🌹 Gracias, Quino y Mafalda
Paraguai: calor recorde e 12 mil focos de incêndio | Guatemala tenta barrar maior caravana migrante desde o início da pandemia | Colômbia: novo episódio de brutalidade policial reabre feridas
Morreu na última quarta-feira (30), aos 88 anos, Joaquín Salvador Lavado, o Quino, criador e pai da baixinha e icônica Mafalda, personagem das tirinhas satíricas mais conhecidas no continente.
Quino foi gênio. Nasceu em 1932, no município argentino de Guaymallén, na província de Mendoza, bem afastado da pompa da capital. Naquela época, extremo oposto até mesmo de muitas outras cidades centrais da América Latina, Buenos Aires já era uma metrópole de renome, moderna, e o coração de um país que estava entre as maiores economias globais.
Talvez esse encontro, somado a todo o charme e melodrama cotidiano meio cor de chumbo que só mesmo Buenos Aires, tenha sido fundamental para que Joaquín, com seus 32 anos, tenha dado vida e cor à menina de cabelos pretos e cabeça do tamanho do mundo. A ideia de jogar brilho sobre o que se esconde na realidade, que se repetiu em outras 1.928 tirinhas até 1973, quando Quino resolveu parar de desenhar Mafalda, é imortal, como o próprio Quino. E tudo começou de forma publicitária, na tentativa de fazer charges para um anúncio de eletrodomésticos, no início dos anos 60.
A ideia não foi adiante, por sorte do universo. Pouco depois, Mafalda voltaria com tudo, já debochada por essência, sem a obrigação de nada e com o sucesso de dizer tudo o que a gente precisava ouvir. Décadas depois, com essas cenas reunidas em livros, fomos totalmente conquistados por aquela desfaçatez toda, pelo riso silencioso, pela crítica, por uma curiosidade astuta que a fazia questionar as contradições humanas. As obras de Quino foram traduzidas para mais de 30 idiomas – de longe, o único cartunista latino-americano a alcançar essa marca.
Adiante, foi também nos anos em que o GIRO ainda engatinhava que ela apareceu, já famosa, como o rosto que ilustrava o noticiário do Girão da América: por ser uma das carinhas mais conhecidas da América Latina, nada melhor do que começar um trabalho, tão apaixonado pelo continente, com um pouco de Mafalda. E hoje, nesta semana que não precisava existir, tudo nos trouxe até aqui, mais uma vez, Mafalda, quando fazemos de nossos corações um grande bairro de San Telmo, para nunca te ver indo embora. Deixamos aqui uma frase que comprova o que você sempre se prestou a dizer: “Como siempre, lo urgente no deja tiempo para lo importante”. Mais uma vez, você nunca fez tanto sentido.
Gracias, Quino y Mafalda. Gracias por todo.
O GIRO desta semana, em homenagem a Quino e à marca de 50 edições, traz uma porção de referências ao cartunista. Veja 6 curiosidades sobre Quino e sua obra, nesta reportagem da BBC. Também confira as homenagens que Mafalda recebeu de admiradores em frente a seu monumento, em um banquinho do bairro de San Telmo. A homenagem dos jornais locais, da Turma da Mônica, da também inigualável Laerte e de outros tantos cartunistas brasileiros. O presidente argentino Alberto Fernández também deixou sua homenagem. Aproveite o resto da newsletter deste sábado e encontre mais coisas sobre Quino e sua criação.
😷 Covid: com os números ainda em baixa, a América Latina teve, nos últimos sete dias, seu menor número de novos óbitos em 18 semanas, desde o final de maio. Clique aqui para ver nosso levantamento semanal.
Un sonido:
REGIÃO 🌎
Segundo um relatório da Anistia Internacional, medidas de isolamento têm servido como pretexto para violações de direitos humanos em vários países latinos. O primeiro exemplo é El Salvador, onde o governo do presidente Nayib Bukele tem mostrado nuances cada vez mais autoritárias desde o começo da crise de saúde, como contado neste vídeo do GIRO LATINO. Bukele, ao contrário de muitos líderes negacionistas, é um ferrenho defensor do isolamento: paradoxalmente, esse discurso o levou a travar uma queda de braço com a oposição e a ordenar medidas repressivas para conter a circulação de pessoas. O outro citado é a Venezuela, que virou um efeito de fluxo migratório reverso durante a crise sanitária: especialmente desalentados em países vizinhos, muitos venezuelanos decidiram voltar ao país, onde teriam sido forçados a ficar em centros de quarentena com condições inadequadas. Por último, o Paraguai: ainda que com números relativamente baixos de mortos e contaminados, também enfrentou denúncias de abusos nos chamados centros de quarentena.
ARGENTINA 🇦🇷
A crise da pandemia afetou profundamente a renda da população e ampliou a pobreza na Argentina. Segundo dados oficiais, ao final do primeiro semestre quase 41% dos argentinos podiam ser considerados pobres – alguns levantamentos independentes sugerem que o índice pode ser até maior, aproximando-se de 47%, sem tendência de baixar significativamente antes do final do ano. Um adulto precisa ter renda acima de 14.718 pesos mensais (R$ 1.082) para não ser considerado pobre no país. Via Reuters.
Tentando fortalecer as reservas em dólar em meio à crise, o governo anunciou que reduzirá (levemente) as tarifas de exportação até o fim do ano, para os setores de agricultura e mineração. A alíquota sobre a soja, por exemplo, cairá de 33% para 30% em outubro. Segundo estimativas, as reservas brutas do país caíram US$ 11 bilhões no ano passado e, no momento, estariam em 41,3 bilhões, mas ainda em franca redução. O incentivo ajudaria a melhorar a situação. Via AFP.
Como já ocorrera antes com países como Bolívia, Chile e Peru, a Argentina também passou por uma recontagem das vítimas da covid-19, dando um salto no total de fatalidades. Na atualização de quinta (1º), o Ministério da Saúde informou que mais de 3,3 mil mortes antigas em investigação passariam a ser oficialmente incluídas na contagem dos óbitos por coronavírus, o que elevou o total argentino para mais de 20 mil falecidos na pandemia. Apesar da boa resposta inicial, que manteve os números baixos por meses, a Argentina passou por uma aceleração nos casos e mortes a partir de agosto, conforme a exaustão da quarentena foi levando a um descuido maior. O país ainda ocupa o 9º lugar da região em mortes proporcionais: são 456 por milhão, contra 692 do Brasil e 989 do Peru, pior do mundo no quesito. No Clarín.
Un dibujo:
BOLÍVIA 🇧🇴
O gabinete da presidente interina Jeanine Áñez sofreu uma debandada nesta semana, com a renúncia de três ministros: o primeiro a entregar o cargo foi o titular da pasta de Economia, Óscar Ortiz, contrariado pela decisão de devolver parte das ações da estatal de energia elétrica de Cochabamba, a Elfec, ao setor privado. Para Ortiz, que teria se desentendido com o chefe de gabinete de Áñez, Arturo Murillo, uma ação do tipo não poderia ocorrer tão perto das eleições presidenciais, previstas para 18/10 – nas quais a interina, que vinha mal nas pesquisas, desistiu de ser candidata (sem ela, as enquetes mais recentes indicam que pode haver segundo turno). Na sequência, os ministros do Trabalho, Óscar Mercado, e de Desenvolvimento Produtivo, José Abel Martínez, também deixaram o governo. Nem todos, porém, seguiram a versão atribuída a Ortiz: Mercado, por exemplo, garantiu que sua própria renúncia não envolveu qualquer enfrentamento interno. No Correo del Sur.
A LaMia, companhia aérea boliviana responsável pelo voo da Chapecoense que se acidentou em 2016, foi condenada a pagar uma indenização de US$ 844 milhões (R$ 4,76 bilhões) aos familiares de 40 vítimas, por uma corte nos Estados Unidos. Segundo os advogados, a primeira vitória judicial é parte de uma estratégia que permita cobrar os valores das seguradoras da empresa, que teriam subestimado as indenizações, já que não há perspectiva real de coletar essas quantias dos alvos originais do processo – os proprietários da LaMia e da empresa dona da aeronave, a Kite Air Corporation. A tragédia da Chapecoense, que completa quatro anos em 28/11, ocorreu quando a equipe brasileira se dirigia a Medellín, na Colômbia, para disputar a final da Copa Sul-Americana de futebol, matando 71 das 77 pessoas a bordo. Além do processo nos EUA, há uma ação civil pública em curso no Brasil e o acidente também é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado brasileiro. Na Folha.
CHILE 🇨🇱
A volta às aulas presenciais na capital foi um fracasso. Na quinta (1º), a comuna de Pirque, uma das subdivisões administrativas que compõem a Região Metropolitana de Santiago, tornou-se a primeira a tentar reabrir as escolas, com uma experiência em cinco instituições: ao todo, segundo o Ministério da Educação, apenas 20 alunos compareceram, e uma das escolas chegou a registrar índice de 100% de ausência – um dos alunos até foi ao recinto, mas desistiu ao ver que estaria sozinho. A maioria dos pais e professores é contra a volta às classes presenciais: o Chile, um dos países mais afetados do mundo pela pandemia embora registre uma queda sustentada há quase três meses, chegou a passar 74 dias em lockdown total na Região Metropolitana para melhorar seus números na marra. O prefeito de Pirque, defensor da abertura e apoiado pelo Ministério, lembrou que a presença é voluntária e diz que as escolas seguirão ao dispor de quem quiser comparecer. Em La Tercera.
“Alerta vermelho” na área cultural. É o que dizem integrantes do setor, que vêm se reunindo para denunciar a falta de apoio do poder público a trabalhadores, que só piorou durante a pandemia. Em meio a vários protestos pelo país, sindicatos da área artística se encontraram com a ministra do Desenvolvimento Social, Karla Rubilar, para propor soluções financeiras que possam mitigar a crise em 2020. Segundo Pedro Hinojosa Hormazábal, um dos responsáveis regionais, não houve resposta governamental e apenas uma indicação preocupante de que as atividades só poderão ser normalizadas em setembro de 2021. Atualmente, 85% dos profissionais do ramo não têm contrato, um dos reflexos de um corte de pelo menos 16 bilhões de pesos chilenos (R$ 115 milhões). Na teleSUR.
COLÔMBIA 🇨🇴
“Não temos droga, não temos arma, não temos nada”. É o que gritou Francisco Larrañaga em um vídeo gravado com o celular, após sua companheira, a mulher trans Juliana Giraldo, levar um tiro na cabeça e morrer dentro do carro, em um posto de controle do Exército. Em um episódio nada “pontual”, termo preferido do presidente Iván Duque, o assassinato foi registrado em uma área rural do departamento de Cauca, que tem se tornado palco de uma degradação galopante dos direitos humanos na Colômbia. No vídeo, Larrañaga pede ajuda para que o caso seja compartilhado nas redes sociais, que se tornaram o único espaço em que os milhares de civis afetados pela violência podem denunciar o que vivem. Segundo o sobrevivente, os agentes atiraram pouco antes de o carro se aproximar do posto, quando o homem deu meia volta para buscar os documentos que havia esquecido em casa. A versão das autoridades, porém, é diferente: o general Marco Mayorga disse a uma rádio local que o tiro que matou Juliana teria sido “acidental”, produto de uma bala que teria ricocheteado quando um dos militares atirou no chão para dar um alerta. O episódio colocou gasolina no principal debate do país nos últimos dias: a brutalidade dos agentes de segurança do Estado, como contado pelo GIRO LATINO nesta reportagem. Simultaneamente, aumentam os pedidos pela renúncia do ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo, sobretudo após um vídeo em que o chefe da pasta demonstrou seu “apoio total” às Forças Armadas “garantidoras dos direitos humanos”, como quase debochadamente ele se refere à corporação. Trujillo também voltou a classificar casos de violência como “atos individuais”. Além do caso de Juliana, a semana foi marcada por um novo massacre, dessa vez no município de Tumaco, departamento de Nariño, onde pelo menos cinco indígenas da etnia Awá foram assassinados e outros 40 sequestrados por um grupo armado ilegal não identificado (podem ser paramilitares, ex-integrantes de guerrilhas e até mesmo sicários independentes). Várias organizações indígenas voltaram a denunciar o ocorrido.
Un nombre:
Mafalda – o nome de origem germânica derivado de Matilde significa “forte em combate” ou “aquela que combate com honra”, mas a principal personagem de Quino foi batizada de forma curiosa: a tirinha original foi criada para ilustrar a campanha de uma nova linha de eletrodomésticos Mansfield e o cartunista precisava achar um nome com uma sonoridade similar ao da marca. E lá foi Quino atrás de referências. Em uma noite, o cartunista foi ao cinema para ver Dar la cara (1962), que tinha, entre as personagens, uma certa Mafalda. Teria sido esse o grande momento.
COSTA RICA 🇨🇷
O país negocia com o FMI um acordo crédito estimado em US$ 1,75 bilhão que, durante três anos, daria um alívio financeiro frente a uma queda de 5% da atividade econômica anual, uma taxa de desemprego que já supera os 24% e um déficit fiscal que pode morder quase 10% do PIB ao final de 2020. Mas não vai ser fácil: como contrapartida ao empréstimo, o Fundo exige medidas de austeridade, além da imposição de tarifas temporárias pela negociação. Ainda que a necessidade de reorganizar a vida financeira por meio do apoio seja quase unânime, os termos do acordo não agradam parte da oposição, de quem o presidente Carlos Alvarado já tem encontrado resistência desde a reforma tributária aprovada em 2018. Agora, em meio às tratativas, os governistas também tentam dar sequência a uma proposta que mudaria as regras do funcionalismo público, o que também anda gerando muitos debates. Similar ao que aconteceu no Equador em 2019 (leia na seção do país), ainda que em dimensões menores, costarriquenhos têm ido às ruas em rechaço ao acordo com o FMI. Na Prensa.
CUBA 🇨🇺
Virou rotina: nova semana, nova sanção imposta pelo governo Trump para estrangular um pouco mais as finanças da ilha. Depois de restringir voos, impedir a continuidade do funcionamento de redes hoteleiras estadunidenses em Havana e, mais recentemente, impor uma proibição à entrada de determinados produtos cubanos trazidos por quem visitou a ilha, o governo estadunidense agora incluiu na lista de restrições um cartão de débito que se popularizou em Cuba por ser atrelado às remessas de dinheiro que vêm do exterior. O cartão AIS (sigla para American International Services), ligado à Fincimex, financeira cubana que permite o envio de mais dinheiro à ilha do que a concorrência, foi banido sob o pretexto usual: segundo Washington, as taxas do Banco Central de Cuba financiam “a repressão contra o povo cubano e a intromissão de Cuba na Venezuela” e “o povo deve poder receber dinheiro de seus familiares no exterior sem encher os bolsos de seus opressores”. O problema para os cubanos é que outras empresas populares para envio de remessas impõem limites baixos ao valor que pode ir a Havana – a Western Union, por exemplo, não permite mais que US$ 1 mil por trimestre. Via AP.
O son cubano, um dos gêneros musicais mais típicos da ilha, ganhou uma data oficial para ser celebrado: a partir de 2021, cada 8/5 será dedicado a ele, segundo um decreto publicado na sexta (2). A data foi escolhida em homenagem a Miguel Matamoros (1894-1971) e Miguelito Cuní (1917-1984), dois expoentes do son, que coincidentemente nasceram nesse mesmo dia. Na Prensa Latina.
EL SALVADOR 🇸🇻
O governo do presidente Nayib Bukele segue em uma queda de braço com a imprensa salvadorenha. As denúncias da vez são do portal investigativo El Faro. Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, o veículo responsável por trazer à tona suspeitas de que o governo negociava com gangues do país (mesma acusação que os próprios governistas usam para atacar a antiga gestão; leia mais no GIRO #46) vem sendo alvo de ameaças. A entidade cobra medidas de seguranças efetivas para a proteção dos jornalistas, o que foi endossado pelo editor jornal, Óscar Martínez. Nesta thread, o jornalista relata que medidas autoritárias do Estado contra a redação foram “levadas a outro nível” durante o governo Bukele. De 2000 para cá, pelo menos oito jornalistas salvadorenhos foram mortos, em sua maioria por membros de pandillas,como são chamadas as gangues.
E as polêmicas não param por aí. Durante a semana, Bukele se recusou a assinar o Acordo de Escazú, que define uma série de diretrizes ambientais para os países da América Central e Caribe. Adotado em 2018 na cidade costarriquenha que dá nome à medida, o tratado estabelece uma série de garantias no que diz respeito ao acesso a informações, participação pública e questões legais relacionadas ao meio ambiente (incluindo proteção a defensores da causa, que enfrentam uma epidemia de violência na região). Segundo o mandatário, que diz “gostar muito do espírito do acordo”, seu governo não concorda com dois artigos. Até o momento, 22 países assinaram o acordo, mas só nove o ratificaram, com Argentina, Costa Rica, Bolívia, Equador, Nicarágua, Panamá e Uruguai entre os latinos. Na Prensa Gráfica.
EQUADOR 🇪🇨
Um ano depois dos protestos contra o fim do subsídio aos combustíveis (que, entre outras coisas, quase derrubou o governo e chegou a mudar provisoriamente a sede do poder Executivo), exigido pelo FMI para o avanço de um programa de créditos, o governo Lenín Moreno e a organização voltam a se acertar. Com o começo de outubro, foi acordado entre as partes um empréstimo de US$ 6,5 bilhões, almejado pelo governo por conta dos estragos econômicos causados pela pandemia. Mais uma vez, porém, o FMI estabelece contrapartidas: em troca, a entidade exige uma lei anticorrupção, uma reforma no sistema tributário e a autonomia do Banco Central, o que, segundo o próprio Fundo, pode fortalecer o modelo de dolarização da economia equatoriana. Resta ver se, desta vez, a população vai se levantar novamente contra esse velho e conhecido fantasma. Em El Comercio.
Repercute na mídia local a mais recente decisão da Justiça do Reino Unido sobre a extradição do ciberativista Julian Assange, um dos fundadores do WikiLeaks. Atualmente preso em Londres, Assange passou sete anos asilado na embaixada do Equador na capital britânica, em uma epopeia que se relaciona até mesmo com a ruptura entre o atual presidente, Lenín Moreno, e seu antigo aliado e ex-presidente, Rafael Correa, hoje às voltas com a Justiça (saiba mais neste vídeo). Durante a semana, surgiram denúncias de que a inteligência dos EUA, país que reclama a extradição, teria cogitado envenenar o ativista. Em El Comercio.
Un video:
GUATEMALA 🇬🇹
Lote Ocho é o nome de uma comunidade indígena que, há mais de uma década, luta por seus direitos contra uma empresa mineradora do Canadá que opera em Izabal, na região nordeste da Guatemala. Em 2007, em meio a disputas territoriais, onze mulheres foram vítimas de estupros coletivos e outras agressões promovidas por policiais, militares e pelos guardas da empresa que opera na região. Uma longa batalha judicial travada nas cortes canadenses se desenrola desde então, exibindo não só a proeminência das mulheres na luta pelos direitos dos povos originários, mas a corrupção do Estado guatemalteco, conivente com o lobby das grandes corporações internacionais. No Intercept, a história da luta.
Uma nova caravana de migrantes partiu de Honduras nesta semana, com o objetivo de eventualmente chegar aos Estados Unidos, mas encontrou problemas na Guatemala. Segundo o presidente Alejandro Giammattei, os migrantes desrespeitaram os controles fronteiriços relacionados à pandemia, o que motivou a ordem detenção massiva de mais de 2 mil pessoas. A caravana vinha atraindo atenções por ser a maior do tipo na América Central desde o início dos controles em função da covid-19. Ainda assim, segundo as autoridades, nem todos os migrantes foram capturados ou desistiram da trajetória, dividindo-se no meio do caminho e com centenas ainda tentando chegar ao México, próximo país no horizonte. López Obrador, o presidente mexicano, prometeu monitorar a situação e lançou suspeitas quanto à formação da caravana tão perto das eleições dos EUA. No passado, Donald Trump já tentou capitalizar em cima do pânico causado por movimentos semelhantes sobre seu eleitorado. Na Folha.
HAITI 🇭🇹
Enquanto vários setores divergem da recente instalação do Conselho Eleitoral Provisório (CEP), feito para tentar dar fim à eterna crise política no país, o ex-presidente do Parlamento (hoje dissolvido), Joseph Lambert, defende um acordo político para resolver o problema. Segundo o ex-deputado, o desaparecimento do Legislativo, que deixou o poder centralizado no presidente Jovenel Moïse, “quebra a ordem constitucional e democrática”. A dissolução forçada do Congresso foi oficializada em janeiro, em meio a muito tumulto, e aumentou a fogueira de disfunções políticas no Haiti. O drama, agora, é ver o que será da jornada eleitoral legislativa marcada para 2021: ainda que a necessidade de restabelecer um dos eixos de poder seja um consenso, a oposição acredita que aceitar o pleito organizado por Moïse acabe por endossar um processo eleitoral que será fraudulento, legitimando o questionado governo atual. Na Prensa Latina.
HONDURAS 🇭🇳
O presidente Juan Orlando Hernández anunciou mudanças significativas em seu gabinete, nas pastas de Desenvolvimento e Inclusão Social, Trabalho e Seguridade Social, e Coordenação Geral do governo. O anúncio mais importante, porém, é no campo diplomático: em aceno ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, com quem JOH conversou no final de semana, Honduras passará sua embaixada no país para Jerusalém, medida similar à pretendida pelo governo Bolsonaro, ainda em 2018, impulsionada pelo reconhecimento da cidade como capital de Israel pelo governo Trump. Em contrapartida aos aliados conservadores, Israel fará gesto similar, inaugurando uma representação do país em Tegucigalpa. Assim como em quase todos os países que optam por essa manobra, o caso gera revolta no país centro-americano, que tem a segunda maior população palestina na América Latina, atrás apenas do Chile. Na DW.
O jornalista Luis Almendares, 35, foi morto por homens armados nas ruas de Comayagua, a 60 km da capital Tegucigalpa. O crime ocorreu após Almendares receber pelo menos 10 ameaças de morte. Bastante conhecido no meio investigativo, o jornalista havia deixado veículos tradicionais da imprensa para fundar o seu próprio. A Associação Hondurenha de Jornalistas afirma que 87 trabalhadores da imprensa foram mortos no país desde 2001 e que só sete desses assassinatos resultaram em algum tipo de processo. Além de uma impunidade altíssima, atualmente 44 jornalistas no país recebem algum tipo de proteção por conta de ameaças recorrentes. Na Prensa de Honduras.
MÉXICO 🇲🇽
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, reafirmou a solicitação feita no ano passado à Espanha: que o país ibérico peça perdão pelos crimes cometidos durante a conquista e a colonização. Em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (30), AMLO disse esperar que o rei e o governo espanhóis “mudem de atitude e peçam desculpas com humildade, para deixar para trás esse confronto”. O assunto foi resgatado em razão do lançamento oficial das comemorações do bicentenário de independência do México, que ocorrerão em 2021. No ano passado, o executivo espanhol respondeu “lamentando profundamente” e “rejeitando com firmeza” o argumento da carta, mas o rei Felipe VI não se pronunciou. Em El País.
Cerca de 100 corpos foram encontrados em oito valas clandestinas no estado de Guanajuato, zona central do México. Segundo as autoridades, o mais provável é que o cemitério clandestino seja operado pelo cartel Jalisco Nueva Generación. As buscas foram realizadas nesta semana junto às famílias das vítimas, que encontraram os cadáveres de seus entes queridos, vários mutilados ou decapitados, em sacolas. A onda de violência não é novidade na região, controlada há anos pelo crime organizado – até que os próximos líderes assumam o controle e sigam com os ataques. Entre a sexta-feira passada (24) e o domingo, pelo menos 48 pessoas foram assassinadas em Guanajuato. No Infobae.
Una expresión:
Campar a sus anchas – é o que se diz quando alguém (ou algo) faz algo como bem entende, sem restrições, a bel-prazer ou justamente a sus anchas. O verbo campar, segundo a definição da Asociación de Academias de la Lengua Española, significa “mover-se ou atuar com total liberdade”, como a corrupção em um governo latino-americano, as tiradas de Mafalda (forma conotativa) ou mesmo um gado selvagem (forma literal) pelos pampas da região platina.
NICARÁGUA 🇳🇮
Denunciado pela ONU por violações de direitos humanos, o governo nicaraguense contra-atacou – denunciando o próprio Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos que, segundo o chanceler Denis Moncada, “não atua com justiça e equidade com nosso país, convertendo suas atualizações orais e informes em conteúdos intencionalmente politizados”. A manifestação ocorreu na terça (29), último dia de debates na Assembleia Geral da ONU. A Nicarágua vem sendo sucessivamente denunciada pelas prisões e centenas de mortes que se seguiram na repressão aos protestos contrários ao governo em 2018, episódio que Manágua classifica como “tentativa fracassada de golpe”. O Alto Comissariado, comandado hoje pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet, vem fechando o cerco ao governo Daniel Ortega e também à Venezuela. No Noticias ONU.
PANAMÁ 🇵🇦
O Panamá se juntou à lista de países latino-americanos com ensaios clínicos para uma vacina contra a covid-19, com o início da fase 2 dos testes da formulação da farmacêutica alemã CureVac na quarta-feira (30). A vacina, por enquanto chamada de CVnCoV, será aplicada em 690 pessoas divididas em dois grupos (um de 18 a 60 anos e outro acima de 61 anos), que serão monitorados ao longo de 13 meses. Apesar de mais de um ano pela frente nesta etapa, a promessa é iniciar a fase 3 também em 2020, ampliando o número de participantes para 30 mil pessoas na América Latina e na Europa. Além do Panamá, o Peru também tem voluntários para a fase 2 dos ensaios da CureVac. Na Prensa.
PARAGUAI 🇵🇾
A seca e o calor, que destacamos no GIRO #49, seguem provocando seus efeitos sobre o país. No último domingo (27), a capital Assunção registrou a maior temperatura de sua história, com termômetros batendo em 42,2 °C. No interior do país, o calor foi ainda pior. Grandes incêndios vêm consumindo áreas florestais e já se contam 12 mil focos. Temendo um agravamento de problemas respiratórios em plena pandemia de covid-19, autoridades pedem que a população se resguarde da fumaça que atinge as cidades. Especialistas alertam que não é só a natureza que está ardendo: lixo e produtos químicos também estão queimando e podem liberar substâncias cancerígenas no ar. No ABC Color.
O presidente do Olimpia, maior campeão do futebol do país, foi banido do futebol pela FIFA nesta semana, acusado de manipular resultados entre 2018 e 2019. Marco Trovato, 41, comandava o clube há seis anos, e teria arranjado partidas em conluio com apostadores. O período sob suspeição envolve justamente as temporadas em que o Olimpia venceu todos os quatro Campeonatos Paraguaios disputados (no país, há um torneio por semestre), o que colocou sobre a mesa até a possibilidade de anulação dos títulos, algo que autoridades do esporte local garantem que não ocorrerá. Trovato promete recorrer até as últimas instâncias. A suspensão, a princípio, é vitalícia. No GE.
PERU 🇵🇪
Voos internacionais de linha voltarão aos céus do Peru a partir de segunda-feira (5), com a autorização do transporte aéreo para sete países latino-americanos: Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Panamá, Paraguai e Uruguai. País mais devastado pela pandemia no mundo em termos proporcionais, com um índice de quase mil mortes a cada milhão de habitantes, o Peru tem vivenciado uma queda continuada nos contágios, o que motivou a flexibilização. Segundo o governo, dentro de 15 dias os resultados serão avaliados para decidir se algumas restrições voltam à pauta ou se, ao contrário, o país passa a autorizar ainda mais destinos e procedências. Em El Comercio.
O grupo de pesqueiros chineses que causou dores de cabeça no Equador, acusado de invadir áreas protegidas nas Galápagos (contamos nos GIROS #41 e #46), segue atormentando a costa dos países sul-americanos banhados pelo Pacífico. Segundo o monitoramento, desde meados de setembro os mais de 300 barcos começaram a descer no mapa, aproximando-se do Peru, onde têm sua movimentação vigiada pela Armada local, tentando evitar que ingressem nas águas protegidas do país. A expectativa é que os pesqueiros se dirijam à costa chilena na sequência, seguindo a chamada “rota do calamar”. Embora a atividade em si seja lícita se seguir o tipo de extração prometido e se mantiver em águas internacionais, frotas chinesas já foram flagradas em outros anos violando a lei e capturando espécies protegidas, o que acende alertas nos governos da região. Na DW.
PORTO RICO 🇵🇷
Mais uma mulher trans foi assassinada em território portorriquenho, elevando o número de casos de transfeminicídio para seis só em 2020. O corpo de Michelle Ramos Vargas, 33, foi encontrado na última quarta (30), em uma área rural da cidade de San Germán. Segundo a polícia, a vítima recebeu tiros na cabeça, o que levou à hipótese de execução e crime de ódio. Organizações locais de direitos humanos ligadas à comunidade LGBTQIA+ da ilha, entre elas o Puerto Rico Para Tod@s, têm subido o tom das denúncias, pedindo uma investigação mais séria diante da reincidência dos casos. Nos últimos 20 meses, os assassinatos desse grupo minorizado sobem a oito. No Nuevo Diario.
Com eleições no horizonte, o tema da conversão de Porto Rico no 51º estado dos EUA tem voltado à pauta com força. Após o candidato democrata Joe Biden indicar que estaria aberto à autodeterminação dos moradores da ilha, sinalizando a possibilidade de um referendo ou similar para decidir a questão, Donald Trump novamente firmou posição contra essa hipótese. Para Trump, os democratas estariam desejando até três novos estados na União (além de Porto Rico, são citados a ilha de Guam, no Pacífico, e o Distrito de Colúmbia, onde fica a capital Washington) para poder ter mais senadores. “Querem 52, 53 estados… como vai ficar a bandeira?”, questionou o presidente, em uma das últimas entrevistas antes de ser internado, na sexta (2), com a mesma covid-19 cuja gravidade se empenhou em minimizar. Em El Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O Ministério do Esporte autorizou a volta das rinhas de galo, suspensas no país desde março em função da pandemia, com a condição de que os protocolos de segurança sejam respeitados e os rinhadeiros não recebam público. Vistas como arcaicas e alvo de oposição ferrenha de ativistas dos direitos dos animais, as rinhas de galo são oficialmente consideradas um esporte e uma verdadeira “manifestação cultural” em grande parte do Caribe e da América Central, mobilizando uma indústria milionária que envolve a criação das aves, apostas e venda de ingressos. “Esta atividade é parte da economia do país e o comércio sofreu muito com os estragos da pandemia”, disse um porta-voz do Ministério da Saúde. Apesar das restrições sanitárias, várias rinhas já vinham ocorrendo clandestinamente em solo dominicano. Via EFE.
Un hilo:
Análise das eleições regionais no Uruguai. Clique para ler mais.
URUGUAI 🇺🇾
O ex-presidente José “Pepe” Mujica (2010-2015), 85, anunciou que vai se retirar de forma definitiva da política, podendo renunciar ao Senado ainda em outubro. Segundo Mujica, que enfrenta uma doença imunológica crônica, seu amor pela vida venceu o que sente pela política: “preciso administrar bem os minutos que me restam”, disse em entrevista. Não é a primeira vez que o ex-tupamaro dá adeus à atividade política. Em 2018, chegou a renunciar ao cargo no Parlamento “mas não à luta política” por motivos pessoais – no que se especulou ser um momento de melancolia por conta da morte de Manuela, sua cachorrinha manca e fiel companheira por 22 anos. Mas, nas eleições do ano passado, o ex-presidente voltou ao Senado e, até aqui, seguia atuando, preocupado em criar novas lideranças dentro de uma esquerda que perdeu a Presidência após 15 anos bem sucedidos. Desta vez, parece ser oficial: o problema de saúde, segundo Mujica, o impediria inclusive de tomar a vacina da covid-19, inviabilizando as relações humanas necessárias para fazer política. No Página 12.
As eleições regionais e municipais celebradas no último domingo (27) consolidaram a ascensão do Partido Nacional, os blancos do presidente Luis Lacalle Pou, que agora governará 15 dos 19 departamentos do país, três a mais do que no último ciclo eleitoral. Todos os novos assentos foram obtidos em territórios antes controlados pela Frente Ampla, que manteve o governo em três regiões: Salto, Canelones e a capital, Montevidéu, que governa desde 1990 e agora será administrada por Carolina Cosse, a vitoriosa do domingo. Além de uma redução da influência da esquerda, dando sequência à derrota nas eleições presidenciais de 2019, o pleito deste ano também piorou os resultados já pífios do tradicional Partido Colorado – a sigla, uma das mais dominantes da política uruguaia no passado e que rivalizou com o Partido Nacional até o fim do século 20, seguirá no poder em apenas um departamento, a fronteiriça Rivera, também a única zona que havia vencido em 2015. Entre os prefeitos, os colorados tiveram apenas três eleitos (eram sete há meia década), mesmo número do pequeno Partido Independente, contra 32 da Frente Ampla e 87 blancos. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
O governo venezuelano recebeu, na última terça (29), o sexto navio iraniano com um abastecimento extra de petróleo para dar suporte à cada vez mais esfacelada produção petroleira do país, que sofreu uma queda de mais de 70% nos últimos anos – para dar uma dimensão: eram mais 2,5 milhões de barris por dia em 2015, contra 570 mil em maio de 2020, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). A “boa relação” entre os países, como definiu o chanceler venezuelano Jorge Arreaza, é uma tentativa de reaquecer a indústria, sobretudo em um momento energético paradoxal: dona das maiores reservas de petróleo do mundo, a Venezuela hoje enfrenta protestos de rua por conta da escassez dessa mesma commodity (além da falta de água, energia e gás de cozinha). Diferentemente dos protestos em 2019, tentativas inexpressivas de levantes liderados por nomes da oposição ao chavismo, os mais de 200 focos de protesto no final de setembro, espalhados por 19 dos 23 estados, pedem ajuda do governo em um momento delicado, sobretudo por conta da pandemia. Também surgem denúncias de repressão por parte de forças de segurança durante as jornadas. O contrassenso econômico é sublime: há relatos de venezuelanos gastando quase metade do salário mínimo (reajustado para 800 mil bolívares, ou pouco mais de US$ 1,80) para comprar um litro da gasolina que já foi referência pelos preços baixos. Parte desse cenário é causado pelas sanções impostas ao país pelo governo do presidente Donald Trump, que já prometeu outra medida de retaliação após as negociações entre Caracas e Teerã, também acossado por Washington. No Efecto Cocuyo.
Médicos venezuelanos que atuam na linha de frente no combate ao coronavírus têm vivido com salários baixíssimos durante a pandemia. Segundo a reportagem em vídeo da BBC, profissionais chegam a ganhar entre 4 e 5 dólares por mês, só quatro vezes o valor de uma máscara antiviral. Na esteira do que foi relatado na nota acima, muitos hospitais também enfrentam uma grave crise de abastecimento, com relatos de falta de água e insumos.
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