4 países já permitem vacinas no setor privado
Colômbia, Honduras, México e Peru já deram luz verde a medida criticada pela OPAS; Brasil pode entrar na lista com projeto que foi ao Senado. Apesar da autorização, vacinação privada ainda não começou
Poucos termos são tão latentes na realidade latino-americana, sobretudo na pandemia, quanto “desigualdade”. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), além de representar a região mais desigual do planeta, a porção latina das Américas viu 22 milhões de pessoas empobrecerem durante 2020, o que só alargou o rombo social entre as classes. Com a vacinação contra a covid-19, esse gap também se anuncia: não é à toa que o único país ainda sem vacinas seja o Haiti, nação mais pobre do Hemisfério, e que o Chile, com um dos três maiores PIBs per capita da região, tenha a maior proporção de vacinados. Para além desses números, um fenômeno que pode escancarar e aumentar o desequilíbrio da saúde por razões socioeconômicas é a compra de vacinas por parte do setor privado. Se o tema controverso ainda está em fase de debates e discussão em países como Panamá e Brasil – por aqui, foi aprovado na Câmara em 7/4 e ainda será votado no Senado –, em outros locais, como Colômbia, Honduras, Peru e México, já tem sinal verde para ir adiante.
No caso colombiano, a decisão válida a partir desta terça-feira (20) teve o aval do presidente Iván Duque, que acredita que o apoio de empresas poderá ajudar o país a atingir a meta de vacinar 70% da população (cerca de 35 milhões de pessoas) ainda em 2021. Até o fechamento desta edição, esse número ainda estava em apenas 5,8% dos colombianos que receberam ao menos uma dose. No entanto, segundo o mandatário, só serão aceitas vacinas já aprovadas por reguladores nacionais, aplicações devem ser administradas por profissionais autorizados e, mais importante: devem ser gratuitas para todos os empregados. Apesar da autorização já ter sido anunciada, ainda não há data para o começo da imunização privada na Colômbia, e o governo só deve abrir caminho para essa fase após concluir a atual etapa da campanha pública de vacinação.
Caso similar acontece em Honduras. Lá, no entanto, a compra de vacinas por parte de empresas privadas é mais fruto de desespero do que um complemento à ação governamental: até o fim da semana, o país só havia aplicado pouco mais de 58 mil doses, equivalentes a 0,6% da população. Para piorar, é só essa a quantidade que os hondurenhos têm à disposição, muito por conta do atraso ao realizar acordos de compra. Segundo representantes do setor privado, “a falta de ação do poder público fez os hondurenhos buscarem soluções”. Entre os países que já vacinam, Honduras é quem tem pior taxa proporcional latino-americana, o que reduz as críticas locais à compra privada, ainda que o problema da desigualdade persista.
O México também pode ver isso acontecer em 2021: foi o primeiro país a autorizar compras dessa natureza, ainda em janeiro. No entanto, apesar de uma vacinação tímida – apenas 8% de seus 127 milhões de habitantes receberam alguma dose até aqui – as compras ainda não avançaram. Caso similar acontece no Peru: apesar de o tema já estar em debate desde 2020, o Congresso do país só aprovou a compra em plenário nesta sexta-feira (23) e ainda não viu o tema avançar. Em solo peruano, a ideia é que as vacinas adquiridas pelas empresas sejam dadas prioritariamente aos seus empregados, com a compra podendo ser deduzida do imposto de renda.
Numericamente, a escolha por “mais vacinas” parece óbvia, sobretudo para países que mal vêm aplicando imunizantes. Mas há outros números urgentes a se considerar: segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o ano de 2020 rendeu à América Latina uma taxa histórica de desemprego que foi de 8,1% para 10,6%, a mais alta em mais de uma década; o número de desempregados já passa de 30 milhões. Só em Honduras, a taxa de desemprego dobrou em 2020. Já na Colômbia, houve um aumento de 4,3 pontos percentuais, com 17,3% da força de trabalho desocupada em 2021. Em Peru e México, o impacto do desemprego não foi menos agressivo; no caso peruano, há outro problema: o índice de informalidade, um dos mais altos da região, superou 74% com a pandemia.
Como, então, garantir uma vacinação igualitária quando o emprego formal, cada vez menos comum, vira o caminho de acesso à proteção? Segundo a própria Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o caminho é justamente contrário: “o uso de vacinas pagas do bolso pode ampliar as iniquidades que a pandemia, infelizmente, tanto destacou”. A decisão de permitir a compra de vacinas à parte do Estado ainda é minoritária, mas pode atrair mais países, sobretudo os que não conseguem avançar em suas respectivas campanhas de vacinação – e não faltam casos assim na América Latina.
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Un sonido
DESTAQUES
🇦🇷 ARG – O país tornou-se o primeiro latino-americano a produzir doses da russa Sputnik V, imunizante que já vinha sendo utilizado na Argentina desde o início da campanha de vacinação, em dezembro. O primeiro lote foi enviado ao Instituto Galameya, em Moscou, para análise técnica. Uma vez aprovada, a produção seguirá em larga escala e deve começar a todo vapor em junho. Até agora, 21 mil doses da vacina russa já foram produzidas em solo argentino. No Economista.
🇧🇴 BOL – O presidente Luis Arce revogou uma série de decretos aprovados em maio passado pela interina Jeanine Áñez (2019-2020), que abriam caminho para o plantio de transgênicos de milho, trigo e cana de açúcar, entre outros (leia no GIRO #29). A medida de Áñez, agora tornada sem efeito, veio após anos de resistência do governo Evo Morales (2006-2019), que só havia autorizado transgênicos no caso da soja resistente ao herbicida glifosato. Aliado de Evo, Arce afirmou que a medida do governo interino foi uma “autorização ilegal” que “atentou contra a soberania alimentar, o patrimônio genético da Bolívia, os sistemas de vida e a saúde do povo boliviano”. No Periódico Bolivia.
🇵🇪 PER – O esquerdista Pedro Castillo larga em grande vantagem na primeira pesquisa para o segundo turno das eleições presidenciais peruanas. Segundo o instituto Ipsos, o candidato do partido Perú Libre aparece com 42% das intenções de voto, contra 31% de Keiko Fujimori, a filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000). Agora apoiada pelo Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, que já foi antifujimorista mas a defende como um “mal menor”, Keiko fortaleceu seu discurso conservador durante a semana, emendando um “fora Maduro”, “fora Evo Morales” e até “fora Lula” (veja mais em Un video). Já Castillo, visto como um radical à esquerda quando parecia não ter chances de vencer as eleições, vem mudando o tom para não perder terreno: “aqui não há nada de chavismo”, “quero dizer ao senhor Maduro que primeiro resolva seus problemas internos (antes de dizer algo sobre as eleições peruanas)” e “vamos dar segurança jurídica aos empresários” foram algumas das frases do líder nas enquetes durante a semana. Ainda há muita estrada até o segundo turno, que acontece apenas em 6/6. Em El Comercio.
🇩🇴 RDO – Movimentos feministas protestaram contra o projeto defendido pelo presidente Luis Abinader de realizar um referendo para discutir a autorização do aborto nos três casos comumente permitidos na região (risco à vida da mãe, má-formação fetal ou quando a gravidez é fruto de estupro ou incesto). De acordo com as militantes, que desde meados de março estão acampadas em frente à sede de governo pedindo a mudança imediata da lei para autorizar a interrupção da gravidez nos três casos, a postura de Abinader abre margem para considerar como “religiosa” uma questão que é “de saúde”, o que poderia levar à rejeição da medida que consideram um direito fundamental. Hoje, a República Dominicana é uma das nações latinas mais atrasadas na questão dos direitos reprodutivos das mulheres, proibindo totalmente o aborto. O GIRO contou mais sobre esse debate neste vídeo. Via EFE.
🇻🇪 VEN – A ONU chegou a um acordo com o governo de Nicolás Maduro para fornecer comida a 185 mil crianças em idade escolar, por meio do Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês). Com a crise da última década, a desnutrição infantil atingiu níveis catastróficos na Venezuela: embora o governo não divulgue dados oficiais há quatro anos, um relatório de 2017 havia demonstrado que a mortalidade infantil havia crescido 30% em relação ao ano anterior, em boa medida por conta da falta de comida. Por anos, opositores acusaram Maduro de tentar utilizar as negociações com a ONU para distribuir alimentos apenas para zonas aliadas do governo, mas desta vez até mesmo o líder opositor Juan Guaidó celebrou o acordo. Segundo o WFP, o programa terá “independência” para agir. O acordo, que vem poucos dias após a Venezuela realizar pagamentos para obter vacinas do fundo global Covax, vem sendo interpretado como parte de uma nova abertura do governo Maduro a ajudas internacionais, às quais Caracas antes resistia. Na BBC.
Un video:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
Com a pandemia voltando a se agravar rapidamente na maior parte da região, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) tornou a afirmar que nenhum lugar preocupa mais que a América do Sul neste momento. Em uma semana de notícias ruins, a OPAS também reforçou os alertas para casos de vacinas falsas sendo aplicadas clandestinamente em Argentina, Brasil e México. Após um mês batendo recordes, os números semanais da região enfim pararam de subir – ainda assim, sem motivos para celebração: a América Latina manteve o patamar altíssimo de mais de 900 mil casos e 30 mil óbitos em sete dias, e a semana foi a segunda pior de toda a pandemia, atrás apenas da anterior. Leia o levantamento do GIRO sobre os números da pandemia e da vacinação clicando aqui.
ARGENTINA 🇦🇷
Morreu o ministro de Transportes, Mario Meoni, em um acidente de trânsito na sexta-feira (23). Meoni seguia na direção Buenos Aires-Junín, onde pretendia passar o final de semana com familiares – em sua carreira política prévia, ele já havia sido intendente de Junín por mais de uma década, entre 2003 e 2015. Aos 56 anos, Meoni era titular da pasta de Transportes desde o início do governo Alberto Fernández, em dezembro de 2019. No Página 12.
O governo federal está em rota de colisão com a oposição e as altas cortes por conta das aulas presenciais. Durante a semana, a Justiça interveio a favor da abertura em Buenos Aires, defendida pelo governo local, e os colégios vêm se mantendo abertos a despeito dos pedidos do presidente Alberto Fernández e do Ministério da Saúde. Além do risco de reunir pessoas em meio à maior onda de contágio até aqui – que já fez subir a 82% a média de ocupação de leitos de UTI, fez o país registrar o recorde semanal de novos casos (166 mil) e superar 2 mil óbitos na semana pela primeira vez desde novembro – as rusgas entre os poderes têm irritado o presidente. Segundo o mandatário, há interferência em decisões “exclusivas ao âmbito federal”. A oposição aliada ao ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) também tem feito pressões contra as restrições. No Clarín.
Caminhoneiros brasileiros bloquearam a ponte internacional na fronteira entre Uruguaiana (RS) e a cidade argentina de Paso de los Libres, em um protesto contra a nova exigência de testes PCR negativos para que tenham a entrada autorizada no país vizinho. Na terça (20), alegando falta de segurança aos caminhoneiros argentinos após a manifestação, autoridades do lado hermano da fronteira suspenderam temporariamente o trânsito de cargas pela ponte, que só foi retomado no dia seguinte. Não foi o único caso de transportistas brasileiros tendo problemas pela vizinhança na semana: no Chile, 40 caminhoneiros saídos de São Paulo rumo ao Peru foram retidos devido às restrições da pandemia. Na Veja.
BOLÍVIA 🇧🇴
A troca de farpas entre o ex-presidente Evo Morales e a prefeita eleita de El Alto, Eva Copa, permanece. Durante a semana, Evo acusou sua antiga aliada de ter realizado um encontro às escondidas com o líder ultraconservador Luis Fernando Camacho, recentemente eleito governador de Santa Cruz: “os traidores reunidos com Camacho”, escreveu o ex-presidente, referindo-se a um suposto convescote ocorrido no último dia 15/4. Eva Copa não tardou a reagir, exigindo que Morales apresentasse provas para não ficar como um “político mentiroso” e complementou: “traidor é quem foge e deixa abandonado e indefeso o seu povo”, em referência ao exílio de Evo na sequência do golpe que o derrubou em 2019. Eva Copa, que militou no Movimento ao Socialismo (MAS) de Morales e chegou a presidir o Senado após a queda do governo, rompeu com o partido no início do ano e se tornou um dos principais rostos das dissidências de esquerda da sigla governista, vencendo a corrida para governar El Alto, cidade da região metropolitana de La Paz que é um dos históricos redutos masistas. O Giro Latino Cast contou sobre esse fenômeno neste episódio. Em El Deber.
A Bolívia confirmou, na quarta (21), que a variante britânica já circula em seu território – e segue esperando oficializar que este também é o caso da brasileira. Sem estrutura para identificar as cepas, o país enviou amostras para laboratórios do próprio Brasil e da Argentina, e agora começa a receber os resultados. Embora o governo ainda não tenha confirmado a circulação da P1 na Bolívia, especialistas acreditam que essa realidade é inevitável, dado que a variante brasileira já é vista em toda a região, tendo inclusive se tornado dominante em alguns vizinhos (leia mais no GIRO #74). Via AFP.
Un nombre:
Bluefields – esse improvável nome em inglês para uma cidade de pouco menos de 60 mil habitantes no litoral da Nicarágua vem da pirataria caribenha. Segundo a versão mais aceita, a denominação é uma herança do início do século 17, quando a região era dominada por bucaneiros europeus. Ali, um pirata holandês chamado Abraham Blauvelt teria estabelecido uma de suas bases para agir no Caribe – com o tempo, seu local de atuação ficou conhecido pela corruptela britânica de seu sobrenome. Também há uma Bluefields na Jamaica, com a mesma origem.
CHILE 🇨🇱
Temendo um rombo, o governo recorreu ao Tribunal Constitucional para impedir o projeto de lei que permite um terceiro saque de 10% dos valores mantidos nos fundos de pensão, só cinco meses depois da segunda retirada. A mudança constitucional que deu o pontapé inicial nos saques veio em julho de 2020, como forma de aliviar a crise econômica nacional causada pelo coronavírus. Deputados, em sua maioria oposicionistas, argumentam que a população segue necessitada. Já o governo acredita que deve “zelar pelas normas”. Segundo o presidente Sebastián Piñera, uma terceira retirada “é para os ricos e não vai favorecer os mais vulneráveis”. Via EFE.
A Câmara de Deputados aprovou, na terça (20), o texto do projeto de lei da “morte digna e cuidados paliativos”, que abre caminho para a eutanásia no país. Em debate desde 2014, a legislação contou com 82 votos a favor, 58 contrários e uma abstenção. Apoiada por 72% da população e 77% dos médicos segundo os levantamentos mais recentes, a eutanásia só vai se tornar legal no Chile se o Senado também aprovar o projeto. A Câmara Alta, porém, ainda não definiu data para discutir o tema. Via RFI.
Após os estudos que reafirmaram que a proteção da Coronavac (vacina responsável por 90% das imunizações do país) só é efetiva após duas doses, o Chile começa a mudar sua estratégia de vacinação: diante dos temores de escassez, o país deve reduzir a velocidade de novas vacinações, reservando doses para garantir o reforço daqueles que já receberam a primeira aplicação. Até o momento, o Chile já inoculou 13,9 milhões de doses, número equivalente a quase 73% da população, mas, quando o assunto são os que já receberam o ciclo completo de um imunizante, essa proporção cai para 31,5% (taxa que, ainda assim, é a mais alta da América Latina). Via Reuters.
COLÔMBIA 🇨🇴
A Colômbia voltou a superar a marca de 2 mil mortes na semana, algo que não ocorria desde o início de fevereiro (em março, o número chegou a baixar para 650). Perto do colapso, novas medidas foram anunciadas. A prefeita de Bogotá, Claudia López, confirmou um toque de recolher durante o final de semana, à medida que ocupações de leitos já estão em 84%. Superando as 70 mil mortes acumuladas desde o início da pandemia durante a semana e com casos em alta, o país não tem um ritmo acelerado de vacinação: até o fechamento deste GIRO, menos de 3% da população havia recebido as duas doses necessárias para a imunização. Em El País.
A Conmebol, Confederação Sul-Americana de Futebol, até tentou, mas não vai levar: a Copa América de seleções, prevista para ser jogada entre junho e julho na Argentina e na Colômbia, não deverá ter torcedores presentes. No caso colombiano, o presidente Iván Duque afirmou na terça (20) que os estádios permanecerão fechados nas quatro cidades-sede do país (Barranquilla, Bogotá, Cali e Medellín), que também será palco da finalíssima do torneio, prevista para 10/7. Na Argentina, embora o governo ainda não tenha fechado totalmente as portas à presença de público, o presidente Alberto Fernández também vem se mostrando reticente diante da hipótese. A Conmebol, que segue realizando seus torneios a despeito de restrições à circulação na América do Sul, garante que ao menos jogadores e árbitros serão imunizados, após um acordo intermediado pelo governo uruguaio para que a entidade obtivesse 50 mil doses de vacina junto à chinesa Sinovac. No Terra.
Por falar em futebol na Colômbia: na sexta (23), viralizou a notícia de uma suposta trégua entre torcidas organizadas de clubes colombianos, que teriam negociado só brigar sem dar facadas por um mês, em função da superlotação das UTIs por conta da covid-19. A notícia, insólita, de fato não era real: trata-se de um meme que foi adaptado com nomes de diferentes cidades e times ao redor do país.
COSTA RICA 🇨🇷
Na quinta-feira (22), marcando o Dia Internacional da Terra, a Costa Rica inaugurou um novo radar com o objetivo de proteger o planeta do lixo espacial. Construído em nove meses com tecnologia 100% desenvolvida no país, o radar monitora detritos existentes na órbita baixa da Terra, auxiliando nos cálculos de rota para evitar que satélites colidam com escombros. Segundo os responsáveis, o equipamento é capaz de identificar resíduos de até 2 centímetros. No Nación.
Un clic:
San Pedro Cholula, México.
CUBA 🇨🇺
Autoridades de saúde do Irã anunciaram a participação do país na fase 3 dos ensaios clínicos da vacina cubana Soberana 2, um dos cinco imunizantes desenvolvidos pela ilha e uma das únicas vacinas fabricadas na América Latina a atingirem a última etapa de testes até agora, ao lado da também cubana Abdala. Os testes devem ter 24 mil voluntários e a participação de ao menos oito universidades iranianas, confirmou Alireza Biglarí, diretor do Instituto Pasteur do Irã. Com o avanço dos ensaios finais da vacina, Cuba pode se tornar o menor país do mundo a aprovar sua própria vacina. Havana planeja produzir 100 milhões de doses ainda em 2021 para uso doméstico e para exportar a países aliados. Apesar da expectativa de iniciar o plano de vacinação entre junho e junho, já existem vacinados na ilha: cerca de 125 mil voluntários tomaram a primeira dose e 44 mil deles receberam o ciclo completo de duas doses. Durante a semana, o governo anunciou que prepara 11 mil consultórios de medicina familiar em toda a ilha para que se convertam em postos de vacinação; na capital, Havana, os locais devem estar prontos até este sábado (24), aguardando apenas o lançamento oficial da campanha. Na Forbes.
Sem surpresas, o presidente Miguel Díaz-Canel, comandante do Executivo da ilha desde 2018, foi confirmado como novo primeiro secretário do Partido Comunista Cubano (PCC), no encerramento do 8º Congresso da sigla, na segunda-feira (19). A passagem de bastão por Raúl Castro, irmão de Fidel, marca o fim formal do protagonismo da família sobre a política da ilha, que vinha desde a Revolução de 1959 (leia mais no GIRO #77). Díaz-Canel promete seguir se aconselhando com Raúl, que faz 90 anos em junho. Na Folha.
EL SALVADOR 🇸🇻
Em tempos de pandemia é comum ver um triste desbalanço: pacientes demais, estrutura de menos. Sendo assim, toda ajuda é bem-vinda, mesmo não sendo humana. É o que acontece no aeroporto Óscar Arnulfo Romero, próximo à capital San Salvador, onde cães farejadores têm sido usados na linha de frente para detectar o coronavírus. Segundo o pesquisador espanhol Jaime Parejo García, que desde março implementa seu método usando perritos treinados, o sistema é “100% eficaz” e detecta o vírus até mesmo em pacientes assintomáticos. Atualmente, quatro animais já estão prontos para participar das buscas, prática adotada também por Equador e Chile. Via AFP.
Medida atípica na região: o governo começou a vacinar jornalistas na terça (20), incluindo-os no chamado grupo de “profissionais da segunda linha”, que vem logo após os trabalhadores da saúde. A medida, segundo o presidente Nayib Bukele, inclui todos os profissionais de imprensa do país, porque “muitos deles cobrem hospitais” e outros locais onde podem entrar em contato com infectados. Estima-se que mais de 500 jornalistas tenham morrido de covid-19 na região. O governo também tem apostado na chamada “diplomacia da pandemia”: a fim de fortalecer laços econômicos com vizinhos, San Salvador tem enviado ajuda humanitária e insumos durante a crise. Durante a semana, o governo oficializou o envio de 10 mil ampolas de analgésico para pacientes de UTI na Costa Rica. Bukele disse que “os irmãos costarriquenhos fariam o mesmo” por eles. Na DW.
EQUADOR 🇪🇨
O presidente eleito Guillermo Lasso solicitou à Colômbia suporte para ingressar na Aliança do Pacífico, bloco econômico criado há 10 anos e composto por Chile, Colômbia, México e Peru (e que representa 41% do PIB latino). Similares em suas agendas econômicas e sociais, Lasso e seu homólogo colombiano Iván Duque devem estreitar relações oficialmente a partir da posse do liberal em Quito, programada para 24/5 (saiba mais sobre as eleições neste episódio do Giro Latino Cast), mas já se encontraram durante a semana, na etapa de transição do governo equatoriano – que, antes, incluiu uma reunião de Lasso com o atual mandatário, Lenín Moreno, na segunda (19). Já em Bogotá, Lasso também debateu assuntos como segurança fronteiriça e diplomacia regional – assim como Duque, o banqueiro eleito não vai reconhecer Nicolás Maduro como presidente da Venezuela. Em El Universo.
Estado de exceção em 16 das 24 províncias e toque de recolher. As medidas adotadas pelo presidente Lenín Moreno durante a semana tentam reduzir a curva de contágios, em um momento em que hospitais estão cada vez mais cheios, causando o temor de reeditar cenas do colapso de março de 2020 – até a última semana, mais de 100 pessoas já esperavam por um leito de UTI e o número deve aumentar. A partir de sexta (23) e durante 28 dias, só serviços essenciais vão funcionar no final de semana, fechando às 20 horas. Espaços públicos e outros estabelecimentos funcionarão com capacidade reduzida durante horário comercial. Segundo Moreno, o momento é de “contágio acelerado”; de uma semana a outra, alguns hospitais têm registrado aumento de 30% de novos casos. Nos últimos sete dias, o país registrou mais de 15 mil novos contágios, o maior aumento semanal oficial até hoje, superando inclusive o colapso de março e abril de 2020, quando a testagem ainda era baixa e havia mais subnotificação do que agora. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
A fim de evitar a entrada de novas variantes do coronavírus, o governo decidiu restringir a chegada de viajantes de Brasil, Reino Unido e África do Sul, três nações mundialmente visadas por conta das mutações. A decisão, comunicada ao vivo pelo presidente Alejandro Giammattei, foi tomada para evitar o colapso visto na América do Sul. No mesmo anúncio, o mandatário também confirmou a chegada de cinco hospitais de campanha doados pela Espanha, “um país amigo”. O Ministério da Saúde falou que as estruturas têm capacidade para 250 leitos. Na Prensa Libre.
O Ministério Público solicitou a retirada do foro privilegiado do ex-presidente Jimmy Morales (2016-2020), investigado por violar tratados jurídicos internacionais e a Constituição guatemalteca ao expulsar do país o jurista colombiano Iván Velásquez, em 2017. Na época, Velásquez era o chefe da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig) e foi declarado persona non grata pelo governo Morales, à revelia das cortes superiores do país e da ONU. O ato levaria ao encerramento das atividades da Cicig dois anos mais tarde. Apesar de não ser mais presidente, Jimmy Morales ainda conta com o foro privilegiado, pois no dia seguinte à passagem da faixa tomou posse como deputado no Parlamento Centro-Americano (Parlacen), órgão internacional regional sediado na própria Guatemala. Morales e seus aliados dizem que o pedido do MP “é uma perseguição político-judicial". Na Prensa Libre.
Una palabra:
Guanaco – parente da muito mais famosa lhama, que foi domesticada ao longo dos séculos, o guanaco é sua contrapartida selvagem, encontrado nos Andes e na Patagônia. É conhecido por soltar uma cusparada quando está incomodado – o que fez com que seu nome acabasse ganhando um novo sentido no século 20: guanaco também é como os chilenos chamam os blindados da polícia utilizados para dispersar protestos, geralmente utilizando jatos d’água contra os manifestantes.
HAITI 🇭🇹
A Igreja Católica suspendeu suas atividades por três dias, entre quarta e sexta-feira, em protesto ao que considera ser uma falta de ação do governo haitiano em relação ao sequestro de cinco padres, duas freiras e três familiares ocorrido em 11/4. Um dos reféns, que estava doente, foi liberado no último sábado, e outros três acabaram soltos na quinta (22), mas os demais permaneciam em poder dos sequestradores – há cidadãos franceses entre os raptados. O fechamento se estendeu a todas as instituições católicas, incluindo escolas e universidades mantidas no país. Um homem identificado como Lanmò San Jou, da gangue 400 Mawozo, falou a uma rádio local garantindo ser o autor do sequestro. Cobrando resgate, ele disse que os reféns mais valiosos são os europeus: “se o Haiti é assim, é por causa dos franceses”. Via AP.
HONDURAS 🇭🇳
Uma situação histórica: Honduras, o país para o qual foi cunhado o termo pejorativo “república bananeira” (leia mais em Una expresión no GIRO #56), agora está tendo que importar… bananas. Segundo o governo, a medida rara teria sido ocasionada pela passagem devastadora dos furacões Eta e Iota, em novembro, que provocaram inundações de 200 mil hectares de plantações e perdas de até 40% da safra. Agora, a normalmente exportadora Honduras recorre (ao menos temporariamente) às bananas da vizinha Costa Rica. No Portal Frutícola.
MÉXICO 🇲🇽
A vacina venceu: na terça (20), o presidente López Obrador, 67, finalmente tomou a primeira dose da vacina da Astrazeneca, um dos imunizantes mais usados no país. Duas semanas antes, AMLO havia dito que não tomaria a vacina por ter “anticorpos suficientes”, já que se contaminou em janeiro. A declaração, só mais uma na lista de atitudes negacionistas do mandatário, pegou mal e ele mudou o tom, prometendo se imunizar em breve. Ao receber a picada, convocou mexicanos a tomar uma vacina que definiu como “segura e eficaz”: “não doi”, tranquilizou. No Economista.
O país caminha para mais uma seca recorde em 2021. Segundo o levantamento nacional mais recente, com corte em 15/4, cerca de 85% do território mexicano já apresenta condições anormalmente secas em função da falta de precipitações – o recorde, de 2011, foi quando a escasez de água atingiu 87% do país. Em algumas regiões, já é a situação mais grave em décadas: a Cidade do México não via uma seca semelhante há 30 anos, segundo a prefeita Claudia Sheinbaum, e o problema é agravado pelo encanamento precário da cidade, repleto de vazamentos que prejudicam ainda mais a distribuição. A oeste da capital, o segundo maior lago mexicano, o Cuitzeo, já perdeu 75% do seu volume normal – segundo o governador de Michoacán, Silvano Aureoles, a seca cumulativa que vem desde 2019 já faz comunidades que antes viviam à beira d’água sofrerem com tempestades de areia. Ironicamente, alguns especialistas olham com esperança para a destrutiva temporada de furacões (que começa em 15/5 no Pacífico e em 1º/6 no Atlântico), na expectativa de que tragam chuva. No Meteored.
NICARÁGUA 🇳🇮
A situação vulnerável de cidadãos nicaraguenses durante a pandemia tem ligado a luz de alerta da Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Em um comunicado, a organização fez um chamado à comunidade internacional sobre o caso, trazendo números preocupantes: desde 2018, início da crise social no país, mais de 108 mil pessoas foram forçadas a deixar a Nicarágua, em sua maioria rumo à vizinha Costa Rica; alguns meses registraram mais de 1,2 mil pedidos de refúgio. O Acnur também reclama da falta de apoio financeiro: “enquanto as necessidades dos nicaraguenses continuam a crescer, a atenção do mundo parece diminuir”. No RBN.
PANAMÁ 🇵🇦
A polícia capturou um gato com drogas amarradas ao corpo dentro da prisão de Nueva Esperanza, na província de Colón, a menos de 100 km da capital. Segundo o diretor-geral do Sistema Penitenciário do Panamá, o “narcogato” carregava uma pasta branca e outras substâncias em pequenos pacotes, no que as autoridades acreditavam se tratar de cocaína, crack e maconha. Após a apreensão, o felino foi levado a uma fundação que cuida dos direitos dos animais. Até o momento, ninguém foi preso. Segundo a procuradoria, mais de 84 toneladas de droga foram interceptadas em 2020 – além de animais domésticos, criminosos também usam pombas e até drones para passar os entorpecentes. No Vanguardia.
PARAGUAI 🇵🇾
Mais um triste capítulo da pandemia descontrolada: em meio a um pico de mortes por covid-19, deputados da base aliada querem debater no Congresso a possibilidade de enviar pacientes com coronavírus a países vizinhos ou, no limite, importar mão de obra médica. Segundo o parlamentar Basilio Núñez, “não é necessário esperar que mais pessoas morram” para adotar medidas extremas. As alternativas se baseiam em casos que aconteceram na Europa, onde países “trocaram” pacientes em momentos de crise. No ABC Color.
PORTO RICO 🇵🇷
Na semana em que pesquisadores anunciaram que vão iniciar um levantamento para determinar por que a mortalidade relacionada ao furacão María, em 2017, foi tão alta, o governo Joe Biden finalmente removeu uma série de restrições que vinham da época de Donald Trump e impediam o acesso da ilha a fundos de reconstrução de até US$ 20 bilhões. As consequências do furacão de categoria 4 foram objeto de muita controvérsia, inclusive na própria contagem de mortes: inicialmente, o governo garantiu que o número de vítimas teria ficado em 64 pessoas, um dado questionado por ativistas e pela oposição já na época – um ano mais tarde, um estudo multiplicou esse número dezenas de vezes, chegando a uma contagem oficial de 2.975 mortes. Na NBC.
URUGUAI 🇺🇾
O mundo precisa de mais lugares como o Uruguai – esta foi a conclusão do governo Joe Biden após a visita do enviado especial da Casa Branca para a primeira turnê da administração democrata pela América do Sul, que esnobou o Brasil. De acordo com Washington, o Uruguai funciona como “um pilar da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito” na região. Apesar dos elogios à organização uruguaia, a semana também viu os EUA incluindo o país – antes um exemplo latino no combate à covid – na lista de lugares para os quais os cidadãos estadunidenses são recomendados a não viajar. Pela segunda semana consecutiva, o Uruguai liderou a América Latina em mortes proporcionais: 126 por milhão de habitantes, contra 85 no Paraguai e 84 no Brasil, os dois seguintes da lista. O país, que perdeu 193 vidas para a covid-19 em todo o ano de 2020, registrou 439 óbitos apenas nos últimos sete dias. No Mercopress.
VENEZUELA 🇻🇪
Uma vez mais o governo resolveu alertar a população sobre os riscos da variante brasileira, nome que o tuíte do Ministério da Comunicação fez questão de mencionar. Dias depois de o presidente Nicolás Maduro chamar a variante de “mutação Bolsonaro”, o governo deu detalhes sobre o potencial do novo tipo de vírus, dizendo que “mais de 30 países” já o detectaram. A própria Venezuela já reportou casos da variante, inclusive em localidades distantes da fronteira com o Brasil, o que levou Caracas a decretar quarentena de 14 dias.