Equador investiga cartas-bomba enviadas à imprensa
Caso pouco comum é investigado como ato de terrorismo e se junta a outras crises que abalaram o país nas últimas semanas, desde ciclone até terremoto; enquanto isso, governo balança
Desacostumado a ser o país latino-americano em destaque pelas piores notícias do continente, o Equador tem vivido uma espiral de desgraças que há alguns meses que já o coloca em evidência nesta newsletter por razões negativas. Mas nada se compara aos eventos dos últimos dias: só nas duas últimas semanas do mês de março, equatorianos testemunharam fortes terremotos, viram jornalistas se tornarem alvos de cartas-bomba e, não fossem problemas suficientes, ainda sofreram com a incidência de fortes tormentas que têm colocado autoridades em alerta e deixado um rastro de destruição por todo o país.
O mais chocante dos eventos (e também o menos comum) virou notícia na segunda-feira(20), após autoridades identificarem pelo menos cinco dispositivos explosivos endereçados a diferentes profissionais da imprensa. O caso mais grave envolveu o jornalista Lenin Artieda, da Ecuavisa TV, que chegou a sofrer ferimentos leves após inserir em seu computador um pendrive que era, na realidade, uma bomba disfarçada. A redação onde o ataque aconteceu fica na cidade costeira de Guayaquil, considerada o epicentro da onda de violência que assola o país há pelo menos dois anos. Como você já leu neste GIRO em agosto passado, o território guyaquileño se tornou palco de uma violenta disputa entre grupos criminosos, com episódios brutais de narcoterrorismo que elevaram a já crescente violência urbana.
De acordo com autoridades à frente do caso, os envelopes similares contendo explosivos partiram da cidade Quinsaloma, na província costeira de Los Ríos. No total, três deles tinham como destinatários redações em Guayaquil, ao passo que outros dois miravam jornalistas trabalhando na capital Quito. Na terça (21), um dia após a Procuradoria-Geral anunciar investigações formais que tratavam o caso como terrorismo, o governo disse que teria identificado o responsável por enviar os explosivos, informando por meio do ministro do Interior Juan Zapata que todos tinham “o mesmo remetente”. Autoridades não haviam dado mais informações até o fechamento desta edição.
Em setembro do ano passado, criminosos já haviam instalado explosivos na porta da residência de um jornalista do diário Expreso que investigava casos de corrupção. Um caso semelhante de pacotes-bomba já tinha ocorrido em 2015, em frente às redações El Telégrafo e El Universo.
Condenações partiram de todos os lados. O presidente Guillermo Lasso – que já anda ele próprio encrencado e na rota de um possível impeachment – disse que a polícia avança com as investigações e que “haverá consequências” para aqueles que “violam a tranquilidade dos equatorianos e seu direito à liberdade de expressão”. Toda a comunidade jornalística do país, bem como a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), também exigiu respostas.
Página virada para os dramas envolvendo jornalistas, abre-se o capítulo de outro problema crônico no continente: desastres naturais. Nesse caso, não foi só o Equador a enfrentar tremores: da metade do mês para cá, os sul-americanos Argentina, Chile e Peru registraram o fenômeno em seus variados níveis de intensidade. No caso equatoriano, no entanto, o impacto foi mais forte, atingindo magnitude de 6,8 – um balanço feito no último final de semana dava conta de pelo menos 14 mortos, mais de 460 feridos e centenas de casas devastadas. Especialistas apontam que as cidades de Machala, capital da província de El Oro, e Cuenca, terceira maior cidade do país e capital da província de Azuay, foram as localidades mais afetadas. Na terça-feira (21), o governo decretou pelo menos 14 das 24 províncias em estado de emergência por um prazo de 60 dias. Os prejuízos seguem sendo estimados.
Não menos importantes (e tristes) são as notícias envolvendo as fortes chuvas, que há pelo menos um mês levam preocupação a várias cidades equatorianas. Os eventos climáticos não são necessariamente uma novidade: no início do mês, três pessoas morreram na cidade de Chone, província de Manabí, vítimas de deslizamentos de terra causados pelas tormentas. O quadro dramático apenas seguiu e se alastrou, impulsionado pela passagem do ciclone Yaku, causando inundações e colocando cidades inteiras em estado de alerta (o mesmo evento climático adverso causou estragos no Peru, como explicado na seção do país desta mesma edição). Ainda que recorrentes, as chuvas têm demonstrado um quadro de agravamento, muito em função do avanço da crise climática regional que parece cada vez mais irreversível: na quinta (23), a prefeita de Guayaquil, Cynthia Viteri, comparou o impacto atual das chuvas com eventos vistos pela última vez somente nos anos 1980 e 1990. Pelo menos 37 ruas da cidade ficaram debaixo d’água, e há expectativa de que o problema persista.
E é assim, com um conglomerado de fatalidades, que o Equador caminha para fechar o primeiro trimestre do ano cercado de incertezas – ainda que os problemas com o clima sejam, pelo contrário, uma tendência que se consolida em toda a região (saiba mais no GIRO #172). A lista de dores de cabeça também só torna mais desafiadora a sequência do governo Lasso: para além dos problemas na área da segurança pública e nos corredores da política, latentes desde que o mandatário tomou posse, a atual administração também se vê na mira de possíveis novos protestos nacionais liderados pelas sempre poderosas organizações indígenas. A menos de dois anos das próximas eleições marcadas para janeiro de 2025, é certo que o caminho até lá – seja para o governo ou para a população – será nebuloso.
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DESTAQUES
🇵🇾 Paraguai formaliza investigação a todo-poderoso ex-presidente Horacio Cartes – Ficou sério: após longos meses de acusações feitas dentro e fora do país contra o ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018) e o atual vice-presidente Hugo Velázquez, a Procuradoria-Geral do país finalmente anunciou, na quinta-feira (23), a abertura de uma investigação criminal contra os dois políticos. Segundo o procurador-geral Emiliano Rolón, o caso ficará sob a batuta de uma nova força-tarefa que terá a missão de determinar o nível de envolvimento da dupla (além de outros altos funcionários) em casos de corrupção. A semente é antiga: tudo começou em julho passado, quando o Departamento de Estado dos EUA vinculou Cartes e Velázquez a atos “significativamente corruptos” – o atual vice chegou a renunciar na época, depois voltou atrás; no entanto, o escândalo fez Velázquez desistir de vez de suas intenções de se candidatar à Presidência. Meses depois, uma comissão estabelecida pelo próprio Congresso paraguaio voltou a jogar luz sobre uma rede criminosa da qual Cartes supostamente faria parte, imputando ao magnata do tabaco denúncias de contrabando e lavagem de dinheiro. Até mesmo vínculos com a facção PCC e o grupo libanês Hezbollah, além de denúncias de suborno, pesam sobre o ex-mandatário. Cartes, agora, se vê num momento peculiar: ao mesmo tempo nunca tão visado por possíveis irregularidades, o ex-chefe de Estado também voltou recentemente ao controle do governista Partido Colorado, vencendo não só votações internas para liderar a legenda (contra o próprio presidente Mario Abdo Benítez) mas também vendo seu protegé Santiago Peña representar a ala cartista do PC nas eleições de 30/4. A pergunta, agora, é como (ou se) os últimos acontecimentos vão influenciar na votação de logo mais. No Última Hora.
🇦🇷 Julgamento emblemático de feminicídio termina em pena perpétua – Um julgamento histórico para a luta contra a violência de gênero na Argentina: na quinta (23), em uma nova decisão sobre um caso que havia recebido uma sentença controversa meia década atrás, a Justiça de Mar del Plata condenou à prisão perpétua Matías Farías, responsabilizado por drogar, estuprar e assassinar a adolescente Lucía Pérez, morta em 2016 aos 16 anos. Juan Pablo Offidani, apontado como cúmplice, recebeu uma pena de oito anos – que totalizam 15 em função de uma condenação anterior. No primeiro julgamento em 2018, ambos só receberam penas por tráfico de drogas, mas a Justiça ignorou as acusações envolvendo violência sexual e feminicídio, por entender que era impossível comprovar se a relação havia sido ou não consentida e que a morte poderia ser atribuída a uma simples “overdose” – sem considerar o papel de Farías e Offidani em oferecer o entorpecente a uma menor de idade no início da sequência de eventos. A decisão da época causou ultraje público e levou, em 2020, à anulação do julgamento, após um tribunal de segunda instância entender que os juízes anteriores tomaram sua decisão “sem contextualizar os fatos a partir de uma perspectiva de gênero”. Em El País.
🇨🇴 Proposta de reforma política de Petro abandona bandeiras progressistas e é (literalmente) rasgada – “Não sobrou nenhum tema progressista”, disse o presidente colombiano Gustavo Petro na quinta-feira (23), mesmo dia em que retirou do Congresso uma proposta de reforma política que estava prestes a ser votada por uma comissão do Senado. Apresentado pelo próprio presidente meses antes, o texto, bastante alterado até aqui, passou a incomodar a coalizão de centro-esquerda Pacto Histórico por não contemplar mais temas vistos como essenciais pelo grupo (como paridade de gênero na participação política, entre outros avanços propostos). “Queremos uma reforma para a Colômbia, não uma reforma politiqueira”, disseram. Problemas, porém, para o jogo de poderes do qual Petro depende para avançar sua agenda legislativa: ainda que alterado, o projeto estava sob a tutela do próprio presidente do Senado, Roy Barreras. Aliado do governo, Barreras se irritou com o arquivamento da medida e chegou a rasgar uma cópia física do projeto, dizendo que uma nova reforma precisa ser aprovada “nos próximos três anos” (em alusão ao tempo que falta para o fim do mandato de Petro) para “limpar a democracia do clientelismo”. O revés é considerado o maior para o mandatário no âmbito legislativo, sobretudo pelos planos do governo que exigem angariar apoio para aprovar reformas na área da saúde, previdência e trabalho. Em El País.
🇬🇹 Taiwan reforça laços com últimos bastiões latinos – De olho em manter o pouco apoio que lhe resta no continente, o governo de Taiwan resolveu que não vai dormir no ponto: na terça (21), apenas uma semana após Honduras deixar a lista dos países que conservam relações com Taipei (em vez de Pequim), foi confirmada uma viagem oficial da presidenta taiwanesa Tsai Ing-wen à Guatemala. No tour pela América Central, que também inclui Belize, representantes da ilha pretendem “demonstrar a importância que atribuímos aos nossos aliados e aprofundar ainda mais a cooperação e o desenvolvimento entre os aliados democráticos”. O governo guatemalteco foi o único dos três Estados latino-americanos remanescentes (numa lista que, sem Honduras, agora só inclui Haiti e Paraguai) a reafirmar o status quo após a decisão hondurenha do último dia 14. Via AFP.
🇩🇴 R. Dominicana prende ex-ministros e presidenciável em investigação de corrupção – Uma operação anticorrupção deteve 19 pessoas no país no último sábado (18), incluindo nomes fortes da política local: o destaque maior foi para o ex-ministro de Obras Públicas e Comunicações (2012-2019), Gonzalo Castillo, que em 2020 chegou a ser candidato à Presidência e ficou em segundo lugar, com 37% dos votos. Outros detidos foram o ex-ministro da Fazenda (2016-2020), Donald Guerrero, e o antigo controlador-geral, Daniel Omar Caamaño. Todos os implicados são acusados de participar de um esquema que envolveu pagamento de propinas, lavagem de ativos e o financiamento irregular da última campanha eleitoral, com desvio de cerca de US$ 347 milhões em verbas públicas. “Estou submetido injustamente a um processo que me afasta de minha família e de vocês, minha gente”, afirmou Castillo nas redes. Via AP.
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MAIS NOTÍCIAS
ARGENTINA 🇦🇷
Como ocorre todos os anos, organizações de direitos humanos, sobreviventes, familiares das vítimas e outros membros da sociedade civil solidários à causa marcharam por Buenos Aires e outras das principais cidades do país, na sexta (24), recordando mais um aniversário do golpe que iniciou a última ditadura argentina (1976-1983). À luz do filme Argentina, 1985, indicado neste ano ao Oscar, o país recuperou também o interesse na sua história – atípica na região – de julgar e punir boa parte dos militares envolvidos nos crimes da época. Passados 47 anos do golpe e outros 38 dos primeiros julgamentos que abriram as portas para a punição a partir de 1985, a Argentina contabiliza hoje quase 300 julgamentos por crimes de lesa humanidade e 1.115 condenados. Entidades de direitos humanos, investigadores e juízes refletem sobre o que já foi feito e o que ainda resta por fazer, nesta matéria do Página 12.
Celebrar Messi até quando ele para em uma parrilla para comer um entrecot. Essa foi a missão que os argentinos tomaram para si ao longo da semana, no aguardo daquela que foi a primeira partida da seleção masculina de futebol dentro de casa após a conquista da Copa do Mundo, em dezembro. Em uma sequência de vídeos que se tornaram virais, é possível ver Messi rodeado e exaltado por uma multidão apaixonada nas ruas de Buenos Aires na noite de segunda-feira (20), com o grupo se reunindo em frente a um restaurante e gritando o nome do ídolo. Finalmente, o aguardado reencontro com o time campeão mundial ocorreu na quinta (23), em um Monumental de Núñez lotado, que viu uma festa total. Diante de um fraco Panamá que ainda usou a equipe reserva, a Argentina teve mais trabalho do que o imaginado e venceu por apenas 2 a 0, com dois gols nos 15 minutos finais. Mas, mesmo assim, ninguém saiu insatisfeito, e a celebração teve até gol de falta histórico do próprio Messi, que chegou aos 800 marcados em sua carreira profissional (99 deles pela seleção). No Olé.
BOLÍVIA 🇧🇴
Semana de mobilizações de professores que, em alguns momentos, chegaram a ficar violentas: na segunda (20), centenas de docentes foram reprimidos pela polícia enquanto tentavam ocupar o Ministério da Educação, em La Paz. As reclamações vão desde melhores condições salariais e de aposentadoria até demandas causadas por uma situação nova: o sindicato da categoria está descontente com uma reforma educacional para a qual, alega, os professores escolares bolivianos não foram capacitados nem estão sendo remunerados para buscar a formação complementar. Entre as novas aulas previstas por um projeto que passou a vigorar neste ano, estão cursos de robótica, matemática financeira e xadrez. Após concordar em receber uma proposta escrita do Ministério em relação a cinco demandas principais, os professores rechaçaram a primeira lista de promessas na quinta-feira (23) e, no dia seguinte, realizaram uma paralisação geral de 24 horas, com direito a bloqueios de estradas em vários pontos do país. No Opinión.
CHILE 🇨🇱
A jornada de trabalho formal está a ponto de ser reduzida no Chile: por unanimidade, o Senado aprovou durante a semana – e há expectativa de que a Câmara siga por caminho parecido na próxima – um projeto que busca reduzir a jornada de 45 para 40 horas semanais, sem prejuízo aos salários, ao longo dos próximos cinco anos. Apresentado pelo Partido Comunista em 2017, o projeto começou enfrentando muita resistência no país, mas uma série de adaptações impulsionadas pelo governo de Gabriel Boric fez com que mesmo entidades patronais acabassem aceitando a ideia. O gradualismo foi chave para ganhar apoios: pelo novo texto, haverá uma redução para 44 horas no primeiro ano de vigência da lei, para 42 no terceiro ano, finalmente chegando às 40 no quinto ano. A ideia do governo é ter a legislação pronta para sanção presidencial em 1º/5, marcando o Dia Internacional dos Trabalhadores. Em El País.
COSTA RICA 🇨🇷
Um prêmio do governo por investigar… o próprio governo. A situação curiosa aconteceu na terça (21), quando o Ministério da Cultura costa-riquenho entregou uma série de reconhecimentos, incluindo o Prêmio Nacional de Jornalismo Pío Víquez. Desta vez, a honraria foi para os repórteres Esteban Oviedo e Natasha Cambronero, do jornal La Nación, pela série de matérias em que revelaram a estrutura paralela de financiamento de campanha que levou o presidente Rodrigo Chaves ao poder – um caso que segue mobilizando políticos e a Justiça do país centro-americano. “A publicação demonstra o esforço por ter acesso a fontes que permitiram publicar documentos-chave, assim como guardar o equilíbrio informativo e o apego a regras fundamentais no exercício da profissão”, disse o Ministério da Cultura, em uma definição ainda mais curiosa em função da velha rixa do mandatário: Chaves é desafeto do grupo que edita o La Nación, chegou a fechar um centro de eventos mantido pela organização, e já disse que as críticas que recebe do diário “não se tratam de liberdade de expressão”. Via EFE.
CUBA 🇨🇺
É tempo de eleições em Cuba e, como sempre nessas datas, o noticiário se divide entre exaltar o processo e criticar a falta de opções além das sancionadas pelo governo. O motivo é simples: neste domingo (26), os cubanos estão convidados às urnas para preencher 470 assentos na Assembleia Legislativa do país pelos próximos cinco anos e, para isso, têm à disposição… 470 candidatos. Na prática, a verdadeira seleção acontece antes, quando nomes são pré-aprovados por comitês locais para concorrer ao cargo, precisando agora obter pelo menos 50% dos votos válidos para confirmar o mandato. Na agência Reuters, comentários sobre a desilusão com um processo que muitos veem como sem sentido e apenas um “carimbo” a algo já definido anteriormente pelo partido. Na cubana Prensa Latina, destaque para um número recorde de nomeações femininas. Em um cenário de crise econômica e com o governo tendo enfrentado, em 2021, seus maiores protestos desde a Revolução, a participação eleitoral vem caindo – no pleito municipal de novembro do ano passado, a abstenção oficial de 31% foi a maior desde o início dos anos 1980.
Não deu para os latinos no World Baseball Classic, a “Copa do Mundo” do beisebol: após campanhas que foram mais longe do que o imaginado quando o torneio começou, Cuba e México foram eliminados na semifinal no começo da semana – e o título acabou ficando com o Japão, campeão pela terceira vez na história, ao superar os Estados Unidos, na terça-feira (21), em Miami. Mas o final do torneio não foi a conclusão das repercussões políticas da participação cubana, que, de forma inédita, contou com a participação de jogadores que atuam profissionalmente nos próprios EUA: na quarta (22), o governo da ilha acusou o país-sede da fase final de promover ataques “vis e organizados” contra sua equipe, “com o claro objetivo de desestabilizar nossos jogadores”. O incômodo de Havana foi com as manifestações políticas levadas pelo público de Miami – em boa parte composto por expatriados contrários ao governo socialista –, com invasões ao campo de jogo e faixas bradando “abaixo a ditadura”. No UOL.
EL SALVADOR 🇸🇻
Há um ano na próxima segunda-feira (27), El Salvador iniciava sua mais nova “guerra às gangues”, com um decreto de estado de exceção que passou os últimos 12 meses sendo prorrogado indefinidamente. Na caça às pandillas, até aqui, um saldo de mais de 65 mil pessoas presas, a construção da maior prisão da América Latina (com 40 mil vagas e o sugestivo nome de Centro de Confinamento do Terrorismo) e mais críticas fora do que dentro do país: enquanto entidades internacionais apontam sistemáticas violações de direitos humanos – incluindo mortes sob custódia do Estado – e detenções de inocentes em meio à enxurrada de criminosos, muitos salvadorenhos relatam um aumento na sensação de segurança, a confiança em estatísticas oficiais de que houve uma queda nos homicídios e a propensão a reeleger (com folga) o presidente Nayib Bukele. Via AP.
Una palabra:
Salame – Além do significado original (um embutido típico italiano), na Argentina a expressão evoluiu para se referir também a uma pessoa “boba”, “tonta”, “que não entende nada”. Pode ser usado para insultar ou de forma amistosa, como um alerta de que estão tirando proveito de alguém – “sos un salame”. Para ver a expressão em pleno uso, vale conferir um comercial recente de uma marca argentina de salames (o alimento), com torcedores da seleção local contando das vezes em que foram bobos por não acreditar que o time seria capaz de vencer a Copa do Mundo novamente.
GUATEMALA 🇬🇹
Termina neste sábado (25) o prazo para inscrição de candidaturas nas próximas eleições guatemaltecas, e nada indica que a chapa mais incômoda ao presidente Alejandro Giammattei – que não concorre à reeleição – conseguirá ser formalizada. O binômio formado pela líder indígena Thelma Cabrera e pelo ex-procurador de Direitos Humanos do país, Jordán Rodas, jamais conseguiu contornar o banimento que os dois alegam ser obra de um tribunal eleitoral alinhado ao governo conservador do país. A solidariedade internacional à chapa tem crescido: durante a semana, Cabrera e Rodas falaram sobre sua exclusão frente ao Parlamento Europeu, enquanto na quarta-feira (22) a Organização dos Estados Americanos (OEA) manifestou sua preocupação com o impedimento de “centenas de pessoas” de participar do processo eleitoral. Os guatemaltecos vão às urnas em 25/6, exatos três meses após o fim do prazo das inscrições – e, salvo uma reviravolta de última hora, sem a chapa Cabrera-Rodas entre as opções. Via AFP.
HAITI 🇭🇹
Outro informe desalentador: na terça (21), a ONU divulgou mais um balanço de uma recente onda de violência no Haiti atribuída às gangues, com 187 mortes em um intervalo de 11 dias na virada do mês. O relatório considera ações dos grupos criminosos em Porto Príncipe e na região de Artibonita, que se tornou o ponto mais conflagrado do país fora da capital, no período entre os dias 27/2 e 9/3. De acordo com a ONU, a situação é ainda mais alarmante para crianças, “frequentemente sujeitadas a todas as formas de violência armada, incluindo recrutamento forçado e violência sexual”. Via AP.
HONDURAS 🇭🇳
Pode até não agradar os EUA, mas a decisão hondurenha de ‘migrar’ para o lado vermelho das relações diplomáticas com a China (entenda os motivos na última edição) será respeitada por Washington. Ao menos é o que o ministro de Relações Exteriores Enrique Reina garantiu na segunda (20), dias após a presidenta Xiomara Castro confirmar o fim formal dos laços com Taiwan. Pouco após a guinada, o próprio chanceler chegou a exortar o governo Joe Biden a respeitar a decisão do país centro-americano, insistindo no caráter “pragmático, não ideológico” do movimento – Honduras também negou ter chantageado Taipei com um pedido bilionário antes de virar a casaca; em outro desdobramento, o embaixador taiwanês no país também foi convocado a voltar para a ilha asiática. Mesmo assim, a Casa Branca prometeu enviar representantes a Tegucigalpa nas próximas semanas, de olho, talvez, em não deixar as relações esfriarem. Com a mudança, apenas Guatemala, Haiti e Paraguai seguem ligados aos taiwaneses diplomaticamente. Via Reuters.
MÉXICO 🇲🇽
Mais uma vez o caso dos 43 de Ayotzinapa: em um comunicado divulgado na quinta (23), autoridades do país anunciaram a prisão de outros nove policiais em Guerrero, estado onde o massacre dos estudantes aconteceu em 2014. As detenções são parte do desdobramento de uma nova investigação que, já sob o presidente Andrés Manuel López Obrador, resolveu passar a limpo tudo que se sabia sobre o caso: vendida como “verdade histórica” pelo governo antecessor, a trama cheia de furos acabou derrubada após o trabalho de uma Comissão da Verdade, levando à prisão de uma série de militares cuja participação não era considerada pela antiga versão oficial (saiba mais aqui). E não deve parar por aí: incansável nesse tema, o governo Obrador segue na busca por altos oficiais ligados ao crime, inclusive pelos que estão fora do país. Via AFP.
NICARÁGUA 🇳🇮
Mais pressão internacional: ora a ONU, ora a OEA, ora a Igreja Católica, ora algum país solitariamente. Desta vez, foram os Estados Unidos que voltaram a denunciar o governo nicaraguense, afirmando ter “relatos confiáveis” de assassinatos arbitrários, prisões e tortura a opositores. As afirmações, que reiteram o que já havia sido mencionado pela ONU poucas semanas antes, aparecem em um relatório anual de direitos humanos divulgado pelo Departamento de Estado dos EUA na segunda-feira (20). O documento critica não apenas as ações atribuídas ao governo de Daniel Ortega, mas também suas omissões, como a não investigação dos crimes supostamente cometidos pelas forças de segurança do Estado. No Terra.
PANAMÁ 🇵🇦
Um recorde que não cessa: os dois primeiros meses de 2023 já registraram cinco vezes o número de migrantes cruzando o Estreito de Darién, na fronteira entre Panamá e Colômbia, quando comparado ao mesmo período do ano passado – um total de 50 mil pessoas entre janeiro e fevereiro, revelou o governo panamenho na quarta-feira (22). O alarme se acende porque o crescimento vem se tornando exponencial: 2022 já havia sido o ano com maior fluxo de pessoas – 250 mil migrantes – atravessando a perigosa região de mata cerrada que conecta os dois países, número que por sua vez já havia sido quase o dobro do registrado em 2021 (133 mil). Em sua maioria, são haitianos, venezuelanos e cubanos buscando chegar aos Estados Unidos. A jornada começa na América do Sul e vai subindo – a pé e em transportes clandestinos – pelo mapa, cruzando necessariamente por Darién no meio do caminho. Via AP.
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PERU 🇵🇪
Poucos setores passaram ilesos pela brutal temporada de chuvas no país, que desde o final de dezembro do último ano já deixou pelo menos 65 mortos, desaparecidos e milhares de pessoas desabrigadas, segundo informações atualizadas no último domingo (19). Um dos destaques negativos, porém, é o setor de construção, que já registrou queda de 11,7% em janeiro e que deve cair acima da casa dos 12% em fevereiro, de acordo com novas projeções da Câmara Peruana de Construção (Capeco) divulgadas na quarta-feira (22). Diretor-executivo da entidade, Guido Valdivia também ressaltou a falta de estrutura da área de habitação diante do problema climático, com destaque para regiões mais pobres, onde milhões de peruanos vivem em condições de vulnerabilidade. Tanto em Lima – onde casas seguem sob risco de colapso pela falta de preparo – quanto em regiões costeiras ao norte, o país viu os eventos climáticos se agravarem com a passagem do forte ciclone Yaku. A provável chegada do novo fenômeno El Niño (entenda aqui) também preocupa especialistas para a segunda metade do ano. No Gestión.
PORTO RICO 🇵🇷
O colapso climático tem trazido consequências especialmente duras para Porto Rico, simbolizadas pela péssima situação da rede elétrica do país – antiga e malconservada, ela foi destruída pelo furacão María em 2017 e, quase seis anos e uma questionada privatização do sistema mais tarde, está pior do que nunca (saiba mais). Matéria da revista Time conta a história de Adjuntas, município de 17 mil habitantes a 140 km da capital San Juan, onde a população local se uniu para montar uma rede própria abastecida por energia solar – que, nos frequentes momentos em que a distribuição normal de eletricidade falha, permite que a população não precise recorrer aos poluentes geradores a diesel empregados em outras partes da ilha.
URUGUAI 🇺🇾
Em meio a um surto de gripe aviária pelos países da região, o governo uruguaio anunciou na quinta (23) que vai começar a vacinação obrigatória de animais que vivem em granjas comerciais, de modo a prevenir contra o contágio pelo vírus influenza H5N1, responsável pelos temores sanitários. O Uruguai já registrou sete focos da doença em cinco departamentos – por enquanto, sempre em aves que vivem livres na natureza. De acordo com o ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca, Fernando Mattos, a ideia é imunizar 5 milhões de animais com duas doses da vacina que serão importadas ao longo dos próximos 20 dias. No Correio do Povo.
VENEZUELA 🇻🇪
Acostumada a ir às manchetes por acusações de corrupção lançadas por outros países (em especial os EUA), a Venezuela, desta vez, virou notícia por uma série de operações que investigam irregularidades internamente: na segunda (20), a abertura de investigações por parte da Polícia Nacional contra possíveis crimes cometidos dentro da estatal do petróleo, a PDVSA, levou à renúncia do ministro do Petróleo Tareck El Aissami. Vice-presidente em anos passados, El Aissami disse em suas redes sociais que tomou a decisão para “respaldar integralmente o processo” em andamento. A investigação também atinge outros oficiais em diversos níveis da política. No Opera Mundi e El País.
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