América Latina: 43 ministros da Saúde em 1 ano
Bolívia: ex-presidenta promete greve de fome na prisão | Paraguai: presidente é salvo de impeachment | Detenções de imigrantes batem recorde na fronteira México-EUA
O anúncio da intenção de nomear o cardiologista Marcelo Queiroga como novo ministro da Saúde brasileiro, o quarto do país desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de covid-19 em 11 de março de 2020, tornará o Brasil a nação latino-americana com mais trocas na pasta entre aquelas que não tiveram uma mudança de governo (embora Queiroga ainda não tenha sido nomeado oficialmente). Mas a instabilidade no Ministério mais decisivo para o combate ao coronavírus está longe de ser uma exclusividade brasileira: levantamento deste GIRO mostra que, ao longo deste último ano, os 20 países da porção latina da América já tiveram 43 nomeados para comandar os esforços diante da crise sanitária. A mais recente troca, aliás, foi formalizada nesta sexta-feira (19), com a renúncia do titular equatoriano, Rodolfo Farfán, apenas três semanas após assumir o cargo – em meio a um escândalo de furo de fila na vacinação que já derrubou seu antecessor e segue se aprofundando.
Se o Brasil lidera (ao lado do próprio Equador) entre os que mantiveram o mesmo governo no período, os campeões absolutos de trocas são justamente aqueles que passaram por instabilidade política ou por trocas de comando via eleições. No Peru, que chegou a ter três presidentes em uma semana em novembro, as quedas de governo também foram acompanhadas de alterações no Ministério – ao todo, seis ministros em sucessão ao longo de um ano, embora um deles tenha durado apenas cinco dias no cargo (Abel Salinas, durante a presidência interina de Manuel Merino, que sofreu uma destituição-relâmpago após manifestantes serem mortos) e outra tenha aparecido repetidamente na lista (Pilar Mazzetti, titular da pasta entre julho de 2020 e fevereiro deste ano, interrompida apenas pelo período de Salinas). A Bolívia, que passou por uma virada radical no governo após as eleições presidenciais de outubro, já está no quinto ministro desde que a pandemia foi oficialmente declarada: três diferentes sob Jeanine Áñez e já estamos no segundo desde a posse de Luis Arce, em novembro – seu primeiro nomeado, Édgar Pozo, saiu após somente dois meses no cargo justamente porque ficou doente com covid-19, abrindo caminho para o atual, Jayson Auza.
Algumas trocas foram efetuadas ainda no início, quando governantes acharam melhor colocar alguém com mais experiência para a crise que se avizinhava – caso de El Salvador, que conta uma troca na pasta desde que a OMS declarou pandemia, mas a efetivou ainda durante o mês de março de 2020. Já outras vieram depois de escândalos: só em fevereiro de 2021, Argentina, Equador e Peru viram a renúncia de seus ministros após se verificar que atuaram para promover furos na fila de vacinação, em alguns casos para o próprio benefício ou de seus familiares. Na Bolívia, Marcelo Navajas (que já era o segundo ministro desde o começo da pandemia), foi removido (e preso) ainda em maio de 2020, após compras superfaturadas de respiradores. No Chile, Jaime Mañalich caiu em junho sob acusações de manipular os números para passar uma ilusão de que a situação estava melhor do que na realidade. No Paraguai, Julio Mazzoleni entregou o cargo no início deste mês após o sistema hospitalar entrar em colapso e paraguaios irem às ruas em vários dias de protestos.
Mas, embora trocas constantes costumem ser indício de uma resposta fracassada à pandemia (o Peru, campeão absoluto em mudanças, terminou 2020 como o líder em mortes por milhão de habitantes, e o Brasil não vem muito melhor), manter os ministros em seu lugar não equivale a uma resposta necessariamente boa. Países com números catastróficos, como o México, ou acusados de esconder informações por sabotar ativamente qualquer esforço de testagem, como o Haiti, nunca mexeram no comandante da Saúde – embora o mesmo valha para aqueles que permaneceram como exemplos positivos até muito recentemente, como Cuba e Uruguai, que agora lutam com uma subida acelerada dos contágios, mas ainda mantêm números acumulados entre os menores do continente.
No fim das contas, a quantidade de trocas no posto mais crucial no último ano até funciona como um bom termômetro para avaliar países em aspectos políticos relacionados direta ou indiretamente com a pandemia, mas não necessariamente sintetiza como enfrentaram a doença. Para essa análise, é mais seguro observar pacto entre instituições, tempo de reação às oscilações do vírus e solidez de políticas claras para combater a doença. O que só reforça uma difícil realidade comum aos países latinos: todos tiveram que aprender a trocar o pneu furado (ou mesmo ministros da Saúde) com o carro andando.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇧🇴 BOL – A prisão da ex-presidenta interina Jeanine Áñez (2019-2020), nas primeiras horas do último sábado (13), seguiu repercutindo ao longo da semana (leia o início do caso no GIRO #72 e saiba mais em Un video). Áñez, que diz estar sendo vítima de violação de direitos humanos, agora promete fazer greve de fome na prisão – a Justiça determinou que ela deve permanecer detida preventivamente pelos próximos quatro meses, pois haveria risco de fuga e de influenciar nas investigações sobre seu envolvimento no golpe de 2019. Dentro e fora do país, reações: protestos contra a detenção foram vistos em algumas cidades, particularmente na região de Santa Cruz, berço do movimento ultraconservador que levou à renúncia forçada do então presidente Evo Morales (2006-2019). O governo brasileiro expressou “preocupação” com a prisão, assim como o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, um dos fiadores do discurso que garante ter havido fraude (jamais comprovada) na reeleição frustrada de Evo. A Bolívia agora quer processar o próprio Almagro por “descumprimento” dos convênios da OEA com o país, enquanto o governo mexicano se manifestou em desacordo com a nota do secretário-geral sobre a detenção de Áñez, pedindo que pare “sua nova ingerência nos assuntos internos da Bolívia”.
🇨🇴 COL – “Golpe de Estado”. É assim que parlamentares da oposição classificam um projeto que possibilitaria a ampliação do mandato do presidente Iván Duque, vista com temor entre grupos políticos variados. Além do tempo de Duque no poder, a medida busca estender até 2024 os mandatos de procuradores e dos próprios deputados, sob a justificativa de que “unificar” eleições presidenciais e parlamentares com subnacionais (que decidem cargos de prefeitura e governanças provinciais) aliviaria os gastos públicos. Nomes contrários ao projeto, incluindo políticos que em teoria seriam beneficiados pelo mandato prorrogado, dizem que a decisão atenta contra a democracia. Sem mudança nas regras, o atual mandato de Duque se encerra em agosto de 2022, e ele próprio garante que não buscará a extensão. Na Semana.
🇭🇳 HON – O cerco dos EUA segue se fechando sobre o presidente Juan Orlando Hernández, acusado de envolvimento com o narcotráfico (leia mais no GIRO #72). Durante a semana, um contador prestou depoimento à Justiça estadunidense afirmando que fugiu de Honduras temendo pela própria vida após testemunhar JOH, como é conhecido o presidente, recebendo propina de um traficante. O irmão de Hernández, o ex-deputado Juan Antonio (ou “Tony”), já está preso nos EUA e agora encara a perspectiva de pegar pena perpétua – os procuradores norte-americanos ainda querem que ele entregue US$ 138,5 milhões que teria lucrado com o tráfico, além de pagar uma multa de outros US$ 10 milhões. Via AP.
🇲🇽 MEX – O número de detenções na fronteira entre México e EUA praticamente dobrou desde que Joe Biden tomou posse, em novembro: até o fim de fevereiro, foram 396 mil, contra 201 mil no mesmo período um ano mais cedo. Atraídos pela promessa de um governo mais tolerante com a migração do que nos dias de Donald Trump, milhares de latinos – muitos deles menores desacompanhados – se dirigiram ao Norte, encontrando velhos e conhecidos problemas. A nova crise migratória vem pressionando o governo Biden e gerando preocupação em seus aliados mais à direita, que temem perder votos de eleitores conservadores contrários a um aumento da imigração. Para o México, o temor estadunidense representa apelos da Casa Branca para que o governo López Obrador tome mais medidas para controlar a entrada de caravanas vindas da América Central – durante a semana, noticiou-se inclusive que a promessa dos EUA de enviar 2,5 milhões de doses de vacina ao México estaria condicionada a medidas mais rígidas de AMLO em relação à migração, embora o presidente mexicano garanta que não foi o caso. Ao todo, os EUA prometem “emprestar” imediatamente 4 milhões de doses para seus dois vizinhos de fronteira, com Canadá e México devolvendo quando tiverem recebido outras cargas de imunizantes que já tinham comprado, mas ainda não chegaram.
🇵🇾 PAR – O país segue em chamas (literalmente): após o presidente Mario Abdo Benítez sobreviver à crise política causada pela pandemia, que exigia votos do próprio Partido Colorado (governista) para mover um processo de juicio politico, análogo ao impeachment, manifestantes atearam fogo a uma das sedes do partido – respondendo a um homem que atirou contra o grupo que pedia a renúncia de Abdo. O processo contra o presidente foi arquivado na quarta-feira (17), após uma votação às pressas convocada pela base aliada – ainda que a oposição tenha tentado boicotar, os governistas tinham representação suficiente para garantir quórum por conta própria. Foi a segunda vez que Marito sobreviveu à possibilidade de impeachment: em 2019, logo no primeiro ano de mandato, ele balançou em função do “Itaipugate”, acusado de “entreguismo”. Pela crise, o país viu seu ministro da Saúde renunciar no início do mês, mas segue às voltas com o colapso e à espera do avanço da vacinação. Na thread do GIRO.
Un video:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
Uma carga de vacinas falsas contra a covid-19 levantou preocupações na Rússia (produtora), no México (de onde sairia o carregamento) e em Honduras (que o receberia). O anúncio da descoberta das doses pirateadas da Sputnik V foi feito na quinta (18), com a identificação de 5.775 frascos camuflados entre latas de refrigerantes em um avião privado no Aeroporto Internacional de Campeche, no Golfo do México. O destino seria a cidade hondurenha de San Pedro Sula. A tripulação, também vinda de Honduras, foi entregue às autoridades mexicanas. Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre quem poderia estar por trás do tráfico das vacinas falsificadas. Segundo o Fundo de Investimento Direto Russo, responsável pelas exportações da Sputnik V, identificou-se que algo estava errado pelo descumprimento do protocolo de transporte e por erros de escrita no rótulo, que contém letras do alfabeto cirílico. Na CNN.
Apesar da pandemia, os dirigentes do futebol sul-americano seguem em frente com o plano de realizar a Copa América ainda este ano e até já confirmaram um calendário: se tudo correr como planejado, o torneio ocorre entre 13/6 e 10/7, reunindo os dez países da porção latina da América do Sul – Austrália e Catar, que originalmente participariam como convidados, não virão mais. Pela primeira vez, a competição criada há 105 anos deve ocorrer em duas sedes – Argentina e Colômbia –, um complicador a mais na pandemia. Marcada originalmente para 2020 e postergada pela crise sanitária, a competição promete seguir “todos os protocolos”, uma expressão cada vez mais vazia de sentido e que exige medidas extraordinárias para manter os jogos a despeito de surtos e restrições. Recentemente, o futebol sul-americano voltou a adiar uma rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, após clubes europeus se negarem a ceder jogadores da região em função dos temores com a variante brasileira e eventuais quarentenas no retorno ao Velho Mundo. Na ESPN.
ARGENTINA 🇦🇷
O novo ministro de Justiça e Direitos Humanos, Martín Soria, foi anunciado pelo governo no início da semana e deve tomar posse na próxima sexta-feira (26). Hoje deputado pela província de Río Negro, Soria assumirá em meio a acusações de que o governo vem tentando controlar o Judiciário cada vez mais para livrar a hoje vice-presidenta Cristina Kirchner de processos que pesam contra ela – e o futuro ministro está alinhado ao discurso, prometendo acabar com o alegado “lawfare” contra Cristina, o que já deixou a oposição revoltada. No Infobae.
Uma excursão de estudantes argentinos ao México terminou como você imaginaria nesses tempos pandêmicos: pelo menos 44 dos 149 viajantes positivaram para covid-19 ao regressar de Cancún. O caso acabou virando uma polêmica que envolveu até Juan Román Riquelme, ídolo histórico do futebol local e hoje dirigente do Boca Juniors – seu filho, Agustín, de 19 anos, um dos excursionistas, foi flagrado sem máscara (nem quarentena prévia) em um dos camarotes do estádio do Boca, violando os protocolos supostamente rígidos que garantiriam a segurança dos jogos de futebol no país. A justificativa oficial é que Agustín já teria contraído o vírus antes – o que não garante que não possa se infectar novamente – e retornou à Argentina em um voo diferente dos contaminados. No AS.
O ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) voltou às manchetes durante a semana. Dias depois de ter o nome envolvido em uma investigação de administração fraudulenta e desvio de recursos relacionada ao empréstimo bilionário do país com o FMI – a menina dos olhos de Buenos Aires nos anos de macrismo – o neoliberal reemergiu no cenário político, lançando seu livro Primer tiempo e prometendo nova investida pela presidência no futuro. Com direito a recados em vídeo de Mario Vargas Llosa, o evento para levantar a bola do bastante desgastado líder político teve um balanço de sua gestão, com promessas de lições tiradas dos erros nos quatro anos de poder. “O ‘segundo tempo’ já começou e é preciso entrar em campo”, disse. Em El País.
CHILE 🇨🇱
O extremo sul gelado já tem vacinados contra a covid-19. Durante a semana, o Instituto Antártico Chileno (INACH) confirmou as primeiras picadas entre membros da expedição, um verdadeiro “alívio”, segundo representantes. Alívio que se explica: em dezembro, um surto de coronavírus na base chilena Bernardo O’Higgins – os primeiros relatos de infecção no continente frio até então – contaminaram 36 pessoas, causando temor por uma tragédia. Felizmente, segundo o INACH, tudo foi “bem controlado” e não houve vítimas. Pelo menos 49 pessoas já haviam tomado a vacina por lá até o fechamento deste GIRO. No Infobae.
Apesar de avançar rapidamente na vacinação, o Chile ainda vive um repique de casos atribuído ao relaxamento das medidas no verão e à falsa sensação de segurança pela própria velocidade da campanha de imunização que, embora cause inveja nos vizinhos, ainda está longe de alcançar uma proteção da maioria dos habitantes (veja mais no GIRO #72). Preocupado com os números, o governo voltou a endurecer medidas, remetendo ao pesado lockdown imposto sobre Santiago na metade do ano passado (relembre no GIRO #30), quando só era possível sair de casa com uma autorização especial e para adquirir medicamentos e itens essenciais. Ao todo, 24 comunas (como são chamados os municípios, incluindo as subdivisões da Região Metropolitana) voltarão à fase mais restritiva a partir das 5 horas da manhã deste sábado (20): a lista tem grandes núcleos urbanos como a região central da capital Santiago, Viña del Mar e Iquique. Outras nove comunas já haviam retrocedido à chamada “Fase 1” ao longo da semana. O Chile registrou 38 mil novos casos em sete dias, seu número mais alto desde junho. Em La Tercera.
Una palabra:
Chasqui – era o nome, em quéchua, para os mensageiros do Império Inca que percorriam longas distâncias a pé e encontravam outros chasquis em postos distribuídos pelas estradas, em um dos mais eficientes sistemas de comunicação da América pré-colombiana. A palavra teria seus equivalentes nos termos “correio” ou “postilhão”, em referência ao condutor de uma carruagem que distribui correspondência. Por influência dos chasquis originais, o termo entrou no vocabulário de toda a América do Sul – nas guerras de independência, os argentinos também chamavam de “chasques” os mensageiros a cavalo que eram enviados para cobrir léguas de campo levando informações. Por extensão, o termo “chasque” (também utilizado no sul do Brasil) passou a se referir também à noção da própria “mensagem”, como na frase “mandar um chasque aos amigos”.
COLÔMBIA 🇨🇴
O país celebrou a milionésima aplicação de vacina contra a covid-19 na terça-feira (16), marca simbólica que já foi atingida por cinco países da região. Até o fechamento deste GIRO, o número colombiano havia subido em 76 mil doses, quantidade ainda baixa proporcionalmente: o total de vacinados equivale a 2% da população. Em El Tiempo.
O caso Jineth Bedoya chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) com pouca colaboração do Estado colombiano: na segunda (15), representantes do país se retiraram da audiência virtual e “recusaram” cinco dos seis juízes do tribunal internacional, além de pedir a retirada de questões consideradas “incômodas” ao país dos autos do processo. A Corte IDH, porém, considerou o pedido da Colômbia improcedente e diz que seguirá o julgamento como planejado. O processo diz respeito ao sequestro, tortura e estupro da jornalista Jineth Bedoya no ano 2000, quando foi raptada por paramilitares enquanto realizava uma reportagem investigativa para o jornal El Espectador em uma prisão. Bedoya, hoje com 47 anos e subeditora do diário El Tiempo, converteu-se em uma das principais vozes colombianas contra a violência de gênero. Sem encontrar Justiça no próprio país, agora conta com a corte internacional – mas nenhuma colaboração do governo Iván Duque. Em El País.
COSTA RICA 🇨🇷
A Assembleia Legislativa aprovou a ampliação do conceito de feminicídio na legislação local: agora, o assassinato de uma mulher pode ser enquadrado como feminicídio mesmo se for cometido por um ex-companheiro – antes, era necessário que o relacionamento seguisse existindo no momento do crime. A pena é de até 35 anos de prisão. Aprovada por unanimidade, a reforma na Lei de Penalização da Violência contra as Mulheres também ampliou penas para crimes de maus tratos físicos, ameaças e estupro, entre outros. A mudança no texto também permite que a Justiça peça a prisão preventiva do homem quando entender que a denunciante corre risco imediato. No Delfino.
Após três anos, o país enfim voltará a ocupar o cargo máximo da Embaixada mantida na Nicarágua – encerrando um longo vazio para países que dividem fronteira e contam com grande integração imigratória e econômica. Xinia Vargas, a nova embaixadora em Manágua, tem 28 anos de carreira diplomática e vem de comandar a representação costarriquenha na República Dominicana. Na Prensa Latina.
CUBA 🇨🇺
A suposta viagem de um grupo de empresários mato-grossenses para se vacinar em Cuba deu o que falar no Brasil durante a semana, mas acabou desmentida: a ideia, segundo jornais cuiabanos, seria fretar um voo a taxas exorbitantes para garantir a imunização na ilha. Uma hipótese que acabou negada até mesmo pelo Consulado Geral de Cuba, em São Paulo, afirmando que o país não cobraria “volumosas somas em troca de um serviço humanitário”. Único país latino-americano a avançar na produção de uma vacina 100% nacional, Cuba ainda não começou sua campanha de imunização, mas nesta semana aprovou uma segunda candidata para avançar à última fase de testes: a Abdala, que se junta à Soberana 2 como as que geram mais expectativas de sucesso. O governo afirma que espera ter todas as doses necessárias para a própria população até agosto, e depois seguirá produzindo para exportar. Via AFP.
EL SALVADOR 🇸🇻
O Congresso foi alvo de uma operação de busca e apreensão ao longo da semana, com escritórios de deputados da oposição ao presidente Nayib Bukele sendo revirados ao longo de três dias como parte de uma investigação sobre supostos funcionários fantasmas – segundo uma denúncia do sindicato dos trabalhadores da casa, haveria cerca de mil vagas nessas condições. Chamado de “FaMiLióN” (um jogo com as iniciais do partido esquerdista e ex-guerrilha FMLN), o escândalo marca os dias finais da atual legislatura, que será substituída em maio – hoje sem representação relevante na Assembleia, Bukele passará a ter controle quase total da casa e promete não só reformas profundas como uma “caça às bruxas” a supostas irregularidades cometidas pelos partidos tradicionais (o próprio FMLN e a direitista Arena). Na RFI.
EQUADOR 🇪🇨
Tão perto, porém tão longe: após ver seu candidato Yaku Pérez ficar fora do segundo turno das eleições presidenciais por 0,35 ponto percentual, a Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) convocou seus eleitores a votar nulo no dia 11/4. O movimento seria um protesto após as cortes eleitorais rejeitarem definitivamente, no último domingo (14), os vários pedidos de recontagem movidos por Yaku, que liderou a apuração até quase o final, quando finalmente foi ultrapassado pelo conservador Guillermo Lasso. Este agora mede forças com Andrés Arauz, candidato apadrinhado do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) e favorito na disputa. A campanha para o segundo turno foi lançada oficialmente na terça-feira (16). Em El Telégrafo.
A Procuradoria não vai dar trégua aos integrantes do Ministério da Saúde: após um escândalo envolvendo autoridades da pasta que furaram a fila da vacinação, incluindo o ex-ministro Juan Carlos Zevallos, uma equipe de investigadores quer achar a lista “completa” com todos os possíveis nomes envolvidos no esquema. O Ministério prometeu colaborar com as buscas. Zevallos – só mais um ministro na região a cair por casos desse tipo (leia mais no abre desta edição) – renunciou no final de fevereiro após admitir que vacinou até a própria mãe fora do cronograma. Seu sucessor, Rodolfo Farfán, também optou por abandonar o cargo nesta sexta (19), em meio ao agravamento das denúncias. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
A chancelaria mexicana informou que o país autorizou a extradição de volta para a Guatemala de Luis Rabbé, ex-presidente do Congresso do país centro-americano (2015-2016). Ele é acusado pela criação de 164 cargos-fantasma durante seu período legislando, com salários que chegavam a 20 mil quetzais (R$ 14 mil). Ainda cumprindo mandato como deputado e já investigado, Rabbé fugiu do país em agosto de 2016, dois dias antes de ter sua imunidade retirada pela Justiça guatemalteca. Foragido, foi capturado em solo mexicano pela Interpol dois anos mais tarde. Agora, vai finalmente encarar os tribunais do próprio país. Na Prensa Libre.
Un clic:
HAITI 🇭🇹
Diante de uma situação quase anárquica, o governo decretou estado de emergência por um mês para tentar “restaurar a autoridade do Estado” em locais que passaram a ser totalmente controlados por gangues armadas, que sequestram pessoas em troca de resgates em dinheiro. Nem sequer a polícia tem dado conta da escalada violenta, sobretudo porque os próprios policiais se amotinam: na quarta (17), protestos promovidos por grupos dissidentes da corporação deixaram três mortos pelas ruas da capital. Os agentes convertidos em manifestantes chegaram a entrar em presídios para libertar companheiros presos. Via AP.
HONDURAS 🇭🇳
O país aguarda a formalização dos resultados das primárias celebradas no último domingo (14), quando os cidadãos foram chamados às urnas para definir os nomes que encabeçarão os principais partidos no pleito propriamente dito, marcado para 28/11. Os nomes da dianteira vêm com uma lista extensa de acusações ou ligação com figuras controversas da política local: pelo governista Partido Nacional, mais conservador, Nasry Asfura, que seria o candidato do atual (e acusado de narcotráfico) presidente Juan Orlando Hernández; pelo Partido Liberal, mais centrista, Yani Rosenthal, filho de um conhecido banqueiro do país e condenado por lavagem de dinheiro nos EUA; pelo Partido Libertad y Refundación (Libre), à esquerda, lidera Xiomara Castro, esposa do ex-presidente Manuel Zelaya (2006-2009), deposto por um golpe de Estado, famoso por se refugiar na Embaixada do Brasil por quatro meses à época, e acusado de flertar com o chavismo. Em El País.
MÉXICO 🇲🇽
Pelo menos 13 policiais foram mortos por grupos armados em uma emboscada no estado de Michoacán, confirmou o secretário de Segurança do estado, Rodrigo Martínez-Celis. O ataque aconteceu no município de Coatepec Harinas e foi classificado por autoridades como “uma afronta ao país”. Muito por conta da guerra ao narcotráfico, o México registrou mais de 34 mil homicídios em 2020. Na BBC.
NICARÁGUA 🇳🇮
Grupos indígenas recorreram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos após uma série de episódios de desapropriação de terras e assassinatos contra as comunidades miskitu e mayangna, na costa caribenha do país. Segundo ativistas e grupos da região, pelo menos 13 pessoas morreram e oito ficaram feridas, além de várias famílias desalojadas por conta da ocupação feita por colonos não-indígenas. Apesar de contarem com status de proteção ambiental, muitas reservas são afetadas pelas atividades de mineração e extração de madeira, o que só aumenta a procura pelo território. Grupos afetados pelo contexto violento e exploratório relatam que tudo acontece com o aval das autoridades. O governo nega. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
Mais vacinas: um novo lote com 63 mil doses da vacina da Pfizer chegou ao país durante a semana, totalizando 350 mil unidades do laboratório, ou 78% do previsto para chegar no primeiro trimestre de 2021, segundo o Ministério da Saúde. Desde o dia 20/1, o país já vacinou mais de 260 mil pessoas, o que corresponde a pouco mais de 6% da população de 4,3 milhões de habitantes. Longe do pico de casos do começo de janeiro, quando chegou a ter 23 mil novos contágios semanais, o país registrou 3 mil casos nos últimos sete dias. O Panamá, no entanto, ostenta a terceira maior taxa de mortes acumuladas por milhão de habitantes na América Latina, à frente até do Brasil e só atrás de México e Peru. Na Prensa.
PARAGUAI 🇵🇾
Em aposta ousada para driblar a escassez de vacinas, o Paraguai definiu que não vai mais reservar metade das doses que chegaram nesta sexta (19) para aplicar o reforço da imunização: cada uma das 36 mil doses recebidas através do fundo Covax irá para um profissional de saúde, em vez da distribuição prevista originalmente, com 18 mil pessoas recebendo a vacina e sendo posteriormente imunizadas com a metade restante. O governo alega que, como uma pessoa poderia esperar até três meses para receber a segunda injeção, o país já terá recebido novos carregamentos suficientes para aplicar a segunda dose quando a hora chegar. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
A três semanas das eleições presidenciais, um país desiludido com seus políticos avança rumo ao pleito sem um favorito claro: com todos os seus ex-mandatários vivos às voltas com a Justiça ou presos (leia na nota abaixo a situação de Martín Vizcarra, derrubado em 2020), os peruanos têm 18 opções para eleger, mas pouca vontade de participar. As mais recentes enquetes apontam cerca de 30% do eleitorado como indeciso ou desinteressado na corrida, enquanto o candidato que lidera nas intenções de voto sequer chega a 17% da preferência – no momento, é o centrista Yonhy Lescano. Com a população tendo um encontro marcado com as urnas em 11/4, os candidatos ainda tentam conquistar a enorme fatia de eleitores que segue em dúvida sobre o que fazer. Na DW.
Ao menos por enquanto, o ex-presidente Martín Vizcarra não irá para a cadeia. Foi o que decidiu a Justiça na noite de quinta (18), após o Ministério Público solicitar a prisão preventiva do político por 18 meses por conta de um caso de corrupção entre 2013 e 2014, no qual é acusado de participar quando era governador de Moquegua. Os desdobramentos do episódio foram a fagulha que levou à explosão política em 2020, derrubando Vizcarra e levando o Peru a três presidentes em sete dias. Além de recusar a ordem de prisão, o tribunal negou declarações de testemunhas que disseram ter sido pressionadas por Vizcarra. Em uma série de tuítes, o ex-presidente defendeu sua inocência e criticou os pedidos da procuradoria. Em El Tiempo.
O Alianza Lima, clube mais popular do futebol do país, garantiu o retorno à primeira divisão peruana nos tribunais: na quarta (17), o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), na Suíça, considerou procedente a reclamação do Alianza de que o pequeno Carlos Stein, seu concorrente ao rebaixamento no campeonato de 2020, deveria ter perdido dois pontos por um atraso de pagamentos. Com isso, o Alianza ficou à frente do adversário na tabela passada e deve ser reintegrado às disputas, enquanto o Carlos Stein será rebaixado em seu lugar. O campeonato de 2021 já havia até começado e está na terceira rodada, mas os jogos em que o Carlos Stein participou devem ser anulados. O clube prejudicado, é claro, tenta recorrer e pede que os pontos sejam retirados na tabela atual, o que o manteria na primeira divisão. No Líbero.
Un nombre:
Pitrufquén – este sonoro nome de uma cidade de 25 mil habitantes no sul do Chile vem do mapundungun, o idioma dos mapuche, e une dois vocábulos. Quais, exatamente, há discussão: a versão mais aceita diz que seria a junção de “piti” (pequeno) e “truquen” (cinzas), indicando um pequeno “lugar de cinzas”. Outra alternativa é que seria “piti” somado a “lafken” (lago ou mar), em referência a corpos d’água da região. O primeiro nome de Pitrufquén, na verdade, foi Lisperguer, em homenagem ao engenheiro europeu responsável pelo plano urbano do local, mas a denominação atual é utilizada desde 1898.
PORTO RICO 🇵🇷
Um grupo de deputados democratas apresentou no Senado e na Câmara dos EUA o projeto de lei de “autodeterminação de Porto Rico” que levaria a uma convenção, eleita pelos próprios porto-riquenhos, determinando o futuro status do território, hoje um Estado livre associado e subordinado a Washington. Segundo a deputada Nydia Velázquez, que tem raízes na ilha, “há mais de um século, os EUA invadiram e, desde então, Porto Rico está sob um governo colonial”. Em novembro passado, uma nova votação (a 6ª consulta popular sobre o tema) mostrou a população favorável a converter Porto Rico no 51º estado da União. Mas, afinal: trata-se de um país, de um estado ou de uma colônia? Contamos neste podcast. No Hola.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Dizendo “respeitar opiniões”, o presidente Luis Abinader deixará a população decidir sobre a situação legal do aborto no país. Pessoalmente a favor de permitir a interrupção da gravidez nos três casos geralmente legalizados na região – risco à saúde da mãe, estupro e má-formação fetal –, Abinader falou que se trata de uma questão divergente entre legisladores e concernente a “temas religiosos”. A República Dominicana se junta a El Salvador, Honduras, Haiti e Nicarágua na condição de países onde o aborto é totalmente proibido, como o GIRO contou neste vídeo. No caso dominicano, mudar a lei também pode significar o fim de procedimentos clandestinos e perigosos. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
O presidente Luis Lacalle Pou anunciou o início da fase massiva de vacinação para pessoas entre 18 e 70 anos, que acontecerá durante a chamada Semana do Turismo – nome oficial dado no laico Uruguai à Semana Santa –, entre os dias 30/3 e 4/4. O país de 3,5 milhões de habitantes pretende vacinar 30 mil pessoas por dia e quer atingir uma cobertura vacinal com 70% da população imunizada dentro dos próximos meses. O plano de vacinação uruguaio inclui brasileiros com dupla cidadania residentes na fronteira, na tentativa de “blindar” o país da variante brasileira. No Subrayado.
Apesar de um programa de vacinação que não deve enfrentar grandes problemas logísticos, nem tudo são flores para o governo: diante do momento mais crítico na pandemia, com recorde de contágios e mortes, a oposição encabeçada pela Frente Ampla – que governou o país de 2005 a março de 2020 – criticou as decisões “insuficientes” do presidente frente ao coronavírus. Sem medidas duras de restrição durante o ano passado, o Uruguai contou com o bom senso da população, o que o presidente chamou de “liberdade responsável”. Mas, com o aumento de contágios impulsionado pelas festas de final de ano, não foi possível seguir sem restringir a circulação e proibir aglomerações. A oposição prometeu cobrar e propor novas medidas no Congresso. Via EFE.
VENEZUELA 🇻🇪
A Justiça de Cabo Verde autorizou a extradição para os EUA de Alex Saab, considerado testa-de-ferro do presidente Nicolás Maduro e peça-chave em investigações contra o chavista. Saab, que é colombiano, foi detido pela Interpol em 2020 durante uma viagem ao Irã, na condição de “enviado especial” pelo governo em Caracas. A extradição do artífice era muito requisitada pela administração de Donald Trump, maior interessada em pressionar a Venezuela. A defesa prometeu recorrer da decisão, fato apoiado por especialistas de outros tribunais multilaterais que alegam se tratar de uma “prisão ilegal”. Na DW.
À medida que casos de covid-19 aumentam, o que o governo atribui à variante brasileira, a oposição ao presidente Nicolás Maduro denuncia que UTIs venezuelanas já ultrapassam 80% da capacidade. Pessoas próximas ao opositor Juan Guaidó chamaram o cerco sanitário criado por Maduro para conter o avanço da variante de “piada”, dizendo que o verdadeiro culpado pelo iminente colapso da saúde são os “improvisos” do poder para lidar com a crise, como a falta de novos leitos e boa testagem. Enquanto isso, o governo Maduro anuncia que não vai permitir o uso da vacina da AstraZeneca: além da Venezuela, outros vinte países suspenderam a utilização por conta de casos de coágulos relatados. Ainda que reguladores e a fabricante garantam que o imunizante é seguro, Caracas anunciou que não autorizará. Em El País.