades foram suspensas. Na BBC.
Una palabra:
Blanquirroja – é o nome popular da camiseta usada pela seleção peruana de futebol, conhecida pela faixa vermelha (roja) cortando o blanco do uniforme. Nos últimos dias, bem ao estilo Brasil de 2013 em diante, o símbolo nacional tem decorado os discursos da presidenciável de extrema direita Keiko Fujimori, que tem estimulado a campanha “Ponte la Camiseta”. Ainda que a candidata negue uso político, justificando ser “um direito do povo peruano”, a associação recente entre a direita e a blanquirroja tem trazido discursos anticomunistas por parte de jogadores da seleção – o que realmente interessa aos conservadores. Em rechaço ao “uso que não somente o esportivo”, o candidato de esquerda, Pedro Castillo, pediu “respeito e dignidade” ao uniforme, amparado pela campanha virtual #LaCamisetaNoSeMancha.
NICARÁGUA 🇳🇮
Cristiana Chamorro, jornalista e presidenciável de oposição ao governo de Daniel Ortega, denunciou que seus colaboradores estão sendo acossados por “paramilitares da ditadura”. Ela, que é alvo de uma investigação por suposta lavagem de dinheiro que envolve outros 16 jornalistas, diz ser vítima de uma perseguição política por se levantar contra os sandinistas – desde 2018, são inúmeros os registros de cerceamento à imprensa nicaraguense e violações cometidas pelo Estado contra opositores. Cristiana é filha da ex-presidenta Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997) e do jornalista Pedro Joaquín Chamorro Cardenal, assassinado em 1978 pelo regime dos Somoza – que, ironicamente, seria derrubado pela revolução liderada pelo mesmo Ortega ao qual a família Chamorro agora se opõe. As eleições presidenciais da Nicarágua estão marcadas para novembro, mas a oposição ainda não tem unidade em torno de um nome nem do reconhecimento à legitimidade do processo. Via EFE.
PANAMÁ 🇵🇦
O Ministério Público confirmou que os dois últimos ex-presidentes panamenhos estão na lista de 50 pessoas que podem ser chamadas a juízo pela Procuradoria Especial Anticorrupção. Ricardo Martinelli (2009-2014) e Juan Carlos Varela (2014-2019) estão na mira da Justiça por supostos delitos envolvendo contratos com a construtora brasileira Odebrecht, cujos esquemas de propinas revelados nos últimos anos vêm varrendo a política de diversos países latino-americanos. Martinelli diz que é perseguido pelos “interesses econômicos e políticos tradicionais”, enquanto Varela argumenta que nenhuma obra de seu governo está sob suspeita, e sim financiamentos de campanha que hoje são ilegais, mas na época eram permitidos pela legislação do Panamá. Na CNN.
PARAGUAI 🇵🇾
Os Campos Envenenados do Paraguai, premiado documentário francês que detalha o dano ambiental causado pela produção da soja, tem enfrentado críticas por parte da Associação Paraguaia de Produtores e Exportadores de Carne. Interessada na produção da commodity que alimenta o gado pelo mundo, a entidade enviou uma nota de repúdio à União Europeia, pedindo que a obra não fosse exibida em festivais internacionais de cinema. Não deu certo: além dos produtores do filme, organizações locais de cinema denunciaram a tentativa de “censura” por parte de pessoas ligadas ao agronegócio, lembrando que esse tipo de pedido não condiz com “tempos de democracia” em um país que viveu “a mais longa ditadura da América Latina”, uma referência aos 35 anos sob o regime de Alfredo Stroessner, conhecido por violar leis ambientais sem restrições. A reclamação deu mais visibilidade à obra: o documentário pode ser visto aqui. Na RFI.
PORTO RICO 🇵🇷
Boas notícias: mais de um ano depois, a ilha finalmente pôde encerrar o toque de recolher determinado em março de 2020, quando o primeiro caso de covid-19 foi registrado. Ao mesmo tempo, o governo determinou que voltará a permitir a entrada de visitantes vacinados. Mesmo bastante dependente da atividade turística, Porto Rico seguirá atenta: uma multa de US$ 300 será imposta aos turistas que se negarem a cumprir os protocolos de entrada, incluindo testes obrigatórios. Em contrapartida, uma decisão pode atrair o público: a partir da última sexta (28), todos os que chegarem ao Aeroporto Internacional Luis Muñoz Marín terão acesso a vacinas da Janssen, de dose única, algo similar ao que vem ocorrendo nos EUA, território ao qual a ilha é associada. Porto Rico já tem 34% da população totalmente vacinada. No Daily Herald.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Um caso bizarro: durante a semana, o Ministério Público pediu a prisão de Ninoska Brito Montero, acusada de enviar brownies com maconha para um acampamento de feministas que protestam a favor da legalização do aborto. Segundo relatos, várias pessoas teriam sido intoxicadas pela quantidade da planta nos bolinhos, incluindo jornalistas que cobriam as manifestações. No entanto, a mulher escapou da cadeia: contrariando o pedido dos procuradores, uma juíza determinou uma fiança de cerca de US$ 8,7 mil, também ordenando que a autora do inusitado crime se apresente à Justiça de forma periódica, não podendo sair do país. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
Morreu aos 64 anos o Ministro do Interior Jorge Larrañaga, vítima de infarto, no último sábado (22). Um dos principais líderes do conservador Partido Nacional (PN) desde o início do período de redemocratização, Larrañaga ficou conhecido por ser o mentor de uma proposta de reforma na segurança (rechaçada em plebiscito em 2019) que previa a criação de uma guarda militar e o endurecimento de medidas contra o crime. O presidente Luis Lacalle Pou lamentou a morte do político: “aprendemos a nos respeitar”. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
Não era preciso uma crise sanitária para perceber a gravidade estrutural do país. Com a pandemia, tudo só piorou, como contaram cartas de um paciente que morreu de covid-19 em um hospital em Caracas. A falta de insumos, leitos e dados confiáveis relacionados à pandemia se somaram a um problema muito mais antigo: acossada por sanções, falta de alternativas econômicas e por um modelo político sucateado, a Venezuela passa não por uma nova crise, mas pelo prolongamento de um rombo já existente, como conta a reportagem da BBC.
A Argentina não apoia mais a demanda do Grupo de Lima, organismo multilateral à direita que discute a crise venezuelana, que desde 2018 pede ao Tribunal Penal Internacional punições por crimes de lesa humanidade cometidos pelo governo de Nicolás Maduro. O líder opositor Juan Guaidó, ainda reconhecido como presidente legítimo pelo Grupo de Lima embora siga sem poder real em Caracas, questionou: “o governo do presidente Alberto Fernández considera que há justiça na Venezuela, que as vítimas estão protegidas, que está garantido que não voltarão a ocorrer atrocidades?”. O ex-presidente argentino Mauricio Macri (2015-2019) disse que o ato significa que seu país “está alinhado com a ditadura”. De acordo com Buenos Aires, a retirada é consequência direta do fato de que o país saiu do Grupo de Lima em março deste ano. Na CNN.